sábado, 28 de julho de 2007

“ABENÇOADO” HORIZONTE DA FÉ ELETRÔNICA


A proliferação de técnica e meios digitais da informação possibilitou que vários tipos de conhecimentos se ampliassem de maneira extraordinária. Tal produtividade vai da educação à fé. Para Baudrillard (1991) estes aspectos são uma espécie de “destino indelével sobre o qual pesa a sedução” a qual se dá através de discursos engendrados pelo sistema econômico, garantindo à religião uma posição de destaque no que se refere à idéia de separação entre o bem o e mal, sedução digital da fé.
As linhas que se seguem, buscam o entendimento da expansão da fé por meio da mídia televisiva, a qual ocupar lugar privilegiado em várias grades televisivas, sobretudo, nas veiculadas nas manhãs de sábado. É interessante notar ainda que, neste dia, das 7 às 10 horas da manhã, há acerca de 10 emissoras de televisão com programa religioso ou afim, o olhar aqui presente é seguindo a programação distribuída por emissoras abertas; via antena parabólica ou não.
Dessa maneira, parte-se do pressuposto de que a televisão transformou o modo de como o homem comum tem visto a cultura, a sociedade e, sobretudo, a fé. Esta é oferecida além templo, ou melhor, o mundo transformou-se em santuário graças ao alcance dos satélites que, associados a elementos retóricos e psicológicos presentes nos discursos dos pastores, verdadeiros animadores de auditório, consegue conduzir uma massa ignorante ao um universo cheio de fantasia e sedução no mercado competitivo da fé. (veja-se a aberta concorrência por fiéis).
Por um lado, tal questão é compreensível quando vista sob a ótica da modernização das igrejas tanto no plano da evangelização quanto nas inovações das metodologias usadas pelos pastores, os quais evoluíram ao epíteto de "pastores eletrônicos", com discurso e estratégias de convencimento próximas à publicidade. Por outro, se tem ai a subjetividade divina que vai ao encontro da “estupidez das massas, vítimas da mídia” (Baudrillard, 2005, p. 42) de consumo que transforma a crença do povo em produto de degustação a qualquer preço e hora.
No mercado religioso, esta prática há muito ultrapassou o limite do bom senso, uma vez que se criou um “hiperespaço” no qual tudo parece mais verdadeiro que a própria “verdade” da fé.
Para Baudrillard (2005) é através da tela que se promove o falso ao status de verdadeiro, tamanha a evolução realizada pelos meios de massa. Assim é possível compreender o porquê de tudo que é levado à tela religiosa ganha credibilidade instantânea, isto é, “a informação é mais verdadeira que o verdadeiro por ser verdadeira em tempo real”. (idem, p. 45).
O filósofo francês ainda adverte sobre as variadas dimensões que informações religiosas podem tomar no hiperespaço construído pela mídia devota. “as coisas não têm mais uma, duas ou três dimensões: flutuam numa dimensão intermediária. Logo nada mais de critérios de verdade ou de objetividade, mas uma escola de verossimilhança.” (op. cit.).
Nesta perspectiva, o pensamento de Baudrillard materializa-se nos testemunhos dos fiéis diante das câmeras, às vezes, chegam a forçar uma situação no sentido de se fazerem presentes e, por conseguinte, ter seu momento de fama, integrando a partir disso, o grupo das “celebridades de Deus”. Então, não é por acaso que a fé é colocada à mostra; transforma-se num produto em promoção à qual a maioria das pessoas não teria acesso senão através da intervenção da mídia. Com isso, se percebe a existência de uma realidade econômica nas pregações dos “pastores e padres eletrônicos”, uma vez que nos intervalos comerciais dos cultos, os responsáveis apresentam seus cardápios de produtos religiosos – livros, revistas, Cds e Dvds além do tradicional dízimo – é tudo em nome e graças ao Senhor. Então, ninguém que deseje alcançar os píncaros da fama-salvação – testemunho ao vivo – pode se furtar de oferecer uma quantia significativa, ou uma história de fracassos pessoais e econômicos para servir como “tragédia na tela da fé” que será simulada por atores cujo desempenho dramático e estético é bastante questionável. Resta, pois, à massa ignara deixar-se seduzir por discursos verossímeis ideologicamente preparados por equipes especializadas em marketing e publicidade do Senhor.
Bibliografia consultada.
BAUDRILLARD, Jean. Tela total: mito-ironias da era virtual e da imagem. 4. ed. Porto Alegre: Sulina, 2005.

