domingo, 17 de agosto de 2008

A LINGÜÍÇA NÃO TERÁ TREMA E ETC E TAL

Devido aos constantes questionamentos sobre o novo acordo ortográfico que a mim são feitos diariamente, resolvi então resgatar o referido acordo e mostrar que não se muda os elementos de uma língua tão importante como a nossa repentinamente.
Dessa maneira, vejamos que o acordo está prestes à maioridade conforme segue:

Considerando que o projecto de texto de ortografia unificada de língua portuguesa aprovado em Lisboa, em 12 de Outubro de 1990, pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a adesão da delegação de observadores da Galiza, constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio internacional;
Considerando que o texto do Acordo que ora se aprova resulta de um aprofundado debate nos países signatários: a República Popular de Angola, a República Federativa do Brasil, a República de Cabo Verde, a República da Guiné-Bissau, a República de Moçambique, a República Portuguesa e a República Democrática de São Tomé e Príncipe acordam no seguinte:
Artigo 1.º
É aprovado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que consta como anexo I ao presente instrumento de aprovação, sob a designação de Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), e vai acompanhado da respectiva nota explicativa, que consta como anexo II ao mesmo instrumento de aprovação, sob a designação de Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).
Artigo 2.º
Os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos competentes, as providências necessárias com vista à elaboração, até 1 de Janeiro de 1993, de um vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas.
Artigo 3.º
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrará em vigor em 1 de Janeiro de 1994, após depositados os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo da República Portuguesa.
Artigo 4.º
Os Estados signatários adoptarão as medidas que entenderem adequadas ao efectivo respeito da data da entrada em vigor estabelecida no artigo 3.º
Em fé do que os abaixo assinados, devidamente credenciados para o efeito, aprovam o presente Acordo, redigido em língua portuguesa, em sete exemplares, todos igualmente autênticos. Assinado em Lisboa, em 16 de Dezembro de 1990.
Pela República Popular de Angola:
José Mateus de Adelino Peixoto, Secretário de Estado da Cultura.
Pela República Federativa do Brasil:
Carlos Alberto Gomes Chiarelli, Ministro da Educação.
Pela República de Cabo Verde:
David Hopffer Almada, Ministro da Informação, Cultura e Desportos.
Pela República da Guiné-Bissau:
Alexandre Brito Ribeiro Furtado, Secretário de Estado da Cultura.
Pela República de Moçambique:
Luís Bernardo Honwana, Ministro da Cultura.
Pela República Portuguesa:
Pedro Miguel Santana Lopes, Secretário de Estado da Cultura.
Pela República Democrática de São Tomé e Príncipe:
Lígia Silva Graça do Espírito Santo Costa, Ministra da Educação e Cultura.
BASE I: DO ALFABETO E DOS NOMES PRÓPRIOS ESTRANGEIROS E SEUS DERIVADOS
O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras, cada uma delas com uma forma minúscula e outra maiúscula:

a A (á)
j J (jota)
s S (esse)
b B (bê)
k K (capa ou cá)
t T (tê)
c C (cê)
l L (ele)
u U (u)
d D (dê)
m M (eme)
v V (vê)
e E (é)
n N (ene)
w W (dáblio)
f F (efe)
o O (ó)
x X (xis)
g G (gê ou guê)
p P (pê)
y Y (ípsilon)
h H (agá)
q Q (quê)
z Z (zê)
i I (i)
r R (erre)

Obs.: 1. Além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos: rr (erre duplo), ss (esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) e qu (quê-u).
2. Os nomes das letras acima sugeridos não excluem outras formas de as designar: As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais:
a) Em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus deriva­dos: Franklin, frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano; Taylor, taylorista;
b) Em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados: Kwanza, Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano;
c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso internacional: TWA, KLM; K-potássio (de kalium), W-oeste (West); kg-quilograma, km-quilómetro, kW-kilowatt, yd-jarda (yard); Watt.
Em congruência com o número anterior, mantém-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes: comtista, de Comte; garrettiano, de Garrett; jeffersónia/ jeffersônia, de Jefferson; mülleriano, de Müller; shakesperiano, de Shakespeare.
Os vocábulos autorizados registarão grafias alternativas admissíveis, em casos de divulgação de certas palavras de tal tipo de origem (a exemplo de fúcsia/ fúchsia e derivados, bungavília/ bunganvílea/ bougainvíllea).
Os dígrafos finais de origem hebraica ch, ph e th podem conservar-se em formas onomásticas da tradição bíblica, como Baruch, Loth, Moloch, Ziph, ou então simplificar-se: Baruc, Lot, Moloc, Zif. Se qualquer um destes dígrafos, em formas do mesmo tipo, é invariavelmente mudo, elimina-se: José, Nazaré, em vez de Joseph, Nazareth; e se algum deles, por força do uso, permite adaptação, substitui-se, recebendo uma adição vocálica: Judite, em vez de Judith.
As consoantes finais grafadas b, c, d, g e h mantêm-se, quer sejam mudas, quer proferidas, nas formas onomásticas em que o uso as consagrou, nomeada­mente antropónimos/antropônimos e topónimos/topônimos da tradição bíblica; Jacob, Job, Moab, Isaac, David, Gad; Gog, Magog; Bensabat, Josafat.
Integram-se também nesta forma: Cid, em que o d é sempre pronunciado; Madrid e Valhadolid, em que o d ora é pronunciado, ora não; e Calecut ou Calicut, em que o t se encontra nas mesmas condições.
Nada impede, entretanto, que dos antropónimos/antropônimos em apreço sejam usados sem a consoante final Jó, Davi e Jacó.
Recomenda-se que os topónimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam, tanto quanto possível, por formas vernáculas, quando estas sejam antigas e ainda vivas em português ou quando entrem, ou possam entrar, no uso corrente. Exemplo: Anvers, substituíndo por Antuérpia; Cherbourg, por Cherburgo; Garonne, por Garona; Genève, por Genebra; Justland, por Jutlândia; Milano, por Milão; München, por Muniche; Torino, por Turim; Zürich, por Zurique, etc.
A partir desse tópico é interessante esclarecer que haverá mais modificações na grafia de usada em Portugal do que na nossa. Todavia, alguns aspectos serão observados no fututo, isto é, a partir do momento em que os livros e dicionários começarem a registrá-los tanto aqui quanto nos países de Língua Portuguesa seremos “obrigados” a seguir tal acordo. Embora saibamos que se refere à língua falada pouco o nada mudará, visto que boa parte dessas questões já é bem resolvida na produção oral. Para saber mais e como estão estas questões visite as fontes abaixo indicadas:
http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?action=acordo&version=1991
http://www.portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=view&id=693&itemid=303 http://www.static.publico.clix.pt/docs/cultura/acordoOrtografico.aspx

