quarta-feira, 22 de agosto de 2007

INTERNETÊS: MEDIADOR PEDAGÓGICO OU INTERFERÊNCIAS LINGÜÍSTICAS?

A mídia digital tendo como mediador o ciberdiscurso que modifica o fazer social, cultural, lingüístico e escolástico da sociedade contemporânea na qual a escola constitui-se no lócus econômico e político das comunidades de falantes, como mais uma possibilidade de ação. Uma coisa é certa: a rede digital traz para a escola uma nova linguagem com vocabulário e aspectos lingüísticos inovadores. Assim, é importante que os profissionais da educação e, principalmente, os professores da Língua Portuguesa entrem em contato com essas novas tecnologias urgentemente. Pois, sabe-se que os governos não têm conseguido atender as necessidades das escolas no que se refere à inserção dos profissionais da educação no universo da informática e, sobremodo, da rede digital. Neste ensaio busca-se apresentar à comunidade educacional, possibilidades de se usar os conhecimentos e recursos da mídia digital – parcos, diga-se de passagem - para aperfeiçoar os mecanismos de construção de leitura, de escrita e de sentido das mensagens veiculadas na “sociedade da imagem”. Quem usa a internet e seu hipertexto constitui-se em atores, cujas perspectivas há muito vêm sendo discutidas com grande insatisfação, pois as ações nesse processo são, normalmente, entendidas a partir da ótica da exclusão. Em outros termos, comenta-se que o acesso à mídia digital é uma impossibilidade por parte da massa proletária de estudantes e com isso, tem-se uma série de desequilíbrios político, social e cultural devido ao afastamento dos estudantes do saber tecnológico proposto pela rede mundial de computadores. Por outro lado, a expansão do interesse pelo uso da mídia digital nas escolas brasileiras já está defasada há décadas, e pede publicação de trabalhos tanto teóricos quanto aplicados ao ensino de linguagem na escola pública. Pensado nisso, traz-se à baila uma visão instigadora das possibilidades que a internet e suas mídias podem contribuir para a ação pedagógica dos profissionais da linguagem, quando estes se referirem às práticas lingüísticas do cotidiano, posto que, na rede digital existem hipertextos que passaram a ocupar o inconsciente coletivo, dando assim um novo entendimento à variedade de campos do saber na literatura, no cinema, na publicidade, na televisão e também na música, sendo estes entendidos sob a ótica do leitor, como elementos subjacentes à comunicação de massa. Nas próximas seções, seguem princípios teóricos e práticos que aludem à prática do professor em sala de aula, como sujeito e objeto da ação de ensinar e aprender a “navegar” nas ondas da fibra ótica e construir interatividade entre a mensagem da rede e o pensamento lingüístico e cultural dos “navegantes do oceano cibernético”. O estudante vive experiência do cotidiano lingüístico digital e com isso transfere seu raciocínio para a prática efetiva da comunicação. Tal acontecimento precisa de orientação metodológica. Portanto, o professor precisa aproveitar essas informações e fazer com o aluno transforme tal bagagem em conhecimento, por meio de uma seleção discursiva. Em outros termos, o profissional da linguagem deve atuar como mediador no processo discursivo do aprendiz, lhe informado que o uso cotidiano da linguagem prática na rede digital não se aplica ao contexto exterior (sala de aula, entrevista de emprego, paquera e, principalmente na prática escrita formal), contudo seus saberes linguísticos digitais são importantes para sua convivência na comunidade internética. Não obstante às críticas, o internetês como tem sido chamado, é uma realidade e por isso precisa ser entendida e apreciada como tal. Se se quer a compreensão de que a língua evolui conforme a sociedade que a pratica avança tecnologicamente, eis ai o resultado; a linguagem prática na internet seja qual for sua maneira traduz de forma singular o processo de modernidade. Dessa forma, a escola, principalmente, no que se refere ao ensino-aprendizagem de língua portuguesa ficou inerte, uma vez que professores de “língua portuguesa” ficaram presos a conceitos superficiais da língua, tendo inclusive engessado o idioma de Machado de Assis às regras gramaticais. O que impressiona na prática lingüística internética são os números. Conforme pesquisas realizadas recentemente, o número de usuários desse veículo aumentou significativamente e, por isso, a comunicação e a língua por eles utilizada têm mostrado avanços no que se refere à dinâmica lingüística. Para Silvia Marconato( 2006), no Brasil, um batalhão de 15 milhões de usuários troca 500 milhões de mensagens por dia por meio do Messenger (MSN), o comunicador instantâneo da Microsoft. O Ibope/NetRatings divulgou em janeiro que o internauta brasileiro continua sendo o campeão mundial da navegação, com uma média de 17 horas e 59 minutos, deixando para trás Estados Unidos, Japão e Austrália. Assim sendo, a revolução do internetês é uma realidade e, portanto, nós, professores de língua portuguesa necessitamos “conectarmos” às suas variantes para na perdermos o rumo e a dinâmica da língua porque a “simplificação da grafia e uso de símbolos aplicam liberdade da fala à escrita; efeito sobre a sintaxe dos jovens pode não ser catastrófico como se imagina” afirma o lingüista Ataliba de Castilho. Num trabalho denominado O professor de português junto ao aluno, usuário de sala de bate-papo na internet (2004), publicado no livro prática de linguagem no contemporâneo discute-se a relação do professor de língua, o aluno e escrita praticada pelos jovens, a partir de princípios da lingüística, tendo no pensamento de Pretti, (2003) o qual assegura que: “a língua funciona como elemento de interação entre individuo e sociedade em que ele atua. É através dela que a realidade se transforma em signos, pela associação de significantes sonoros a significados arbitrários, com os quais se processa a comunicação lingüística” (Pretti, 2003. 12 apud Barreto, 2004, p. 15). A produção lingüística dos internautas tem tirado o sono dos puritanos da língua. Entretanto, tem havido uma preocupação saudável por parte dos estudiosos contemporâneos da língua no sentido de alerta aos professores e, consequentemente aos jovens que, tal prática tem como contexto apenas os ciberespaços. Então, sua realização fora desse contexto soa como erros, devido à permanência da gramática reguladora da produção escrita e, às vezes da fala. Por fim, acredita-se que o internetês configura-se como um mediador da prática lingüística contemporânea, embora seja vigiado pela norma padrão da língua. Não obstante, aos caprichos dos estudiosos ortodoxos da língua os quais o considera como interferência negativa na produção culta, uma vez que já temos muitos problemas no uso da língua padrão. Segundo Chierchia “as línguas, por trás de sua fluidez, têm um esqueleto lógico, e ele permite que nos compreendamos”. Então, é por isso talvez que nos preocupamos com a produção lingüística dos internautas, porque não conseguimos interagir com eles. Tal fato nos tira a ‘autoridade’ que antes detínhamos ao promover a língua no variante padrão (escrita literária) à condição de mestra da boa comunicação e, sobretudo, instrumento de erudição.
Bibliografias
BARRETO, R. P. Práticas de linguagem no contemporâneo. Tangará da Serra: Sanches, 2004 BARRETO, Robério Pereira; BALDINOTTI, Sérgio, Ciberdiscurso e interculturalidade na Web. 2005

NOVELA: RETRATO IDEAL DO COTIDIANO

Antes, porém, afirmo que não tenho intenção de fazer um discurso acadêmico sobre a novela. Apenas discorrei sobre alguns pontos que considero interessantes para que os espectadores possam se orientar quanto à radiografia que os autores e atores fazem do cotidiano, por meio das novelas brasileiras em exibição nesse momento. A novela pode ser apreendida de muitas formas, contudo chamo atenção para dois fatos importantes: a) todas as representações realizadas pelos personagens são verdades que poderiam ser, ou seja, aquilo é o ideal de vida que todos nós pretendemos ter. b) as novelas estão na programação das emissoras de maneira a atender as exigências da marcas que as patrocinam. Dando continuidade à primeira questão acima mencionada, eis a questão: qual é a tendência das novelas atuais? Quebrar tabus! Diriam os mais radicais. No entanto, a tendência das últimas novelas, sobretudo as globais, é trazer à baila as experiências do cotidiano, as quais marcam deliberadamente a rotina das pessoas. “Uma experiência de vida põe em jogo muito mais coisas do que nosso simples gosto, ela põe em jogo nossa própria existência e aquilo que somos.” Afirma Arnaud Guigue. Corroborando com esse lúcido pensamento, pensamos que a novela, por ser uma forma artística cujo objetivo se volta para o relato dos acontecimentos sociais, dando ênfase nas questões dramáticas que tomam conta das minorias, faz com que os espectadores se vejam e, também, criem para si uma maneira ilusória de vida – pelos menos enquanto a novela está no ar – e nesse momento passa a aceitar comportamento que jamais na vida real seriam admissíveis em suas vidas práticas. Exemplifico: Na novela que acabou ontem, tivemos durante 209 capítulos, um misto de romance policial de má qualidade com melodrama cotidiano: Mulher rica que se apaixona por um homem pobre, mas é desprezada por ele estando grávida. Para se vingar, ela oferece a criança à adoção. Pois, bem esse foi o enredo principal da novela de Silvio de Abreu. Se se quiser ser mais dramático ainda, lembremo-nos que esse tipo de acontecimento é a rotina da vida real, inclusive, temos ainda a memória recente, o caso da mãe mineira que jogo a filha na Lagoa da Pampulha, Belo Horizonte – MG. e a crinça foi resgatada por transiuntes. Isso é a novela da vida. Ou parafraseando Nelson Rodrigues, essa é a comédia da vida publica! Contudo, todos somos atores reais e, portanto, temos a vida como palco onde tudo é ao vivo. O público são espectador e juiz ao mesmo tempo, exarando a sentença ao final do primeiro ato. Por isso, a novela e seus personagens – herói e vilão são para nós – um espelho no qual vimos refletir a cada novo capítulo. De tudo isso decorre da nova perspectiva cultural do espectador com as histórias e personagens mostrados na