sábado, 28 de julho de 2007

“ABENÇOADO” HORIZONTE DA FÉ ELETRÔNICA


A proliferação de técnica e meios digitais da informação possibilitou que vários tipos de conhecimentos se ampliassem de maneira extraordinária. Tal produtividade vai da educação à fé. Para Baudrillard (1991) estes aspectos são uma espécie de “destino indelével sobre o qual pesa a sedução” a qual se dá através de discursos engendrados pelo sistema econômico, garantindo à religião uma posição de destaque no que se refere à idéia de separação entre o bem o e mal, sedução digital da fé.
As linhas que se seguem, buscam o entendimento da expansão da fé por meio da mídia televisiva, a qual ocupar lugar privilegiado em várias grades televisivas, sobretudo, nas veiculadas nas manhãs de sábado. É interessante notar ainda que, neste dia, das 7 às 10 horas da manhã, há acerca de 10 emissoras de televisão com programa religioso ou afim, o olhar aqui presente é seguindo a programação distribuída por emissoras abertas; via antena parabólica ou não.
Dessa maneira, parte-se do pressuposto de que a televisão transformou o modo de como o homem comum tem visto a cultura, a sociedade e, sobretudo, a fé. Esta é oferecida além templo, ou melhor, o mundo transformou-se em santuário graças ao alcance dos satélites que, associados a elementos retóricos e psicológicos presentes nos discursos dos pastores, verdadeiros animadores de auditório, consegue conduzir uma massa ignorante ao um universo cheio de fantasia e sedução no mercado competitivo da fé. (veja-se a aberta concorrência por fiéis).
Por um lado, tal questão é compreensível quando vista sob a ótica da modernização das igrejas tanto no plano da evangelização quanto nas inovações das metodologias usadas pelos pastores, os quais evoluíram ao epíteto de "pastores eletrônicos", com discurso e estratégias de convencimento próximas à publicidade. Por outro, se tem ai a subjetividade divina que vai ao encontro da “estupidez das massas, vítimas da mídia” (Baudrillard, 2005, p. 42) de consumo que transforma a crença do povo em produto de degustação a qualquer preço e hora.
No mercado religioso, esta prática há muito ultrapassou o limite do bom senso, uma vez que se criou um “hiperespaço” no qual tudo parece mais verdadeiro que a própria “verdade” da fé.
Para Baudrillard (2005) é através da tela que se promove o falso ao status de verdadeiro, tamanha a evolução realizada pelos meios de massa. Assim é possível compreender o porquê de tudo que é levado à tela religiosa ganha credibilidade instantânea, isto é, “a informação é mais verdadeira que o verdadeiro por ser verdadeira em tempo real”. (idem, p. 45).
O filósofo francês ainda adverte sobre as variadas dimensões que informações religiosas podem tomar no hiperespaço construído pela mídia devota. “as coisas não têm mais uma, duas ou três dimensões: flutuam numa dimensão intermediária. Logo nada mais de critérios de verdade ou de objetividade, mas uma escola de verossimilhança.” (op. cit.).
Nesta perspectiva, o pensamento de Baudrillard materializa-se nos testemunhos dos fiéis diante das câmeras, às vezes, chegam a forçar uma situação no sentido de se fazerem presentes e, por conseguinte, ter seu momento de fama, integrando a partir disso, o grupo das “celebridades de Deus”. Então, não é por acaso que a fé é colocada à mostra; transforma-se num produto em promoção à qual a maioria das pessoas não teria acesso senão através da intervenção da mídia. Com isso, se percebe a existência de uma realidade econômica nas pregações dos “pastores e padres eletrônicos”, uma vez que nos intervalos comerciais dos cultos, os responsáveis apresentam seus cardápios de produtos religiosos – livros, revistas, Cds e Dvds além do tradicional dízimo – é tudo em nome e graças ao Senhor. Então, ninguém que deseje alcançar os píncaros da fama-salvação – testemunho ao vivo – pode se furtar de oferecer uma quantia significativa, ou uma história de fracassos pessoais e econômicos para servir como “tragédia na tela da fé” que será simulada por atores cujo desempenho dramático e estético é bastante questionável. Resta, pois, à massa ignara deixar-se seduzir por discursos verossímeis ideologicamente preparados por equipes especializadas em marketing e publicidade do Senhor.
Bibliografia consultada.
BAUDRILLARD, Jean. Tela total: mito-ironias da era virtual e da imagem. 4. ed. Porto Alegre: Sulina, 2005.

CICATRIZES


CICATRIZES
(Robério Pereira Barreto)

O amor é ferro em brasa
ao tocar o coração fere-o,
deixando marcas na alma para sempre.

Sempre feridas ficam abertas;
indeléveis ou latejantes
por mais que tente,
a gente jamais as esquece.

O tempo se encarrega de aos poucos
transformá-las em cicatrizes
Que do corpo saltam à alma
sem pedir licença...

A cada toque involuntário,
sem clemência
doe como se fosse à primeira vez.

Infinitamente, há na gente
as cicatrizes do amor
que por algum motivo não vingou...

Agora, a constância de um coração teimoso
pulsando insiste em dar prova de que ainda está vivo.

Faz-se duro como o aço,
mas derrete-se ao ser lançado
às brasas da paixão de outrora.

em 01 de agosto de 2006, 22h 15min

ARQUEIRO DO AMOR


ARQUEIRO DO AMOR

Ao dardejar o olhar na sua direção
a tua indiferença dá sinal de que
a sua vaidade só aumenta o meu desejo
e, assim, me esmero para acertar-lhe o alvo,
para não lhe dar chance de proteger o coração.

Como arqueiro do amor
busco na penumbra de seu olhar
um fio de luz que me guie
entre os meandros de sua alma obscura,
para que, com a precisão de um cirurgião
possa o alvo de sua paixão acertar.

Ah! Certamente não resistirá
e num sorriso largo se entregará aos meus acalantos,
esmaecendo-se com o perfume que trago guardado no meu ser
Que há muito tempo é exclusivamente para você.

Ao me aproximar de teus lábios
e contagiar-me com o cinábrio deles
que, tal qual fruta madura e sumosa,
implora para ser abocanha em seu estado natura.

Dai no meu peito sinto o coração em disritmia
como criança fagueira que corre alegre
depois de se recompensado ao final da aventura
e como o prêmio tem um sorriso cuja magia
o torna um vencedor, embora seu corpo ainda
persista as marcas e dores símbolo de vencedor.

Robério Pereira Barreto, em manhã de agosto de 2006.

BOLHA DE SABÃO


BOLHÃO DE SABÃO
(Robério Pereira Barreto)

Por detrás do muro vejo a vida passar
Imaginando como seria viver do lado de lá
E como bolha de sabão que foge por cima do muro
Depois que escorre entre as mãos
Procuro a liberdade no azul interminável do céu.

Depois de alcançar o infinito desfaço-me no ar
E de mansinho retorno ao meu lar,
Enchendo os meus olhos de emoção,
Deixo parte de meu eu ir ao encontro do mar.

Depois de estar na presença de tão alta sensibilidade
Clamo em silêncio ao olimpo por um instante de liberdade,
Porque viver sem ela é estar numa bolha de sabão
De onde vejo tudo com boa impressão,
Mas ao rompê-la sinto-me sem noção da realidade.

Então, saio dessa pseudo-proteção
Para ver a vida do outro lado do muro
Onde há dores, gemidos em noite fria
E medo em meio ao escuro.

Por isso, receio às vezes em romper tal proteção
Porque sei que do lado de lá a morte está
Que aos pouco faço a minha consorte
E assim dividimos as feridas da falta de sorte.

Contudo, advenho daquele “que é antes de tudo um forte”
não lastimo o motivo que me levantou das terras do norte
para estar aqui e porque nunca contei muito com a sorte,
foi aí onde criei laços e montei meu leito de morte.

29 de agosto de 2006, 21h 33min

sexta-feira, 27 de julho de 2007

NECRÓPOLE

NECRÓPOLE

Madrugada Silêncio...
a cidade repousa
e seus moradores dormem
em suas tumbas modernas
preparando se para o dia seguinte
no qual se protegerão de si mesmos
dentro de seus caixões blindados e motorizados.

Enquanto isso, seres se dilaceram
em compasso de espera...
nas esquinas e avenidas da vida,
procurando guarida nos braços do mundo...
que em um segundo podem lhes tirar o direito
de respirar, por que, ao invés de prazer sente dor,
levando à quebra do contrato regido por olhares
perdidos em meio ao desprezo
daqueles que buscam no dinheiro,
o valor da vida e também do amor
medido e pago sem nenhum rancor.

A madrugada muda inerte,
testemunha ocular
não quer tais segredos revelar,
pois se falasse ninguém ia acreditar...
no cemitério-cidade
os protegidos nas tumbas e caixões blindados
preocupam-se em se preservar da maldade da rua,
atmosfera onde miseráveis e despossuídos flutuam
na suspensão da desigualdade pura e crua.

Tangará da Serra - MT, 23/4/2006 01h55min
Robério Barreto

LUA CHEIA


Abra a porta de sua alma para as coisas belas que a natureza lhe oferece gratuitamente; repare a beleza ingênua e romântica da lua e com a energia dela se entregue à paixão; com esse ânimo e força reconheça sua mediocridade enquanto ser humano; busque nessa fonte de luz, as forças de que precisa para seguir... escolha seus caminhos e viva sua humanidade sem importar com a mediocridade dos infelizes!

SILÊNCIO MEU...


SILÊNCIO MEU...

O meu silêncio se encontra
Com a frieza da lua que,
De mansinho ilumina a rua...

O meu silêncio faz sombra
À noite mórbida e impura
Na qual circulam idéias vãs
Que me empurram à tristeza
De viver vida insana e dura.

No meu silêncio gritos
Sufocam-me o peito,
Deixando-me um ser sem jeito
Que tem no sossego uma rebeldia
Selvagem maior que a Guerra Fria.

No meu silêncio...
No meu silêncio...
No meu silêncio...

Morro a cada instante...
Em meu silêncio morro
Com meu silêncio peço socorro,
Com ele sei que definho e sofro...

No meu silêncio...
No meu silêncio...
No meu silêncio...

Há um grito forte, porém rouco
Rouco, porém um grito morto,
Morto, mas um grito;
Meu silêncio!

Robério Pereira Barreto
02 de junho de 2006, 3h 45min, em companhia da insônia.

