domingo, 20 de fevereiro de 2011

A VIRGEM QUE...

Robério Pereira Barreto
Vivia em harmonia com a natureza em sua comunidade. Lá tudo acontecia de modo simples e natural. Porém, a exigência da modernidade lhe expulsou de seu berço esplêndido. Teve que ir para a cidade concluir estudos secundários.
Na cidade, tudo era novidade, inclusive as amizades. Colegas de faculdade sempre em ritmo acelerado buscavam integrá-la ao mundo urbano: baladas, viagens e festas íntimas.
Em cada lugar que chegava sempre chamava à atenção com sua meiguice, timidez e a beleza tomavam conta do lugar como se acendesse um feixe de luz aos olhos de todos. Isso tudo a colocava no centro das atenções, tornando-se, um objeto de desejo.
As tentações do novo mundo lhe distanciava cada vez mais de sua origem humilde e, naturalmente, alimentava sonhos mil. Uniram-se várias atrações mundanas conspirando contra sua ingenuidade: Olhares maliciosos, murmúrios sibilantes e pescoços dedicavam-se a querê-la impiedosamente.
Demasiadamente humana, não resistindo às tentações, percebe que poderia tirar proveito da situação e, jogando charme encanta e... Porém, virgem! Não tendo a malícia daquelas que vivem na cidade de redevú da cidade grande, foi presa fácil.
Depois de uma noite de badalação regada... acordou sozinha num quarto de hotel sentido que algo estranho havia acontecido, mas não tinha ainda ideia e a dimensão do que realmente tinha acontecido.
Levanta-se e se percebe diferente. Embora não saiba ainda distinguir entre as dores de cabeças resultantes da ressaca e as dores da festança... Vai ao chuveiro e a água com intimidade absurda releva algo que o cérebro ainda não tinha identificado; Não era mais a menina-mulher de antes, era mulher, entretanto, não sabia como havia acontecido...
- Minha nossa! Não sou mais... como isso foi acontecer?! Nem lembro com quem vim para cá! Desolada vasculha a bolsa todos os pertences intocados, inclusive os íntimos.
Mil pensamentos tomam-lhe as ideias:
- Doenças estão ai...
- Gravidez?! Nem pensar!
- Que vergonha, minha família? O que direi a eles?
As lágrimas se confundindo com a água do chuveiro que, percorrendo as intimidades sem permissão, continua a denunciar o passado ainda recente, mas dolorido.
Mais pensamentos invadem sua cabeça. Agora não tem mais jeito, preciso consultar um médico, pensou em desespero: deveria ir à emergência do hospital, mas tenho vergonha.
Enrolando-se na toalha senta-se no vaso do banheiro. Instintivamente pega o celular e liga para a melhor amiga. (...) deu caixa de mensagem... Depois de algum tempo resolve ir embora, revista a bolsa mais uma vez e tudo está intocado.
- Ufa! Ainda bem não fui roubada!
- Recepção? Por favor, feche a conta e chame para mim um taxi, farei check-out em cinco minutos.
- Senhora, sua conta já esta fechada. O táxi está a sua espera.
- O quê? Quem pagou?
- Senhora, perdão, mas não podemos revelar.
Mais dúvidas surgem: O que estão me escondendo? O que será que aconteceu comigo esta noite?
Envergonhada passa de cabeça baixa e entra no taxi.
Qual o endereço, senhora? Indaga o taxista.
Vamos sair de pressa daqui, já lhe falo...
Chegando a seu apartamento, incertezas aumentam cada vez que se lembra de quando despertou naquele lugar.
Passadas horas de agonia rola um insight:
- Putz! Tenho uma amiga médica, mas o que devo dizer para ela? Vou ligar se atender invento qualquer coisa, mas preciso falar com alguém que não seja de minha família.
- Alô, querida, preciso conversar, ou melhor, de uma consulta urgentemente! Nem deu chance para os cumprimentos pessoais; tamanha a aflição.
- Fique calma e me conte o que aconteceu, tranquilizou a amiga e médica de urgência.
- Não pode ser por telefone, preciso que me examine.
- Ok. Estou de plantão e você onde é, venha para cá imediatamente.
-Ufa, graças a Deus...
Minutos depois, esbaforida e em prantos é recepcionada pela amiga que, tomando-a nos braços a consola:
- Não fique assim! Conte-me tudo.
- Não posso, na verdade, nem sei o que aconteceu, mas estou desesperada.
Se não me contar não poderei ajudá-la, então se acalme e fale bem devagar.
Entre prantos e soluços narra às últimas horas angustiantes que se passaram depois de acordar sozinha naquele quarto de hotel.
- Amiga, lembro de que ontem a noite sai para a balada... hoje, acordei sozinha em um quarto de hotel. O pior é que estava sem roupa e senti algo estranho em mim. Achei que fosse ressaca, mas não era. Mas ao tomar banho a água ao tocar meu corpo parecia lavar algo sujo que há em mim.
- Contento-se para não rir, a amiga e medica pergunta: quer dizer que você foi para a balada e acordo no outro dia, sozinha sem saber com que dormiu e, agora acha que foi abusada é, isso?
- Não sei, nem me lembro de nada.
- Ai, Cinderela tire a roupa que vou lhe examinar, ordena a médica.
Procedimentos ginecológicos realizados em minúcias, risos tomam conta do consultório.
- Porque está rindo assim? Pare que você me constrange mais ainda!
- Perdão, mas você deve ter batido a cabeça em algum lugar. Amiga, você é... Bom, como posso dizer isso? Ainda é virgem... Então não posso receitar pílula do dia seguinte. Já que está aqui, vamos fazer uns exames de rotina.
Amostras de material coletadas, agora vamos aguardar os resultados.
Vai para casa e enquanto isso tome essa medicação. Qualquer coisa me ligue.
- Obrigado, amiga! Posso te pedir um favor?
- Claro.
- Não comente isso com ninguém.
- Com certeza, Imaculada.
Segunda-feira chega e com ela a rotina da vida lhe impõem compromissos: trabalho, faculdade e correria... Olhando para todos com desconfiança, pensa que todos sabem o que aconteceu, porém envergonhada não tem coragem de comentar. Então, tenta concentrar-se nos afazeres para diminuir as angústias.
Passa a dispensar convites até então indispensáveis, trancando-se em seu apartamento, disfarça a voz para fala ao telefone com a mãe e o pai para parecer que esta tudo bem. Entretanto, algo está acontecendo em sua cabeça e corpo. Sensibilidade além da conta chora em demasia. E um pressentimento lhe toma conta...
Não demora muito o celular toca. Amiga, estou com os resultados dos exames, venha para cá urgentemente, ordena a amiga-médica.
Aflita vai ao encontro da amiga.
- Oi, me conte tudo, vai direto ao assunto!
- Não sei como te falar porque isso é um caso complicado.
- Por favor, não brinque com minha desgraça. Estou com Aids, é isso?
- É grave, trágico e engraçado ao mesmo tempo; um milagre talvez.
- Pare com essa tortura. Diga o que é!
- Você está grávida, porém ainda é virgem. Como consegui isso, Imaculada?

(...)