SANAS LOUCURAS: PARADOXO E BELEZA
Sanas loucuras (2007), de Rejane Tach e Maykson de Souza constitui-se de conjunto poético no qual há vicissitudes paradoxais, às quais serviram os autores para nos oferecer uma produção esteticamente contemporânea. A obra que, na verdade, são quatro, - trata-se de dois livros que se complementam em suas diferenças, ficando tais questões sobressaltadas mais ainda quando são lidas na versão em espanhol, constituindo-se assim em duas novas criações quase independentes, tamanha a fluidez da linguagem poética.
De maneira abstrata, porém concisa, os autores dizem muito em poucas palavras, de modo que o leitor de Sanas loucuras deve se preparar para buscar o sentido dos versos através de lentes intimistas, isto é, não será possível compreender a mensagem poética de Rejane e Maykson sem, antes se debruçar sobre seu próprio existir.
Em Sanas loucuras (2007) há uma concisão retórica a qual é resultante de uma reciclagem dos princípios Aristotélicos. Para Leyla Perrone-Moisés (1998) estas novas poéticas embora apareçam estilisticamente modernas não o são, por que: “Na modernidade, esse valor está ligado à rapidez, à objetividade e à eficácia requeridas pela vida em nosso século; mas também uma resistência oposta à tagarelice generalizada dos discursos sociais.” (Perrone-Moisés, 1998, p. 156).
No que se refere ao plano estético de Sanas loucuras (2007), Rejane e Maykson atuam no campo intimista, ou seja, eles tentam representar metaforicamente as agonias e possível morte do espírito do homem moderno, através de um olhar cismado e incrédulo sobre a infinita existência do ser.
Meus olhos
Encontraram o céu...
No sano e louco,
Revivi...
Rejane, 2007.
Comem as vísceras de minha amargura
Enquanto choro de alegria
E abraço-me em espanto
Enquanto choro de alegria
E abraço-me em espanto
Em silencio iracundo....
Maykson, 2007.
Embora os versos sejam vazados numa perspectiva da retórica abstrata moderna, a obra confirma a influência da estética romântica, à qual, segundo Octávio Paz deveria ser retomada pelos escritores modernos a fim de reatarmos com a tradição da grande literatura do século XX. Dessa forma, Sanas loucuras (2007) não tem propósito de fazer um revival de princípios estéticos do passado, mas, sim, de mostrar que é possível levar o leitor a questionar a si mesmo enquanto ser de e no mundo de inquietudes e individualismos.
Os escritores inspiram seus leitores ao remate de que as relações na sociedade contemporânea alteraram os princípios e modos de existência de cada, sobretudo, no que se refere às questões existências. Então, resta ao leitor refinado, encontrar nesta obra os elementos estéticos que a constitui em paradoxo e beleza contemporâneas singulares, pois tem nos seus poemas vaivens de linguagens as quais se confundem com o pensamento da estética pós-moderna, embora não seja possível classificá-la como tal, por que sua composição é altamente abstrata e simbólica.
Bibliografia consultada
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Altas literaturas: escolha e valor na obra crítica de escritores modernos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
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