VAGANTE CORAÇÃO

VAGANTE CORAÇÃO
(Robério Pereira Barreto)


Oh, coração peregrino!
Andas pelas veredas da vida
Como alma penada
A muito preterida.

Agora, escorres pelos vales vazios
Onde tem a companhia de flores
Cujas belezas da cores
levam-te à desdita
Dos rigores dos espinhos!

Sofres em expressiva demasia,
Porém sorrir em meio à agonia
De caminhar louco,
Movendo a dinastia
Do destino.

Solícito abres caminhos na serra fria
Para encontrar num simples olhar,
A luz da amanhã que vos alumia
Com sabor da maresia nos lábios
Cumpres o dito da profecia:
Louco à vontade do destino
Segues o vale da sombra;
Cai nos braços da paixão
Que se foi sem
Deixar mapa,
Restando a ti,
Coração Peregrino
O perfume dela como guia!

27 de julho de 2007, 15h58’

SANAS LOUCURAS: PARADOXO E BELEZA



Sanas loucuras (2007), de Rejane Tach e Maykson de Souza constitui-se de conjunto poético no qual há vicissitudes paradoxais, às quais serviram os autores para nos oferecer uma produção esteticamente contemporânea. A obra que, na verdade, são quatro, - trata-se de dois livros que se complementam em suas diferenças, ficando tais questões sobressaltadas mais ainda quando são lidas na versão em espanhol, constituindo-se assim em duas novas criações quase independentes, tamanha a fluidez da linguagem poética.
De maneira abstrata, porém concisa, os autores dizem muito em poucas palavras, de modo que o leitor de Sanas loucuras deve se preparar para buscar o sentido dos versos através de lentes intimistas, isto é, não será possível compreender a mensagem poética de Rejane e Maykson sem, antes se debruçar sobre seu próprio existir.
Em Sanas loucuras (2007) há uma concisão retórica a qual é resultante de uma reciclagem dos princípios Aristotélicos. Para Leyla Perrone-Moisés (1998) estas novas poéticas embora apareçam estilisticamente modernas não o são, por que: “Na modernidade, esse valor está ligado à rapidez, à objetividade e à eficácia requeridas pela vida em nosso século; mas também uma resistência oposta à tagarelice generalizada dos discursos sociais.” (Perrone-Moisés, 1998, p. 156).
No que se refere ao plano estético de Sanas loucuras (2007), Rejane e Maykson atuam no campo intimista, ou seja, eles tentam representar metaforicamente as agonias e possível morte do espírito do homem moderno, através de um olhar cismado e incrédulo sobre a infinita existência do ser.

Meus olhos
Encontraram o céu...
No sano e louco,
Revivi...
Rejane, 2007.

Meus olhos solitários
Comem as vísceras de minha amargura
Enquanto choro de alegria
E abraço-me em espanto
Em silencio iracundo....
Maykson, 2007.


Embora os versos sejam vazados numa perspectiva da retórica abstrata moderna, a obra confirma a influência da estética romântica, à qual, segundo Octávio Paz deveria ser retomada pelos escritores modernos a fim de reatarmos com a tradição da grande literatura do século XX. Dessa forma, Sanas loucuras (2007) não tem propósito de fazer um revival de princípios estéticos do passado, mas, sim, de mostrar que é possível levar o leitor a questionar a si mesmo enquanto ser de e no mundo de inquietudes e individualismos.
Os escritores inspiram seus leitores ao remate de que as relações na sociedade contemporânea alteraram os princípios e modos de existência de cada, sobretudo, no que se refere às questões existências. Então, resta ao leitor refinado, encontrar nesta obra os elementos estéticos que a constitui em paradoxo e beleza contemporâneas singulares, pois tem nos seus poemas vaivens de linguagens as quais se confundem com o pensamento da estética pós-moderna, embora não seja possível classificá-la como tal, por que sua composição é altamente abstrata e simbólica.
Bibliografia consultada
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Altas literaturas: escolha e valor na obra crítica de escritores modernos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

FELICITACIONES


FELICITACIONES!
(Robério Pereira Barreto)

La noche esta fría
Pero me dispuse
A repartirte uno
Poco de alegría.

Mandándote besos
Calientes con pesos
De mí corazón

En mí alma calido
Sangre trae sabor
De nuestro amor.
23 de julio de 2007, 23 h

WEBLEITORA COMENTA OS TEXTO DESTE BLOG

Agradeço imensamente aos webleitores que estão acessando esta página, dizendo-lhes que sinto-me responsabilizado por levar às pessoas opiniões e poesias, as quais lhes propocionam momentos de reflexão. Assim sendo segue o comentário de uma webleitora sobre este trabalho sério, entretanto, despetencioso...
"estibe lendo no seu blog , e concordo c/ vc a respeito dessa exaustão de imagens e comentários televisivos qdo acontecem desgraças, não basta a própria desgraça!!!!! ta loko!!!! que falta de sei lá o quê!!!???...ética, senso de exagero,ou consideração pela desgraça alheia... e sim , transformar tudo em espetáculo doa a quem doer!!!! CLAUSURA ( me vi ali... clausura !!! clausura ... sabe qdo vc lê algo e se vê quase q desenhado dentro do texto??? pois é...) clausura de mim, do meu coração, do meu sentir... é esse o papel do poeta??? vc consegue hein??? me fazer entrar nos seus poemas...) gostei tbém do seu comentario sobre o alfabetizador... abstração sim!!!! Paulo Freire ( educ como prática de liberdade) vc leu??? explicita seu metodo que deveria ser real, mas REAL mesmo ( claro deve funcionar c/ muitos prof q ue largaram o tradicional p/ aderir o circulo da cultura ( puts, se fosse sempre assim hein??) e vem a escola ciclada na tentativa de fazer funcionar isso, mas não creio. é mais abstração mesmo. estamos todos lendo, escrevendo, debatendo, vendo claramente no dia a dia escolar ( embora ainda não em sala) mas... na hora da prática... podemos contar nos dedos aqueles q assumem a postura do alfabetizador consciente, de que o ser q está ali é humano, tem uma hist, gostos, origens, culturas... enfim , nada mecãnico!!!! acho q não vou poder ser professora não!!! não sou hipócrita e fingir qnão to vendo nada!!!! mudando de assunto, não escreva hist´rias, escreva isso... q vc escreve!!! seja um herói da resistência, continue encantando com seu sibjetivismo,porque seu sentir aflorando é mais importante do que hist´rias medíocres contadas por insensatos desmedidos que nem sabe mais o q é a paixão... isso já tem aos montes!!!!!! e ja disse ... vc é maravilhoso!!!!!!!!!! bjos"

domingo, 22 de julho de 2007

O PAPEL DO ALFABETIZADOR E DA ESCOLA DE TRADIÇÃO ORAL

Consideradas as problemáticas sociais e econômicas que se abatem sobre os sistemas de alfabetização brasileiros, tem se ainda a questão do mau ensino e uso da língua nacional. Para a maioria dos profissionais da linguagem, ensinar a ler e, sobretudo, a escrever envolve uma série de fatores que nem sempre as metodologias inovadoras dão os resultados esperados.
As instituições escolares ainda ensinam com base num modelo de ensino, no qual os aprendizes de Língua Portuguesa não vêem a menor graça. Isto porque os assuntos tratados na aula de aula já são velhos conhecidos deles. Isto ocorra de maneira real, enquanto na escola tudo não passa de abstração. Assim, o professor de Língua Portuguesa e o Alfabetizador devem repensar suas práticas e as funções a serem atribuídas às aulas do idioma nacional, quando tive como objeto de ação a escrita.
Usar o texto como pré-texto para ensinar à escrita, às vezes é um equivoco, pois há comunidade nesse país que não tem acesso à palavra escrita conforme quer a escola; por uma série de fatores: isolamento dos centros editoriais, falta de recursos financeiros e cultura de leitura-escrita. Isto porque há cidades no Brasil onde a população não tem acesso a jornais e a revistas. Conquanto, vive imersa no universo da mídia televisiva, no qual as crianças e os adultos gastam boa parte de seu tempo diante da telinha, e o pior é que na maioria das vezes não depreendem os significados das mensagens veiculadas por tal veículo.
Nesse contexto estão padecendo os alfabetizadores, uma vez que ambos vivem o dilema da falta de conhecimento e metodologias que os auxiliem na mudança de comportamento em sala de aula, na qual há um publico inconscientemente “iletrado funcional”, ou seja, as pessoas conseguem ir e vir sem que faça se quer uma leitura apurada das mensagens escritas que lhes cercam. Isso demonstra que, há de alguma maneira, a valorização da oralidade, fazendo com que se tenha em certas partes do país quase uma sociedade ágrafa. O interessante é que existe em algumas regiões uma espécie de incentivo à oralização. Em outras palavras, tomando a região de Irecê-BA, num raio de cem quilômetros, há vinte cidades e todas têm emissora de rádio, mas não há imprensa escrita em sua maioria. Todos esses aspectos estão afetando o trabalho dos professores de Língua Portuguesa e, sobremodo o dos alfabetizadores, os quais encontram em sala de aula resistência à produção escrita por parte do alunado, de maneira que estes preferem narrar oralmente suas experiências que as escreverem.
Desse modo, a concepção escolar de ensinar à escrita está, nesse caso, quase fadada ao fracasso, porque os métodos que vêem sendo usados pela escola desconsideram a mídia de massa; aqui entendida como televisão e rádio como possibilidade real para melhoria de tal processo, esquecendo, pois, que em tais veículos também se faz uso de material escrito, o qual, na maioria das vezes não é legitimado pela norma, contudo, é um texto que em suas deficiências, atendem às necessidades da comunidade a qual não se interessa no processo de construção da informação, mas sim no resultado, informação oral. Conclui-se assim, que é preciso uma revisão no uso dos instrumentos de alfabetização existentes na escola, visto que há uma valorização da tradição oral em detrimento da observância do paradigma da escrita, haja vista que a maioria das crianças a ser alfabetizadas nesses contextos chega à escola cantando músicas de sucesso, ouvidas nas rádios, bem como vistas na televisão, ainda conhecem jogos eletrônicos e navegam na internet. Contudo, este saber não atende às perspectivas de escrita solicitada pela escola. Eis, pois o desafio do alfabetizador na era da mídia oral; relacionar discurso e escrita numa perspectiva de construção de cidadania.

