terça-feira, 8 de julho de 2008

CONCUPISCÊNCIA

Ouço nos seus olhos um silêncio
cujo grito é agudo, porém cônscio
de que seu brado atinge-me o íntimo do ser.

Porque a fragrância de seu corpo inunda
meus olhos de desejo cuja lascívia
faz-me violentá-la com olhos impuros.

Com mãos cuja maciez lhe faz carícias
e, consequentemente, submerge-nos à lubricidade
do desejo conflituoso, porém nos conduz ao confronto final;
em que nossos corpos ruborizados se entregam ao incêndio da paixão.

Assim, derretem-se ao som de brados infinitos
em que à união de dor e prazer soma um só corpo,
fazendo com que os fluidos da vida escorram
graciosos e voluntariamente entre os últimos suspiros de amor.

O POETA NO CEMITÉRIO CIDADE

Madrugada Silêncio...
a cidade repousa
e seus moradores dormem
em suas tumbas modernas
preparando se para o dia seguinte
no qual se protegerão de si mesmos
dentro de seus caixões blindados e motorizados.

Enquanto isso seres se dilaceram
em compasso de espera
nas esquinas e avenidas da vida
procurando guarida nos braços do mundo
que em um segundo podem lhes tirar o direito
de respirar porque ao invés de prazer sentiu dor
levando à quebra do contrato regido por olhares
perdidos em meio ao desprezo
daqueles que buscam no dinheiro o valor
da vida e também do amor
medido e pago sem nenhum rancor.

A madrugada muda inerte
testemunha ocular
não quer tais segredos revelar
pois se falasse ninguém ia acreditar
porque no cemitério-cidade
os protegidos nas tumbas e caixões blindados
se preocupam em preservarem-se da maldade
posta à rua fruto da desigualdade.

OLHOS DA ALMA

Os olhos da alma são infinitamente fundos
E por isso ao mirar-te fico tonto,
Sentindo-me confuso ante as coisas mundo.

A luz dos seus olhos, oh alma límpida!
Apresenta-se para mim
Como as cores do arco-íris
Por detrás da nuvem
De chuva na tarde de outono.


Sou um louco
Que vive
As desventuras da vida;
Sou menino
Cuja inocência revela a carência;
Homem cuja maldade
Revela ao mundo a verdade
De quão duro é estar vivo
Na selva de hipocrisia
E mais valia!

La luz
la vida sin te
no tiene sentido para mí
y…
Por eso ayunque estoy aquí!

Mis ojos mareados
soy las marcas
de la ambición!

Mas sin ti
no voy conseguí
Vivir aquí.

Ahora voy buscarte
no infinito mismo que tenga
que encuentra la oscuridad.

SEIVA DA SOLIDÃO

A solidão é água de ribeirão
Que ao ser presa na concha da mão
Dá um jeitinho e foge entre os dedos
Procurando juntar-se ao mar;
Quebras as barreiras que há.

A prisão da alma por um amor
Malfadado é tentativa vã;
Controlar a vontade da alma
É sufocar o grito do vulcão roncador.

A solidão que há aqui
Tornar-se-á um furacão no devir,
Esperando você surgir diante mim
Com sorriso maroto no rosto
E balançar faceiros nos quadris.

Isso me tornará seu prisioneiro
À espera do encontro verdadeiro
Nem que tenha que viver na masmorra,
Onde a alma alimenta a solidão
Como se rega um jasmim.

Portanto, eu não vivi até aqui
Para deixar evadir-se de mim,
Por entre os dedos como seiva de capim
Que ao ser esmagado nas mãos
Geme sufocado até o fim.

VENDEDOR DE PAIXÃO

Solitário nas esquinas e avenidas,
ou acompanhado na multidão de bares,
está o vendedor de flores,
trazendo nos braços vários amores;
perfeitos e, às vezes mais que perfeitos
são lírios e margaridas.

As flores com seus perfumes
e cores se misturam
entre os sabores das paixões reais
e aquelas cuja formosura será despertada
no desabrochar de um copo de leite.

