sexta-feira, 13 de julho de 2007

ROBÉRIO: POETA DAS MADRUGADAS


Foi com hipocorístico de Poeta das madrugadas que o jornalista e téologo Dorjival Silva, do sitios eletrônicos http://www.tangarareporter.com.br/ e http://www.diariodetangara.blogspot.com/ anunciou o próximo o livro de poemas Bramidos da solidão, deste blogueiro que lhes dirige a palavra e ainda deu destaque ao tema da obra conforme segue transcrição:

"OUVINDO BRADOS DA SOLIDÃO. Este é o tema do novo livro de poemas do poeta, jornalista e professor universitário Robério Pereira Barreto. A obra deverá ser lançada em breve. Leia agora em primeira mão, parte do prefécio do livro:Bramidos da solidão, de Robério Pereira Barreto (2007) se constitui numa obra poética com a tentativa de trazer à tona as aflições do leitor apaixonado, levando-o à condição de intérprete de suas próprias agonias." Quero penhorar distinção do nobre colega ao apresentar aos seus webleitores mais este projeto, no qual serão apresentadas a público noventa e seis páginas de pura poesia.

CULTUS E CIVILIS: DICOTOMIAS DA PÓS-MODERNIDADE

O conceito de cultura é usado com acepções múltiplas, desde a mais simples e abstrata até a mais complexa e abrangente. O mesmo ocorre com termo identidade, sobretudo quando é levado ao plano cultural e lingüístico.