O SITE BEATRIZKAPPKE.COM PUBLICA 2 POEMAS MEUS

Caros webleitores,

Para começar a semana de bem com vida e, principalmente, com aqueles você ama e deseja toda a felicidade do mundo, acesse o sitio eletrônico http://www.beatrizkappke.com/ que no link varanda dos amigos/Robério Pereira Barreto encontrará dois poemas de "escritor da mentiras do coração": letargo amor e sigiloso alarido. Que aproveitar para agradecer a amiga e grande poetiza Beatriz Kappke a qual é para mim uma figura importante na publicação de minha poesia para o mundo, pois foi a primeira pessoa fora do meu convívio a ler e levar para o universo virtual os meus versos. Abraços a todos e boa semana!

JORNAL MATO-GROSSENSE PUBLICA "CARÍCIA"

Quero dividir com os meus webleitores a satisfação de ver mais um poema publicado no jornal mato-grossense, trata-se do veículo de comunicação mais novo de Mato Grosso, O Jornal do Vale o qual esta sediado em Tangará da Serra, onde morei por mais de uma década, atuando como professor do ensino superior e Técnico educacional na rede estadual de ensino.

sábado, 21 de julho de 2007

ÓSCULO DO DILÚVIO

No limbo de dor
Meu imo espera
Por um sumo de alegria,
Clamando pelo roçar
De corpos entre Beijos ardentes.

Nesse íntimo amor,
Minha alma pulula
Fazendo-me sentir
Escorrer nos lábios
A úmida língua
Carregada de fervor.

Sangue em brasa
Corpo febril
Lateja em mim
Vontade sem fim,
Pulsando no peito senil
A força e raça
De ser juvenil.

Tal ebulição me aquece
Porém, ao passar do dia
Como fogueira sem lenha
A chama arrefece
Faz-me apenas uma porção
De cinza que o vento
Violentamente arremessa
Contra ao nada da vida,
Desilusão!

30 de maio de 2007.

NOITE

A noite cai...
com ela chegam a mim
os fantasmas não exorcizados
no correr do dia;
as saudades dela.
Aos meus ouvidos encostam eles
a me dizer que sou alienígenas
dentro de mim mesmo.
Na penuria da solidão,
na alcova fria tento dormir
ao ritmo da calmaria
vinda da imagem
de nossos corpos em ebulição;
em alta voltagem
milhões de eletróns
encendeiam nossa pele...
Na espinha descargas elétricas
nos movem em alucinantes
movimentos de prazer...
21/07/2007, às 22 h 46 min

SUMO DA ALMA


Lágrimas são sumo da alma
dilacerada e partida
despétala sem pudor.

O coração chora...
as angústia e saudades
da paixão lançam-se
em profundo torpor
queimando a chance
do encontro renovador.
Sem destino o espirito
caminha clandestino
juntado os pedaços
amor que para traz ficou.
Então lágrimas,
molhem minha face
para que eu não
a esquece entre
ansiedade de querer-te
e cacos que ainda resiste...
21, julho de 2007, às 18h

MÍDIA DE MASSA: HOMOGENEIZAÇÃO DA DOR



Os meios de comunicação de massa informa e também homogeneíza opiniões. Por isso, sua função vai além do social e, às vezes, os profissionais que nela atuam ultrapassam o bom senso, criando assim ideologias e, por conseguinte, mantém vivos preconceitos. Este ensaio apresenta ponderações as manifestações da mídia televisiva durante a cobertura do acidente com airbus 3054 da TAM, no aeroporto de Conhgonhas – São Paulo – SP.
A mídia[1] tem alto poder de sedução na comunidade. Principalmente a televisiva, a qual transmite acontecimentos ao vivo e em cores para o mundo inteiro em questão de segundos. Até ai não demais se a entendermos como tecnologia digital transmitida por satélite. Entretanto, se se quer vê-la como mecanismo de informação e entretenimento, às vezes, em busca do “furo” de reportagem os profissionais que atuam neste meio de comunicação ferem o limite da ética e do bom senso, quando intensificam a reprise até exaustão de acontecimentos, principalmente aqueles de caráter trágico como ocorrido recentemente com Airbus 3054 da TAM, no aeroporto de Conhgonhas – São Paulo – SP, em, 17 julho de 2007.
Muitos estudos têm sido vazados em linguagem acadêmica sobre a presença e reflexos da mídia nas sociedades modernas. Neste não há tão grande pretensão, todavia visa apontar os excessos cometidos pela emissora de televisão que, sob o disfarce de informar; transformaram uma “desgraça” espetáculo. Por outro lado, nem se importaram com a dor dos parentes e famílias, construindo, inclusive hipóteses na tentativa manter a audiência de seus telejornais.
Com tanta influência para informar e formar opiniões os profissionais da mídia comercial ainda não se conscientizaram do limite entre a notícia e o sensacionalismo. Para tanto, deveria saber que o modo como comunicam os fatos é, na verdade, um construto de ideologia e preconceitos, de modo subliminar, ou até mesmo explicito.
O que as emissoras de televisão a semana inteira fizeram foi um massacre total à memória dos acidentados e, principalmente, uma afronta aos familiares que em meio a dor eram levados a emitir opiniões sobre um assunto tão delicado; o gesto do assessor da presidência, Marco Aurélio de Melo ao ver uma suposta informação de que a causa da “desgraça” não se aplicava ao Governo. Dessa maneira, ficam evidentes os objetivos da televisão comercial, sobretudo, da Globo, construir hipótese e massificá-la à exaustão sem levar em conta o sofrimento de ninguém. Tal massificação faz com que milhares de pessoas sejam responsáveis pelo acontecido, uma vez que cada uma elegeu os “gestores” que comandam, ou melhor, não comandam... daí ocorrem fatalidades dessas proporções para que se façam presentes, o que é pior, nem isso fizeram. Êita país desajustado! Vamos acabar com isso e começar tudo de novo!
[1] Emprega-se aqui tal termo, compreendendo-o como estrangeirismo naturalizado, isto é, o uso impôs à regra. Entretanto, sabe-se que, segundo Domicio Proença Filho tal vocábulo aportuguesou-se mantendo a pronuncia do termo em inglês: media, a que corresponde o mesmo significado: “media, aplicado à comunica de massa”. Essa media inglesa corresponde ao termo latino media, forma do neutro plural de médium, que queria exatamente dizer ‘meio’.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

CAUSOS DA GENTE DO POVO


Numa tentativa de resgatar o pensamento e a cultura de uma comunidade que tem na sua história registro de lutas homéricas contra os ditames da natureza, os documentaristas Jussivan Ribeiro Gama e Jair Alves Silva apresentam à sociedade um recorte da historia do povo de São Gabriel através da narração fílmica Retratos de São Gabriel: quando um povo conta sua história, cujo gênero documentário se confunde com a peleja do sertanejo com as dificuldades de se manter dignamente em meio a tantas adversidades.
Os documentaristas buscam através de discursos diretos, extraídos por meio de entrevistas feitas às “pessoas do povo” imprimir verdade e, às vezes, a verossimilhança toma conta do texto, uma vez que a verdade que se apresenta no filme é subjetivamente construída na memória da cada entrevistado.
Nesse trabalho os autores dão espaços aos registros de manifestações populares, bem como da religiosidade, marca explícita nas falas dos protagonistas do documentário. É interessante notar que a filmagem parece não seguir um roteiro fixo, visto que os participantes dirigem seus relatos à sua maneira e condições. Dizendo de outro modo, as ações são livres e, por isso, seus desvios estéticos e técnicos são visíveis, todavia colocados em segundo plano, por que a beleza e espontaneidade das conversas são depoimentos pessoais, igualando-se a qualquer outro documento histórico.
Por outro lado, este filme mostrar a necessidade de uma revisão no pensamento da comunidade sobre a história de vida dos mais velhos, sobretudo, no que se refere à busca pela alteridade dos valores culturais da comunidade que, segundo apresentam os artistas: “Retratos de São Gabriel busca contar momentos importantes da história da cidade de São Gabriel desde as origens dos avôs dos primeiros moradores até o inicio de uma nova fase em sua história quando foi emancipada.”
Além da pretensão, os autores dos documentos mostram-se com veia artística e técnica para este tipo de arte, mostrando em todas as ações e espetáculos das imagens que, de fato, retratam a paisagem e vida simples dos atores - reais. São evidentes ainda neste percurso, os “desvios” técnicos e estéticos conforme se mencionou acima. Nada demais quando se é advertido pelos cineastas de que tal produção se deu sob condições inóspitas – não serve de consolo, todavia é fato, o cinema documental do país tem vivido dias de miséria. Dizem até que melhorou bastante nestes últimos tempos, hein! (Diga-se passagem, para os cineastas profissionais do sudeste).
Neste texto fílmico, breve, mas instigante pela sua criatividade, (Gama e Silva, 2004) interrogam de maneira sintética, sobre: a origem e as condições às quais foram submetidos os primeiros moradores de São Gabriel; tudo que o foi dito pelos entrevistados é verdadeiro ou são causos e memórias de velhos? É evidente que boa parte dos fatos narrados é interpretação subjetiva das memórias coletivas acumuladas por cada um dos participantes.
Em Retratos de São Gabriel se formulam acontecimentos nos quais informações, idéias e opiniões dão-nos possibilidades de entender o grau de marginalização sofrido pelo “homem do povo”, até porque ele viveu em território subalterno, ou seja, as pessoas mais velhas participantes do comentário reiteravam suas posições de povo humilde. Contudo, suas esperanças nunca foram abaladas, pois tinha na fé, a esperança de melhorar de vida. O realismo das imagens deixa ver o nível de pobreza do sertanejo, e em várias cenas casas de chão batido e parede de barro batido são expostas. O cenário é rural, mesmo assim, é perceptível o estado de penúria e as condições das habitações mostradas no filme. Intencional ou não lá esta um estado declarado de miséria material. Dessa forma fica a pergunta: Será que desde o princípio foi assim? Em caso de positiva a resposta, temos ai um quadro de abando total do sertanejo por parte do Estado.
Com efeito, pode-se afirmar que os cineastas – autodidatas – apresentam em seu trabalho amador, paixão pela história da terra onde nasceram e vivem. No campo da semântica, é perceptível o convencionalismo do discurso, ou seja, os documentaristas usam texto e imagem de capa do DVD uma paráfrase do discurso institucional, colocando figuras e textos adaptados da estrutura textual do cinema oficial. Nada criativo, mas tecnicamente aceitável por ser é parte comercial, créditos e publicidade do trabalho.
Na capa do filme tem algo muito significativo para a análise do discurso; os cineastas usam discurso autorizado, que, sob o prisma da textualidade, pode ser visto com ironia, tamanha a influência dos textos oficiais: “O documentário que comoveu mais de 300 pessoas numa única exibição em público” vejam que chamada mais atrativa, além claro, da ambigüidade discursiva. Se você exibe algo é para o público, ou neste caso é diferente? Ambigüidades e desvios à parte se têm neste trabalho ousado e criativo um recorte significativo para a memória social e cultura da sociedade de São Gabriel.