Os corações afloram diante da poesia
aveludada da rosa vermelha
e lírio cor de aquarela
que toca alma dos amantes
mesmo em momento de querela.

Oh, preciso comprar uma paixão
Para alegra meu coração!
Cadê o vendedor de flores
Que traz nos braços novos amores?

Quero o amor mais perfeito
Que dê a esse peito o pulsar
De infante diante da emoção primeira.

(...)

Sei que se não encontrar o vendedor
Posso ficar para sempre com a dor
De um amor que aos poucos se acabou.

A LITERATURA DE MATO GROSSO NO LIMIAR DA GLOBALIZAÇÃO

“Os sábios geralmente morrem como insensatos. Os tolos, ao contrário, morrem fartados de conselhos. Morre-se de idiotice quando se pensa demais. (...) Alguns sucubem por entender tudo, e outros vivem por não entenderem nada.” (GRACIÁN, Baltasar. Não morrer de ataque de idiotice in: Arte da Prudência, 2001. 57)


Sabe-se que a literatura em Mato Grosso tem dois momentos; antes e depois da divisão do Estado. Portanto, perguntar se existe literatura em nesse Estado é uma questão importante e que precisa de discussão ampla.
Segundo o que os estudiosos têm dito a quantidade de obras produzidas antes da divisão política-administrativa volta-se, sem dúvida, para o relato historiográfico no qual destacam-se os trabalhos de Rubens de Mendonça, História da literatura mato-grossense (1970), e Lenine Povoas, História da cultura mato-grossense (1982).
Para Magalhães (2001:15) este textos são, na verdade, fruto de uma compilação historiográfica do Estado. Portanto, qualquer pesquisador que queira entender os acontecimentos na literatura de Mato-Grosso deve lê-los, pois o mérito a eles atribuído é em virtude de fazerem uma relação minuciosa das produções literárias dos séculos XVIII e XIX.
A estudiosa ainda afirma que a História da cultura moto-grossense fornece informações sobre manifestações culturais que, certamente, conduzirá o pesquisador ao conhecimento da vida na sociedade da época.
Dessa maneira, pode-se dizer que a produção literária de Mato-Grosso, antes da divisão política (1977), e o Decreto que legalizou a separação é de 1979, era um misto de arte da palavra com história. “A nós interessa compilar a história da literatura de Mato Grosso buscando enfatizar as características estruturais e conteudísticas que a legitamam enquanto diferença no cenário literário nacional.” Afirma Hilda Magalhães.

Afinal, o qual é a posição da literatura de Mato Grosso no cenário literário nacional?

Antes de responder tal inquérito, faz se necessário esclarecer qual é a concepção que se tem sobre a literatura de Mato Grosso. Para tanto, empresta-se de Hilda Magalhães o discurso que afirma que é “literatura mato-grossense os textos escritos por autores que nasceram em Mato Grosso ou que nele residem (ou tenham residido), contribuindo para o enriquecimento da cultura do Estado.” (Magalhães, 2001, p. 18).
Com efeito, lembra-se que o pensamento da pesquisadora ao falar de literatura mato-grossense está baseando ainda no Estado indiviso, isto é, o Mato Grosso anterior à década de setenta.
A produção literária mato-grossense ainda não tem se mostrado suficiente para faz parte do cânone nacional. Contudo, tem se mostrado como elemento de compreensão das transformações da(s) cultura(s) do Estado. “(...) Quanto à variedade da produção literária mato-grossense, evidenciando a sua importância, enquanto diferença, no contexto literário nacional” pode-se dizer que responde às expectativas regionais.
De sorte que temos hoje, nomes que representam os Estado em concursos nacionais, tendo sido ganhador de prêmios importantes autores como: Hilda Magalhães Dutra, Aclyse de Matos, Lucinda Persona, etc.
Numa tentativa de responder a pergunta desse tópico, afirma-se que, a partir de 1970, foram desenvolvidas ações governamentais, cujo objetivo era criar e intensificar políticas que visassem o crescimento econômico do Estado. Dessa maneira, viu-se em um grande movimento migratório, destacando nesse contexto, o fluxo migratório do Sul, especialmente, sulistas.
No que se refere à cultura, comentar-se-ia que, nesse período a literatura e a cultura em geral tiveram grandes produções, porém foram suplantadas pela questão econômica, a qual deu ao Estado destaque no âmbito nacional. Tudo isso pode ser tributado ao “maciço investimento nos latifúndios, ao mesmo em que pequenos proprietários, sem acesso a financiamento, foram condenados ao empobrecimento” (Siqueira. 1990:196 apud Magalhães, 2001, p. 225).
Para Magalhães (2001:226), após a divisão, o Estado viu um momento de efervescência cultural, tendo no teatro um instrumento de divulgação social. Assevera-se ainda que nesse período surgiu também a criação da literatura infanto-juvenil. Ademais, apareceram produções poéticas que tinham, ou melhor, tem preocupações com os temas que universalizam a questão fundiária. (ver Matrinchã do Teles Pires, de Luiz Renato Pinto), bem como temáticas universais, por exemplo; o erotismo, a metalinguagem e os emblemas da pós-modernidade.

