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quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O CINEMA DESVELA A REALIDADE

35 REAIS: A ESTÉTICA DA DESVENTURA


Robério Pereira Barreto©


Apresentam-se aqui reflexões sobre o processo dramático-ideológico presente na narrativa fílmica 35 reais realizada pela equipe de estudantes do curso de Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia, câmpus XVI, Irecê - BA., os quais fazem parte do projeto Vídeo: uma criação estética do conhecimento da linha de pesquisa Educação e Contemporaneidade do Núcleo de Pesquisa e Extensão – NUPE do já referido câmpus da Uneb, onde participamos como pesquisadores.
A narrativa sobre as mazelas pelas quais passam o ser humano, sobretudo, o sertanejo é a temática preferida pelo documentarista amador Jussivan Gama. Na galeria de suas produções se destaca o documentário 35 reais (2007), que de acordo com a perspectiva de câmera pode se inferir várias tomadas em que se evidenciam as degradações humanas na sociedade contemporânea: fome, tráfico e prostituição humanos, drogas e abandono.
Com realismo suave, cenas e diálogos – embora estes sejam textos quase que monossilábicos – o produtor cria empatia significativa com público, produzindo efeitos e reações que levam à compreensão da trama narrativa pelo participador[1], de modo que, num processo de catarse a platéia participa do filme, sobremodo na cena em que a criação é vendida pelo valor que dá titulo ao filme; 35 reais.
O interessante aqui é perceber que a narrativa de 35 reais se constrói por fragmentos, isto é, a percepção que se tem, primeiramente, é que Gama produz um roteiro no qual os atores (amadores) exploram a temática a partir da idéia de que a compreensão do real seria a chave para se imprimir verossimilhança à seqüência de imagens. Então, a experiência promovida pelo contexto conduz as cenas enunciativas em que o sujeito é colocado em segundo plano, visto que o foco narrativo está centralizado no sacrifício. Isto é, num crescendo, a família que por sua vez não tem nome e é apresentada apenas como mais uma e, portanto, a filha que acaba de nascer será mais uma “Maria ninguém” na vida, porém tem a missão de “salvar” sua família da fome, metaforicamente representado pelo dinheiro.
Numa espécie de antropofagia delirante, os pais vendem a criança para um casal que enfrenta problemas para ter filhos. Dessa maneira, o enredo começa a se delinear levando ao entendimento de que o bebê será degustado pelos familiares na próxima refeição, à medida que o dinheiro passa a prover a sobrevivência de seus parentes. É importante destacar a sensibilidade dos envolvidos na produção de 35 reais no que se refere ao cuidado em tratar de um assunto cotidiano – compra e venda de seres humanos - sem cair nos clichês das mídias.
Em 35 reais há mensagens subliminares que talvez conduzam a leituras singulares, por isso, é interessante que o espectador se coloque no papel de participador, por que isso possibilitará na decomposição dos signos sociais e éticos sugeridos na discussão fílmica os quais conduzem à tragédia da família sem nome, porém com destino traçado em linhas frágeis. Isto, conforme a idéia radical de Schopenhauer, O mundo como vontade e representação, os desequilíbrios inevitáveis e angustiantes da condição humana - em face do destino e da consciência comuns da morte, dos deuses, da sociedade ou dos próprios demônios subjetivos - são a matriz e a força expressiva (grave ou solene) da tragédia.
Para Foucault (1988) um dos principais meios para se manter os privilégios característicos do poder soberano do pai é o direito à vida e à morte, visto que este direito “derivava formalmente da velha pátria potestas que concedia ao pai de família romano o direito de “dispor” da vida, já que a tinha dado.” (Foucault, 1988, p. 127). Esta questão é imperativa em 35 reais, até por que o pai decide – embora não esteja evidente no discurso – que é ele quem toma a decisão de entregar a filha aos compradores. Seguindo a teoria foucaulteana do direito de morte e poder sobre a vida o produtor consegue deslocar do lugar comum a subjetividade proposta pelos sujeitos dos discursos. Assim sendo, o mundo e a alma, na verdade, ali não se confrontam. O subjetivo expressa, em sua particularidade, a dinâmica da totalidade. Poder-se-ia acrescentar que “a degradação humana” em 35 reais exerce outra função ainda, que perpassa e sustém as demais propostas pela narrativa. A degradação efetivamente é promovida pelo dispositivo de ignorância a respeito do que é família, uma vez que é apresentado na abertura da película uma família “escadinha” dando a entender que o casal é totalmente desprotegido pelas instituições do Estado – trabalho, saúde, educação sexual, planejamento familiar, etc. -
Outro ponto interessante na película é a justaposição signos de poder. Na fotografia de abertura estão evidentes elementos cujo simbolismo remete à cultura a sociedade nordestina; a fé! Esta é representada pelas cruzes, isto é, na cena da entrega da criança, há uma seqüência em que fica evidente o cruzeiro no meio do terreiro e ao fundo a igreja com sua cruz fazendo a ligação com o outro símbolo de poder, a nota de “35 reais” cuja azul é representação aproximada do azul celeste, o qual está numa perspectiva ampla, conotando, portanto, a infinitude do poder. Assim sendo, no início dessa seqüência, o diretor enfatiza a maneira de Glauber Rocha, a recepção através de planos gerais, para demonstrar por meio do movimento de câmera a família com seus membros subalternizados diante poder representados pela Igreja e cédula de 35 reais disposta sobre todos.
Com isso se alcança o máximo de densidade dramática, pois o diretor utiliza de uma estética que condensa paralelismo espacial e temporal num plano que, ao mesmo tempo em que integra, suspende e transforma o acontecimento central do filme em tragédia e, por conseguinte, em resignação para o espectador. Esta experiência coloca o diretor num nível capaz de, através da montagem, dirigir a experiência da platéia nos seus detalhes mais minuciosos: A visão, o pensamento, as associações e as conclusões sobre a temática proposta pela narrativa.
Para Luiz Nazário (1999, p. 108) “Preocupado em substituir a dramaturgia burguesa por uma dramaturgia proletária, onde o povo tomara lugar do indivíduo nos conflitos que definiam os heróis e os vilões,” Gama edifica sua filmografia através da justaposição de imagens do tema, associando tudo isso a uma determinada idéia; a degradação do homem em virtude da miséria reinante na vida do sertanejo.
Com relação à seqüência da narrativa, observa-se que Gama e sua equipe vacilam e, com isso, quebram várias vezes a coerência da narração, promovendo no espectador ansiedade. Exemplo disso é o vazio narrativo entre a venda da criança e o aparecimento dela treze anos depois, momento em que escuta uma discussão na qual os personagens, pais adotivos (que também não têm nomes) ficam em off e deixam suas falas ecoarem no ambiente. Ainda é possível ver outros “buracos” na cena em que a adolescente já foragida encontra um suposto “viciado” que lhe oferece droga. Instintivamente a menina aceita como se fosse algo já conhecido. Imagina-se, portanto, que nesta cena, deveria haver certa rejeição, visto que a adolescente em nenhuma outra cena anterior é mostrada como participando desse universo. Percebe-se ainda que numa tentativa de restabelecer o fio narrativo, o autor conduz a narrativa para o tema da prostituição, isto é, após encontrar-se sob efeito do tóxico a adolescente se vê diante de uma lembrança; alguém lhe oferece uma quantia em dinheiro – 35 reais - para algo que supostamente leva o espectador a inferir sobre a prostituição.
Diante de tantos desvios estéticos e técnicos, conclui-se que 35 reais mesmo sendo uma espécie de documentário amador surpreendem pela força de vontade e dedicação dos atores envolvidos na criação de uma peça artística cujo valor para a cultura e, consequentemente, a sociedade é de altíssimo grau.