À UMA GATA




Gata rima com prata
Que brilha tal farol,
Orientando a fragata
com intensa luz do arrebol.


A lagrima que lhe marca a face,
expressão da dor de saudade
E separação de amor
Sem maldade.

CLAUSURA


No meio da noite,
subitamente, sentiram-se sós
profundos eram os desertos
de suas almas e o fim estava perto.

Fissuras e vazios expostos
deixavam a alma em viva carne,
sangravam-lhes as veias,
escorriam os odores da vida.

A clausura lhes sucumbia o ser
Tamanha era a paixão
Que lhes impediam de ver
Quão triste era seu viver.

DILEMA


Acordo sob o mesmo dilema:
Por que estou aqui?
Por que não morri quando dormia?
Será porque amei!Amei! Amei...

Era feliz!?
Não saber me dói
Por que esse amor destrói?
Era amo que ai!

Maldade, amor de única via
Derrota e fim da alegria
Que por passou um dia.

Resisto e grito:
Viva a contradição
Estou vivo embora infeliz.

PELIGROSA AVENTURA


Las pasiones que el destino trae
es una gran y peligrosa aventura,
está apasionado es vivir
una mentira sin fin.

Apasionarse es:
vivir ilusión;
embriagarse con juras de amor;
sentirse en el dolor
descubrirse infeliz.

Abrir el corazón
para aceptar mentiras
y dejarse llevar por el soledad.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

TEXTO: MEMÓRIAS DISCURSIVAS

A civilização ocidental tem suas características asseguradas devido aos registros construídos; imagens e signos representacionais realizados pelos homens da caverna (Memórias discursiva, cultural e imagética). Tais procedimentos foram armazenados no inconsciente desses homens e transmitidos às novas gerações através de discursos - fala -, uma vez que, essa comunidade ainda não articulava significados para formação da palavra escrita, texto. Embora já fizesse usos da técnica escrita quando desenhava os animais abatidos durante a caça. Essa ação talvez fosse intencional, porque era uma forma de se colocar no papel de herói, dizendo aos demais que se baseassem na informação ali contida e a guardasse em suas memórias individual e coletiva, pois, o futuro e a sobrevivência da comunidade dependiam de tal habilidade; reconhecer os animais a serem capturado através das imagens desenhadas nas cavernas.

A palavra escrita ganha status e é usada com propósitos unilaterais (lembremo-nos do manuscrito de Em nome da rosa, de Umberto Eco), no qual o conhecimento é mantido sob a proteção da Igreja com objetivo de barganhar, pois este privilégio (dominar a leitura e a escrita, os textos bíblicos, doutrinários e artísticos) era reservado a poucos privilegiados, os quais, na maioria das vezes, recebiam da corte uma indicação, mantendo assim a dominação das informações estratégicas da corte. Ao homem comum, eram transmitidas idéias com força de lei.
Estes ensaios têm como destinatário, usuários da palavra falada e escrita que, na hora de comunicarem-se sentem algum tipo de dificuldade por não saber qual gênero textual deve empregar para a realização seu enunciado de maneira clara e legível. Não obstante, que a produção textual é o maior problema enfrentado por professores, alunos e aqueles que necessitam da palavra (oral e escrita) como instrumento de trabalho.

A diversidade de conceitos e práticas de escrita oscila entre os fundamentos da lingüística e as orientações de gramáticas. Assim sendo, oferece-se aos estudantes de linguagens, futuros produtores de textos e, consequentemente, professores de jovens escritores; informações didatizadas sobre os pressupostos e princípios de Semiótica (teoria do texto), visando uma ampla significação do texto enquanto objeto construído sob a perspectiva da interação. Para tanto, tomar-se-á a empréstimos os conceitos de gêneros do discurso de Bakhtin, bem como das premissas de leitura e sentido de Kleiman, bem como as assertivas anarquistas de Barthes sobre os sentidos históricos, culturais e sociais presente no texto, devido aos reflexos do fascismo da língua na vida do produtor do texto.

O livro [ensaios] está dividido em três grandes etapas. Na primeira, buscamos informar ao estudante sobre os conceitos de teorias de língua e linguagem; na segunda, serão estudados os gêneros textuais a partir de sua origem por meio de um resgate histórico e cultural, em seguida a sua aplicabilidade tanto na oralidade quanto na escrita através do estudo e da releitura dos textos de publicidades impressa e televisiva. Por fim, comentaremos os textos normalmente produzidos pelos estudantes, aplicando nesse processo, os conceitos e teorias a respeito dos gêneros em questão.
Diante dessa perspectiva, certamente irá surge uma pergunta crucial, portanto, antevejo para o leitor: Afinal, onde estará a questão da leitura nesse processo? Implícita! É a resposta. Explicamos então tal assertiva: Caro leitor! Se levarmos em consideração que o sujeito per si é um leitor desde o momento de sua concepção (junção do óvulo com o espermatozóide) exigindo desses organismos uma leitura das melhores condições do setting de fecundação para encontrar o melhor espaço no útero para o início da vida. Então está ai o motivo pelo qual somos os agentes de nossa própria memória. Sendo esta formada e ligada diretamente com as nossas realidades sócio-histórica e cultural, fazendo nos usuários e produtores contínuos de memórias - textos.
Os historiadores e psicológos sociais têm mostrado em suas teses a importância da memória para o entendimento da arte e da vida em sociedade por meio de resgate oral e escrito dos textos acumulados na sociedade empírica. De sorte que na clássica obra Memória e sociedade: lembranças de velhos, de Ecléa Bosi, a autora ressalta a importância do conhecimento e da cultura armazenada pelos idosos ao longo de suas experiências. Tais informações se encontram na memória de cada um, sendo que esses sujeitos da/na linguagem têm suas memórias em estado de inércia. Contudo, ao requisitá-las, estas estão prontas para se movimentarem e, assim contribuir para a compreensão do homem contemporâneo.

Assim sendo, a intenção presente nesse trabalho, é mostrar que ao produzir um texto o enunciador precisa saber quais serão os significados que podem extrair do saber acumulado tanto na comunidade onde atual quanto no meio social em que circulará a informação por ele prestada. Ademais, o sentido de texto aqui ganha maior espaço e passa a ser entendido parte significativa da memória histórica e cultural, configurando assim numa reescritura paráfrase do saber socialmente acumulado pelos indivíduos em suas comunidades. Portanto, produzir texto é uma atividade diária a qual requer do produtor técnica e esforço contínuo no sentido de estabelecer associação entre o que pretende informar e formar com suas mensagens e, consequentemente, possibilitar ao leitor as inferências possíveis do assunto a partir do resgate da memória histórica e cultural nele existente e que pode ser trazida à tona por meu dos significados dos discursos, constituindo assim uma nova memória discursiva.

Para Barthes (1987) é nesse momento que o professor de linguagem deve atuar como mediador das memórias discursivas presentes no ambiente escolar. Assim: “O professor não tem aqui outra atividade senão a de pesquisar e de falar - eu diria prazerosamente de sonhar alto a sua pesquisa - não de julgar, de escolher, ...”os caminhos para os seus alunos produzirem textos, ao contrário; juntos com seus aprendizes busca-se no inconsciente coletivo informações que lhes sejam úteis como exemplos e associações de pensamentos. Por isso a leitura diária faz-se questão fundamental no processo de formação da memória discursiva e cultural do cidadão. Parafraseando o famoso dito popular: você é o que come. Diria que sua memória discursiva e cultural é o que você ler. Isso porque à medida que se realiza a leitura a estrutura da língua (léxico, sintaxe, classe gramaticais, etc.) vai se fixando em sua mente, podendo ser solicitada mais tarde quando da escritura de uma mensagem.

"O PASSATEMPO DO TEMPO PASSADO"

Este ensaio tem como desígnio explicar a ordem do discurso “misto” – literário e historiográfico de Irecê a saga dos migrantes e historias de sucesso (2004), de Jackson Rubem, uma vez que, a obra é uma compilação de memórias orais, na qual se destacam as reminiscências dos migrantes, mais especificamente, paraibanos.
Por questão didática, adota-se a idéia de que a literatura e a história usam o mesmo subsídio para sua construção, isto é, ambas obtém seus instrumentos de combate a partir da verossimilhança. Portanto, “interpretar a experiência, com objetivo de orientar e elevar o homem” (Nye, 1966, p.123 apud Hutcheon 1991, p. 141) é a linha que orienta os relatos da obra em questão, pois o autor se debruça sobre os fatos e sublima “estórias” e famílias de migrantes paraibanos.
Numa tentativa de classificação, considerar-se, pois, que Irecê a saga dos migrantes é uma “metaficção historiográfica” a qual segundo Linda Hutcheon (1991) tem se apresentado numa espécie de romance, porque é através deste tipo de escritura que se imortaliza o passado que por alguma razão não foi considerado pela história oficial. Neste caso existe na obra em estudos um vínculo tênue entre história e narrativa literária. Entretanto, esta última esteticamente é bastante discutível no que se refere a sua qualidade artística. Por outro lado, quando vista sob o prisma do registro historiográfico, o livro analisado é de grande valia, uma vez que “toda história é uma história de alguma entidade que existiu durante um considerável período de tempo, e que o historiador quer afirmar o que é literalmente verdadeiro a seu respeito num sentido que faz distinção entre o historiador e um contador de estórias fictícias ou mentirosas. (M. White, 1963, p.4 apud Hutcheon 1991, p. 141).
Em sendo um contador de causos, Jackson Rubem certamente silenciou ou enalteceu discursos, os quais estão narrados na primeira parte do livro. Observa-se, pois, nesta parte da narrativa sua pretensão historiográfica, visto que o autor faz releituras de acontecimentos ocorridos na região, destacando os migrantes como protagonistas.
Pode-se ver a intenção do autor em relatar os feitos nada ortodoxos de uma família de migrantes, quando esta se dirigia à Irecê. Segundo o cronista, foi às margens do Rio São Francisco que (lembrem-se, pois, que mesmo no começo do século a ação à se citada a seguir, constitui-se contrária à legislação do país). Então, transcrevemo-la:
“Vicente tomou a dianteira e perguntou ao dono da fazenda, por quanto ele vendia um daqueles animais. Disse que estavam famintos, sofrendo bastante, mas o dono da fazenda não se importou com o sofrimento deles e disse que seus animais não estavam a (sic) venda. ‘Vicente, que era o mais brabo (sic) de todos, gritou: “traga o cravinote! De fome é que a gente não vai morrer.’”RUBEM, 2004, p.17).
Iguais esta passagem várias ilustram a obra. É interessante a tendência da interpretação dos relatos por parte do escriba, uma vez que ele parece submergir no ambiente da narrativa. Confira no excerto: “(...) Vicente caminhou alguns passos, aproximou-se de um boi gordo, apontou a arma para a cabeça e disparou, matando o animal na hora.” RUBEM, 2004, p.17).
Já segunda parte do livro, à qual o autor sugere no prefácio ser outro livro, é na verdade uma coluna social, pois, ali há mera exposição de figuras (dispensa-se qualquer juízo). Assim sendo, fica perceptível a acriticidade da obra.
Ver-se, portanto, o esforço do autor por meio de sua versão das estórias, transforma a multíplice significação da diáspora nordestina em fragmentos da história. Para tanto, fundamenta-se na subjetividade dos relatos orais que lhes foram contadas por aqueles que, de uma forma ou de outra sobreviveram e, com um golpe de sorte conseguiram se firmar.
Para Hutcheon (1991, p. 210-211) O poder subjetivo da narrativa oral é totalizante, levando à crença de que ao transformá-la em escrita, constitui-se história. Entretanto, é sabido que isto não se aplica à obra: Irecê a saga dos migrantes e historias de sucesso porque há vários hiatos no que se refere à estrutura da narrativa: ordem do discurso e metalinguagem. Por fim, esta metaficção historiográfica traz de maneira subliminar elementos da pós-modernidade, isto é, diante de uma crise de identidade, certos indivíduos ou grupos buscam o resgate e reificação de seu passado.
Bibliografias

