quinta-feira, 13 de novembro de 2008

RIO DA VIDA

O coração tal escravo
Com saudade de sua terra
À beira do rio da vida
Chora e sente falta de quem antes era.

Você chegou e as águas de verão
Levando minhas tristes lágrimas
Para o além mar.

De lá elas subiram ao céu
Formando nuvens de alegria...

Depois de chorar o coração
Sente e faz corpo e alma
Mais leves para te querer...

13 de novembro de 2008, 22h
Robério Pereira Barreto

INTERNETÊS NA MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA

A mídia digital tendo como mediador o ciberdiscurso[1]que modifica o fazer social, cultural, lingüístico e escolástico da sociedade contemporânea na qual a escola constitui-se no lócus econômico e político das comunidades de falantes, como mais uma possibilidade de ação. Uma coisa é certa: a rede digital traz para a escola uma nova linguagem com vocabulário e aspectos lingüísticos inovadores. Assim, é importante que os profissionais da educação e, principalmente, os professores da Língua Portuguesa entrem em contato com essas novas tecnologias urgentemente. Pois, sabe-se que os governos não têm conseguido atender as necessidades das escolas no que se refere à inserção dos profissionais da educação no universo da informática e, sobremodo, da rede digital.
Neste ensaio busca-se apresentar à comunidade educacional, possibilidades de se usar os conhecimentos e recursos da mídia digital – parcos, diga-se de passagem - para aperfeiçoar os mecanismos de construção de leitura, de escrita e de sentido das mensagens veiculadas na “sociedade da imagem”.
Quem usa a internet e seu hipertexto constitui-se em atores, cujas perspectivas há muito vêm sendo discutidas com grande insatisfação, pois as ações nesse processo são, normalmente, entendidas a partir da ótica da exclusão. Em outros termos, comenta-se que o acesso à mídia digital é uma impossibilidade por parte da massa proletária de estudantes e com isso, tem-se uma série de desequilíbrios político, social e cultural devido ao afastamento dos estudantes do saber tecnológico proposto pela rede mundial de computadores.
Por outro lado, a expansão do interesse pelo uso da mídia digital nas escolas brasileiras já está defasada há décadas, e pede publicação de trabalhos tanto teóricos quanto aplicados ao ensino de linguagem na escola pública. Pensado nisso, traz-se à baila uma visão instigadora das possibilidades que a internet e suas mídias podem contribuir para a ação pedagógica dos profissionais da linguagem, quando estes se referirem às práticas lingüísticas do cotidiano, posto que, na rede digital existem hipertextos que passaram a ocupar o inconsciente coletivo, dando assim um novo entendimento à variedade de campos do saber na literatura, no cinema, na publicidade, na televisão e também na música, sendo estes entendidos sob a ótica do leitor, como elementos subjacentes à comunicação de massa.
Nas próximas seções, seguem princípios teóricos e práticos que aludem à prática do professor em sala de aula, como sujeito e objeto da ação de ensinar e aprender a “navegar” nas ondas da fibra ótica e construir interatividade entre a mensagem da rede e o pensamento lingüístico e cultural dos “navegantes do oceano cibernético”.
O estudante vive experiência do cotidiano lingüístico digital e com isso transfere seu raciocínio para a prática efetiva da comunicação. Tal acontecimento precisa de orientação metodológica. Portanto, o professor precisa aproveitar essas informações e fazer com o aluno transforme tal bagagem em conhecimento, por meio de uma seleção discursiva. Em outros termos, o profissional da linguagem deve atuar como mediador no processo discursivo do aprendiz, lhe informado que o uso cotidiano da linguagem prática na rede digital não se aplica ao contexto exterior (sala de aula, entrevista de emprego, paquera e, principalmente na prática escrita formal), contudo seus saberes linguísticos digitais são importantes para sua convivência na comunidade internética.
Não obstante às críticas, o internetês como tem sido chamado, é uma realidade e por isso precisa ser entendida e apreciada como tal. Se se quer a compreensão de que a língua evolui conforme a sociedade que a pratica avança tecnologicamente, eis ai o resultado; a linguagem prática na internet seja qual for sua maneira traduz de forma singular o processo de modernidade. Dessa forma, a escola, principalmente, no que se refere ao ensino-aprendizagem de língua portuguesa ficou inerte, uma vez que professores de “língua portuguesa” ficaram presos a conceitos superficiais da língua, tendo inclusive engessado o idioma de Machado de Assis às regras gramaticais.
O que impressiona na prática lingüística internética são os números. Conforme pesquisas realizadas recentemente, o número de usuários desse veículo aumentou significativamente e, por isso, a comunicação e a língua por eles utilizada têm mostrado avanços no que se refere à dinâmica lingüística.
Para Silvia Marconato( 2006), no Brasil, um batalhão de 15 milhões de usuários troca 500 milhões de mensagens por dia por meio do Messenger (MSN), o comunicador instantâneo da Microsoft. O Ibope/NetRatings divulgou em janeiro que o internauta brasileiro continua sendo o campeão mundial da navegação, com uma média de 17 horas e 59 minutos, deixando para trás Estados Unidos, Japão e Austrália.
Assim sendo, a revolução do internetês é uma realidade e, portanto, nós, professores de língua portuguesa necessitamos “conectarmos” às suas variantes para na perdermos o rumo e a dinâmica da língua porque a “simplificação da grafia e uso de símbolos aplicam liberdade da fala à escrita; efeito sobre a sintaxe dos jovens pode não ser catastrófico como se imagina” afirma o lingüista Ataliba de Castilho.
Num trabalho denominado O professor de português junto ao aluno, usuário de sala de bate-papo na internet (2004), publicado no livro prática de linguagem no contemporâneo discute-se a relação do professor de língua, o aluno e escrita praticada pelos jovens, a partir de princípios da lingüística, tendo no pensamento de Pretti, (2003) o qual assegura que: “a língua funciona como elemento de interação entre individuo e sociedade em que ele atua. É através dela que a realidade se transforma em signos, pela associação de significantes sonoros a significados arbitrários, com os quais se processa a comunicação lingüística” (Pretti, 2003. 12 apud Barreto, 2004, p. 15).
A produção lingüística dos internautas tem tirado o sono dos puritanos da língua. Entretanto, tem havido uma preocupação saudável por parte dos estudiosos contemporâneos da língua no sentido de alerta aos professores e, consequentemente aos jovens que, tal prática tem como contexto apenas os ciberespaços. Então, sua realização fora desse contexto soa como erros, devido à permanência da gramática reguladora da produção escrita e, às vezes da fala. Por fim, acredita-se que o internetês configura-se como um mediador da prática lingüística contemporânea, embora seja vigiado pela norma padrão da língua. Não obstante, aos caprichos dos estudiosos ortodoxos da língua os quais o considera como interferência negativa na produção culta, uma vez que já temos muitos problemas no uso da língua padrão.
Segundo Chierchia “as línguas, por trás de sua fluidez, têm um esqueleto lógico, e ele permite que nos compreendamos”. Então, é por isso talvez que nos preocupamos com a produção lingüística dos internautas, porque não conseguimos interagir com eles. Tal fato nos tira a ‘autoridade’ que antes detínhamos ao promover a língua no variante padrão (escrita literária) à condição de mestra da boa comunicação e, sobretudo, instrumento de erudição.