Nesse ensaio, busca-se discutir o primado da cultura a partir da ótica da colonização, tendo como recorte os acontecimentos ocorridos nas duas últimas décadas do século passado, quando na região de Irecê - BA, o ciclo do feijão , década de 80 promoveu um deslocamento na migração nordestina. Para isso, toma-se como referência o pensamento de Alfredo Bosi, em Dialética da colonização, através do qual se toma conhecimento a respeito dos conceitos de cultura empregados para designar as relações do homem com a comunidade na qual está inserido.
Toma-se aqui de empréstimo do latim, colo que, segundo Bosi (1996, p.11), na língua de Roma, “eu moro, eu ocupo a terra, eu trabalho, eu cultivo o campo” o que se aplica à nossa realidade representa bem o movimento dialético ocorrido na comunidade na região de Irecê - BA nos dois últimos decênios. Ou seja, viemos para cá sob perspectiva do colo, no sentido literal do termo, migrantes nordestinos, sobremodo, paraibanos e pernambucanos viram aqui oportunidades de se transformarem em donos de suas próprias terras e, com isso construírem suas vidas tanto no plano econômico como no político.
Os fatos e a história da região dão-nos conta de que houve de maneira seqüencial “o deslocamento” que os agentes sociais fazem do seu mundo (sis) de vida para outro onde irão exercer a capacidade de lavrar ou fazer o solo alheio. O íncola que emigra, torna-se colonus”, pondera Bosi. Isto foi um continuum na região por aproximadamente vinte anos (1979 – 1990), havendo um crescimento da economia de modo que a cidade de Irecê - BA recebeu o título de “capital do feijão”, o qual foi noticiado pela a imprensa nacional, atraindo durante aquele período, centenas de migrantes em busca de melhores condições de vida, muito embora trouxessem pouco a oferecer (mão de obra nem sempre especializada) à sociedade local em termos culturais, artísticos, sociais e humanos, uma vez que o conhecimento acumulado que traziam consigo, não serviam aos locais. Entretanto, “A colonização dá um ar de recomeço e de arranque a culturas seculares”. (Bosi, 1992, p.12).
Para Ferreira Gullar “o novo é para nós, contraditoriamente, a liberdade e a submissão” se se quer entender isso como iniciação ao processo dialético da colonização, se observa então como os nativos têm reagido às interferências das correntes migratórias no processo cultural do Estado; são indiferentes num primeiro momento, noutro agressivos. Contudo, não resistem às pressões sócio-econômicas dos migrantes e acabam deixando-se suplantar, até porque, a força da corrente migratória é híbrida e, portanto, dilui-se, evitando ser atacada em suas bases.
É por isso que “a colonização não pode ser tratada como uma simples corrente migratória: ela é a resolução de carência e conflitos da matriz e uma tentativa de retomar, sob novas condições, o domínio sobre a natureza e o semelhante que tem acompanhado universalmente o chamado processo civilizatório”. (Bosi, 1992, p. 13)
Na verdade, a colonização vai aos poucos se construindo através das forças simbólicas, as quais são mediadas pelo Estado e com o apoio dos meios de comunicação de massa. No caso específico da região de Irecê-BA, essa força foi mediada pelo próprio sistema, ou seja, foi a partir da década de setenta, que o Governo Federal incentivou o cultivo de feijão e mamona, dando assim um impulso significativo no processo de colonização da terra. Por outro lado, se iniciou problemas ambientais, pois a caatinga fora devasta em nome da plantação de feijão. Com isso, teve-se uma “invasão de íncolas” cujo objetivo era fazer a dominação dos naturais e, consequentemente, empregar tanto na terra quando na sociedade locais; hábitos e costumes advindos de suas origens. (veja-se o exemplos dos nordestinos e mais recentemente dos gaúchos na região de Barreiras, onde plantam soja, transformando-a em colônia, para, de modo simbólico manter suas tradições e origem. Portanto, “A colonização é um projeto totalizante cujas forças motrizes poderão sempre buscar-se no nível do colo: ocupar um novo chão, explorar os seus bens, submeter os seus naturais.” (Bosi, 1992, p. 15) tem razão em afiançar isso de maneira sistemática.
O colonizador vê o nativo como sujeito incapaz de promover as mudanças que ele supostamente as fariam se no seu lugar estivesse. Ainda no plano do empréstimo do latim, mudando-se, portanto de categoria gramatical; supino de colo chaga-se a culturus aqui tomado com significado amplo:Cultura é o conjunto das práticas, das técnicas dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social. A educação é o momento institucional marcado do processo. (Bosi, 1992, p. 15)
Encontra-se no pensamento do autor, algo importante a ser dissecado antes de continuar a discussão, trata-se da “reprodução de um estado de coexistência social.” Isso bem entendido leva-se à percepção do por que de haver tantos centros de tradição espalhados por ai. Na realidade, esses centros tentam em sua manifestação, a busca de sua identidade, a qual já está hibridizada e, por isso, é buscada por meio de símbolos que revelem seu poder de dominação; saber é poder, conforme dizia Francis Bacon. Será isso um reflexo da civilização cultural pós-modernidade?

A (RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES

Neste ensaio se apresentam de maneira preliminar alguns fatos de pesquisa sobre possíveis a(s) identidade(s) presentes na poética dos escritores locais – irecenses - que, de algum modo, estão diluídos nas experiências da implantação de um sistema sócio-cultural dominado historicamente pela violência imposta pelos senhores e coronéis da região, tendo sido agravada mais tarde, com o movimento da diaspórica do ciclo do feijão, momento em que a região de Irecê – BA recebeu grande massa migratória dos estados nordestinos. Para tanto, utilizar-se-á a linha dos estudos culturais e da estética literária contemporânea as quais conduzirão à investigação no sentido de clarificar o processo de escrita dos autores regionais. Com efeito, observar-se-á ainda como a colonização ocorreu na região, e quais foram às contribuições trazidas e implantadas por essa corrente migratória na cultura local, bem como os impactos (positivo e negativo) que isto teve na vida das pessoas e da comunidade artística local, sobretudo, na literatura.