HUTCHEON, Linda. Poética do Pós-modernismo: história, teoria, ficção. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1991.
RUBEM, Jackson. Irecê a saga dos migrantes: histórias de sucesso. Irecê [BA], Print Fox, 2004.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

MINHAS FANTASMAGORIAS

Leitores, o que lhes apresento a partir de agora é o que chamariam os filósofos espiritualistas e psicólogos freudianos e jungianos de meu ‘duplo eu’. Entretanto, o denomino de meu poeta fantasmal porque o que ele fala é de fato algo de outro mundo. O mundo da alma, que por sinal, a ciência moderna se encarregou de tirar de circulação faz tempo. Porém, meu fantasma lírico é um herói. Não daqueles gregos que enfrentava a fúria dos deuses..., mas sim herói da resistência, pois a cada manhã ensolarada ou sombria, tenta encontrar sinais de que estar vivo e amar valem à pena! Inclusive a pena que escreve o bilhetinho de amor, o poema, o cartão que acompanha ramalhete de flores predicando um encontro romântico no qual corpos se entregarão às fantasias da alma e aos prazeres da carne.
O lado bom do meu poeta fantasmagórico é que ele não tem estresse. Sabem por quê? Ele é pansensível e isso faz com que ele se movimente em todos os meios intelectual, acadêmico, popular e poético. Contudo, tem suas preferências, claro, pois como todo cidadão mesmo que seja um espectro, tem direito de mostrar suas vontades. Afinal, estamos numa democracia, ora essa! E sua predileção é o interior das pessoas onde tudo está. Daí, graças à pansensibilidade da suas falas, a qual atinge com flecha enevenada o lado mais endurecido e dormente do ser humano; o coração! Agitando-o e levando-o à embriaguez. Ébrio de prazer se desnude de vestimentas morais e sai em busca de felicidade...
Discurso sentimentalista? Afirmo: não o é! Porque é com ele e seus versos traquinos que aprendo diariamente coisas sobre a vida no mundo individualista e perverso no qual vivemos. - Eu, no mundo físico; ele no metafísico - Aquelas nem os anos de estudos formam capazes de me ensinar. Assim, tornei-me seu eterno aprendiz.
A propósito, as falas de meu fantasmagórico espectro são poesias suspensas no ar como se fossem partículas humanas se desprenderem de nós, deixando-nos, por acaso, abrir nossas couraças cotidianas.
Contrário a isso, e tentando ver outros lados da questão, é que creio na força da sua pansensibilidade, responsável por tentar fazer dessas fugas o encontro de mim com vários sujeitos. Não obstante as “almas sebosas” não admitirem que suas essências ou excrescências não se afasta de si, devido a seu grau de egoísmo, o qual, portanto, lhe faz tão infeliz que nem sente quão sua alma foi anestesiada, tornando-lhe incessível às coisas bela da vida; a paixão!
Diante dessa situação, às vezes, falo ao meu poeta imaginário: “talvez fosse melhor escrever sobre histórias, amenidades ou fatos reais” Mas, ele logo me repreende dizendo: “A história pode não ser a verdade em sua essência; amenidades são maquiagens que cobrem a realidade com seus tons aristocráticos em chá da tarde de uma minoria que nega a se próprio; racionalidade é a batuta da ciência e, portanto, com ela os maestros regem suas orquestras como se estivesse no “monte parnaso” podendo apenas ser vistos, já mais tocados! Então, meu caro Robério Pereira Barreto, não se apoquente com as minhas atitudes porque não lhe causarei grandes problemas, apenas você será tachado de “neolírico diletante.”

ARRELIA DE MORTE




No além sertão
há gente vivendo
à imagem e sem pão.

Moribundo, o sertanejo
sente correr gélido
nas veias o sangue
aguado sem sustança;
sente na espinha teimoso calafrio;
Fome talvez!?

Desejoso pastoreia o céu.
Lá, nuvens em forma...
não são de água
apenas vento soprando.

Tal arrelia o leva a pensar
na melodia da morte;
porque a natureza lhe arrelia:
Urrrrrrr, Urrrrrrr, Urrrrrrr
Sóis um homem sem sorte!

À noite na imensidão do norte
o roceiro de rosto disforme
tem o velho e magro cão
como único consorte.

18 de julho de 2007.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

MIRAGEM



Seu jeito de olhar:
sereno, sex, enigmático
hipinotiza- me tal
a serpete que mira a presa
deixando-a estado letárgico.


Seus olhos seduzem-me
sua boca me acalanta
seu cheiro me embriaga
seu corpo me encanta
sua pele me aquece igual brasa...
seus cabelos me cobrem como manto...
Enfim, cadê você!?


É tudo tão real
Desejo-te...
Que pena é uma miragem!?

Irecê - BA, 16 de julho de 2007, 20 h 48 min.
(Robério Pereira Barreto).

domingo, 15 de julho de 2007

SILENTE COBIÇA


SILENTE COBIÇA
(Robério Pereira Barreto)

É madrugada.../
Há horas vidas se acalmam,/
menos coração/
que de tão agitado/
dilata o peito às palmas.../
tamanho o desejo por ti./


Em disparo silente/
Uni-se ao cantar do galo/
Tentando forma uma aurora;/
Em vão, pois falta/
O brilho e luz do amanhecer;/
Você!


UMA POÉTICA DA SOLIDÃO


À maneira de Nietzsche me relaciono bem com a solidão, de modo que a tenho como companheira de escrita, tirando desse momento de penumbra íntima, os substratos para a minha poesia.


Não obstante estar à maior parte de meu tempo lidando com pessoas, este convívio é importante, mas, às vezes, secam-me as emoções, porque a todo instante deparo-me com as contradições humanas..., as quais jamais serão dissipadas, pois físico e mentalmente todos nós carregamos o contraditório como marca individual, restando, pois o isolamento da alma em sua magnífica complexidade.


Neste momento, o meu objeto de desejo é consolidado; filtragem das contradições da humanidade (quanta pretensão, não?). Embora saiba que tudo que falo poeticamente é apenas subjetivismo diletante.


Espero que um dia meus leitores – diga-se de passagem, não são muitos – possam me entender e, assim, perceberem que não sou um defensor saudosista da estética romântica. Penso que a revolução proposta pelo romantismo, na verdade, foi uma ideal cujos anseios da burguesia se auto-afirmaram por longos períodos no poder.


A sedução causada pela solidão ao meu imo poético é, sem dúvida, conseqüência das perambulações do eu lírico pelo universo das emoções passionais. Isto é, por meio da poesia ele liberta os fantasmas que nos atormentam por dias a fio. Então, é possível que não sejamos compreendidos pela crítica, senão reconhecido pelo leitor, homem simples que traz no inconsciente; angústias e passionalidades mil.

sábado, 14 de julho de 2007

IMATURA IDOLATRIA



IMATURA IDOLATRIA



(Robério Pereira Barreto)

O coração geme de rancor,
porém não lhe esquece
prefere continuar sofredor
e, chamando por ti adormece.


Acordado, tudo se repete:
recorda o sabor do beijo,
o toque suave de sua pele
roçando lhe o rosto
de tesão estremece.


Agora, tudo se foi
mas continuas a única
de tão real que sóis
o peito corrói.

21h31, 14 de julho de 2007









BALBÚRDIA DE AMOR


O barulho das ondas de nosso amor

ganha na atmosfera escura da cela,

melodia alegre e ritmo furta-cor.


O escarcéu de meu corpo

unindo-se ao seu letargicamente faz subir vapor.

Neste clima, o perfume exala de nós o cheiro da paixão,

guiando-nos pelo turvo caminho do prazer, tesão!


Cego na volição de possuir-te,

sigo o barulho das ondas tal radar,

encontro sua boca entre suspiro e respiração rouca.

(Robério Pereira Barreto, 14 de julho de 2007. 20h)

IRECÊ NASCEU À MERCÊ DAS ÀGUAS





Em 1987 sob à sombra da quixabeira e às margens de cacimbas de água salobra nasceu o povoado Carahybas, “cujo significado é "pela água, à tona d'água, à mercê da corrente". Depois de cinco décadas, com topônimo de Irecê, o município emancipou-se e está situado a 478 km da cidade de Salvador, o município de Irecê fica na zona fisiográfica da Chapada Diamantina Setentrional, abrangendo toda a área do Polígono das Secas. Pertence à bacia do São Francisco.


