sábado, 12 de junho de 2010

EGOCENTRISMO E NEUROSE NA ESCRITA DE SADE

O texto que segue foi  palestra realizada no Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias - DCHT - XVI - UNEB - Irecê - BA, a partir do convite feito pela professora Mestra Maria Aurenívea Souza de Assis, coordenadora do projeto de extensão: Estudos de criação literária: poesia, ao qual estava vinculada a mostra de cinema e teve como filme a ser debatido, Quills - Contos proibidos do Marques de Sade.
Então, diz-se que o segue abaixo é apenas uma síntese do que foi tratado após a exposição do filme aos estudantes do curso de Letras do já mecionado departamento. Obviamente, muitas outras coisas foram ditas em virtude da presença da audiência e que não estão expressas aqui, mas vai valer a intenção em espraia aqueles que não estiveram no debate.

Os seres humanos sempre questionaram, através da história, a sociedade e seus limites de moralidade. Pode-se dizer que o Marques de Sade foi o principal deles. Em pleno século 18, em meio à sangrenta Revolução Francesa, tornou-se o mais perigoso dos dissidentes, tendo inclusive criado o termo sadismo.

Vários de seus biógrafos o consideram uma pessoa contraditória. Algumas vezes era brilhante e sensível. Outras, era egoísta e demoníaco. Foi tão escandaloso que continua a chocar a todos no século 21 e seu legado ainda promove debates sobre o que fazer com aqueles que exploram alegremente os mais sinistros tabus.

O verdadeiro Marquês de Sade nasceu em 1740 em Paris e viveu durante um dos períodos mais tumultuados da história da França. Ficou conhecido pela palavra cuja criação foi inspirada nele: o sadismo, referindo-se aos prazeres sexuais derivados da dor. Mas, Sade foi muito mais do que um experimentador sexual. Foi um escritor que ficou preso durante 27 anos pelo crime de escrever sobre o lado mais obscuro do ser humano. Em 1772, foi sentenciado à morte por crimes sexuais e escapou abertamente. Mais tarde, tornou-se um revolucionário e, novamente, escapou da guilhotina. Publicou romances eróticos, foi banido da administração de Napoleão e passou os últimos anos de sua vida num asilo. Marquês de Sade transformou-se num mito.

Sade: uma maneira de ser, de viver a insensatez do ser

Há em Sade uma capacidade de mover o leitor de seu estado de conforto para o principio de realidade. Isso certamente ocorre pelo fato de que a escrita sadeana é tributária de uma sociedade pseudo-moralista é suas práticas sexuais são evidentemente escondidas no prazer insano da negação.

À medida que Sade traz á tona por meio de uma narratividade que beira o excêntrico e vão ao lume do erótico, vêem-se descritas de maneira explícitas os tabus sexuais de uma sociedade. Não obstante à culpa que se escritor parece querer expurga de si por meio de uma escrita cuja esquizofrenia é constituída por mutilações ao corpo no momento em que Sade se ver distante da possibilidade de se construir pronunciar sobre seus “demônios” íntimos que lhe ensandecem com as palavras.

Nessa mesma ótica é importante destacar a importância da palavra para Sade, uma vez que o ato de dizer é fundante para sua existência. Então “A instantaneidade da palavra de ordem, sua imediatidade, lhe confere uma potência de variação em relação aos corpos aos quais se atribui a transformação.” (DELEUZE, GUATARRI, 1995, p.21).

A obra do Marques de Sade é, sem dúvidas, uma realização do prazer individual que, traduzido pela efemeridade da dor o torna uma questão coletiva e, por isso, faz com que todos se sintam submersos no mundo eroticamente sugerido por seu estilo narrativo. Isso, por sua vez leva a decretação de um texto carregado de significados cujo prazer perpassa o conformismo cultural, seja por meio de um racionalismo intransigente daqueles que se sentem representados pelo discurso narrativo do autor, ou por meio de uma fetichização do corpo em virtude de suposições moralista sobre a sexualidade e o prazer individual ou coletivo.

Na ribalta sadeana não é possível encontrar sujeitos ativos e ou passivos. Todos são sujeitos e objetos ao mesmo tempo. A narrativa sadeana é prescritiva de atitudes reais em que o ser humano vive a insensatez de ser simplesmente humano.

Em Sade se ver a questão do amor socrático no qual os corpos se juntam em buscar de um prazer alienável. Ambos se entregam aos desejos momentâneos e, com isso, a transformação corpórea é reconhecida pela devassidão que há em cada um. Desse ponto de vista é importante salientar que “o amor é uma mistura de corpos que pode ser representada por um coração atravessado por uma flecha, por uma união de almas” (DELEUZE, GUATARRI, 1995, p.19).

Infortúnios éticos e morais

Para Françoia a obra de Sade transita entre o infortúnio e a moralidade, posto que em sua filosofia libertina, o autor descreve as concepções que sociedade judaico-cristã tem do homem.

Isso fica evidente na obra justine quando no início Marquês nos pede que pela boa-fé possamos dar atenção misturada com interesse pelo que será narrado, a obra toda, do começo ao fim, é uma crítica acirrada tanto à justiça que só toma o homem próspero como o correto, o bom, quanto para a igreja, com sua falsa moral cristã, da liberdade roubada do fraco pela mão do mais forte, das ações criminosas para se alcançar de qualquer modo um fim desejado, dos vícios como contrapartida da virtude, do carrasco impiedoso com sua vítima. Não obstante, tomados estes exemplos não como desvio da regra, mas como a descrição fiel da natureza humana.