quarta-feira, 1 de agosto de 2007

VEREDAS DA VIDA


No meu sertão solidão
tudo parece em desalinho...
ando em desatino
e busco sozinho abrir caminho
entre os espinhos da vida.

A cada novo passo
em movimento que faço
sou espetado pelas
dores e securas do sertão,
onde o dia se confunde
com calor do deserto,
dando me a morte por certo.

Eis que surgiu você
anunciando ao longe a vida;
lá estão as veredas
em meio a terra seca,
de onde brota do seio da natureza
a sangue que dá vida
ao coração do sertão; água.

As palmeiras da esperança,
da paixão indicam vale a pena viver
as dores e feridas sofridas na caminhada,
sempre há veredas no deserto da solidão.
Robério Pereira Barreto
01 de agosto de 2007. 22h48min.

MORIBUNDO


MORIBUNDO
(Robério Pereira Barreto)

Que os raios amenos
dessa última aurora de primavera
aqueçam-me meu rosto;

Tal o beijo do amante
na face rubra da donzela
ao ser surpreendida na janela;

Que o sol dessa manhã
Mantenha-me vivo,
embora meu semblante
sinta-se morto
e meu espírito moribundo;

Que o torpor do meio dia
dispa-me o corpo com galhardia,
deixando-me exposto às feridas...;

Que as margaridas
no canteiro solitário da avenida
exponham-me sem medo;

O precipitar da tarde
leve-me ao encontrar da liberdade...
entretanto é no crepúsculo
que mais final maldito se anuncia.

PRA TODA VIDA



PRA TODA VIDA
(Robério Pereira Barreto)

Seus beijos?
jóias impossíveis de comprar...
prêmio o qual
fui feliz em conquistar

Seu corpo?
Monumento que pude
Sem pressa escalar.

Sua voz?
Hino que meus ouvidos
Aprenderam a apreciar

Seus passos?
Avenida pela qual
Segui a caminhar.

Seu amor?
Tesouro que aos poucos
Aprendiz a conquistar.

Você?
Mulher que todas
noite busca feliz
para amar.
01 de agosto de 2007, 22h16min

JANGADA


JANGADA
(Robério Pereira Barreto)

O coração?
uma jangada
lançada ao mar revolto da paixão
a cada amanhecer...

As ondas furiosas
lhe faz sofrer
a dor da separação.

Forte resiste às procelas...
quase incólume
volta à praia da razão.

Porém traga consigo as cicatrizes
Da solidão e instantes sem amor.

A INVASÃO DOS SILICONES

A noite parece estar viva e com isso os foliões se acumulam em praças e avenidas com tal alegria que nem percebem quão solitários estão em meio à folia. Nessa cidade-cemitério, eis me aqui a contemplar corpos e belezas artificiais pela televisão, na qual, todos os canais mostram as mesmas caras e bundas. Socorro! Salve-me da invasão dos silicones rebeldes, porque eles parecem querer saltar de peitos e bundas, cujos sacolejos não param de lhes judiarem movendo-oss para lá e para cá! Dá dó, mas meu “pênis espectador” não pode fazer nada se não babar diante de tanta fartura artificial, e deixá-lo sofrer em nome do meu deleite.
Se pudesse seria mais um a maltratá-los, dando lhes esbarrões e amassos nas concentrações dos blocos e escolas de... Em minha direção surgem com tanta exuberância que parecem me convidar a cair na folia, Resisto!
Eis que penso: Puxa! Como seria o carnaval, ou melhor, as mulheres sem o “amigo do peito e bundas” modernas, silicone? Nossa! Não quero nem pensar. Certamente seria “depressão” total. Talvez isso fosse bom para os “pênis-espectadores” solitários, pois o “Estado democrático de direito” não seria desrespeitado e não teríamos em apartamentos e casas-cemitérios justiça feita pelas próprias em nome de uma representação ideal de mulher. E a manhã como vou olhar para as minhas vizinhas cujas partes siliconizáveis não são mais aquelas coisas? Socorro! Meu “pênis-espectador” carregará um trauma que nem Freud poderá salvá-lo. Socorro! Eles estão em toda parte! Que poderá salva meu “pênis espectador” da invasão dos silicones rebeldes?

INFLA DOR


INFLA DOR
(Robério Pereira Barreto)


No meu peito
o coração infla,
causando-me dor infernal
ao recordar do instante nupcial
que entre as juras...
o amor nos fez únicos
em nossa latitude de prazer.

Agora, sinto dores
tentando dizer:
tudo se passou
não quero mais sofrer.

cada pulsar do peito
faz-me sombrio
entre dores mil;
minha alma escorre no vazio.