“DOIS A DOIS” DE SÓLON BARRETO: REINVINDICANDO A ALTERIDADE

Quais teriam sido os pensamentos e os vieses que permitiram ao ator e diretor de teatro, Sólon Barreto a consolidar num só quadro epistemológico o caos do ser contemporâneo: instabilidades emocionais, vaidades individuais consolidados e legitimados por questões sociais e morais numa perspectiva informal, “um papo comédia” no qual as relações e vaidades masculinas e femininas se acentuam definitivamente?
Ainda que no decorrer do “papo” o ator deixa vir à tona elementos do cotidiano, isto é, piadas e textos correntes na internet, ainda assim houve muita criatividade ao usá-los, de modo que a maioria da platéia deixou-se encantar pelo desempenho do ator, cuja expressão de palco é bastante significativa.
Além disso, é curioso perceber o potencial crítico do ator ao tratar de uma só vez, do pluralismo do dia-a-dia, violência doméstica, individualismos e, sobretudo, o quesito da alteridade, ou seja, ao se travestir nos personagens feminino-masculino reivindicava a alteridade da mulher contemporânea de um ponto de vista no qual se vê de uma forma crescente na platéia, a catarse feminina. Dizendo de outra forma, há em “D IS A D IS” a identificação insistente da presença da voz da mulher como um dos riscos mais assanhados da cultura pós-moderna. Embora fiquem evidências de que na tradição local quem vai predominar de fato é a voz do ideal de macho, isto é, o personagem Chico Navalha é o ponto nefrálgico do “papo”, porque há nele a possibilidade da maioria dos espectadores se identificarem, inclusive os homens tendem a seguir seus pontos de vistas e, as mulheres por sua vez, vêm nesse tipo dupla face da realidade local, pois uma pode estar representada na figura do pai ou do irmão homofóbicos e violentos.
No que se refere à natureza da apresentação é interessante observar como, apesar da experiência explícita do ator não houve interação com a técnica, uma vez que produção não estava atenta as ações do ator no palco, vindo a soltar a trilha sonora fora de tempo de cena. Outra questão intrigante em “D IS A D IS” é a presença de um Banner com foto de celebridades, visto que ator em momento algum fez uso efetivo daquele elemento cênico. (Será que tiveram a devida autorização para fazer o uso de tais imagens?)
A profundidade e a distância existentes entre homens e mulheres são de fato, uma questão importante, todavia o pensamento feminista marca todo o texto e exigiu do ator posicionamento de palco extremamente complexo, uma vez que a relação entre os sexos bem como todas as questões da sociedade contemporânea reivindicam sentidos, sejam, de forma sistemática, particularizada e ou localizada historicamente, opondo-se quaisquer perspectivas ontológicas de conciliação.
É ainda o caos humano que determina a ação do ator no palco. Porém o estilo proposto pela equipe ao invés de debater os assuntos subliminarmente jogados no texto, preferiram carnavalizá-los. Afirmando de outro modo, prefere-se o riso à problematização de temas importantes destacados por meio das personagens construídas ao longo da encenação.
Os sentidos carnavalizador e irônico da peça ficam evidenciados no “vocabulário praça da pública” onde as partes genitais tanto do homem quanto da mulher são ridicularizadas à medida que se coloca em destaque a questão do poder e da força advindas dessas partes (tamanho), sendo delegado ao homem todo faloegocentrismo permitido pela sociedade. Já à mulher lhe é permito apenas os devaneios em relação ao sexo.
Em “D IS A D IS” ficam evidentes tendências contemporâneas, o neorealismo no qual se usa vários elementos da cultura numa mesma perspectiva para denunciar fatos corriqueiros e, que por tanto, serão compreendidos como meras brincadeiras, pois não delimita nem o sujeito tampouco o objeto da ação.
Por fim, um dos efeitos mais importante desse trabalho é o questionamento da legitimidade dos sujeitos e lugares de fala cada um, considerados importantes para a reivindicação e manutenção da alteridade de ambos os sexos.