segunda-feira, 11 de agosto de 2008

REIFICAÇÃO DE ESTERIOTIPO EM “MEU SER DE MIM”

A sociedade contemporânea tem produzido cada vez mais, sujeitos que procuram a todo custo chegar ao sucesso, o qual na maioria das vezes não é facilmente alcançado, causando assim nesses aspirantes a celebridade sérios problemas psicológicos.
É com essa observação que se iniciam os comentários sobre a peça "Meu ser de mim" adaptação do texto O Ator-mentado, comédia de um ato, escrita por Rodrigo Rangel e Afonso Celso, em 1998.
Na releitura da referida peça, o diretor de teatro, Péricles Barreto manteve a formação do texto fonte, inclusive conservou os mesmos nomes dos personagens originais: Mauro Cristal, ator recém-formado; Antônio Felipe, empresário e amigo de colégio de Mauro; Joaquim, tio de Mauro e dono de um botequim; Lauro Aquino Rêgo, colega de Mauro do curso de teatro; Caio, aluno de Mauro Cristal; Gilbertão, dono de teatro. Quanto ao cenário houve poucas modificações, uma vez que o texto traz em si uma perspectiva do teatro contemporâneo, isto é, está carregado de signos que se movem no tempo e no espaço, dando ao espectador oportunidade de se situar na história, embora a platéia tenha se detido tão somente no caricato, visto que houve exagero nesse quesito, pois o ator que interpretou a personagem Mauro Cristal inflacionou a cena com trejeitos homossexuais (embora Rangel e Celso tenham idealizado esse intérprete, mas não precisava tanto, né!) e, além disso, houve falas preconceituosas quando se referia a um bairro periférico de Irecê, Morro do Urubu, provocando na platéia risos irônicos, fugindo da temática do texto fonte; a crise de identidade do sujeito e a busca pelo sucesso!
De qualquer modo não houve algo que viesse a tirar o mérito do trabalho da equipe, visto que fazer teatro onde as pessoas não foram orientadas a compreenderem tais questões é, na verdade um ato de coragem. Agora, enquanto espectador iniciado crê-se que é interessante lembrar que houve sim sobre elevação dos esteriotipos, inclusive a direção musical reforçou o processo de esteriotipia, ao associar a trilha sonora de Ney Mato Grosso e Luiz Melodia às ações do personagem Mauro Cristal, além claro de ter forçado a montagem do personagem Gilbertão por uma menina que, masculinizada se perdeu em vários pontos da ação dialógica do texto, ou seja, houve vários “cacos” no texto o que não chegar a ser demérito, se é para improvisar falas para que texto?
A despeito de quaisquer que sejam os desvios ocorridos, a equipe de atores e a direção merecem atenção da comunidade e da crítica, visto que ambos rompem com o lugar comum, isto é, se colocam à disposição e fazem arte e a levam àqueles que não têm oportunidade de conhecê-la em outros contextos.
Juízo de valor à parte cabe aqui fazer algumas observações: primeira, a capacidade do ator-interprete da personagem Mauro Cristal em decorar o texto, embora tenha colocado “cacos” importantes para seu desempenho. segunda é a maturidade do ator Carlos, interprete do personagem Joaquim, tio de Mauro Cristal. De qualquer sorte foi um bom espetáculo, podendo, inclusive Barreto explorar melhor esses atores em textos mais densos, isto é, trabalhar questões dramáticas, evitando assim cair no clichê e no caricato da comédia cotidiana.