DO COLO À CIVILIS: “DIALÉTICA DA COLONIZAÇÃO”



O conceito de cultura é usado com acepções múltiplas, desde a mais simples e abstrata até a mais complexa e abrangente. O mesmo ocorre com termo identidade, sobretudo quando é levado ao plano cultural e lingüístico.
Nesse ensaio, busca-se discutir o primado da cultura a partir da ótica da colonização, tendo como recorte os acontecimentos ocorridos nas três últimas décadas na sociedade mato-grossense. Para isso, toma-se como referência o pensamento de Alfredo Bosi, em Dialética da colonização, através do qual se toma conhecimento a respeito dos conceitos de cultura empregados para designar as relações do homem com a sociedade atual.
Toma-se aqui de empréstimo do latim, colo que, segundo Bosi (1996, p.11), na língua de Roma, “eu moro, eu ocupo a terra, eu trabalho, eu cultivo o campo” o que se aplica à nossa realidade representa bem o movimento dialético ocorrido na comunidade mato-grossense nos últimos decênios. Ou seja, viemos para cá sob perspectiva do colo no sentido literal do termo.
Os fatos e a história do Estado dão-nos conta de que houve de maneira seqüencial “o deslocamento que os agentes sociais fazem do seu mundo de vida para outro onde irão exercer a capacidade de lavrar ou fazer o solo alheio. O íncola que emigra torna-se colonus”, pondera Bosi. Isso é um continuum no Estado porque há um crescimento da economia o qual é noticiado pela a imprensa nacional, atraindo assim a cada dia, centenas de migrantes em busca de melhores condições de vida, muito embora tragam pouco a oferecer (mão de obra nem sempre especializada) à sociedade local em termos culturais, artísticos, sociais e humanos, uma vez que o conhecimento acumulado que trazem consigo, já vem a serviço da exploração. Entretanto, “A colonização dá um ar de recomeço e de arranque a culturas seculares”. (Bosi, 1992, p.12).
Para Ferreira Gullar “o novo é para nós, contraditoriamente, a liberdade e a submissão” se se quer entender isso como iniciação ao processo dialético da colonização, observa-se, então como os nativos têm reagido às interferências das correntes migratórias no processo cultural do Estado; são indiferentes num primeiro momento, noutro agressivos. Contudo, não resistem às pressões sócio-econômicas dos migrantes e acabam deixando-se suplantar, até porque a força da corrente migratória é hibrida e, portanto, dilui-se, evitando ser atacada em suas bases.
É por isso que “a colonização não pode ser tratada como uma simples corrente migratória: ela é a resolução de carência e conflitos da matriz e uma tentativa de retomar, sob novas condições, o domínio sobre a natureza e o semelhante que tem acompanhado universalmente o chamado processo civilizatório”. (Bosi, 1992, p. 13)
Na verdade, a colonização vai aos poucos se construindo através das forças simbólicas, as quais são mediadas pelo Estado com o apoio dos meios de comunicação de massa. No caso específico de Mato Grosso, essa força foi mediada pelo próprio sistema, ou seja, foi a partir da década de setenta, que o Governo Federal incentivou a migração para o centro-oeste. Com isso, teve-se uma “invasão de íncolas” cujo objetivo era fazer a dominação dos naturais e, consequentemente, empregar tanto na terra quando na sociedade locais; hábitos e costumes advindos de suas origens. (veja-se o exemplos dos gaúchos, paulistas, paranaenses e nordestinos) que tomaram posse em diversas regiões do Estado, transformando-as em colônias para de modo simbólico manter suas tradições e origem. Portanto, “A colonização é um projeto totalizante cujas forças motrizes poderão sempre buscar-se no nível do colo: ocupar um novo chão, explorar os seus bens, submeter os seus naturais.” (Bosi, 1992, p. 15) tem razão em afiançar isso de maneira sistemática.
O colonizador vê o nativo como sujeito incapaz de promover as mudanças que ele supostamente as fariam se no seu lugar estivesse. Ainda no plano do empréstimo do latim, mudando-se, portanto de categoria gramatical; supino de colo chaga-se a culturus aqui tomado com significado amplo: Cultura é o conjunto das práticas, das técnicas dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social. A educação é o momento institucional marcado do processo. (Bosi, 1992, p. 15) Encontra-se no pensamento do autor, algo importante a ser dissecado antes de continuar a discussão, trata-se da “reprodução de um estado de coexistência social.” Isso bem entendido leva-se à percepção do por que de haver tantos centros de tradição espalhados por ai. Na realidade, esses centros tentam em sua manifestação, a busca de sua identidade, a qual já esta hibridizada e, por isso, é buscada por meio de símbolos que revelem seu poder de dominação; saber é poder, conforme dizia Francis Bacon. Será isso um reflexo da civilização cultural pós-modernidade?

