segunda-feira, 9 de julho de 2007


CARTA À SOLIDÃO


Eis me aqui nesse vazio e solitário recanto a lembrar-me de ti inesquecível solidão. Na paixão das lembranças de nossas entregas, meu peito arrefece e, sufocado nas cachoeiras de saudades dilata-se ao mesmo tempo que aperta o coração; Choro! Então, solidão, escrevo a ti sob ópio do separação que, tomando aos poucos meu ser e alma, traz-me a sensação de querer possuí-la sem devoção. Nossa, estou aceso. Parece que lhe ouço gemer de gozo e, em volúpia infernal crava em mim unhas sacrificiais, fórceps que tira das entranhas o filho que, por teimosia agarra-se a sua mãe e não quer nascer; medo da separação! Aos gritos, clamo querendo senti-la mais profundo em dor e prazer.


CLAMOR DA PAIXÃO
O vento grita na minha janela
faz meu coração chorar
pedindo por ela.
em mim uma dor
que só vendo
para saber quão é cruel
o eco desse maldito vento
a rir do meu sofrimento...
Só tu, vento...!
nesse recanto
faz meu coração viver
latejante e insano.
Cala-te, ó vento infame!
não vês que sofro?
Deixa-me em silêncio sepulcral
Quero curtir essa dor cortante,
a falta dela em meus braços.
(Robério Pereira Barreto)

TENHA PIEDADE DE MIM, SENHOR LADRÃO!
Faz algum tempo que a imprensa vem mostrando casos de corrupção e violência contra a vida e a honra dos brasileiros. Nada demais, pois é assim que deve se pautar a imprensa de um país democrático. Por outro lado, temos visto também contradições nas instituições policias desse país. Enquanto a PF atua com inteligência prendendo figurões dos três poderes – executivo, legislativo e, quem diria, do judiciário – a demais forças policiais mantêm-se em compasso desigual, pois lhes faltam recursos materiais e humanos qualificados para o combate à criminalidade.
Todos os dias país a fora, centenas de cidadãos e cidadãs têm sua integridade atingida de alguma maneira, a ponto de não acreditarem mais nas instituições que, de fato, deveriam nos representar e nos proteger, pois estas não conseguem mais controlarem si internamente, uma vez que alguns de seus agentes estão comprometidos com o crime organizado.
Estas e outras questões têm levado o cidadão comum não acreditar nos discursos daqueles que se intitulam autoridades. "Que país é esse" onde se pede piedade ao ladrão?


MÍDIA: FÁBRICA DE CONCESSO

É interessante notar que nas notícias reportadas, os locutores deixam no ar pensamentos subliminares e ambigüidades no discurso, isto é, infere-se nisto a existência da produção de sentidos lineares, através dos quais se deixam espaços para interpretações únicas. É comum ocorrer durante a transmissão do programa, por parte dos radialistas, opiniões com entonação grave, sugerindo na sua interpretação dos fatos reportados por eles, a verdade.
Com isso se criou no ouvinte, a crença de que as opiniões ali apresentadas e discutidas são as melhores e, portanto, ganham veracidade. Conforme se viu em depoimentos de ouvintes – tais discursos serão transcritos e analisado mais adiante. Antes, porém, apresentar-se-ão elementos da crítica social aos meios de comunicação de massa, conforme mostra Jonh B. Thompson em sua obra Ideologia e cultura moderna (1995).
Nas sociedades contemporâneas, sejam elas tecnológicas ou não, a mídia tornou-se o instrumento máximo para a manutenção e, por conseguinte, construção de novos elementos simbólicos de poder pelo estado e também pelos grupos que, direto ou indiretamente defendem interesses correlatos. Nesse curso, tais mass media estabelecem-se na comunidade a partir da reprodução de ideologias, às quais se relacionam elementos da linguagem, isto é, fala-se o discurso do povo, ou melhor, o que povo quer ouvir. Assim sendo, “[...] sua relação com a linguagem, com o poder e com o contexto social e as maneiras como a ideologia pode ser analisada e interpretada em casos específicos” (Thompson, 1995, p. 7).
A sociedade atual está baseada num continuum onde as formas simbólicas, sobretudo no universo da mídia de massa são, cada vez mais, fundamentais e crescentes, tanto do ponto de vista informativo quanto do ponto de vista da construção e manutenção de ideologias, independentemente, da localização geográfica.
Para Chomsky (2003, p. 15) isto ocorre porque é apenas uma questão lógica; aquele que tem o microfone tem acesso ao poder. Assim sendo, cabe aos radialistas, (classe especializada, homens críveis, entender decodificar e transmitir os interesses comuns da sociedade). Tem-se nisto, a incrível missão de conduzir “as massas estúpidas em direção a um mundo que elas são burras demais para entender por conta própria.” Chomsky, 2003, p. 16).
Chomsky apresenta firmeza no discurso, causando estranhamentos aos incautos, porém ele sabe do que está falando, uma vez que sua percepção de mídia de massa é fruto de observações nas práticas da imprensa norte-americana. Ademais, suas afirmações a este respeito contextualizam-se aqui, pois, temos nesse lócus um número expressivo de ouvintes que, infelizmente não dominam o código escrito, e tem como fonte de informação e contato com meio urbano o rádio o qual lhes possibilitam o acesso a notícias, embora estas sejam interpretações carregadas de subjetividades, sendo, portanto, passíveis de contestação.

A MORTE CRONOLÓGICA DO TEMPO

Ano de 20013 e lá estava o relógio na parede. O marasmo dos ponteiros denunciava que naquela casa era mesmo um equilibrista. Sustentava-se por um fio que, de tanto estar ali no mesmo ir e vir, já não fazia diferença, mostrando-se, portanto, indiferente a tudo e todos a sua volta.
Majestoso em sua aparência trazia traços medievais, porém fazia movimento contrário a sua estirpe. Negava-se aos acontecimentos da casa. Ali, vidas, amores, desamores, alegrias e tristezas ocorriam à velocidade do caminhar de seus ponteiros atômicos. Entretanto, punha-se impávido e isso não era suficiente para abalar a sua existência enquanto membro honorífico ausente da família.
Alguém que há muito tempo não lhe dirigia um olhar se quer, de repente; lança-lhe fulminante admiração, descobrindo, pois, que seus membros não funcionavam mais, tendo inclusive, parados em zero hora. Susto geral tamanha a descoberta; uma tragédia parecia se abater sobre a família. Gritos e lamentos se seguiram entre soluços e risos:
Com a tranqüilidade dos sábios, a matriarca da família, sentada em sua cadeira de raio laiser, simplesmente indagou: Nossa! Que houve? Que horrível está gritaria. Porque isso?
Usando roupas de néon, cabelos coloridos e cheios de luzes raio laiser, a caçula vociferou: Certamente, acabou o fluido atômico.
- Nossa, faz séculos que estou aqui na mesma posição e só agora é que se deram conta de minha situação. Danem-se todos... Não estou lhes pedindo atenção. Por aqui se passaram mil gerações e ninguém me deu atenção. Entretanto, eis o milagre; acontecerá a minha ressurreição!