domingo, 2 de setembro de 2007

PÓS-MODERNIDADE: A DILATAÇÃO DAS RAIAS IDENTITÁRIAS




Sabe-se que há séculos as culturas foram sendo transplantadas na medida em que os povos foram expandindo seus domínios territoriais. O exemplo típico desse processo é a cultura brasileira, na qual se registram vários elementos das culturas colonizadoras, tendo isto começado com a chegada dos portugueses no litoral brasileiro no século XVI. A despeito de quaisquer discursos xenófobos, é interessante no notar ai a questão da expansão da fronteira cultural e identitária, uma vez que Portugal era visto naquele momento e ainda o é; como cultura fronteiriça, conforme que Santos (2006) ao mostrar que a cultura portuguesa é fruto de uma justaposição de elementos sócio-culturais europeus.

Quanto às identidades, Santos informa que na modernidade elas têm caráter transitório e fugaz, uma vez que não é forte o suficiente para se garantirem no singular, além disso, é importante ainda perceber a semificção na qual se constituem os paradigmas das identidades, até porque quem indaga a identidade se põe em subordinação, colocando-se no lugar do outro na tentativa de encontrar respostas que leve à inferência e ideologia seminecessárias.

Nesse contexto, pode-se citar a poética de Oswald de Andrade a qual surge numa perspectiva irônica e inteligente, desconstruindo os alicerces da hegemonia cultural, deixando expostas às vísceras da ideologia simplista de que seria necessário negar as culturais estrangeiras em nome de uma identidade cultural brasileira. Andrade, artisticamente mostra a necessidade de um canibalismo cultural, chegando a ponto de sugerir um processo de deglutição dos fundamentos das identidades estrangeiras.

Oswald de Andrade demonstrou no Manifesto Pau-Brasil que a mais profunda maneira de se descobrir cultural e identitariamente é por meio da autodescoberta “implicando em presentificar o outro e conhecer a posição de poder a partir do qual é possível a apropriação selectiva (sic) e transformadora dele”. (Santos, 2006, p. 136).

Para Santos (2006) há uma excessiva preocupação sobre lugar da identidade nas ciências sociais, de modo que isto tende a se tornar à pedra de toque de algumas correntes, sobretudo, no que se refere à tentativa de justificar acontecimentos ideológicos e dominantes em determinadas culturas, até porque as identidades nasceram com a modernidade justamente para classificar quem e a qual grupos sociais e culturais pertenciam determinados sujeitos. Eis que ai está o cerne da identidade; a subjetividade. Então, é preciso conceber que é na modernidade que se evidenciam a discussão sobre identidade, visto que é a partir daí que o sujeito se esfacela, perdendo, portanto seus referenciais e, estando, só não lhes outra coisa se não questionar a sua origem. “O conceito de imigração substitui o de raça e dissolve a consciência de classe.” Santos (2006, p. 145). O autor ainda considera importante saber que “as lutas locais e as identidades contextuais tendem a privilegiar o pensamento táctico em detrimento do pensamento estratégico.”

No plano da cultura, impõem-se aspectos dos grupos sociais de uma sociedade, sobretudo, no que se refere à autocriação, pois estes sujeitos buscam em meio às estruturas culturais nas quais, eles construíram suas teias sócio-culturais. “é que a cultura de dado grupo social não é uma essência. É uma autocriação, uma negociação de sentidos que ocorre no sistema mundial e que, como tal, não é compreensível sem a análise da trajectória (sic) histórica e da posição desse grupo no sistema mundial.” (Santos, 2006, p. 148).

Assim, conclui-se que na pós-modernidade tanto os sujeitos quanto as raias que demarcam as identidades são flexíveis e, portanto, instáveis o suficiente para garantir a justaposição de elementos locais e globais quase que simultâneos. Então, falar em identidades é aceitar os paradoxos impostos às comunidades mundiais, uma vez que à medida que se quer global, se reclama as tradições locais na tentativa de auto-afirmação. Dessa forma, poder-se-ia inferir que a pós-modernidade é ponto nefrálgico da humanidade tardia, isto é, há no homem moderno elevado grau de instabilidade quanto a seu desejo de identidade. Nas Américas isto se acentua de maneira sistemática, visto que o processo de colonização cumpriu o papel de miscigenação das culturas. Os fluxos migratórios a sentar às terras de Colombo tornaram-se ponto de discussão sobre identidades por que estes foram resultantes de diásporas, tendo na Europa o epicentro desse processo conflituoso no quais nações supostamente mais desenvolvidas política, cultural, religiosa e economicamente oprimiram àqueles que se mostram resistentes as tais transformações.