Como todo evento de pesquisa fundamenta-se na perspectiva de classificação, este trabalho não por acaso segue a mesma metodologia na tentativa de identificar e classificar os principais pontos estéticos e culturais da poesia local, buscando a compreensão da origem estético-ideológica dessa literatura. Dessa maneira, procurar-se-á ainda evidenciar o que realmente foi o processo de colonização da região, partindo da premissa de que houve desde o começo do século passado disputas por terras, as quais, às vezes, resultaram em fusões econômicas, políticas, lingüísticas, refletindo, pois, muito subliminarmente na cultura devido à “inércia” dos migrantes que nesse campo não contribuíram com os nativos.

Importaria dizer preliminarmente, que a produção poética irecense é marcada por carências estéticas e simbólicas, porque os autores produziram trabalhos literários[1] na tentativa de preencher as rupturas latentes no sistema cultural, o qual está pautado na dialética da opressão econômica e da violência gratuita dos colonizadores a terra aos seus moradores.

Mediante estas questões, acesso as algumas obras, elegeu-se um corpus significativo, o qual nos dará segurança para afirmar quais são os textos que melhor representam a produção literária irecense, tendo como ponto nefrálgico a questão da violência e da crise de identidade. Por se tratar de estudos de textos literários (poesia e prosa), adotar-se-á como procedimento de pesquisa, o método bibliográfico e interpretativo.

A obra literária traz por si algo de enigmático, bem como o autor devido a isto, atua, às vezes, como rebelde, visionário, filtro dos eventos sócio-culturais da sociedade na qual é agente. Isto pode ser visto no prefácio à obra Em Irecê revivendo com um pouco de fantasia..., (1999), de Adalvo Nunes Dourado, quando o prefaciador Walter Ney Dourado Rodrigues diz: “As histórias contidas em seu livro buscam resgatar a memória de fatos ocorridos com nossos antepassados.” Ao proceder à análise metódica do produto e do produtor, infere-se que, na verdade, ambos são frutos de um sistema político cultural particular. Diante disto, neste trabalho se toma como objeto de interpretação os livros: Em Irecê revivendo com um pouco de fantasia..., (1999), de Adalvo Nunes Dourado; Campestre e seus horrores, (2006), de Edizio Mendonça. Ambos narram passagem que se confundem com histórias pessoais e fatos aos quais parece os autores terem sido partícipes, deixando vir à tona elementos da cultura e da identidade dos moradores da região de Irecê – BA, antes da avalanche migratória nordestina que tomou conta da região.
Nota

[1] O termo literário, aqui empregado é no sentido da palavra escrita, porque a maior parte dos autores regionais que fizeram da palavra para narrativas históricas e pessoais, fugindo, pois, do evento estético da literatura. Conquanto, não se pode dizer que não haja nos textos certo grau de poeticidade.

ALFABETIZAR NA ESCOLA DE TRADIÇÃO ORAL: DILEMAS E PERSPECTIVAS


Este artigo discute a presença e uso da escrita na sociedade contemporânea, o que de fato a caracteriza como tal. Ver-se, portanto ai, a importância do acesso ao código escrito-digital para que o aluno desenvolva cidadania. Então, nesse contexto é possível transcender da alfabetização como aquisição e decodificação do código escrito para a concepção maior da aprendizagem de língua escrita, letramento. Neste trabalho, ponderou-se sobre a situação dos alfabetizandos e profissionais da língua(gem) da cidade de São Gabriel no que se refere ao acesso e uso do código escrito como elemento instigador da leitura e da escrita no espaço escolar. Por certo, existe uma constante falta de interação entre as práticas cotidianas de letramento do estudante; contato com as mídias impressas dos espaços abertos e os diversos elementos sociolingüísticos oferecidos pela escola, porque às práticas da leitura e escrita são superficiais. Estas se fossem bem usadas, tornar-se-iam aliadas da escola na preparação de estudantes capazes de realizar comunicação usando o código escrito e eletrônico. Para tanto, tomar-se-á como objeto de ação os preceitos da língua escrita. Diante disso, é preciso uma revisão no uso dos instrumentos de alfabetização existentes na escola, visto que há uma valorização da tradição oral em detrimento da observância do paradigma da escrita, haja vista que a maioria das crianças a ser alfabetizadas nesses contextos chega à escola cantando músicas de sucesso, ouvidas nas rádios, bem como vistas na televisão e ainda conhecem jogos eletrônicos e navegam na internet. Eis, pois o desafio do alfabetizador ante a nova realidade da escola no sertão baiano.
Nota
[1] Este artigo faz parte do trabalho de pesquisa que iniciei a pouco para compreender melhor a trajetória do processo de alfabetização e letramento dos estudantes da escola municipais da cidade de São Gabriel – BA, intitulado: Ensino de Escrita na sociedade de tradição oral: Dilemas e perspectivas.