CICATRIZES


CICATRIZES
(Robério Pereira Barreto)

O amor é ferro em brasa
ao tocar o coração fere-o,
deixando marcas na alma para sempre.

Sempre feridas ficam abertas;
indeléveis ou latejantes
por mais que tente,
a gente jamais as esquece.

O tempo se encarrega de aos poucos
transformá-las em cicatrizes
Que do corpo saltam à alma
sem pedir licença...

A cada toque involuntário,
sem clemência
doe como se fosse à primeira vez.

Infinitamente, há na gente
as cicatrizes do amor
que por algum motivo não vingou...

Agora, a constância de um coração teimoso
pulsando insiste em dar prova de que ainda está vivo.

Faz-se duro como o aço,
mas derrete-se ao ser lançado
às brasas da paixão de outrora.

em 01 de agosto de 2006, 22h 15min

ARQUEIRO DO AMOR


ARQUEIRO DO AMOR

Ao dardejar o olhar na sua direção
a tua indiferença dá sinal de que
a sua vaidade só aumenta o meu desejo
e, assim, me esmero para acertar-lhe o alvo,
para não lhe dar chance de proteger o coração.

Como arqueiro do amor
busco na penumbra de seu olhar
um fio de luz que me guie
entre os meandros de sua alma obscura,
para que, com a precisão de um cirurgião
possa o alvo de sua paixão acertar.

Ah! Certamente não resistirá
e num sorriso largo se entregará aos meus acalantos,
esmaecendo-se com o perfume que trago guardado no meu ser
Que há muito tempo é exclusivamente para você.

Ao me aproximar de teus lábios
e contagiar-me com o cinábrio deles
que, tal qual fruta madura e sumosa,
implora para ser abocanha em seu estado natura.

Dai no meu peito sinto o coração em disritmia
como criança fagueira que corre alegre
depois de se recompensado ao final da aventura
e como o prêmio tem um sorriso cuja magia
o torna um vencedor, embora seu corpo ainda
persista as marcas e dores símbolo de vencedor.

Robério Pereira Barreto, em manhã de agosto de 2006.

BOLHA DE SABÃO


BOLHÃO DE SABÃO
(Robério Pereira Barreto)

Por detrás do muro vejo a vida passar
Imaginando como seria viver do lado de lá
E como bolha de sabão que foge por cima do muro
Depois que escorre entre as mãos
Procuro a liberdade no azul interminável do céu.

Depois de alcançar o infinito desfaço-me no ar
E de mansinho retorno ao meu lar,
Enchendo os meus olhos de emoção,
Deixo parte de meu eu ir ao encontro do mar.

Depois de estar na presença de tão alta sensibilidade
Clamo em silêncio ao olimpo por um instante de liberdade,
Porque viver sem ela é estar numa bolha de sabão
De onde vejo tudo com boa impressão,
Mas ao rompê-la sinto-me sem noção da realidade.

Então, saio dessa pseudo-proteção
Para ver a vida do outro lado do muro
Onde há dores, gemidos em noite fria
E medo em meio ao escuro.

Por isso, receio às vezes em romper tal proteção
Porque sei que do lado de lá a morte está
Que aos pouco faço a minha consorte
E assim dividimos as feridas da falta de sorte.

Contudo, advenho daquele “que é antes de tudo um forte”
não lastimo o motivo que me levantou das terras do norte
para estar aqui e porque nunca contei muito com a sorte,
foi aí onde criei laços e montei meu leito de morte.

29 de agosto de 2006, 21h 33min