“É NÓIS NA FITA!”: DA CADEIA À MÍDIA

Sabe-se que a papel da fala é a comunicação; através da qual se faz a difusão de idéias entre sujeitos da comunidade lingüística; a expressão mediadora da linguagem verbal por meio da qual se institui um sistema de significações usado pelos falantes em determinado contexto para expressarem suas identidades. Portanto, a comunicação é, de fato, o critério básico a vivencia em sociedade.
Desde tempos mais remotos até hoje foram variadas as maneiras de interações sociais promovidas diálogo. Essas formas coligiram inúmeras manifestações de linguagens, sejam verbais ou artísticas, sendo que ambas se interligaram para garantir a manutenção da cultura e das ideologias construídas em determinados momentos, garantindo assim o continuum raciona e intencional das experiências humanas.
Vygotsky (1993) ao trabalhar com a linguagem produzida pelas crianças; percebeu que desde tenra idade constrói e requer significado para sua produção lingüística, uma vez que elas atuam no plano da simplicidade. Assim, “o mundo da experiência precisa ser simplificado a fim de que a comunicação torne-se, de fato, possível, pois a experiência do indivíduo encontra-se apenas em sua própria consciência e é, estritamente falando que o sujeito é aceito e reconhecido pelo grupo. (grifo meu).
O pensamento identitário presente no discurso das massas da periferia há rompeu com as barreiras sociais e culturais das classes média e rica do país. Exemplo disso foi música (samba, funk e hip hop) que desceu o morro para fazer sucesso no asfalto. Agora, tem-se nas casas de todo país, programas de televisão que, ideologicamente, transformou a alocução do “homem do povo” em produto consumo, bem como a forma de falar e vestir, antes marginal, agora moda na novela “Vidas opostas” da Rede Record de Televisão, exibida semanalmente no horário “nobre” das famílias brasileira.
A novela sugere no título as oposições vividas por pessoas de classes sociais diferentes, incluindo-se ai ainda a questão étnica muito presente nos discursos dos personagens. É interessante destacar que, no núcleo pobre da novela estão subliminarmente discutidos problemas reais os quais fazem parte do cotidiano dos moradores das favelas cariocas e, por conseguinte, do país. Então é ai que começa a disseminação de uma produção lingüística que, para muitos se tornou uma afronta aos princípios da língua nacional, gírias.
Assim sendo, é a partir disto que se verifica a migração das gírias tanto da periferia para a classe média quanto das ruas para a mídia; o inverso também é verdadeiro. Para tanto é interessante que se veja com maior atenção um capítulo de “vidas opostas” para se perceber como a mídia vem reificando o discurso da marginalidade como se este fosse o código genético de todos os moradores das periferias brasileiras.
A metonímia do cidadão marginal da periferia é o personagem Jackson da referida novela, que mantêm sob seu controle uma favela inteira, denotando ai o poder da organização criminosa na periferia brasileira. (Pena que a população não consegue ver que em Brasília tem vários Jacksons praticando crime, porém usando outro vocabulário).
Tem-se neste recorte, a exposição da gíria (fr. argot) no cotidiano graças ao alcance da mídia televisiva através da qual se estigmatiza palavras do falar restrito a determinados grupos sociais promovendo assim à rejeição das identidades dos que convivem no mesmo ambiente, e por alguma razão não as usa como freqüência. Para Dino Preti “as gírias são resultantes da agressividade natural desses vocábulos às instituições.” Nesse plano de hostilidades estão crianças e adolescentes de todas as partes do país, inclusive daqui, sertão baiano, reproduzindo discursos apreendidos através das falas do personagem traficante “Jackson” sem ao menos saberem que se trata de expressões marginais cujo ambiente é a cadeia. Então, seria interessante que os pais percebessem isso para evitar que seus filhos usassem expressões que não correspondem a sua identidade cultural tampouco lingüística. Eis mais “agá” da mídia de comunicação de massa! “Já é”! “vou pegar o cabrito pra da um rolé porque como meu era nenhum enquadro a cavala.
Com essas e outras expressões é que a novela “Vidas opostas” segue seu curso, promovendo a disseminação de palavras cujo usuário é oriundo da cadeia. Portanto, é interessante não afirmar que nas periferias do país é assim que se fala, porque não é verdade.