Referências
NAZÁRIO, Luiz. As sombras móveis. Belo Horizonte, UFMG, 1999.
SANTAELLA, Lúcia. Matrizes da linguagem e pensamento: Sonora visual verbal. São Paulo: Iluminuras, 2001.
MACIEL, Kátia. Transcinema e a estética da interrupção. In. FATORELLI, Antônio. , BRUNO, Fernanda (orgs.) Limiares da imagem:tecnologia e estética na cultura contemporânea. Rio de Janeiro: MauadX, 2006, p. 71.
JAGUARIBE, Beatriz. Realismo sujo e experiência autobiográfica. In. FATORELLI, Antônio. , BRUNO, Fernanda (orgs.) Limiares da imagem:tecnologia e estética na cultura contemporânea. Rio de Janeiro: MauadX, 2006, p. 109.
TEIXEIRA, Francisco Elinaldo. Documentário moderno. In. MASCARELO, Fernando. História do cinema mundial. Campinas-SP, Papirus, 2006, p. 253.
FRANÇA, Andréa. Cinema de Terras e fronteiras. In. MASCARELO, Fernando. História do cinema mundial. Campinas-SP, Papirus, 2006, p. 395.

© Professor de Lingüística e linguagens da UNEB, DCHT, campus XVI, Irecê – BA. Poeta, ensaísta, escritor e administrador do diário digital www.poetadasolidao.blogspot.com. Endereços eletrônicos jpgbarreto@hotmail.com, jpgbarreto@gmail.com.
[1] Conceito criado por Hélio Oiticica para caracterizar o espectador como parte da obra. Sem a participação do espectador, a obra não existe.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

sábado, 5 de janeiro de 2008