domingo, 25 de outubro de 2009

AE... TC NA WEB EH D+ M SINTO

CHATTERS : DA PERTENÇA À LINGUAGEM


Robério Pereira Barreto*

Uma língua é um sistema de relacionamentos entre formas e significados.


Mario Alberto Perini, 2006, p. 45

O objetivo deste ensaio é colocar em destaque alguns pontos que levam à compreensão do que significa a linguagem praticada na internet, chat e scraps e weblog a qual se passa a denominar de ciberdiscurso (Barreto, 2005). Sem recorrer a exaustivos exemplos práticos.

A fim de melhor elucidar a maneira como o chatters se posicionam na rede, como produtores sócio-discursivos na web, desde o chat aos scraps postados no Orkut, vai-se destacando as categorias de sujeitos, linguagem e sentido.

Os sujeitos do ciberespaço criam ações e denominações específicas, entre elas, teclar significando assim, ato de conversação. Isso leva à inferência de que há uma novidade na maneira pela qual os sujeitos se relacionam com o mundo, posto que esteja incluso no meio.



(...) o sujeito navegador se encontra em relação com o ambiente internetiano, ele precisa arregimentar e manter relações com os outros sujeitos que também estão no mesmo ambiente. Além dessas, o internauta mantém relações consigo mesmo e com uma escrita que lhe exige um nível sofisticado de letramento digital para compreender seus pares e se fazer entender por eles. É nessa teia de relações que ele se constrói como sujeitos e que a escrita digital se manifesta como atividade, desenvolvendo-se à luz da criatividade dos internautas, conforme mostra a ilustração acima. (ARAUJO, 2009, p. 126)



Nesse sentido, os chatters atuam no plano da escrita a partir de uma perspectiva estética da escrita, a qual é tomada por uma tecnologia intelectual manuseada por um grupo amplo de sujeitos que desejam ir além da produção de linguagem comunicação, pretendem ainda, se relacionarem com outros sujeitos. Para isso é necessário o domínio do código lingüístico o qual é minimamente exigido, isto é, os sujeitos precisam estar letrados digitalmente , pois dialogaram com outras pessoas que já detêm com certa desenvoltura essa atividade de escrita.

Do contrato sócio-comunicacional

É sabido que todo ato comunicativo é suportado pela interação entre os comunicantes. Desse ponto de vista discute-se o contrato sócio-comunicacional do chatters em virtude destes serem sujeitos sociais e comunicativos em ambiente digital.

Dessa maneira, entre o chatters há uma conveniência na qual se articulam sentimentos de pertença linguística e comunicacional. Dizendo de outro modo, os comunicantes do chat estabelecem entre si um contrato social no qual ficam estabelecidas normas lingüísticas e, que, portanto, não será permitido o descumprimento, visto que todos estão cientes de que o ambiente digital é constituído por ações lúdicas permitidas pela perversão da ordem linguistica canônica.

Isso ocorre por que chatters já apreenderam o sentido da atividade no ambiente digital. Por isso a natureza da tecnologia intelectual usada, escrita no chat é de outra ordem e que, se fosse ao ambiente canônico da escrita, seriam feitas outras escolhas lingüísticas.

Desse ponto de vista, a relação e o sentido estabelecidos e engendrados pelos chatters constituem saberes que levam a novas relações com a linguagem as quais são mediadas pela escrita, levando os comunicantes à compreensão de que o contrato sócio-comunicativo entre eles vai além da simples modificação vocabular. Ou seja, considera-se que, sob a ótica da sociolingüística esta prática comunicativa está embasada na perspectiva de variedade linguística e como tal materializa nos enunciados dos cibernautas em chat, weblog, scraps, etc.

Nesse sentido não é preciso à escola pensar em fazer a alfabetização de seus estudantes, estes já tem o domínio da linguagem digital e, portanto, são autônomos em suas práticas sócio-comunicativas. Cabe sim, a escola repensar seu lugar no contexto lingüístico atual, isto é, abolir de suas salas de aula a ciberfobia e, assim, agregar para seus contextos essa nova variante linguística como saber institucionalizado pela comunidade virtual.

Nas palavras de Araújo (2009) postula-se que a escola faça uma leitura positiva do contexto linguístico comunicacional ofertado pela web, posto que assim, ter-se-ia na linguagem digital um espaço de ampliação do conceito de língua como sendo tecnologia de interação sócio-cultural dos falantes, posto que esteja se afirmando em trocas linguísticas constantes, ou melhor, nas economias das trocas linguísticas.

Assim sendo, conclui-se temporariamente que a escola ainda não está situada e/ou preparada para assimilar a produção orkuteira, chateana e blogueiro como aliada para estimular seus estudantes a produzirem textos e leituras além da prevista pelo canônico educacional.

Outro aspecto importante nesse contexto são as contribuições da ciberdiscurso ou internetês para uma nova história social e comunicacional da linguagem. Isso pode ser configurado devido à inserção do computador no cotidiano das pessoas, sejam crianças e jovens que, pervertendo a ordem linguística criam para se códigos e mecanismos que reafirme seus sentimentos de pertença por meio da linguagem praticada na rede. Portanto, ouve-se a opinião de um chatter sobre a linguagem e a prática comunicativa na web. “ae... pra tc vc teim q ser fera ¡ s naum mata chat! Aqui naum teim freskura pq u tp naum paraaaaaaaa! :-) ae prof... nois fla do jto q eh bm pra gente, s vc naum sabe o nosso vcb eh freskura sua pq acentua d+. ae naum tc speed. Ta forahhhhhhhhhhhhhhh! :-) net eh d+ ea tc eh tdb!

Bibliografias consultadas

ARAUJO, Júlio César. “pra tc c a galera vc tem q abrevira muito”: o internetês e as novas relações com a escrita. In. DIEB, Messias. Relações e saberes na escola: os sentidos do aprender e do ensinar. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. pp. 119-137.

BARRETO, Robério Pereira. Ciberdiscurso e interculturalidade na web. Tangará da Serra [MT], Chances Editora, 2005.