A arte regional na pós-modernidade

Na era digitação e na globalização, ainda é possível se pensar em arte regional? Bem, isso é uma questão reconhecidamente complexa, mas é passível de um consenso. Pois, José Nogueira de Moraes afirma que o termo regional é inadequado para a produção artística, visto que o significado que a arte e a literatura transmitem tem caráter universal.
Nesse mister, Nelson Brissac corrobora ao dizer que:

“Para artistas brasileiros contemporâneos, vivendo em metrópoles onde as arritmias da produção industrial e dos sistemas de comunicação são mais gritantes, nacional não se define pelo que se tenha de mais brasileirinho. Mas pela capacidade de tirar partido de uma condição especifica no concerto das contradições internacionais, operando as diferenças, os intervalos e as desproporções no interior do sistema, que às vezes aqui se fazem mais evidentes. (Brissac, 1996: 5-7) Apud Souza, 2001, p. 107).

O quadro poético de Mato Grosso, basicamente, está centrado nas questões apresentadas pelo articulista, sendo que o elemento responsável por isso, pode se dizer que ainda é e está relacionado com os acontecimentos políticos do fim da década de setenta – investimentos na construção de estradas e meios de comunicação fizeram a ligação das regiões do Estado e, também com o centro sul do país.
Para Bissac (1996:5-7), Os artistas ao produzirem suas poemáticas atuam como sujeitos ativos, que conseguem mesmo que deslocado do centro, produzem temas de caráter universais. Então, ouve-se o que ele nos disserta sobre a questão:

“Esses artistas indicam como alguém, embora localizado, conseguem ser universal. Situação que nada tem a ver com o apego a um lugar, a raízes provincianas. Trata-se de uma posição geográfica, uma inserção no mapa dos blocos e fluxos mundiais. Aqui, a geografia substitui a história, que fundava a tradição. No mundo da circulação generaliza, do predomínio da informação, não se tem mais passado. Apenas uma pontuação geométrica num campo sem profundidade. Onde tudo é movimento. Dinâmica que tende a abolir toda posição referencial, a convenciona relação centro periferia.” (Brissac, 1996: 5-7) Apud Souza, 2001, pp. 107-8).

A literatura de Mato Grosso absorveu nas últimas décadas alguns aspectos da pós-modernidade. Em uma palavra, temos em nossa produção poética; temas que tratam desde a epifânia (Lucinda Persona – Sopa Escaldante) até poema processo (Aclyse de Matos), que os coloca em posição de vanguarda na arte local.

Bibliografias

MAGALHÃES DUTRA, Hilda Gomes. História da Literatura de Mato Grosso: Século XX. Cuiabá: Unicen Publicações, 2001.
PEIXOTO, Brissac Nelson. Arte brasileira na era da globalização. In: Cultura Brasileira figuras de alteridade. Org. SOUZA MELO, Elaina Maria de. São Paulo, Hucitec, 1996, pp 107-12