Bibliografias
BARRETO, R. P. Práticas de linguagem no contemporâneo. Tangará da Serra: Sanches, 2004
BARRETO, Robério Pereira; BALDINOTTI, Sérgio, Ciberdiscurso e interculturalidade na Web. 2005.

[1] Cf. BARRETO, Robério Pereira; BALDINOTTI, Sérgio, Ciberdiscurso e interculturalidade na Web. 2005.

CRIATIVIDADE E CIDADANIA: ENSINO DE HUMANIDADES NA ESCOLA:

Robério Pereira Barretoã


Faz algum tempo que venho discutindo nos bastidores da Universidade e da Escola Publica onde trabalho, que o ensino de linguagem e, principalmente, das questões relacionadas à aprendizagem da leitura e da escrita por parte dos estudantes tanto do nível básico quanto do superior deveria ser através da arte, literatura, pintura e humanidades. É senso comum encontrarmos em todas as salas de professores (inclusive já me flagrei fazendo isso), alguém está sempre falando que os estudantes não estão nem aí para aula, os conhecimentos que lhes transmitimos pouco importam, etc. Então, resolvi aprofundar na reflexão e eis que cheguei ao seguinte entendimento. (claro que isso não é inédito). Tem-se muito estudante louco por leitura e que produz textos significativos, contudo, não é a tipo de texto reconhecido pela instituição escolástico e, portanto, não é certificado como tal. Por isso, eles não se interessam por tal prática, ou seja, por mais que leiam e produzam não lhes damos os devidos créditos, porque estamos pautados em tipologias e regras de leitura e produção textuais do século de Anchieta, que não mais acompanham a evolução do pensamento do estudante da era digital.
Nesse contexto, surge a pergunta: qual é a sugestão para resolução de tal problema, gênio? De acordo com os ensinamentos que realizamos em relação ao plano da leitura e escrita em todos os níveis educacionais, tanto na “esfera publica” como particular, uma coisa é certa; estamos fadados ao fracasso como professores! Mas nem tudo está tão ruim assim. Porque vejam: a minha idéia (brilhante). Se a filosofia da escola de ensino básico é formar estudantes para o mundo da linguagem e suas complexas relações com a mídia, então, a melhor forma é conduzi-lo a esse universo, usando as “armas” do inimigo onipresente; a mídia, através da exploração da criatividade deles, pois, esses cidadãos têm muito a nos informar e surpreender. Para tanto, basta incentiva-los no que eles têm de melhor, capacidade de invenção. Veja os exemplos da linguagem internética!
Ainda mantendo a provocação inicial, considero uma perda de tempo e dinheiro, a criação inócua dos chamados “cantinhos da leitura” nos quais temos de tudo – almofadas, pufes, paredes decoradas, etc., contudo, tal espaço é guardado a chave e o protagonista nunca estão em ação, estudantes escolhendo o que quer ler. Ao contrário, quando os sujeitos têm acesso a esse espaço, estão acompanhados de um professor que, por sua vez, dirige as atividades conforme seu gosto pessoal, ou do programa didático instituído pela escola. Para completar o princípio de discórdia (sei que alguns ao lerem - se é que lerão – encherão minha caixa postal de impropérios não tem problemas, estou acostumado com o rótulo de provocador). Tem-se nas escolas de ensino básico, a famosa prática – estudante que aprender rápido o raciocínio linear do professor e fica “bagunçando” em sala de aula deve ir à biblioteca. Graças a Deus! Feliz daquele que tem como castigo ficar horas junto a vários pensadores, artística, críticos, etc. seriam ótimos resultados se todos os professores que não conseguisse atenção dos estudantes dessem a esses, o castigo da biblioteca, certamente teria um número maior de leitores competentes e capazes de entender a homem e a sociedade na qual atua.