novela, embora a distância entre o real e o ficcional seja tênue há quem afirme que, às vezes, as pessoas elegem para si a maneira de viver e ver “esfera publica” tal qual o personagem em destaque em tal trama novelística. Lembremos por exemplo à manifestação lingüística do personagem Geovani Improta, a forma debocha e pedante de Bia Falcão ao tratar as personagens do núcleo pobre de Belíssima. Essa e outras maneiras têm em si uma mensagem subliminar que nem sempre é vista pelo espectador incauto, o qual se volta para aquilo que, de fato dá sustentação à novela; estilo de vida, moda, viagens, comportamentos sexuais, etc., porque é nessa alienação que os patrocinadores inserem seus produtos, criando necessidades imaginárias nos espectadores que vai de adolescentes à dona de casa. O perfil do atual espectador de novelas no Brasil não mudou muito da década 70 para cá, pois segundo Mário Sérgio Conti em Notícias do planalto (1999), Sánchez obteve através de pesquisas o perfil das pessoas que fazem à audiência da televisão, principalmente da novela: “mulher, casada, com pouco mais de trinta anos, tinha filhos pequenos, era religiosa, romântica e, o decidia tudo o que se comprava na casa, da marca do fogão à roupa do marido e à comida das crianças.” Eis, ai o porquê de termos novela das 18 às 22h. Tendo sumarizado o primeiro tópico, chegamos ao ponto no qual pretendo mostrar como os anunciantes se posicionam em determinadas novelas em detrimento de outras. Na verdade, cada discurso televisivo tem seu público delimitado. Então, pensemos: Porque será que as grandes marcas de produtos de beleza, limpeza e carros preferem os intervalos da novela das oito? Resposta obvia: Maior audiência, porque é nesses horários que os maridos chegam a casa e, junto com a família assistem à trama. Instantes em que se manifestam as identidades e desejos imaginários nos quais conflitos familiares e pessoais ganham destaque, porque se tem nas personagens da novela uma referência. – a minha vizinha tem um fogão igual ao que à personagem tal faz comida, então quero um também – diz a mãe. Minha amiga na escola, tem uma sai igual à Roberta do RBD, pai eu quero uma também! – comenta a filha. E assim, se fecha o ciclo econômico e exploratório criado pela telenovela. Nela a imagem, a trilha sonora, o tom de voz, a linguagem corporal do atores em cada núcleo está consociado com o tipo de patrocinador que irá aparece entre uma parte e o intervalo da novela, completando assim o horário novelístico da televisão. Hodiernamente, de maneira subjetiva, os autores têm colocado em suas tramas questões de comportamento sociais significativa, principalmente no que se refere à sexualidade, religião, política e, principalmente, dramas individuais. Que me perdoem à memória, mas já faz algum tempo que temos nas tramas das oito, relacionamentos homoeróticos, porém é tão falso moralista que dar dó. Por exemplo, na trama de Abreu tivemos um par homoerótico feminino. (Não estou defendendo que se tenha na televisão mais baixaria, ao contrário, acho que esses temas devem ser tratados com respeito, mostrando ao espectador que tal questão é presença real na sociedade e, que todos devem respeitar). Afinal, não temos liberdade de expressão? Então para que tratar desses episódios com divagação? Por outro lado, Tivemos a oportunidade de refletir sobre uma coisa muito; a presença da prostituição masculina, fato que até então, viu-se à presença feminina nesse papel. Enfim, caro espectador de novela, tente ver o que está alem das imagens de lugares, rostos e corpos nus, refletindo sobre o cotidiano no qual a novela real é muito mais interessante do que está “mentira” que nos absorve durante horas diante da televisão. Preferi à discussão com seus familiares dos temas propostos pela teledramaturgia à alienação por produtos ou padrões de beleza e comportamentos morais, sócias e sexuais. Seja um leitor competente e crie para si e seus familiares momentos de descontração nos diálogos reais entre todos! Até porque ao termino da novela tudo que foi discutido sai da moda! Ou será que alguma madame, na sociedade na qual vivemos teria coragem de assumir publicamente uso de serviço amorosos pagos e que preferem meninos ao invés de relacionamentos conservadores? Por fim e discordando de um articulista que publicou num site renomado, um texto o qual traz o título: novela tem o final sem vergonha da história. Digo: talvez esse tenha sido o final de novela, no qual, algumas personagens retrataram realisticamente aquilo que a sociedade pretendia, sobretudo no plano da justiça, dos comportamentos pessoais e sexuais. Convenhamos; qual o quarentão que não fantasiaria tem em seus braços uma ninfeta como as que tiveram o personagem Alberto e seu (sogro e genro); qual a mulher que não têm dentro de si uma Safira da vida, e deseja sempre um Pascoal? Qual a vovô que não sonha de vez enquando com Matheus na sua cama sem complexidade? Conforme anunciei no título, a novela é retrato em cores do cotidiano, porém, somos daltônicos e não identificamos as cores nela contidas. Robério Pereira Barreto, em 08 de julho de 2006.