domingo, 12 de julho de 2009

WEBLOG COMO SÍTIO DE PRODUÇÃO DE LINGUAGEM ESCRITA E LEITURAS HIPERTEXTUAIS

Este ensaio traz à luz da discussão de que a weblog é um espaço de comunicação via escrita, bem como reconhecimento de que há nesse lugar a possibilidade de se permitir o acesso ao letramento daqueles que o acessa como meio de trocas simbólicas e culturais.
Desse pressuposto, pensa-se que as contribuições que o weblog oferece, são autorizar aos blogueiros a produção de textos nos quais se trocam de maneira contínua informações, sentimentos, contribuindo assim, com o processo de letramento dos cibernautas, sobremodo, do público infanto-juvenil, freqüentadores habituais do ciberespaço.
Nesse sentido, é relevante refletir quais as razões que levam a escola a ainda não reconhecer a produção escrita realizada no weblog como ação lingüístico-educativa, posto que, à medida que os paradigmas da educação na contemporaneidade convergem para o reconhecimento da formação de sujeitos produtivos e participativos na sociedade atual, onde há a prevalência de sujeitos letrados.
A esse respeito se faz interlocução com Soares (2000), uma vez que esta pesquisadora nos conduz à compreensão do conceito de letramento além da decodificação de sentenças formuladas em língua materna. Assim sendo, o ato de letrar se torna a possibilidade de levar o sujeito da linguagem ao mundo da escrita, a qual se dá pela aprendizagem de toda a complexa tecnologia envolvida no aprendizado do ato de ler e escrever. Todavia, a internet como dispositivo, bem como as tecnologias de informação e comunicação com as quais o weblog se concretiza como tecnologia intelectual facilitadora do processo de escrita na web.
Por isso, o cibernauta carecer saber fazer uso e envolverem-se nas atividades de produção de leitura e escrita quando as assume na coletividade do ciberespaço. Ou seja, para entrar nesse universo de produção escrita e leitura, é fundamental apropriarem-se do hábito de buscar informações no hipertexto da web e, com isso, fazem-se deslocamentos severos dos papéis tanto de que escreve quanto de que ler no ciberespaço. Nesse mister, evidenciam-se ainda as funções até então exercidas pela escola enquanto espaço de formação de sujeitos na sociedade dos signos, letrada.
Importa dizer aqui, ainda, que sob o auxílio do computador ligado à internet, a ação de letramento ocorre de maneira singular, isto é, distancia-se assim, daquela concepção de que somente o alfabetizado é capaz de comunicar-se usando a tecnologia intelectual escrita.
Para Lévy (2000) a dimensão da comunicação via escrita no ciberespaço é perpassada pelos signos que formam o ciberespaço como um hipertexto, posto que:

O espaço cibernético é a instauração de uma rede de todas as memórias informatizadas [...] A dimensão da comunicação e da informação, então está se transformando numa esfera informatizada. O interesse é pensar qual o significado cultural disso. Com o espaço cibernético, temos uma ferramenta de comunicação muito diferente da mídia clássica, porque é nesse espaço que todas as mensagens se tornam interativas, ganham uma plasticidade e têm uma possibilidade de metamorfose imediata. E aí, a partir do momento em que se tem o acesso a isso, cada pessoa pode se tornar uma emissora, o que obviamente não é o caso de uma mídia como a imprensa ou a televisão. (LÈVY, 2000, p. 13).
Neste ponto de vista, tem-se a presença da virtualização da sociedade contemporânea, referendada pela virtualização do saberes possibilitados pela internet, visto que a linguagem, a técnica e as relações sociais, são postos em destaque a partir dos novos papéis atribuídos à escrita enquanto tecnologia intelectual.
Nessa perspectiva, Lévy (2000) pondera que, o surgimento da escrita abrevia nossa capacidade de nos comunicarmos de maneiras variadas, por meio de textos escritos de e com formatos diferenciados, visto que os autores – blogueiros - passaram a usar o espaço cibernético como possibilidade de superação dos anacronismos do conceito e alfabetização e letramento proposto pela cultura escolástica até então vigentes no meio educacional brasileiro. Isso certamente ocorre porque eles – cibernautas, blogueiros – aprendem o código e a mecânica, do weblog mesmo sem terem sido alfabetizados ciberneticamente; até porque a escola ainda pensa e atua de forma antinômica no que se refere à produção de escrita e a realização de leitura no ciberespaço.
No plano de reconhecimento de que a escrita tem sido perpassada por novos sistemas sígnicos, Lévy nos provoca:

Com a escrita, e mais ainda com o alfabeto e a imprensa, os modos de conhecimento teóricos hermenêuticos passaram, portanto, a prevalecer sobre os saberes narrativos e rituais das sociedades orais. A exigência de uma verdade universal, objetiva e crítica só pôde se impor numa ecologia cognitiva largamente estruturada pela escrita, ou, mais exatamente, pela escrita sobre suporte estático. (LÈVY, 1996, p. 38).
Esta corrente leva-nos à inferência de que força do pensamento de Lévy está na perspectiva de que a comunicação escrita e as leituras realizadas por meio da weblog, não se limitam ao reconhecimento da escrita como prática de alfabetização, tampouco da leitura como mero ato de letramento. Isso ocorre porque há o estabelecimento de novos paradigmas lingüísticos na concepção de linguagem e de construção de conhecimento bastante diferente da tradicional, situada na historicidade do sujeito e da linguagem.
Desse modo, a relação do sujeito com a “escrita de suporte estático” é subvertida em virtude da criatividade com a qual os “blogueiros” fazem funcionar a linguagem e as ações lingüístico-discursivas que constituem e constroem os sujeitos dos enunciados, bem como provocam e solicitam praticas pedagógicas que “Antes de ser para a comunicação, a linguagem é para a elaboração; e antes de ser mensagem, a linguagem é construção do pensamento; e antes de ser veículo de sentimentos, idéias, emoções, aspirações, a linguagem é um processo criador em que organizamos a informamos nossas idéias.” (FRANCHI, 1977, p. 25).
Disto, certamente, transcorre que a criatividade não está apenas no estilo de comunicação escrita que é realizada no weblog, sobretudo, porque há uma individuação no uso da escrita e das ações lingüísticas nas quais se estabelecem a subjetividade como “ações de linguagem” que se tornam recursos expressivos no ato de produzir escrita e leitura no ciberespaço.
Nesse contexto é imperativo dizer que as “ações de linguagens” decorrentes do uso da escrita no weblog são, em verdade, caracterizam-se como atos de construção de discursos com os quais se justapõem a estruturação e o rigor da escrita e a criatividade de seu uso, possibilitada pela dinâmica do ciberespaço com a qual se deparam sujeitos da linguagem diante da tela do computador permeada por signos hipertextuais.
A ação de produzir escrita e leitura no weblog leva o blogueiro, produtor de comunicação escrita a reconhecer que

Na verdade é somente na tela, ou em outros dispositivos interativos, que o leitor encontra a nova plasticidade do texto ou da imagem, uma vez que, como já disse, texto em papel ( ou filme em película) forçosamente já está realizado por completo. A tela informática é uma nova “maquina de ler” e escrever (grifo meu), o lugar onde uma reserva de informação possível vem se realizar por seleção, aqui e agora, para um leitor particular. Toda leitura em computador é uma edição, uma montagem singular. (LÉVY, 1996, p. 41)
Assim, infere-se que há nesse espaço uma ação mediada pelo computador, o qual se faz presente como recurso tecnológico a facilitar a movimentação do blogueiro enquanto sujeito da escrita e da leitura veiculadas na blogosfera*.
Provisoriamente, é fundamental reconhecer que em virtude da realidade contemporânea na qual a internet e suas ferramentas de comunicação e informação promovem a cibercultura da sociedade, perceber o weblog como espaço de produção de escrita e leitura da realidade social em que as redes sociais, políticas e culturais se ampliam continuadamente em tal ciberespaço é uma nova vertente a ser explorada pela escola.
Espera-se, portanto, que nesse processo os professores que atuam na sala de aula, possa utilizar esse expediente como ferramenta de produção criativa de saberes através dos usos continuados da escrita como tecnologia intelectual da sociedade contemporânea.
Bibliografia
OLIVEIRA, José Marcio Augusto. Escrevendo com o computador na sala de aula. São Paulo: Cortez, 2006.