Diante de tamanha provocação, exponho a seguir a idéia base desse ensaio: minha tese é de que esse modelo educacional arcaico está falido faz um tempo considerável, sobre tudo no que diz respeita ao ensino-aprendizado de língua materna. Os profissionais formados no curso de licenciatura em letras e pedagogia deveriam se interessam em conhecer e dominar a linguagem das grandes obras de arte – literatura, pintura, teatro -, as quais, por sua vez, estão repletas de ensinamentos históricos, linguísticos, literários e culturais.
Para tanto, seria necessário criar mecanismos que acabassem com essa estrutura de aulas segmentadas – Português, Matemática, História – como se cada uma fosse objetos estranhos e que após a saída do professor da sala de aula, o estudante deve guardar em sua caixinha as informações que lhe foram oferecidas, para daqui a uma semana resgata-lo. Calma! Já explico como esses mecanismos seriam criados. Se a idéia da educação básica é formar cidadãos capazes de se relacionarem com seus iguais e produzirem conhecimentos por meio da aquisição da linguagem, tendo como mediador a língua. Então, vejam: pode-se instituir na unidade educacional que, durante o ano letivo, todos os profissionais da educação estarão envolvidos num projeto, o qual tem como objetivo a montagem de uma peça teatral, sendo que para isso, os conteúdos a serem ministrados aos estudantes devem referir-se a tal proposta. Dizendo de outro modo; o professor de língua materna apresentará aos alunos textos fundamentais da literatura dramática universal e os princípios da leitura e escrita da peça teatral, com quais eles desenvolverá suas atividades, tendo na reescritura a consolidação dos princípios da língua em suas variantes culta e popular; o professor de matemática trabalhará de maneira idêntica, adequando os conteúdos da disciplina ao estudo das dimensões do palco, bem como os fundamentos da geometria, criando expectativas para a montagem do palco – calculando área, quantidade de madeira, tinta, assoalho, etc. seriam necessários para tal construção -; a disciplina de Química e Física terão seus programas baseados nas cores e sentidos atribuídos aos elementos que comporão os cenários e; a Educação Física e artes trabalhar-se-ão as linguagens corporais e níveis de corporeidade, possibilitando assim a comunicação expressiva do estudante.
Ufá! Como seria bom se realmente tivéssemos alguém que comprasse, ou melhor, roubasse essa idéia e colocassem em ação, porém, creio que alguns ortodoxos dirão: essa só mais uma esquisitice, não dará certo. O pior é haverá quem afirme que essa idéia só aumentará a indisciplina dos estudantes, escola será uma bagunça! Antecipando-me digo: Não será, ao contrário, teremos estudantes mais interessados nas aulas, até porque será uma forma de valorizar o conhecimento e capacidade de criação que eles têm e nós com nossas soberbas e paradigmas arcaicos os impedimos de mostrar.
Para concluir, reafirmo; está na hora da escola se tomar iniciativa e buscar junto com seu quadro docente e discente inovações no campo do ensino-aprendizado, porque se continuar nesse marasmo estará fadado à derrocada total. Acordemos todos para as novas exigências da sociedade contemporânea, na qual a formação do homem moderno está além das recomendações contidas nos manuais de leitura e escrita. Hodiernamente, a comunicação se dá necessariamente por meio das imagens se símbolos convencionalizados pelos sujeitos da linguagem, na qual a comunicação se processa no plano da criatividade lingüístico, histórica e identitária, dando a cada um, perspectivas diferenciadas. Enfim, com a decisão os interessados em mudar esse quadro patético que nos apresentado pelos institutos de pesquisa quando se referem à questão educacional do país. Ah, lembre-se não estou dizendo para se fazer mágica ou pacto de mediocridade, conforme a expressão: vamos fingir que ensinamos, porque eles também fingirão que aprenderam e daí continuamos no mesmo zero a zero.
Bibliografia:
MORIN, Edgar. A religação dos saberes: o desafio do século XIX. 4. ed. São Paulo: Bertrand Brasil. 2004.

ã Professor de Linguagens e Línguística, poeta e escritor.