quarta-feira, 18 de julho de 2007

MINHAS FANTASMAGORIAS

Leitores, o que lhes apresento a partir de agora é o que chamariam os filósofos espiritualistas e psicólogos freudianos e jungianos de meu ‘duplo eu’. Entretanto, o denomino de meu poeta fantasmal porque o que ele fala é de fato algo de outro mundo. O mundo da alma, que por sinal, a ciência moderna se encarregou de tirar de circulação faz tempo. Porém, meu fantasma lírico é um herói. Não daqueles gregos que enfrentava a fúria dos deuses..., mas sim herói da resistência, pois a cada manhã ensolarada ou sombria, tenta encontrar sinais de que estar vivo e amar valem à pena! Inclusive a pena que escreve o bilhetinho de amor, o poema, o cartão que acompanha ramalhete de flores predicando um encontro romântico no qual corpos se entregarão às fantasias da alma e aos prazeres da carne.
O lado bom do meu poeta fantasmagórico é que ele não tem estresse. Sabem por quê? Ele é pansensível e isso faz com que ele se movimente em todos os meios intelectual, acadêmico, popular e poético. Contudo, tem suas preferências, claro, pois como todo cidadão mesmo que seja um espectro, tem direito de mostrar suas vontades. Afinal, estamos numa democracia, ora essa! E sua predileção é o interior das pessoas onde tudo está. Daí, graças à pansensibilidade da suas falas, a qual atinge com flecha enevenada o lado mais endurecido e dormente do ser humano; o coração! Agitando-o e levando-o à embriaguez. Ébrio de prazer se desnude de vestimentas morais e sai em busca de felicidade...
Discurso sentimentalista? Afirmo: não o é! Porque é com ele e seus versos traquinos que aprendo diariamente coisas sobre a vida no mundo individualista e perverso no qual vivemos. - Eu, no mundo físico; ele no metafísico - Aquelas nem os anos de estudos formam capazes de me ensinar. Assim, tornei-me seu eterno aprendiz.
A propósito, as falas de meu fantasmagórico espectro são poesias suspensas no ar como se fossem partículas humanas se desprenderem de nós, deixando-nos, por acaso, abrir nossas couraças cotidianas.
Contrário a isso, e tentando ver outros lados da questão, é que creio na força da sua pansensibilidade, responsável por tentar fazer dessas fugas o encontro de mim com vários sujeitos. Não obstante as “almas sebosas” não admitirem que suas essências ou excrescências não se afasta de si, devido a seu grau de egoísmo, o qual, portanto, lhe faz tão infeliz que nem sente quão sua alma foi anestesiada, tornando-lhe incessível às coisas bela da vida; a paixão!
Diante dessa situação, às vezes, falo ao meu poeta imaginário: “talvez fosse melhor escrever sobre histórias, amenidades ou fatos reais” Mas, ele logo me repreende dizendo: “A história pode não ser a verdade em sua essência; amenidades são maquiagens que cobrem a realidade com seus tons aristocráticos em chá da tarde de uma minoria que nega a se próprio; racionalidade é a batuta da ciência e, portanto, com ela os maestros regem suas orquestras como se estivesse no “monte parnaso” podendo apenas ser vistos, já mais tocados! Então, meu caro Robério Pereira Barreto, não se apoquente com as minhas atitudes porque não lhe causarei grandes problemas, apenas você será tachado de “neolírico diletante.”

ARRELIA DE MORTE




No além sertão
há gente vivendo
à imagem e sem pão.

Moribundo, o sertanejo
sente correr gélido
nas veias o sangue
aguado sem sustança;
sente na espinha teimoso calafrio;
Fome talvez!?

Desejoso pastoreia o céu.
Lá, nuvens em forma...
não são de água
apenas vento soprando.

Tal arrelia o leva a pensar
na melodia da morte;
porque a natureza lhe arrelia:
Urrrrrrr, Urrrrrrr, Urrrrrrr
Sóis um homem sem sorte!

À noite na imensidão do norte
o roceiro de rosto disforme
tem o velho e magro cão
como único consorte.

18 de julho de 2007.