sábado, 7 de julho de 2007

OCASO

No oco do dizer
Colocam-se enchimento;
Palavras se corporificam
E ganham sentimentos.

Na boca da alma
Constroem-se existências
Mudam-se destinos
E novos amores se aplacam,
Ou velhos fenecem.

Na substancial beleza do infinito
Dizeres e palavras se recheiam
Do que é mais bonito:
Amar sob o olhar do infinito,
Curtir insônias à espera de alguém...
Escrever cartas e não postar...
Sentir vontade de amar
E solitário ao universo gritar.

01 de julho de 2007. 23º08’


CIBERSOLIDÃO
Será que realmente sou eu mesmo?
Sempre fui, sou e serei um solitário...
Isso faz bem ao espírito trágico,
Porque ele conduz os sentidos ao campanário
Onde sou mais um nos oceanos de gigabytes.

Dói-me a alma e perturba-me calma...
Ser só é ou será uma escolha?
Se for uma escolha
É justo que dor colha...

Ser só não é falta de gente para falar...
É sentir suspenso no ar a dor
Tal guilhotina sacrifica o coração
Com golpe fatal.

VOLÚPIA

O suor...

A lágrima...

O sussuro...

O grito...

São os nomes do amor.

A volúpia nos corpos

enchi os de prazer

transformando-os em vulcão

que, erodindo em chamas da paixão

escurece a pele como nevoeiro

em tarde de verão.

A pele maquiada pelo vapor

freme sob o calor

e os corpos queimando em brasa,

sutilmente descarrega sua fúria

a cada toque na pele....

Num olhar entreaberto

miram-se na bela volúpia

após saciada sua luxúria...

RESTOS DE UMA VIDA...

Sou as lembranças de um vida que há muito se extinguiu. Porém, insisto renovando-me a cada geração que, desatenta, passa por mim e nem sabe o quanto fui importante para seus antepassados... Hoje, eis me aqui solitário e sem meus servos para me carregar em desfile aberto ou para levar-me ao campo de onde vinha cantando, embora trouxesse o peso do sustento de minha família. Êita, saudades da junta pai moreno... Éramos uma orquestra nas veredas do sertão. Os bois graves e eu em falcete compúnhamos a melodia da vida... Agora, nem me mexer posso mais. Com audição que me resta, alegro-me com o canto dos pardais ao entardecer pousando sobre mim na folha do coqueiral. Ás vezes deprimo tamanha a solidão... outras riu e choro baixinho quando uma criança faz-me um carinho...