sexta-feira, 20 de julho de 2007

CAUSOS DA GENTE DO POVO


Numa tentativa de resgatar o pensamento e a cultura de uma comunidade que tem na sua história registro de lutas homéricas contra os ditames da natureza, os documentaristas Jussivan Ribeiro Gama e Jair Alves Silva apresentam à sociedade um recorte da historia do povo de São Gabriel através da narração fílmica Retratos de São Gabriel: quando um povo conta sua história, cujo gênero documentário se confunde com a peleja do sertanejo com as dificuldades de se manter dignamente em meio a tantas adversidades.
Os documentaristas buscam através de discursos diretos, extraídos por meio de entrevistas feitas às “pessoas do povo” imprimir verdade e, às vezes, a verossimilhança toma conta do texto, uma vez que a verdade que se apresenta no filme é subjetivamente construída na memória da cada entrevistado.
Nesse trabalho os autores dão espaços aos registros de manifestações populares, bem como da religiosidade, marca explícita nas falas dos protagonistas do documentário. É interessante notar que a filmagem parece não seguir um roteiro fixo, visto que os participantes dirigem seus relatos à sua maneira e condições. Dizendo de outro modo, as ações são livres e, por isso, seus desvios estéticos e técnicos são visíveis, todavia colocados em segundo plano, por que a beleza e espontaneidade das conversas são depoimentos pessoais, igualando-se a qualquer outro documento histórico.
Por outro lado, este filme mostrar a necessidade de uma revisão no pensamento da comunidade sobre a história de vida dos mais velhos, sobretudo, no que se refere à busca pela alteridade dos valores culturais da comunidade que, segundo apresentam os artistas: “Retratos de São Gabriel busca contar momentos importantes da história da cidade de São Gabriel desde as origens dos avôs dos primeiros moradores até o inicio de uma nova fase em sua história quando foi emancipada.”
Além da pretensão, os autores dos documentos mostram-se com veia artística e técnica para este tipo de arte, mostrando em todas as ações e espetáculos das imagens que, de fato, retratam a paisagem e vida simples dos atores - reais. São evidentes ainda neste percurso, os “desvios” técnicos e estéticos conforme se mencionou acima. Nada demais quando se é advertido pelos cineastas de que tal produção se deu sob condições inóspitas – não serve de consolo, todavia é fato, o cinema documental do país tem vivido dias de miséria. Dizem até que melhorou bastante nestes últimos tempos, hein! (Diga-se passagem, para os cineastas profissionais do sudeste).
Neste texto fílmico, breve, mas instigante pela sua criatividade, (Gama e Silva, 2004) interrogam de maneira sintética, sobre: a origem e as condições às quais foram submetidos os primeiros moradores de São Gabriel; tudo que o foi dito pelos entrevistados é verdadeiro ou são causos e memórias de velhos? É evidente que boa parte dos fatos narrados é interpretação subjetiva das memórias coletivas acumuladas por cada um dos participantes.
Em Retratos de São Gabriel se formulam acontecimentos nos quais informações, idéias e opiniões dão-nos possibilidades de entender o grau de marginalização sofrido pelo “homem do povo”, até porque ele viveu em território subalterno, ou seja, as pessoas mais velhas participantes do comentário reiteravam suas posições de povo humilde. Contudo, suas esperanças nunca foram abaladas, pois tinha na fé, a esperança de melhorar de vida. O realismo das imagens deixa ver o nível de pobreza do sertanejo, e em várias cenas casas de chão batido e parede de barro batido são expostas. O cenário é rural, mesmo assim, é perceptível o estado de penúria e as condições das habitações mostradas no filme. Intencional ou não lá esta um estado declarado de miséria material. Dessa forma fica a pergunta: Será que desde o princípio foi assim? Em caso de positiva a resposta, temos ai um quadro de abando total do sertanejo por parte do Estado.
Com efeito, pode-se afirmar que os cineastas – autodidatas – apresentam em seu trabalho amador, paixão pela história da terra onde nasceram e vivem. No campo da semântica, é perceptível o convencionalismo do discurso, ou seja, os documentaristas usam texto e imagem de capa do DVD uma paráfrase do discurso institucional, colocando figuras e textos adaptados da estrutura textual do cinema oficial. Nada criativo, mas tecnicamente aceitável por ser é parte comercial, créditos e publicidade do trabalho.
Na capa do filme tem algo muito significativo para a análise do discurso; os cineastas usam discurso autorizado, que, sob o prisma da textualidade, pode ser visto com ironia, tamanha a influência dos textos oficiais: “O documentário que comoveu mais de 300 pessoas numa única exibição em público” vejam que chamada mais atrativa, além claro, da ambigüidade discursiva. Se você exibe algo é para o público, ou neste caso é diferente? Ambigüidades e desvios à parte se têm neste trabalho ousado e criativo um recorte significativo para a memória social e cultura da sociedade de São Gabriel.

À UMA GATA




Gata rima com prata
Que brilha tal farol,
Orientando a fragata
com intensa luz do arrebol.


A lagrima que lhe marca a face,
expressão da dor de saudade
E separação de amor
Sem maldade.

CLAUSURA


No meio da noite,
subitamente, sentiram-se sós
profundos eram os desertos
de suas almas e o fim estava perto.

Fissuras e vazios expostos
deixavam a alma em viva carne,
sangravam-lhes as veias,
escorriam os odores da vida.

A clausura lhes sucumbia o ser
Tamanha era a paixão
Que lhes impediam de ver
Quão triste era seu viver.

DILEMA


Acordo sob o mesmo dilema:
Por que estou aqui?
Por que não morri quando dormia?
Será porque amei!Amei! Amei...

Era feliz!?
Não saber me dói
Por que esse amor destrói?
Era amo que ai!

Maldade, amor de única via
Derrota e fim da alegria
Que por passou um dia.

Resisto e grito:
Viva a contradição
Estou vivo embora infeliz.

PELIGROSA AVENTURA


Las pasiones que el destino trae
es una gran y peligrosa aventura,
está apasionado es vivir
una mentira sin fin.

Apasionarse es:
vivir ilusión;
embriagarse con juras de amor;
sentirse en el dolor
descubrirse infeliz.

Abrir el corazón
para aceptar mentiras
y dejarse llevar por el soledad.