No campo econômico ocupa status de ser a maior cidade da microrregião, tendo a maior população, e por ser a mais evoluída tecnologicamente. A microrregião de Irecê é composta por 19 municípios: América Dourada, Barra do Mendes, Barro Alto, Cafarnaum, Canarana, Central, Gentio do Ouro, Ibipeba, Ibititá, Irecê, Itaguaçu da Bahia, João Dourado, Jussara, Lapão, Mulungu do Morro, Presidente Dutra, São Gabriel, Souto Soares e Uibaí.


O urbe é famoso e reconhecido pelo grande potencial agrícola e agropecuário, tendo recebido o título de "Cidade do Feijão" pelas grandes safras realizadas aqui no início da década de 1990. Além do feijão, também é famosa por ser a capital mundial da Mamona. A economia de Irecê e região é baseada na produção agrícola, na pecuária, e no comércio local. A cidade foi o primeiro produtor de feijão do nordeste, e o segundo do País, embora apresente uma área relativamente pequena: 313,695 km² entretanto, tem uma densidade demográfica significativa; 62.197 hab, est, 2006; 198,3 hab./ km², fuso horário UTC – 3. Isto leva a indicadores positivos: IDH 0,666 PNUD/2000, PIB R$ 157.419.184,00 IBGE/2003, PIB per capita 2.623,22 IBGE/2003.

Para comprovar esse cenário afirmativo, surgiu o Projeto Quixabeira o qual resgata memória da colonização através da preservação de uma arvoré que, segundo memória coletiva, ali acamparam os primeiros migrantes que vieram de outras regiões do estado e do nordeste brasileiro.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

ROBÉRIO: POETA DAS MADRUGADAS


Foi com hipocorístico de Poeta das madrugadas que o jornalista e téologo Dorjival Silva, do sitios eletrônicos http://www.tangarareporter.com.br/ e http://www.diariodetangara.blogspot.com/ anunciou o próximo o livro de poemas Bramidos da solidão, deste blogueiro que lhes dirige a palavra e ainda deu destaque ao tema da obra conforme segue transcrição:

"OUVINDO BRADOS DA SOLIDÃO. Este é o tema do novo livro de poemas do poeta, jornalista e professor universitário Robério Pereira Barreto. A obra deverá ser lançada em breve. Leia agora em primeira mão, parte do prefécio do livro:Bramidos da solidão, de Robério Pereira Barreto (2007) se constitui numa obra poética com a tentativa de trazer à tona as aflições do leitor apaixonado, levando-o à condição de intérprete de suas próprias agonias." Quero penhorar distinção do nobre colega ao apresentar aos seus webleitores mais este projeto, no qual serão apresentadas a público noventa e seis páginas de pura poesia.

CULTUS E CIVILIS: DICOTOMIAS DA PÓS-MODERNIDADE

O conceito de cultura é usado com acepções múltiplas, desde a mais simples e abstrata até a mais complexa e abrangente. O mesmo ocorre com termo identidade, sobretudo quando é levado ao plano cultural e lingüístico.

Nesse ensaio, busca-se discutir o primado da cultura a partir da ótica da colonização, tendo como recorte os acontecimentos ocorridos nas duas últimas décadas do século passado, quando na região de Irecê - BA, o ciclo do feijão , década de 80 promoveu um deslocamento na migração nordestina. Para isso, toma-se como referência o pensamento de Alfredo Bosi, em Dialética da colonização, através do qual se toma conhecimento a respeito dos conceitos de cultura empregados para designar as relações do homem com a comunidade na qual está inserido.
Toma-se aqui de empréstimo do latim, colo que, segundo Bosi (1996, p.11), na língua de Roma, “eu moro, eu ocupo a terra, eu trabalho, eu cultivo o campo” o que se aplica à nossa realidade representa bem o movimento dialético ocorrido na comunidade na região de Irecê - BA nos dois últimos decênios. Ou seja, viemos para cá sob perspectiva do colo, no sentido literal do termo, migrantes nordestinos, sobremodo, paraibanos e pernambucanos viram aqui oportunidades de se transformarem em donos de suas próprias terras e, com isso construírem suas vidas tanto no plano econômico como no político.
Os fatos e a história da região dão-nos conta de que houve de maneira seqüencial “o deslocamento” que os agentes sociais fazem do seu mundo (sis) de vida para outro onde irão exercer a capacidade de lavrar ou fazer o solo alheio. O íncola que emigra, torna-se colonus”, pondera Bosi. Isto foi um continuum na região por aproximadamente vinte anos (1979 – 1990), havendo um crescimento da economia de modo que a cidade de Irecê - BA recebeu o título de “capital do feijão”, o qual foi noticiado pela a imprensa nacional, atraindo durante aquele período, centenas de migrantes em busca de melhores condições de vida, muito embora trouxessem pouco a oferecer (mão de obra nem sempre especializada) à sociedade local em termos culturais, artísticos, sociais e humanos, uma vez que o conhecimento acumulado que traziam consigo, não serviam aos locais. Entretanto, “A colonização dá um ar de recomeço e de arranque a culturas seculares”. (Bosi, 1992, p.12).
Para Ferreira Gullar “o novo é para nós, contraditoriamente, a liberdade e a submissão” se se quer entender isso como iniciação ao processo dialético da colonização, se observa então como os nativos têm reagido às interferências das correntes migratórias no processo cultural do Estado; são indiferentes num primeiro momento, noutro agressivos. Contudo, não resistem às pressões sócio-econômicas dos migrantes e acabam deixando-se suplantar, até porque, a força da corrente migratória é híbrida e, portanto, dilui-se, evitando ser atacada em suas bases.
É por isso que “a colonização não pode ser tratada como uma simples corrente migratória: ela é a resolução de carência e conflitos da matriz e uma tentativa de retomar, sob novas condições, o domínio sobre a natureza e o semelhante que tem acompanhado universalmente o chamado processo civilizatório”. (Bosi, 1992, p. 13)
Na verdade, a colonização vai aos poucos se construindo através das forças simbólicas, as quais são mediadas pelo Estado e com o apoio dos meios de comunicação de massa. No caso específico da região de Irecê-BA, essa força foi mediada pelo próprio sistema, ou seja, foi a partir da década de setenta, que o Governo Federal incentivou o cultivo de feijão e mamona, dando assim um impulso significativo no processo de colonização da terra. Por outro lado, se iniciou problemas ambientais, pois a caatinga fora devasta em nome da plantação de feijão. Com isso, teve-se uma “invasão de íncolas” cujo objetivo era fazer a dominação dos naturais e, consequentemente, empregar tanto na terra quando na sociedade locais; hábitos e costumes advindos de suas origens. (veja-se o exemplos dos nordestinos e mais recentemente dos gaúchos na região de Barreiras, onde plantam soja, transformando-a em colônia, para, de modo simbólico manter suas tradições e origem. Portanto, “A colonização é um projeto totalizante cujas forças motrizes poderão sempre buscar-se no nível do colo: ocupar um novo chão, explorar os seus bens, submeter os seus naturais.” (Bosi, 1992, p. 15) tem razão em afiançar isso de maneira sistemática.
O colonizador vê o nativo como sujeito incapaz de promover as mudanças que ele supostamente as fariam se no seu lugar estivesse. Ainda no plano do empréstimo do latim, mudando-se, portanto de categoria gramatical; supino de colo chaga-se a culturus aqui tomado com significado amplo:Cultura é o conjunto das práticas, das técnicas dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social. A educação é o momento institucional marcado do processo. (Bosi, 1992, p. 15)
Encontra-se no pensamento do autor, algo importante a ser dissecado antes de continuar a discussão, trata-se da “reprodução de um estado de coexistência social.” Isso bem entendido leva-se à percepção do por que de haver tantos centros de tradição espalhados por ai. Na realidade, esses centros tentam em sua manifestação, a busca de sua identidade, a qual já está hibridizada e, por isso, é buscada por meio de símbolos que revelem seu poder de dominação; saber é poder, conforme dizia Francis Bacon. Será isso um reflexo da civilização cultural pós-modernidade?

A (RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES

Neste ensaio se apresentam de maneira preliminar alguns fatos de pesquisa sobre possíveis a(s) identidade(s) presentes na poética dos escritores locais – irecenses - que, de algum modo, estão diluídos nas experiências da implantação de um sistema sócio-cultural dominado historicamente pela violência imposta pelos senhores e coronéis da região, tendo sido agravada mais tarde, com o movimento da diaspórica do ciclo do feijão, momento em que a região de Irecê – BA recebeu grande massa migratória dos estados nordestinos. Para tanto, utilizar-se-á a linha dos estudos culturais e da estética literária contemporânea as quais conduzirão à investigação no sentido de clarificar o processo de escrita dos autores regionais. Com efeito, observar-se-á ainda como a colonização ocorreu na região, e quais foram às contribuições trazidas e implantadas por essa corrente migratória na cultura local, bem como os impactos (positivo e negativo) que isto teve na vida das pessoas e da comunidade artística local, sobretudo, na literatura.

Como todo evento de pesquisa fundamenta-se na perspectiva de classificação, este trabalho não por acaso segue a mesma metodologia na tentativa de identificar e classificar os principais pontos estéticos e culturais da poesia local, buscando a compreensão da origem estético-ideológica dessa literatura. Dessa maneira, procurar-se-á ainda evidenciar o que realmente foi o processo de colonização da região, partindo da premissa de que houve desde o começo do século passado disputas por terras, as quais, às vezes, resultaram em fusões econômicas, políticas, lingüísticas, refletindo, pois, muito subliminarmente na cultura devido à “inércia” dos migrantes que nesse campo não contribuíram com os nativos.

Importaria dizer preliminarmente, que a produção poética irecense é marcada por carências estéticas e simbólicas, porque os autores produziram trabalhos literários[1] na tentativa de preencher as rupturas latentes no sistema cultural, o qual está pautado na dialética da opressão econômica e da violência gratuita dos colonizadores a terra aos seus moradores.

Mediante estas questões, acesso as algumas obras, elegeu-se um corpus significativo, o qual nos dará segurança para afirmar quais são os textos que melhor representam a produção literária irecense, tendo como ponto nefrálgico a questão da violência e da crise de identidade. Por se tratar de estudos de textos literários (poesia e prosa), adotar-se-á como procedimento de pesquisa, o método bibliográfico e interpretativo.

