sexta-feira, 27 de julho de 2007

NECRÓPOLE

NECRÓPOLE

Madrugada Silêncio...
a cidade repousa
e seus moradores dormem
em suas tumbas modernas
preparando se para o dia seguinte
no qual se protegerão de si mesmos
dentro de seus caixões blindados e motorizados.

Enquanto isso, seres se dilaceram
em compasso de espera...
nas esquinas e avenidas da vida,
procurando guarida nos braços do mundo...
que em um segundo podem lhes tirar o direito
de respirar, por que, ao invés de prazer sente dor,
levando à quebra do contrato regido por olhares
perdidos em meio ao desprezo
daqueles que buscam no dinheiro,
o valor da vida e também do amor
medido e pago sem nenhum rancor.

A madrugada muda inerte,
testemunha ocular
não quer tais segredos revelar,
pois se falasse ninguém ia acreditar...
no cemitério-cidade
os protegidos nas tumbas e caixões blindados
preocupam-se em se preservar da maldade da rua,
atmosfera onde miseráveis e despossuídos flutuam
na suspensão da desigualdade pura e crua.

Tangará da Serra - MT, 23/4/2006 01h55min
Robério Barreto

LUA CHEIA


Abra a porta de sua alma para as coisas belas que a natureza lhe oferece gratuitamente; repare a beleza ingênua e romântica da lua e com a energia dela se entregue à paixão; com esse ânimo e força reconheça sua mediocridade enquanto ser humano; busque nessa fonte de luz, as forças de que precisa para seguir... escolha seus caminhos e viva sua humanidade sem importar com a mediocridade dos infelizes!

SILÊNCIO MEU...


SILÊNCIO MEU...

O meu silêncio se encontra
Com a frieza da lua que,
De mansinho ilumina a rua...

O meu silêncio faz sombra
À noite mórbida e impura
Na qual circulam idéias vãs
Que me empurram à tristeza
De viver vida insana e dura.

No meu silêncio gritos
Sufocam-me o peito,
Deixando-me um ser sem jeito
Que tem no sossego uma rebeldia
Selvagem maior que a Guerra Fria.

No meu silêncio...
No meu silêncio...
No meu silêncio...

Morro a cada instante...
Em meu silêncio morro
Com meu silêncio peço socorro,
Com ele sei que definho e sofro...

No meu silêncio...
No meu silêncio...
No meu silêncio...

Há um grito forte, porém rouco
Rouco, porém um grito morto,
Morto, mas um grito;
Meu silêncio!

Robério Pereira Barreto
02 de junho de 2006, 3h 45min, em companhia da insônia.

VAGANTE CORAÇÃO

VAGANTE CORAÇÃO
(Robério Pereira Barreto)


Oh, coração peregrino!
Andas pelas veredas da vida
Como alma penada
A muito preterida.

Agora, escorres pelos vales vazios
Onde tem a companhia de flores
Cujas belezas da cores
levam-te à desdita
Dos rigores dos espinhos!

Sofres em expressiva demasia,
Porém sorrir em meio à agonia
De caminhar louco,
Movendo a dinastia
Do destino.

Solícito abres caminhos na serra fria
Para encontrar num simples olhar,
A luz da amanhã que vos alumia
Com sabor da maresia nos lábios
Cumpres o dito da profecia:
Louco à vontade do destino
Segues o vale da sombra;
Cai nos braços da paixão
Que se foi sem
Deixar mapa,
Restando a ti,
Coração Peregrino
O perfume dela como guia!

27 de julho de 2007, 15h58’

SANAS LOUCURAS: PARADOXO E BELEZA



Sanas loucuras (2007), de Rejane Tach e Maykson de Souza constitui-se de conjunto poético no qual há vicissitudes paradoxais, às quais serviram os autores para nos oferecer uma produção esteticamente contemporânea. A obra que, na verdade, são quatro, - trata-se de dois livros que se complementam em suas diferenças, ficando tais questões sobressaltadas mais ainda quando são lidas na versão em espanhol, constituindo-se assim em duas novas criações quase independentes, tamanha a fluidez da linguagem poética.
De maneira abstrata, porém concisa, os autores dizem muito em poucas palavras, de modo que o leitor de Sanas loucuras deve se preparar para buscar o sentido dos versos através de lentes intimistas, isto é, não será possível compreender a mensagem poética de Rejane e Maykson sem, antes se debruçar sobre seu próprio existir.
Em Sanas loucuras (2007) há uma concisão retórica a qual é resultante de uma reciclagem dos princípios Aristotélicos. Para Leyla Perrone-Moisés (1998) estas novas poéticas embora apareçam estilisticamente modernas não o são, por que: “Na modernidade, esse valor está ligado à rapidez, à objetividade e à eficácia requeridas pela vida em nosso século; mas também uma resistência oposta à tagarelice generalizada dos discursos sociais.” (Perrone-Moisés, 1998, p. 156).
No que se refere ao plano estético de Sanas loucuras (2007), Rejane e Maykson atuam no campo intimista, ou seja, eles tentam representar metaforicamente as agonias e possível morte do espírito do homem moderno, através de um olhar cismado e incrédulo sobre a infinita existência do ser.

Meus olhos
Encontraram o céu...
No sano e louco,
Revivi...
Rejane, 2007.

Meus olhos solitários
Comem as vísceras de minha amargura
Enquanto choro de alegria
E abraço-me em espanto
Em silencio iracundo....
Maykson, 2007.


Embora os versos sejam vazados numa perspectiva da retórica abstrata moderna, a obra confirma a influência da estética romântica, à qual, segundo Octávio Paz deveria ser retomada pelos escritores modernos a fim de reatarmos com a tradição da grande literatura do século XX. Dessa forma, Sanas loucuras (2007) não tem propósito de fazer um revival de princípios estéticos do passado, mas, sim, de mostrar que é possível levar o leitor a questionar a si mesmo enquanto ser de e no mundo de inquietudes e individualismos.
Os escritores inspiram seus leitores ao remate de que as relações na sociedade contemporânea alteraram os princípios e modos de existência de cada, sobretudo, no que se refere às questões existências. Então, resta ao leitor refinado, encontrar nesta obra os elementos estéticos que a constitui em paradoxo e beleza contemporâneas singulares, pois tem nos seus poemas vaivens de linguagens as quais se confundem com o pensamento da estética pós-moderna, embora não seja possível classificá-la como tal, por que sua composição é altamente abstrata e simbólica.
Bibliografia consultada
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Altas literaturas: escolha e valor na obra crítica de escritores modernos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.