domingo, 16 de maio de 2010

CARPEN DIEM

O amanhã será o quê?
Para mim tudo ou nada.
Já para você ainda sei.


Sei que o amanhã pode não existir
Então resta apenas viver agora
E as tentações que a vida
Oferecem-nos há enfrentar.

CIBERCULTURA E A PUBLICIDADE

Jornal da Unicamp 178 - Páginas 12, 24 a 30 de junho de 2002


A arte que sai da tela: Publicitária mergulha nos espaços de criação da Internet



Roberto Costa



A seqüência de um mesmo rosto feminino, com a boca pressionada por uma mão (http://www.totalmuseum.org/webproject8/muzzle/); pictogramas de obras de arte famosas (http://www.ljudmila.org/~vuk/ascii/blind/); relógios exóticos e não-convencionais (http://massaclocks.com); sexo a distância (http://www.fu-fme.com/). A diversidade demonstra como artistas desenvolvem, na Internet, a chamada Net-Arte e a forma como designers se utilizam diferentemente da web como espaço de criação. O resultado dessas observações resultou na dissertação de mestrado da publicitária Hélia Vannucchi junto ao Departamento de Multimeios do Instituto de Artes (IA). “Os artistas trabalham com ‘maior liberdade’, enquanto os designers têm um problema a resolver, uma mensagem a comunicar”, resume Hélia.
Para chegar à conclusão, a pesquisadora “navegou” meses por sites de artistas e de designers (veja abaixo) escolhidos na web. Alguns deles foram indicados pelo professor Gilberto Prado, do IA, orientador da dissertação. Hélia queria conhecer a web como espaço de criação e fazer um contraponto entre sites de artistas e designers. Para isso trocou e-mails com suas fontes e permaneceu horas à frente de páginas que aparentemente não queriam dizer nada. Num destes enigmas aparecia a seguinte frase: “Seu número é 79. Por favor, espere”. Logo a seguir estava em destaque o número 77 (os números são aleatórios e mudam conforme a hora de acesso). Hélia conta que o site sempre larga o usuário esperando, até que vem a mensagem: “Perdeu a sua vez” e a proposta de um novo número para espera. A publicitária passou uma tarde à frente do computador. “Eu abri html, cgi, tentando descobrir se havia alguma coisa por trás”, explica Vannucchi. Isso porque em um outro trabalho, apenas citado na dissertação, da dupla Jodi – Joan Heemskerk e Dick Paesmanns (http://www.jodi.org)-, existiam elementos escondidos no código fonte, no html do site, só visível para aqueles que realmente exploravam o trabalho.
O gesto da mão na boca representa para o artista russo Alexei Shulgin uma crítica à censura que oprime homens e mulheres em diversos países. Os pictogramas de Vuk Cosic, artista esloveno, fazem uma crítica à forma como a história da arte, da net-arte, assim como a história de modo geral é contada de acordo com os interesses da classe dominante. Cosic é arqueólogo por formação e diz que existe uma semelhança entre o que ele faz agora, com a arte, e o que fazia como arqueólogo, já que ele continua construindo narrativas. O designer Roger Los fez o site para a Massa Clocks, que fabrica os relógios. Hélia analisou a construção visual e a navegação do site.
Sexo a distância? Para Alexei, o autor do trabalho, trata-se de uma crítica às pessoas que trocam as relações pessoais por relações mediadas pela máquina, fazendo uma alusão ao programa de videoconferência CU-SeeMe. A publicitária Hélia Vannucchi incluiu entre suas fontes uma brasileira, a designer Verônica D’Orey, de São Paulo, autora do site da cantora Marisa Monte. Conforme Hélia, seus trabalhos em geral têm um design limpo, com áreas de descanso para os olhos.
Das conclusões do trabalho de Hélia há informações de que Alexei Shulgin imprime críticas sociais em seus trabalhos, que Vulk Cosic atualiza a linguagem ASCII, enquanto Holger Friese trabalha a negação de elementos habituais de navegação em suas obras. A dissertação defendida no Instituto de Artes está disponível em http://www.actualis.com.br/mestrado.
Galeria on-line
Alexei Shulgin é russo, mora e trabalha em Moscou. É artista e curador de diversos projetos na Internet e já participou de mais de 60 mostras e inúmeros simpósios sobre fotografia, arte contemporânea, novas mídias e comunicação.
Vuk Cosic nasceu em Belgrado, Iugoslávia. Vive em Ljubljana, Eslovênia. Formado em arqueologia, é, também, um dos pioneiros da arte on-line.
Verônica D’Orey é designer e tem seu próprio escritório em São Paulo. Na exposição Design Ritmo, apresentou o trabalho daquipralá delápracá, realizado com a colaboração de Carolina Jabor e com música de Naná Vasconcelos.
Roger Los é autodidata. Em 1992 começou a trabalhar para a Microsoft em projetos multimídia. Em 1995 começou a trabalhar com a Internet e em setembro de 1997 abriu seu estúdio, Roger Los Studio, em Seattle.
Holger Friese é alemão. Estudou fotografia, trabalhou para uma gravadora de jazz e estudou design gráfico de 1993 a 1997, em Aachen, Alemanha.