A obra literária traz por si algo de enigmático, bem como o autor devido a isto, atua, às vezes, como rebelde, visionário, filtro dos eventos sócio-culturais da sociedade na qual é agente. Isto pode ser visto no prefácio à obra Em Irecê revivendo com um pouco de fantasia..., (1999), de Adalvo Nunes Dourado, quando o prefaciador Walter Ney Dourado Rodrigues diz: “As histórias contidas em seu livro buscam resgatar a memória de fatos ocorridos com nossos antepassados.” Ao proceder à análise metódica do produto e do produtor, infere-se que, na verdade, ambos são frutos de um sistema político cultural particular. Diante disto, neste trabalho se toma como objeto de interpretação os livros: Em Irecê revivendo com um pouco de fantasia..., (1999), de Adalvo Nunes Dourado; Campestre e seus horrores, (2006), de Edizio Mendonça. Ambos narram passagem que se confundem com histórias pessoais e fatos aos quais parece os autores terem sido partícipes, deixando vir à tona elementos da cultura e da identidade dos moradores da região de Irecê – BA, antes da avalanche migratória nordestina que tomou conta da região.
Nota

[1] O termo literário, aqui empregado é no sentido da palavra escrita, porque a maior parte dos autores regionais que fizeram da palavra para narrativas históricas e pessoais, fugindo, pois, do evento estético da literatura. Conquanto, não se pode dizer que não haja nos textos certo grau de poeticidade.

ALFABETIZAR NA ESCOLA DE TRADIÇÃO ORAL: DILEMAS E PERSPECTIVAS


Este artigo discute a presença e uso da escrita na sociedade contemporânea, o que de fato a caracteriza como tal. Ver-se, portanto ai, a importância do acesso ao código escrito-digital para que o aluno desenvolva cidadania. Então, nesse contexto é possível transcender da alfabetização como aquisição e decodificação do código escrito para a concepção maior da aprendizagem de língua escrita, letramento. Neste trabalho, ponderou-se sobre a situação dos alfabetizandos e profissionais da língua(gem) da cidade de São Gabriel no que se refere ao acesso e uso do código escrito como elemento instigador da leitura e da escrita no espaço escolar. Por certo, existe uma constante falta de interação entre as práticas cotidianas de letramento do estudante; contato com as mídias impressas dos espaços abertos e os diversos elementos sociolingüísticos oferecidos pela escola, porque às práticas da leitura e escrita são superficiais. Estas se fossem bem usadas, tornar-se-iam aliadas da escola na preparação de estudantes capazes de realizar comunicação usando o código escrito e eletrônico. Para tanto, tomar-se-á como objeto de ação os preceitos da língua escrita. Diante disso, é preciso uma revisão no uso dos instrumentos de alfabetização existentes na escola, visto que há uma valorização da tradição oral em detrimento da observância do paradigma da escrita, haja vista que a maioria das crianças a ser alfabetizadas nesses contextos chega à escola cantando músicas de sucesso, ouvidas nas rádios, bem como vistas na televisão e ainda conhecem jogos eletrônicos e navegam na internet. Eis, pois o desafio do alfabetizador ante a nova realidade da escola no sertão baiano.
Nota
[1] Este artigo faz parte do trabalho de pesquisa que iniciei a pouco para compreender melhor a trajetória do processo de alfabetização e letramento dos estudantes da escola municipais da cidade de São Gabriel – BA, intitulado: Ensino de Escrita na sociedade de tradição oral: Dilemas e perspectivas.

OS ENTRETONS DA LINGUAGEM DA MÍDIA IMPRESSA

Este é um texto que não traz originalidade em sua temática. Porém, é declaradamente uma tentativa de organizar e discutir elementos teóricos acerca do discurso contemporâneo da mídia. Deste ponto de vista, mostrar que, sob o aparato da massificação, há ideologias implícitas na maneira como são informadas as notícias sobre o cotidiano da sociedade, bem como compreender as variabilidades dos textos conforme o enfoque dado pelo aparelho veiculador dos fatos. Com isso procurar-se-á por meio dos estudos destas variantes, a compreensão das categorias de sentido propostas pelas narrativas noticiosas, ponderando sobre a estrutura da linguagem, a montagem do discurso, bem como a interpretação do fato.

Desse modo faz-se importante a assunção do ato de interpretar os entretons da linguagem nos relatos da imprensa escrita, uma vez que, o ato de narrar tem sido mascarado pelo fato noticioso no qual a imagem (ilustração do texto) metamorfoseia o discurso, dando lhe várias facetas. É a partir da inferência de que “A interpretação produz uma espécie particular de discurso: o do comentário, o da crítica o da explicação de textos, etc.”[i], que vale a pena recorrer à gênese do verbo interpretar[ii], para, em seguida, pontuar os entretons que permeiam o discurso da mídia.
Sabe-se, pois, que ação midiática é fruto de um ato enunciativo no qual o enunciador interpreta um fato, estabelecendo uma relação discursiva em que a linguagem passa a ser difundida e corroborada pelas imagens e o contexto de onde se enuncia a notícia. Com isso, há intermediação por parte do canal onde a mensagem é veiculada, levando assim a duas instâncias críticas do discurso: repórter e leitor. Este último tem a função de apreciar a informação construindo para si significados conforme as qualidades e ideologias contidas na reportagem.

Espera-se que ao longo dos diálogos com os teóricos da área se estabeleçam conexões clarificadoras a respeito da práxis discursiva da mídia e o papel do ledor. Assim sendo, evidencia-se aqui a metodologia empregada neste trabalho, isto é, prioriza-se a atividade bibliográfica, para, em seguida, tratar das questões analíticas do corpus em discussão: textos da mídia impressa.

A mídia impressa contemporânea e, de certo modo imediatista, por isso supõe-se que por trás deste processo há assimilação da ideologia de mercado, ou seja, a notícia é o objeto de consumo nesse mercado onde a novidade declara o preço do produto, sem, contudo, estabelecer a idoneidade do produtor. “A novidade e a experimentação substituem os tradicionais padrões estéticos de harmonia e beleza narrativa da experiência vida in lócus, pois, valoriza-se a informação como mercadoria no mercado mídiatico[iii].” (grifo meu).
Notas
[i] Teixeira, Lucia. As cores do discurso: análise do discurso da crítica de arte. Niterói: EDUFF, 1996, p. 10.
[ii] Verbo latino interpretari, o fazer do interpretes. O significado inicial de interpres é ‘intermediário’, ‘negociante’, o que barganha preço’. Logo, conclui-se que o significado corrente de ‘interprete’, isto é, ‘ aquele que explica’.
[iii] TEIXEIRA, 1996, p. 10.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

USO DA LÍNGUA(GEM) ESCRITA: EDIFICAÇÃO DE CIDADANIA

Introdução


No contemporâneo, o conhecimento e domínio da língua oral e escrita são elementos fundamentais para que homem, de fato, efetive sua participação na vida social da comunidade da qual faz parte. Por isso, o ensino-aprendizagem da língua nacional na escola deve seguir paradigmas que leve o aprendiz a entender que, é por meio deste processo que ele comunica, tem acesso à informação, expressa e defende seus pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo e, consequentemente, produz informação usando a estrutura lingüística empregada pela sociedade onde atua em determinado momento histórico.


De acordo com o PCNs de Língua Portuguesa (Parâmetros Curriculares Nacionais) a escola tem a “responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes lingüísticos, necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos.” (PCNS, 2001, p. 15). Com essa perspectiva, os profissionais da língua (gem) que atuam nas séries iniciais precisam compreender que sua ação enquanto professor está baseada na produção lingüística individual e coletiva, sendo a primeira realizada por ele e seus alunos; segunda, fruto da interação verbal de ambos com a comunidade a qual todos pertencem.

Essa visão permite o desvelamento de alguns problemas pelos quais passam crianças oriundas de classe sociais subalternas; estas encontram maiores dificuldades na aquisição do código escrito por falta de acesso a revistas, livros, jornais, mídias impressas. Tal fato se explica pela falta de contato com o mundo da escrita, bem como atividades sociais mediadas lingüística e culturalmente pelo padrão forma da língua, texto. Com efeito, infere-se que, aprender a ler e escrever é para o aluno, a construção de sua liberdade por meio do conhecimento e aplicação de elementos conceituais contidos nos registros escritos que o fará compreender a importância da língua formal como representação do pensamento sistemático, bem como da forma gráfica da linguagem.

Dessa forma, pode-se repensar sobre as novas possibilidades de ensino de leitura e escrita nas séries iniciais e, conseqüentemente, no ensino básico, considerando, pois, que a aquisição do conhecimento lingüístico e cultural está relacionada com o universo cotidiano dos aprendentes de língua materna e, por isso, se constituem como partes de uso da fala e da escrita como expressão e comunicação de pensamento individual e coletivo através de textos. “Ser um usuário competente da escrita é, cada vez mais, condição para a efetiva participação social e cultural da comunidade onde aluno e professor se fazem sujeitos da comunicação. (grifo meu).” (PCNs, 2001, p.22).

2. Linguagem e interação sociocultural


A compreensão e domínio da língua, sobremodo, das variantes escrita e oral possibilita ao usuário o pleno exercício da cidadania, pois é por meio delas que os homens de letramento[1] se comunicam, trocam informação, expressam-se e defendem suas ideologias. Assim, à escola comprometida com a libertação de seus alunos, devem em primeiro lugar, construir com estes (alunos) pontes que os levem à inferência de que expressarem oralmente seus sentimentos não é suficiente para lhe garantirem o direito de cidadão, partícipes de uma sociedade formatada na e para a escrita. Entretanto, este tem sido o único meio pelo qual se consegue expressar. De tal maneira que, ao usarem a escrita, transferem-se a ela elementos da fala, transgredindo a norma padrão.

A linguagem nesse contexto é uma maneira de interação interindíviduos, a qual é orientada para a comunicação; tal procedimento lingüístico se realiza a partir das relações estabelecidas pelos interlocutores que, seguindo suas experiências culturais na sociedade ajuda a construir sua história. O exemplo, disso se tem as conversas de bar, entre amigos, lista de compras, ou a carta – diferentes práticas sociais das quais se podem participar usando a código nacional, língua portuguesa. Nesta perspectiva, há o entendimento de que a língua é um sistema que se constrói por signos lingüísticos, históricos e sociais que possibilitam ao cidadão significar e ressignificar a realidade e o mundo a que pertence e pretende construir. “aprendê-la é aprender não só as palavras, mas também os seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio social entendem e interpretam a realidade e a si mesmas.” (PCNs, 2001, p. 24).

Assim sendo, a linguagem leva à construção de importantes dimensões sociolingüísticas, isto é, ela se constitui como elemento necessário ao emissor, tenha este ou não algo a dizer de a alguém. Para tanto, este processo interativo pede que se formate na mente uma série de representações constituídas sobre o mundo ao qual ele é agente.

