quarta-feira, 22 de agosto de 2007

NOVELA: RETRATO IDEAL DO COTIDIANO

Antes, porém, afirmo que não tenho intenção de fazer um discurso acadêmico sobre a novela. Apenas discorrei sobre alguns pontos que considero interessantes para que os espectadores possam se orientar quanto à radiografia que os autores e atores fazem do cotidiano, por meio das novelas brasileiras em exibição nesse momento. A novela pode ser apreendida de muitas formas, contudo chamo atenção para dois fatos importantes: a) todas as representações realizadas pelos personagens são verdades que poderiam ser, ou seja, aquilo é o ideal de vida que todos nós pretendemos ter. b) as novelas estão na programação das emissoras de maneira a atender as exigências da marcas que as patrocinam. Dando continuidade à primeira questão acima mencionada, eis a questão: qual é a tendência das novelas atuais? Quebrar tabus! Diriam os mais radicais. No entanto, a tendência das últimas novelas, sobretudo as globais, é trazer à baila as experiências do cotidiano, as quais marcam deliberadamente a rotina das pessoas. “Uma experiência de vida põe em jogo muito mais coisas do que nosso simples gosto, ela põe em jogo nossa própria existência e aquilo que somos.” Afirma Arnaud Guigue. Corroborando com esse lúcido pensamento, pensamos que a novela, por ser uma forma artística cujo objetivo se volta para o relato dos acontecimentos sociais, dando ênfase nas questões dramáticas que tomam conta das minorias, faz com que os espectadores se vejam e, também, criem para si uma maneira ilusória de vida – pelos menos enquanto a novela está no ar – e nesse momento passa a aceitar comportamento que jamais na vida real seriam admissíveis em suas vidas práticas. Exemplifico: Na novela que acabou ontem, tivemos durante 209 capítulos, um misto de romance policial de má qualidade com melodrama cotidiano: Mulher rica que se apaixona por um homem pobre, mas é desprezada por ele estando grávida. Para se vingar, ela oferece a criança à adoção. Pois, bem esse foi o enredo principal da novela de Silvio de Abreu. Se se quiser ser mais dramático ainda, lembremo-nos que esse tipo de acontecimento é a rotina da vida real, inclusive, temos ainda a memória recente, o caso da mãe mineira que jogo a filha na Lagoa da Pampulha, Belo Horizonte – MG. e a crinça foi resgatada por transiuntes. Isso é a novela da vida. Ou parafraseando Nelson Rodrigues, essa é a comédia da vida publica! Contudo, todos somos atores reais e, portanto, temos a vida como palco onde tudo é ao vivo. O público são espectador e juiz ao mesmo tempo, exarando a sentença ao final do primeiro ato. Por isso, a novela e seus personagens – herói e vilão são para nós – um espelho no qual vimos refletir a cada novo capítulo. De tudo isso decorre da nova perspectiva cultural do espectador com as histórias e personagens mostrados na novela, embora a distância entre o real e o ficcional seja tênue há quem afirme que, às vezes, as pessoas elegem para si a maneira de viver e ver “esfera publica” tal qual o personagem em destaque em tal trama novelística. Lembremos por exemplo à manifestação lingüística do personagem Geovani Improta, a forma debocha e pedante de Bia Falcão ao tratar as personagens do núcleo pobre de Belíssima. Essa e outras maneiras têm em si uma mensagem subliminar que nem sempre é vista pelo espectador incauto, o qual se volta para aquilo que, de fato dá sustentação à novela; estilo de vida, moda, viagens, comportamentos sexuais, etc., porque é nessa alienação que os patrocinadores inserem seus produtos, criando necessidades imaginárias nos espectadores que vai de adolescentes à dona de casa. O perfil do atual espectador de novelas no Brasil não mudou muito da década 70 para cá, pois segundo Mário Sérgio Conti em Notícias do planalto (1999), Sánchez obteve através de pesquisas o perfil das pessoas que fazem à audiência da televisão, principalmente da novela: “mulher, casada, com pouco mais de trinta anos, tinha filhos pequenos, era religiosa, romântica e, o decidia tudo o que se comprava