OS ENTRETONS DA LINGUAGEM DA MÍDIA IMPRESSA

Este é um texto que não traz originalidade em sua temática. Porém, é declaradamente uma tentativa de organizar e discutir elementos teóricos acerca do discurso contemporâneo da mídia. Deste ponto de vista, mostrar que, sob o aparato da massificação, há ideologias implícitas na maneira como são informadas as notícias sobre o cotidiano da sociedade, bem como compreender as variabilidades dos textos conforme o enfoque dado pelo aparelho veiculador dos fatos. Com isso procurar-se-á por meio dos estudos destas variantes, a compreensão das categorias de sentido propostas pelas narrativas noticiosas, ponderando sobre a estrutura da linguagem, a montagem do discurso, bem como a interpretação do fato.

Desse modo faz-se importante a assunção do ato de interpretar os entretons da linguagem nos relatos da imprensa escrita, uma vez que, o ato de narrar tem sido mascarado pelo fato noticioso no qual a imagem (ilustração do texto) metamorfoseia o discurso, dando lhe várias facetas. É a partir da inferência de que “A interpretação produz uma espécie particular de discurso: o do comentário, o da crítica o da explicação de textos, etc.”[i], que vale a pena recorrer à gênese do verbo interpretar[ii], para, em seguida, pontuar os entretons que permeiam o discurso da mídia.
Sabe-se, pois, que ação midiática é fruto de um ato enunciativo no qual o enunciador interpreta um fato, estabelecendo uma relação discursiva em que a linguagem passa a ser difundida e corroborada pelas imagens e o contexto de onde se enuncia a notícia. Com isso, há intermediação por parte do canal onde a mensagem é veiculada, levando assim a duas instâncias críticas do discurso: repórter e leitor. Este último tem a função de apreciar a informação construindo para si significados conforme as qualidades e ideologias contidas na reportagem.

Espera-se que ao longo dos diálogos com os teóricos da área se estabeleçam conexões clarificadoras a respeito da práxis discursiva da mídia e o papel do ledor. Assim sendo, evidencia-se aqui a metodologia empregada neste trabalho, isto é, prioriza-se a atividade bibliográfica, para, em seguida, tratar das questões analíticas do corpus em discussão: textos da mídia impressa.

A mídia impressa contemporânea e, de certo modo imediatista, por isso supõe-se que por trás deste processo há assimilação da ideologia de mercado, ou seja, a notícia é o objeto de consumo nesse mercado onde a novidade declara o preço do produto, sem, contudo, estabelecer a idoneidade do produtor. “A novidade e a experimentação substituem os tradicionais padrões estéticos de harmonia e beleza narrativa da experiência vida in lócus, pois, valoriza-se a informação como mercadoria no mercado mídiatico[iii].” (grifo meu).
Notas
[i] Teixeira, Lucia. As cores do discurso: análise do discurso da crítica de arte. Niterói: EDUFF, 1996, p. 10.
[ii] Verbo latino interpretari, o fazer do interpretes. O significado inicial de interpres é ‘intermediário’, ‘negociante’, o que barganha preço’. Logo, conclui-se que o significado corrente de ‘interprete’, isto é, ‘ aquele que explica’.
[iii] TEIXEIRA, 1996, p. 10.