Produzir linguagem significa produzir discurso. Significa dizer alguma coisa para alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto histórico. [...] quando se interage verbalmente com alguém, o discurso se organiza a partir dos conhecimentos que se acredita que o interlocutor possua sobre o assunto, do que se supõe serem suas opiniões e convicções, simpatias e antipatias, da relação de afinidade e do grau de familirialidade que se tem, da posição social e hierárquica que se ocupa em relação a ele e vice-versa. (PCNs-Língua Portuguesa, 2001, p. 25).

Para Maigueneau (2004) viver no mundo contemporâneo implica ser colocado em uma situação múltipla de textos, mesmo sendo estes efêmeros: panfletos, catálogos, jornais, cartazes, guias turísticos, malas-diretas de propaganda etc. Ainda segundo o estudioso francês a escola deve instrumentalizar os estudantes de ferramentas que os possibilitem entender que esse corpora é uma produção lingüística – texto – produto da atividade discursiva oral ou escrita que forma um todo significativo e acabado, qualquer que seja sua extensão. É uma seqüência verbal constituída por um conjunto de relações que se estabelecem a partir da coesão[2] e da coerência.
Dessa maneira, um texto só é um texto quando pode ser compreendido como unidade significativa global, quando possui textualidade. Caso contrário, tem se aí um amontoado de enunciados vazios. “Todo texto se organiza dentro de um determinado gênero. Os vários gêneros existentes, por sua vez, constituem formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura, caracterizados por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional.” (PCNs – Língua Portuguesa, 2001, p. 26).

Com relação aos textos, os gêneros são determinados historicamente a partir das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, gera usos sociais que determinam os gêneros que darão forma aos textos. Assim sendo, identifica-se um gênero a partir de marcas textuais, estruturais e históricas: “era uma vez” conto; “senhoras e senhores” pronunciamento público, apresentação de espetáculo; “Querida mamãe” epistolares.

3. Ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa na escola

A língua deve ser entendida como sistema dinâmico, o qual se caracteriza como tal devido ao uso contínuo e sistêmico dos elementos estruturais que a compõe. Assim sendo, considera-se que o ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa está pautado na articulação de: aluno, língua e ensino.
Nesta tríade, o aluno é sujeito primário do processo, pois é agente e paciente da ação de aprender; a língua objeto de conhecimento; A Língua Portuguesa se apresenta nesse esquema, constituída de fala e escrita tanto dentro quanto fora do espaço escolar; a língua que se pratica em instâncias públicas e a que existe nos textos escritos que circulam socialmente. Com relação ao ensino, é importante que o profissional da linguagem entenda seu papel de mediador, atuando de maneira a encaminhar o estudante à aquisição da língua e, conseqüentemente a assimilação da estrutura lingüística do idioma nacional. “o professor deverá planejar, implementar e dirigir as atividades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço de ação e reflexão do aluno. (PCNs – Língua Portuguesa, 2001, p. 29).

Ainda para os PCNs em questão, uma educação que se queira comprometida com a produção e uso lingüístico coerente, esta deve levar os usuários da língua(gem) desde as séries iniciais a praticarem sua cidadania por meio do uso efetivo da língua enquanto instrumento de significação social e individual. “Todas as disciplinas têm a responsabilidade de ensinar a utilizar os textos de que fazem uso, mas é a de Língua Portuguesa que deve tomar para si o papel de fazê-lo de modo mais sistemático.” (PCNs, 2001, p. 31).
Este fato conduz ao entendimento de que à escola cabe ensinar ao aluno ler, escrever e falar: é muito comum se considerarem as variedades lingüísticas de menor prestígio como inferiores ou erradas.

Cabe à escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral nas diversas situações comunicativas, especialmente nas mais formais: planejamento e realizações de entrevistas, debates, seminários diálogos com autoridades, dramatizações, etc. [...] A aprendizagem de procedimentos eficazes tanto de fala como de escuta, em contextos mais formais, dificilmente ocorrerá se a escola não tomar para si a tarefa de promovê-la. (PCNs – Língua Portuguesa, 2001, p. 32).

Na escrita alfabética é um sistema de escrita regido pelo princípio do fonograma em que o signo gráfico representa normalmente um ou mais fonemas do idioma. É importante notar que, na escola ensina escrita como se esta fosse algo misterioso e, portanto, poucos conseguem desvendá-lo, produzindo textos que atendam às necessidades dos usuários da língua. Isso é porque as pessoas praticarem suas experiências através da oralidade (paqueram, compram, vendem e trocam informações através da fala). Não obstante, uma sociedade letrada como é a nossa, apresenta-se às crianças histórias ou notícias de jornal para elas que ainda não sabem ler e escrever convencionalmente ensina-se a estas como são organizados, na escrita, estes dois gêneros: desde o vocabulário adequado a cada um, até os recursos coesivos[3]. “A capacidade de decifrar o escrito é não só condição para a leitura independente como – verdadeiro rito de passagem – um saber de grande valor social.” (PCNs – Língua Portuguesa, 2001, p. 34).

4. O texto como unidade significativa de ensino


Ensinar o idioma nacional nas séries iniciais é uma ação marcada pela adição de vários elementos lingüísticos: ensina-se a juntar sílabas (ou letras) para formar palavras, a juntar palavras para formar frases e a juntar frases para formar textos. Na verdade, isso não corresponde à realidade e a necessidade da criança que, diante de uma gama significativa de letramento adquiri uma competência discursiva[4]. Esses “textos” nesta perspectiva não podem ser considerados como tais, porque não passam de simples amontoados de frases. Isto até tem mostrado que os professores tentam aproximar os textos das crianças – simplificando-os -, no lugar de aproximar as crianças dos textos de qualidade. Tal atividade tem mostrado efeitos sérios, pois, ficam muitas dúvidas para a criança, isto é, “não se formam bons leitores oferecendo materiais de leitura empobrecidos, justamente no momento em que as crianças são iniciadas no mundo da escrita. As pessoas aprendem a gostar de ler quando, de alguma forma, a qualidade de suas vidas melhora com a leitura.” (PCNs – Língua Portuguesa, 2001, p. 36).
Esta prática leva-nos à reflexão sobre o ensino aprendizagem da língua nas séries iniciais, porque a linguagem se realiza por meio de atividades lingüísticas, as quais possibilitam a expansão da capacidade produtiva e interpretativa de textos pela criança. Nesse contexto, a produção lingüística deve ser dividida e observada sob dois conceitos importantes: epilinguística e metalingüística; estas por sua vez conduzem à reflexão e a sistematização do uso da língua nacional, tanto na vertente oral como escrita, sendo esta última a que mais demanda de cuidado. Desse modo, a atividade epilinguística remete á questão do uso oral e suas configurações próprias. Exemplo, no meio de uma conversa um dos interlocutores afirma: “acho que essa palavra não é a melhor para se dizer isso. Que tal...?
Tem-se ai uma perspectiva de mudança no sentido o que de fato constitui a cidadania por meio da linguagem, isto é, o cidadão no seu fazer cotidiano encontra ressonância na sua produção lingüística a partir da enunciação oral. Por outro lado, isto revela uma série de problemas, os quais estão além do universo lingüístico, porque isto demonstra que o estado tem falhando na formação lingüística da criança desde muito cedo, de maneira que, mesmo estando numa urbe de letramento, ou seja, na sociedade civilizada na qual a comunicação, normalmente, se dá por meio do código escrito, ainda é visível a crise da escrita. Afirmando de outro modo, mesmo quando as classes menos favorecidas intentam participar do sistema lingüístico e cultural da linguagem escrita, traz consigo “vícios’ da linguagem oral, pois é o universo qual esta submergido deste os primeiros contatos com a língua.

5. Arremate efêmero

Ante a tal quadro de crise de compreensão e emprego da língua na modalidade formal – escrita – ficam claras questões sociais, econômicas e culturais, sobretudo, aqui na região de Irecê – BA onde a sociedade é eminentemente oralizada e, portanto, há que se considerar a pouca vocação da escola na observação desse fenômeno, uma vez que seus profissionais atuam de maneira paradoxo. Isto é, se ensina nas escolas, especialmente na disciplina de língua portuguesa os princípios da gramática e da escrita, usando na maioria das vezes o texto como pretexto para ensinar aquilo que, não será de uso significativo para o estudante porque ele estará submetido a um universo de mídia imagética e oralizada. Por fim, compreende-se que, neste processo é possível encontrar mecanismo de inserção social dos indivíduos no mundo da escrita, através da retextualização do material lingüístico oralmente construído no cotidiano por eles. Com isso, os farão inferir que, a escrita e a oralidade comungam princípios sintáticos e semânticos, além claro, de cada um ter seu lugar de uso na comunidade.


Referências bibliográficas
KATO, Mary A. No mundo da Escrita: uma perspectiva psicolingüística. São Paulo: Ática, 1995.
Marcuschi, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo, Cortez, 2001.
Neves, Maria Helena de Moura. Gramática na escola. São Paulo, Contexto, 1990.
Neves, Maria Helena de Moura. Que gramática estudar na escola? São Paulo, Contexto, 2003.
PCNs – Língua Portuguesa, 2002
SAUSSURE, Ferdinand de – Curso de Lingüística Geral, São Paulo, Editora Cultrix.
Notas
[1] Letramento, aqui, é empregado como resultado da participação ativa dos sujeitos em prática sociais que, direto ou indiretamente, usam a escrita como sistema simbólico e tecnológico. Estas práticas por sua vez Têm caráter discursivo e que usam a escrita como meio para torná-las significativas, ainda que às vezes não envolvam as atividades específicas de ler ou escrever, uma vez que, às vezes os usuários de tal processo não dominam integramente os sistemas de leitura e escrita. Com isso, infere-se que, nas sociedades urbanas contemporâneas (periferia das cidades), há elevado grau de letramento porque os agentes sociais participam de modo efetivo da vida da comunidade onde vivem. Em detrimento, há baixo grau de alfabetização visto que essas mesmas pessoas não dão conta de produz texto inteligíveis.
[2] Coesão, neste texto, diz respeito ao conjunto de recursos por meio dos quais as sentenças se interligam, formando um texto.
[3] Recursos coesivos são elementos lingüísticos da superfície de um texto que indicam as relações existentes entre as palavras e os enunciados que o compõem.
[4] Competência discursiva, aqui, está sendo compreendidos como a capacidade de se produzir discursos – orais ou escritos – adequados às situações enunciativas em questão, considerando todos os aspectos e decisões envolvidos nesse processo.