terça-feira, 21 de agosto de 2007

TEXTO: ARQUIVO SÓCIO-CULTURAL

O texto é mais que um tecido cujas partes se entrelaçam a partir da organização das sentenças. Na verdade, ele é uma miscelânea de informações na qual estão dispostos elementos históricos, culturais e políticos construídos sob a perspectiva da linguagem que, às vezes, vai além e se traduz em metalinguagem.
Para Kleiman (2000, p. 07) é fundamental que o sujeito adquira o hábito de ler o mundo através da apreensão de “um conhecimento dos aspectos envolvidos na compreensão e das diversas estratégias que compõem os processos”. Sendo que tais processos se dão por meio das relações estabelecidas entre o que o texto diz e o que está associado à memória social. Logo, todo procedimento de leitura deve ser associado à releitura dos acontecimentos históricos, sociais e culturais onde ele foi originado.
O texto enfatiza os aspectos cognitivos da leitura, porque consideramos que a percepção de, bem como a reflexão sobre o conjunto complexo de componentes mentais da compreensão contribuirão, em primeira instância, à formação do leitor e, conseqüentemente, ao enriquecimento de outros aspectos, humanísticos e criativos, do ato de ler. (KLEIMAN, 2000, p. 9).
Dessa maneira, o ato de leitura, sobremodo, de textos literários precisa seguir o processo de metalinguagem, isto é, o leitor se posiciona na leitura conforme os tempos enunciados no discurso, adentrando assim aos universos lingüísticos forma de escrita e construção de sentidos empregados na linguagem da obra; cultural observar-se-ão os aspectos do cotidiano no qual, o homem e a sociedade são retratados via escrita -; além das questões políticas e ideológicas usadas pelo autor quando da escrituração de sua obra. Essa atividade acontece através de metacognição a qual segundo especialistas é o processo de “reflexão sobre o próprio saber, o que pode tornar esse saber mais acessível a mudanças.” afirma Kleiman.
Com essa perspectiva, o leitor por sua vez é agente histórico da leitura e ao longo de sua existência interage com ambientes sociais e culturais, nos quais sua memória discursiva e cultural vai se construindo de acordo com os estímulos recebido durante a interlocução praticada na comunidade. Então, afirma-se que tal sujeito é detentor de certo grau de conhecimento prévio e, portanto, está apto a produzir sentido ao realizar uma leitura dentro do seu contexto sócio-político e histórico-cultural. Conquanto seja necessária a prática diária de leitura na qual se busca agregar novos conceitos, valores e, consequentemente, a assimilação de vocabulário para melhoria de sua prática lingüística. Isso só acontecerá segundo Kleiman (2000), se o leitor estiver disposto a estender sua capacidade reflexiva, pondo-se em destaque e associação com objeto lido “o conhecimento adquirido ao longo de sua vida.” Então, Dessa forma acontece aquilo que Kleiman considera a: interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. [...] este conhecimento abrange desde o conhecimento sobre como pronunciar português, passando pelo conhecimento de vocabulário e regras da língua, chegando até o conhecimento sobre os usos da língua. (Kleiman, 2000, p. 13).
Mediante essa assertiva, infere-se que na medida em que se ler há assimilação de elementos estruturais do texto e, também, da cultura à qual ele se reporta. Portanto, nesse ato, leitor assume papel importante dando ao texto novos significados, ou seja, atribui-lhe sentidos de acordo com novo setting de leitura, pois se fazem associações do enunciado com o novo ato de enunciação, formando novas expectativas a respeito do assunto tratado no texto.
No que se refere à leitura de peças literárias existem dois modos de se ver a construção do ato de ler: “Leva em conta os leitores na sua diversidade histórica ou social, coletiva ou individual; outro, a imagem do leitor tal como ela se acha representada em alguns textos.” (Todorov, 1994, p. 83). E já Kleiman considera essa questão a partir do conhecimento lingüístico, histórico e cultural do leitor a respeito do texto lido, porque tal saber leva ao processamento das informações presentes no objeto. Assim sendo, o processamento é entendido como: atividade pela qual as palavras, unidades discretas, distintas, são agrupadas em unidades ou fatias maiores, também significativas, chamadas constituintes da frase. À medida que as palavras são percebidas, a nossa mente está ativa, ocupada em construir significados, e um dos primeiros passos nessa atividade é o agrupamento em frase...
A memória discursiva do agente de leitura ao encontrar no texto marcas lingüísticas (tempos verbais, adjetivos e predicação), culturais (eventos, festas religiosas, sociais, personagens e costumes, etc.) faz associação com o presente da leitura, ou seja, transfere para a atualidade os sentidos criados pelo autor quando da enunciação do texto. Por exemplo, ao ler uma passagem bíblica o fiel transfere (às vezes de maneira pessoal) as informações nela contida para sua realidade, dando assim uma conotação de verdade ao evento lido. Esse processo segundo Celso Antunes (2001) ocorre porque o leitor atingiu um nível de maturidade importante, transformando dessa forma informação em conhecimento.
Há ainda de se destacar o papel dos meios de comunicação na propagação das informações no meio social, através do qual se constrói a memória discursiva do homem moderno. Tal questão incentiva nos à produção de conhecimento, porque à maior parte dos sujeitos estão ligados a vários mecanismos que propagam a informação em tempo real. (Lembramo-nos dos episódios das guerras no Oriente Médio, estas foram transmitidas via satélite para todas as casas do mundo).
Para Celso Antunes tudo isso exige do profissional da linguagem uma nova formação, isto é, além de aprender as questões específicas de sua área de atuação, o professor deve buscar per si, meios com os quais possa agregar sentidos às suas novas descobertas. “o professor precisa ir também se transformando em um analista de símbolos e linguagens, um decodificador de sentidos nas informações e, também, o profissional essencial do despertar das relações interpessoais.” (ANTUNES, 2001, p. 13).