na casa, da marca do fogão à roupa do marido e à comida das crianças.” Eis, ai o porquê de termos novela das 18 às 22h. Tendo sumarizado o primeiro tópico, chegamos ao ponto no qual pretendo mostrar como os anunciantes se posicionam em determinadas novelas em detrimento de outras. Na verdade, cada discurso televisivo tem seu público delimitado. Então, pensemos: Porque será que as grandes marcas de produtos de beleza, limpeza e carros preferem os intervalos da novela das oito? Resposta obvia: Maior audiência, porque é nesses horários que os maridos chegam a casa e, junto com a família assistem à trama. Instantes em que se manifestam as identidades e desejos imaginários nos quais conflitos familiares e pessoais ganham destaque, porque se tem nas personagens da novela uma referência. – a minha vizinha tem um fogão igual ao que à personagem tal faz comida, então quero um também – diz a mãe. Minha amiga na escola, tem uma sai igual à Roberta do RBD, pai eu quero uma também! – comenta a filha. E assim, se fecha o ciclo econômico e exploratório criado pela telenovela. Nela a imagem, a trilha sonora, o tom de voz, a linguagem corporal do atores em cada núcleo está consociado com o tipo de patrocinador que irá aparece entre uma parte e o intervalo da novela, completando assim o horário novelístico da televisão. Hodiernamente, de maneira subjetiva, os autores têm colocado em suas tramas questões de comportamento sociais significativa, principalmente no que se refere à sexualidade, religião, política e, principalmente, dramas individuais. Que me perdoem à memória, mas já faz algum tempo que temos nas tramas das oito, relacionamentos homoeróticos, porém é tão falso moralista que dar dó. Por exemplo, na trama de Abreu tivemos um par homoerótico feminino. (Não estou defendendo que se tenha na televisão mais baixaria, ao contrário, acho que esses temas devem ser tratados com respeito, mostrando ao espectador que tal questão é presença real na sociedade e, que todos devem respeitar). Afinal, não temos liberdade de expressão? Então para que tratar desses episódios com divagação? Por outro lado, Tivemos a oportunidade de refletir sobre uma coisa muito; a presença da prostituição masculina, fato que até então, viu-se à presença feminina nesse papel. Enfim, caro espectador de novela, tente ver o que está alem das imagens de lugares, rostos e corpos nus, refletindo sobre o cotidiano no qual a novela real é muito mais interessante do que está “mentira” que nos absorve durante horas diante da televisão. Preferi à discussão com seus familiares dos temas propostos pela teledramaturgia à alienação por produtos ou padrões de beleza e comportamentos morais, sócias e sexuais. Seja um leitor competente e crie para si e seus familiares momentos de descontração nos diálogos reais entre todos! Até porque ao termino da novela tudo que foi discutido sai da moda! Ou será que alguma madame, na sociedade na qual vivemos teria coragem de assumir publicamente uso de serviço amorosos pagos e que preferem meninos ao invés de relacionamentos conservadores? Por fim e discordando de um articulista que publicou num site renomado, um texto o qual traz o título: novela tem o final sem vergonha da história. Digo: talvez esse tenha sido o final de novela, no qual, algumas personagens retrataram realisticamente aquilo que a sociedade pretendia, sobretudo no plano da justiça, dos comportamentos pessoais e sexuais. Convenhamos; qual o quarentão que não fantasiaria tem em seus braços uma ninfeta como as que tiveram o personagem Alberto e seu (sogro e genro); qual a mulher que não têm dentro de si uma Safira da vida, e deseja sempre um Pascoal? Qual a vovô que não sonha de vez enquando com Matheus na sua cama sem complexidade? Conforme anunciei no título, a novela é retrato em cores do cotidiano, porém, somos daltônicos e não identificamos as cores nela contidas. Robério Pereira Barreto, em 08 de julho de 2006.

Um comentário:

Anônimo disse...

sua opinião é boa... mas não revolucionária... escreveu o que já sabemos...