domingo, 27 de junho de 2010

WEBLOG: COMUNICAÇÃO, DIALOGISMO E FORMAÇÃO CONTINUADA

Este ensaio vislumbra colocar em evidência uma constatação que vem sendo realizada ao nível da pesquisa do mestrado, na qual se compreende o weblog como tecnologia intelectual que possibilita a realização e modus de linguagem continua e em rede. Isso, certamente, passa a configurar uma perspectiva de comunicação e diálogo, elementos fundamentais para a realização de formação continuada, visto que todos podem participar de modo a construir uma relação de autonomia e respeito entre as autorias. Autor e leitor troacam de lugar o tempo todo.
O weblog em sendo uma tecnologia intelectual em que todos podem dialogar de maneira assíncrona, certamente, possibilita aprendizagens continuadas e, assim, poderá servir de meio pelo qual todos passam a pertencer a determinados contextos socioculturais e assim produzir e socializar conhecimentos.
Nesse contexto, diz-se que a relação dialógica entre enunciados – post e comentários – , mesmo os que estão separados no tempo, é que permite fazer uma interlocução com Bakhtin para dar suporte as formas de relação como os ambientes virtuais recentes, como é o caso dos weblogs.
Quando se escreve um post automaticamente se pensa no superdestinatário que, segundo Bakhtin é aquele que interage responsivamente com o autor. Isso produz uma reação em cadeia, de maneira que, na maioria das vezes se constrói uma rede de aprendizagem. Por outro lado, essa ação promove “primeiro uma delimitação conciliadora, depois a cooperação” (BAKHTIN, 2000, p. 376). “Cooperação que parte do reconhecimento da existência de zonas fronteiriças, onde a competição, mesmo a retórica, não tem sentido, onde a autonomia se firma no diálogo e os limites se tornam faróis que guiam a ação.” (GUTIERREZ, 2005, p.12).
Ao se considerar o post como uma produção textual de sentido completo, busca-se assim compreender Bakhtin (2000) entende que cada enunciado é em si mesmo completo e irreproduzível. O simples repetir já muda o sentido do que foi repetido. Um enunciado é sempre inédito, embora criado sobre algo de antemão dado, um sentimento, uma visão de mundo: “o objeto vai edificando-se durante o processo criador” (BAKHTIN, 2000, p.349).
Assim, weblog edifica-se como espaço de formação continuada em rede, visto que a maioria dos enunciados postados possibilita a interação entre os sujeitos – autor e leitor – que ao fazer seus comentários esclarecem e até desconstroem sentidos até então considerados válidos.

Num blog, cada post, é um enunciado completo, aberto para comentários e que, assim, engendra uma relação dialógica com outros enunciados. Cada post ou comentário é um enunciado novo, irreproduzível, que vai além de refletir algo dado e externo. O aspecto público de um post é uma condição que não apenas permite, mas que propõe o diálogo. (GUTIERREZ, 2005, p.12).

É interessante que se compreenda que no weblog os textos são publicizados de maneira a permitir que o leitor interatue. Com isso, assume lugar de autoria ao colocar publicamente suas compreensões da discussão proposta no e pelo post. Logo, "um post está, deste modo, sempre aberto às novas vozes que se somam ao diálogo e compõem polifonicamente outros textos, posts, comentários num diálogo que não se fecha, sentido sempre inacabado." Pondera (GUTIERREZ, 2005, p.13).
Nesta perspectiva, estabelece-se o dialogismo entre os cibernautas que, por meio de uma ação individual, promove o diálogo e o acesso à formação continuada e em rede, pois cada um que participa com comentários vai construindo e entrelaçando visões diferenciadas sobre o objeto.
Assim sendo, atuar no weblog tanto por meio de post quanto através de comentários, conforme propõem Bakhtin (2000, p. 352), é “tornar se parte integrante do enunciado do texto [...]”, e, por sua vez um enunciado considerado em sua relação com a realidade, com o sujeito real e com outros enunciados, torna-se uma ação dialógica.
Por fim, há na produção publicada no weblog o que Bakhtin denominou de relação dialógica entre enunciados, mesmo os que estão separados no tempo, suportam as relações e estabelecem sentidos entre si. Então, quando escreve e/ou se ler um post e se compreende, automaticamente vira se parte deste texto, passando a compor o “terceiro num diálogo [...]” (BAKHTIN, 2000, p. 355), o superdestinatário que interage responsivamente por meio dos comentários ou de outros posts interlinkados. O comentário num post pode possibilitar “primeiro uma delimitação conciliadora, depois a cooperação” (BAKHTIN, 2000, p. 376).
Para Gutierrez, (2005) a cooperação existente entre os cibernautas que participam da blogosfera partem do reconhecimento de que há “zonas fronteiriças, onde a competição, mesmo a retórica, não tem sentido, onde a autonomia se firma no diálogo e os limites se tornam faróis que guiam a ação.” (GUTIERREZ, 2005, p.14).
Diante desse quadro, pode-se inferir que no weblog está a potência e a possibilidade de se vivenciar atos de comunicação que, levando ao dialogismo que reconhece os sujeitos como participe da produção e socialização do conhecimento, certamente, promovem a formação continuada entre aqueles que estão abertos a desconstrução e, consequentemente, a reformulação de novos pensamentos.

Bibliografias consultadas.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

GUTIERREZ, Suzana. Distribuição de Conteúdos e Aprendizagem On-line. Revista Novas Tecnologias na Educação - Renote Porto Alegre: CINTED-UFRGS, v. 2, n. 2, nov. 2004 . Disponível em http://www.cinted.ufrgs.br/renote/nov2004/artigos/a6_distribuicao_conteudos.pdf, acesso em 20 mar 2005.

GUTIERREZ, Suzana. Mapeando caminhos de autoria e autonomia: a inserção das tecnologias educacionais informatizadas no trabalho de professores que cooperam em comunidades de pesquisadores. Porto Alegre: UFRGS, 2004. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004. 233p.

GUTIERREZ, Suzana. Weblogs e educação: contribuição para a construção de uma teoria. In. Novas Tecnologias CINTED-UFRGS na Educação, 2005.