REALIDADE-FICÇÃO NAS MÍDIAS INTEGRADAS

A imagem na sociedade segundo nos apresentou Mikail Bakhtin nos idos de 20, é uma duplicidade da realidade, pois faz dela um (re)apresentação da realidade através do signo, o qual foi definido pelo pensador russo como espelho, o qual reflete e refrata a qualidade do corpo nele projeto. Todo signo é, em maior ou menor medida, uma espécie de imagem especular: o signo não é apenas um corpo físico que habita a realidade, mas também é capaz de refletir essa realidade de que ele é parte e que está fora dele.
A realidade refletida nesse espelho, leva nos à compreensão de que há uma valorização da imagem em detrimento do corpo real. Assim, há um tipo de fissura que, às vezes, não é preenchida pela interpretação do leitor.
Por isso, é que se aperfeiçoa cada vez mais a comunicação via tela, ou seja, as imagens produzidas e reproduzidas na televisão, no cinema e, principalmente, na internete seguem um padrão técnico cujo paradigma é preencher os espaços entre o signo e o objeto representado por meio de cores em que se destacam a definição e a roupagem do objeto. (Basta-se ver as matérias dos programas sensacionalistas, as quais seguem a máxima: uma imagem fala por mil palavras, por isso são apresentados ao espectador/leitor imagens em tempo real, fazendo com que as tragédias do cotidiano se tornem elementos comuns, impedindo qualquer ato de indignação).
Para Baudrillard (2005, p. 40) esse tipo de acontecimento leva a sociedade real a desinteressar-se pelas ações da classe política e das instituições. Contudo eles não deixam de desfrutar o espetáculo que, direto ou indiretamente promovem diante das câmaras, após as tragédias cotidianas. Dessa forma, ainda segundo o filósofo francês, a mídia serve enfim para alguma coisa e a “sociedade do espetáculo” tira todo o seu sentido dessa feroz ironia: as massas concedendo-se os riscos da corrupção das instituições e Estado mantêm se atentas aos acontecimentos, dando audiência à representação social e política criada pelos signos televisivos.
A realidade (re)apresentada na mídia é quase ficcional, pois a forma como os fatos são expostos em suas grades televisivas, de algum modo, trouxeram benefícios à classe política à qual, embora apareça em todos os cantos do país em tempo real, conforme Thompson (1998, p. 19), o desenvolvimento da mídia transformou a natureza da produção e do intercâmbio simbólicos no mundo moderno. Portanto, os meios de comunicação de massa têm uma dimensão simbólica irredutível e, por isso, o homem é um animal suspenso em teias de significado que ele mesmo teceu.
Simbolicamente, estas teias são emaranhadas de significações possíveis, apresentados ao leitor-espectador, o qual deve, a seu modo, interpretar a gama de “realidades” a ele apresentada através dos meios que, segundo, havia asseverado MacLuhan (1962), embora tenha sido constestadamente pelos pares; “que o meio é a mensagem.” Se se quer tomar esta questão sob a ótica da amplitude tomada pelos meios de comunicação de massa, ver-se, portanto, nesta afirmação o grande poder de persuasão que a televisão tem sobre os espectadores incautos, o qual aceito de forma passiva semi-realidades que lhe chega a casa com dia e hora marcados.
Dessa maneira, a realidade transforma-se em ficção e vice-versa justamente para atender às necessidades do momento televisivo. Como exemplo, tem-se as coberturas ao vivo das ações policiais transmitidas pela imprensa digital em tem real, criando no espectador-leitor infinitas possibilidades de inferência. Contudo, na verdade, esta se dar pela via mais sangrenta, ou seja, platéia parece se deliciar com imagens e discursos que primam pela polêmica e, sobretudo por aqueles que formam o coro da tragédia, isto é através de um apresentador cuja intenção é discutível se chora em uníssono uma nação inteira.