quarta-feira, 1 de agosto de 2007

“É NÓIS NA FITA!”: DA CADEIA À MÍDIA

Sabe-se que a papel da fala é a comunicação; através da qual se faz a difusão de idéias entre sujeitos da comunidade lingüística; a expressão mediadora da linguagem verbal por meio da qual se institui um sistema de significações usado pelos falantes em determinado contexto para expressarem suas identidades. Portanto, a comunicação é, de fato, o critério básico a vivencia em sociedade.
Desde tempos mais remotos até hoje foram variadas as maneiras de interações sociais promovidas diálogo. Essas formas coligiram inúmeras manifestações de linguagens, sejam verbais ou artísticas, sendo que ambas se interligaram para garantir a manutenção da cultura e das ideologias construídas em determinados momentos, garantindo assim o continuum raciona e intencional das experiências humanas.
Vygotsky (1993) ao trabalhar com a linguagem produzida pelas crianças; percebeu que desde tenra idade constrói e requer significado para sua produção lingüística, uma vez que elas atuam no plano da simplicidade. Assim, “o mundo da experiência precisa ser simplificado a fim de que a comunicação torne-se, de fato, possível, pois a experiência do indivíduo encontra-se apenas em sua própria consciência e é, estritamente falando que o sujeito é aceito e reconhecido pelo grupo. (grifo meu).
O pensamento identitário presente no discurso das massas da periferia há rompeu com as barreiras sociais e culturais das classes média e rica do país. Exemplo disso foi música (samba, funk e hip hop) que desceu o morro para fazer sucesso no asfalto. Agora, tem-se nas casas de todo país, programas de televisão que, ideologicamente, transformou a alocução do “homem do povo” em produto consumo, bem como a forma de falar e vestir, antes marginal, agora moda na novela “Vidas opostas” da Rede Record de Televisão, exibida semanalmente no horário “nobre” das famílias brasileira.
A novela sugere no título as oposições vividas por pessoas de classes sociais diferentes, incluindo-se ai ainda a questão étnica muito presente nos discursos dos personagens. É interessante destacar que, no núcleo pobre da novela estão subliminarmente discutidos problemas reais os quais fazem parte do cotidiano dos moradores das favelas cariocas e, por conseguinte, do país. Então é ai que começa a disseminação de uma produção lingüística que, para muitos se tornou uma afronta aos princípios da língua nacional, gírias.
Assim sendo, é a partir disto que se verifica a migração das gírias tanto da periferia para a classe média quanto das ruas para a mídia; o inverso também é verdadeiro. Para tanto é interessante que se veja com maior atenção um capítulo de “vidas opostas” para se perceber como a mídia vem reificando o discurso da marginalidade como se este fosse o código genético de todos os moradores das periferias brasileiras.
A metonímia do cidadão marginal da periferia é o personagem Jackson da referida novela, que mantêm sob seu controle uma favela inteira, denotando ai o poder da organização criminosa na periferia brasileira. (Pena que a população não consegue ver que em Brasília tem vários Jacksons praticando crime, porém usando outro vocabulário).
Tem-se neste recorte, a exposição da gíria (fr. argot) no cotidiano graças ao alcance da mídia televisiva através da qual se estigmatiza palavras do falar restrito a determinados grupos sociais promovendo assim à rejeição das identidades dos que convivem no mesmo ambiente, e por alguma razão não as usa como freqüência. Para Dino Preti “as gírias são resultantes da agressividade natural desses vocábulos às instituições.” Nesse plano de hostilidades estão crianças e adolescentes de todas as partes do país, inclusive daqui, sertão baiano, reproduzindo discursos apreendidos através das falas do personagem traficante “Jackson” sem ao menos saberem que se trata de expressões marginais cujo ambiente é a cadeia. Então, seria interessante que os pais percebessem isso para evitar que seus filhos usassem expressões que não correspondem a sua identidade cultural tampouco lingüística. Eis mais “agá” da mídia de comunicação de massa! “Já é”! “vou pegar o cabrito pra da um rolé porque como meu era nenhum enquadro a cavala.
Com essas e outras expressões é que a novela “Vidas opostas” segue seu curso, promovendo a disseminação de palavras cujo usuário é oriundo da cadeia. Portanto, é interessante não afirmar que nas periferias do país é assim que se fala, porque não é verdade.

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