CIBERDISCURSO: UMA PERSPECTIVA DE LINGUAGEM

Pretende-se nesta comunicação, apresentar algumas questões relativas às linguagens do ciberdiscurso ancoradas pelas tecnologias da informação e comunicação – TICs – na perspectiva de que elas têm na internet uma ferramenta de divulgação e, portanto, são permeadas de elementos de sentidos e de significação de linguagem.

Assim sendo, reconhece-se que a tecnologia tem crescido tão rapidamente que se torna difícil designar, classificar e ou acompanhar suas variações técnicas e, sobretudo, pontuar qual a linguagem que será a ela anexada pelos usuários, sobremaneira aqueles que se vinculam à internet. A cada dia, novos equipamentos surgem no mercado e, em pouco tempo, o que era de última geração passa a ser obsoleto, em nome do conforto e da rapidez.

Uma das áreas que mais tem avançado e se difundido em praticamente todas as classes sociais, é a internet. E, juntamente com esse desenvolvimento, cresce a preocupação de pais e professores com a linguagem que se praticam nesse ciberespaço. Essa linguagem tem até vários conceitos, ciberdiscurso (Barreto; Baldinotti, 2005) internetês (Araújo, 2004, Bisognin 2009).

A internet tem proporcionado um espaço no qual os internautas exploram suas capacidades cognitivas, comunicacionais e a criatividade linguística de maneira a caracterizá-los como seres humanos facultados de ação de linguagem.

Isso sem dúvida tem levado à interação social dos mesmos, se tornando cada vez mais rica em virtude das práticas socioculturais que levam à subversão da ordem instituída pela linguagem canônica da escola, visto que essa reconhece apenas a escrita como tecnologia estática empregada ao suporte do papel.

Para Bisognin (2009) o suporte tecnológico da internet tem facilitado o uso variado da linguagem no Chat, Orkut, Weblog, Msn, etc. de modo tal que os apologetas da variante canônica da língua chegam a considerar a linguagem da web como um empobrecimento. Por outro lado, reconhece na linguagem do ciberdiscurso e ou internetês uma forma de enriquecimento do idioma, visto que nesse particular exerce-se a liberdade e a democracia linguisticas.

Para compreender o que acontece com a linguagem quando cibernauta se comunica por meio, por exemplo, do Msn – que é um programa de bate-papo que permite conversas instantâneas – temos de considera a internet como um meio muito rápido de comunicação. Assim, isto revela que o texto usado no Msn é muito próximo da língua falada e, portanto, tem sua pertinência enquanto linguagem no suporte tecnológico que veicula e não há motivos para alarmes.

Destaca-se que, nesse caso, há uma economia na escrita das palavras, isto é, fazem-se corruptelas de algumas letras para evidenciar a emergência da escrita e, com isso, novos significados são atribuídos às conversações. Lembra-se, pois, que isso não é novo, visto que há muito tempo se praticava a corrupção e ou codificação do texto nos telegramas, sendo tal economia articulada na perspectiva de sintetizar a mensagem e assim diminuir o preço do serviço.

Sabe-se ainda que essas modificações levem à alteração dos sentidos da mensagem, uma vez que a linguagem passa a ter outro significado. Este de acordo com Coseriu (1979b) é o conteúdo de um signo linguístico em sentido estrito, é a configuração das possibilidades de designação.

No que se refere aos sentidos articulados nas mensagens postadas e trocadas na web pelos cibernautas, os sentidos passam a assumir destaque quando seu conteúdo especialmente é postos no próprio texto, isto é, só existe sentido no plano do texto, no ato da fala de um falante numa determinada situação, e não no falar em geral ou nas línguas. Coseriu (1979b)

Assim, tomando a produção de linguagem escrita no internet como ato comunicativo que se aproxima da fala, tem-se, na verdade, uma produção de significado e sentido efetivados por meio de uma variante de linguagem além da ideia canônica de escrita.

Ao se utilizar programas como o Msn, a comunicação ocorre através de um meio escrito, no entanto, o texto é oral. Sendo a internet um meio que exige agilidade e rapidez, a escrita por meio de abreviaturas faz com que a comunicação seja mais rápida, simulando assim a mesma rapidez da fala.

Então pais, professores que ainda não estão articulados sobre a produção de linguagem por meio das redes sociais e comunicacionais – Chat, Orkut, Weblog, Msn, etc. acalmem-se! Essa forma de escrita já faz parte do cotidiano virtual de todos nós e não tem mais como ignorá-la, tampouco impedi-la.

A língua à maneira de Bakhtin é dinâmica quando do ato real de comunicação e, portanto, se adequa às situações de comunicação. Isso não significa dizer que agora "pode-se escrever de qualquer forma na web.". As abreviações são permitidas no Msn, no Orkut, nos e-mails informais, nos chats (e até nesses textos existem regras! Caso contrário, nem mesmo os internautas se entenderiam), não cabe usá-las em outros gêneros textuais.

O ciberdiscurso ou internetês não prejudica o bom português, porque os comunicantes dessa modalidade sabem que se trata de uma linguagem de uso específico no ambiente virtual. Por outro lado, se sabe que os acessos a livros jornais e revistas da web compõem seus espaços de leitura. A nós professores, cabe o papel de ampliar a capacidade de recepção e produção textual dos alunos, priorizando a formação de escritores e leitores competentes, que saibam usar a língua nas diversas situações de interação.