segunda-feira, 9 de julho de 2007

A MORTE CRONOLÓGICA DO TEMPO

Ano de 20013 e lá estava o relógio na parede. O marasmo dos ponteiros denunciava que naquela casa era mesmo um equilibrista. Sustentava-se por um fio que, de tanto estar ali no mesmo ir e vir, já não fazia diferença, mostrando-se, portanto, indiferente a tudo e todos a sua volta.
Majestoso em sua aparência trazia traços medievais, porém fazia movimento contrário a sua estirpe. Negava-se aos acontecimentos da casa. Ali, vidas, amores, desamores, alegrias e tristezas ocorriam à velocidade do caminhar de seus ponteiros atômicos. Entretanto, punha-se impávido e isso não era suficiente para abalar a sua existência enquanto membro honorífico ausente da família.
Alguém que há muito tempo não lhe dirigia um olhar se quer, de repente; lança-lhe fulminante admiração, descobrindo, pois, que seus membros não funcionavam mais, tendo inclusive, parados em zero hora. Susto geral tamanha a descoberta; uma tragédia parecia se abater sobre a família. Gritos e lamentos se seguiram entre soluços e risos:
Com a tranqüilidade dos sábios, a matriarca da família, sentada em sua cadeira de raio laiser, simplesmente indagou: Nossa! Que houve? Que horrível está gritaria. Porque isso?
Usando roupas de néon, cabelos coloridos e cheios de luzes raio laiser, a caçula vociferou: Certamente, acabou o fluido atômico.
- Nossa, faz séculos que estou aqui na mesma posição e só agora é que se deram conta de minha situação. Danem-se todos... Não estou lhes pedindo atenção. Por aqui se passaram mil gerações e ninguém me deu atenção. Entretanto, eis o milagre; acontecerá a minha ressurreição!

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