sexta-feira, 13 de julho de 2007

A (RE)CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES

Neste ensaio se apresentam de maneira preliminar alguns fatos de pesquisa sobre possíveis a(s) identidade(s) presentes na poética dos escritores locais – irecenses - que, de algum modo, estão diluídos nas experiências da implantação de um sistema sócio-cultural dominado historicamente pela violência imposta pelos senhores e coronéis da região, tendo sido agravada mais tarde, com o movimento da diaspórica do ciclo do feijão, momento em que a região de Irecê – BA recebeu grande massa migratória dos estados nordestinos. Para tanto, utilizar-se-á a linha dos estudos culturais e da estética literária contemporânea as quais conduzirão à investigação no sentido de clarificar o processo de escrita dos autores regionais. Com efeito, observar-se-á ainda como a colonização ocorreu na região, e quais foram às contribuições trazidas e implantadas por essa corrente migratória na cultura local, bem como os impactos (positivo e negativo) que isto teve na vida das pessoas e da comunidade artística local, sobretudo, na literatura.

Como todo evento de pesquisa fundamenta-se na perspectiva de classificação, este trabalho não por acaso segue a mesma metodologia na tentativa de identificar e classificar os principais pontos estéticos e culturais da poesia local, buscando a compreensão da origem estético-ideológica dessa literatura. Dessa maneira, procurar-se-á ainda evidenciar o que realmente foi o processo de colonização da região, partindo da premissa de que houve desde o começo do século passado disputas por terras, as quais, às vezes, resultaram em fusões econômicas, políticas, lingüísticas, refletindo, pois, muito subliminarmente na cultura devido à “inércia” dos migrantes que nesse campo não contribuíram com os nativos.

Importaria dizer preliminarmente, que a produção poética irecense é marcada por carências estéticas e simbólicas, porque os autores produziram trabalhos literários[1] na tentativa de preencher as rupturas latentes no sistema cultural, o qual está pautado na dialética da opressão econômica e da violência gratuita dos colonizadores a terra aos seus moradores.

Mediante estas questões, acesso as algumas obras, elegeu-se um corpus significativo, o qual nos dará segurança para afirmar quais são os textos que melhor representam a produção literária irecense, tendo como ponto nefrálgico a questão da violência e da crise de identidade. Por se tratar de estudos de textos literários (poesia e prosa), adotar-se-á como procedimento de pesquisa, o método bibliográfico e interpretativo.

A obra literária traz por si algo de enigmático, bem como o autor devido a isto, atua, às vezes, como rebelde, visionário, filtro dos eventos sócio-culturais da sociedade na qual é agente. Isto pode ser visto no prefácio à obra Em Irecê revivendo com um pouco de fantasia..., (1999), de Adalvo Nunes Dourado, quando o prefaciador Walter Ney Dourado Rodrigues diz: “As histórias contidas em seu livro buscam resgatar a memória de fatos ocorridos com nossos antepassados.” Ao proceder à análise metódica do produto e do produtor, infere-se que, na verdade, ambos são frutos de um sistema político cultural particular. Diante disto, neste trabalho se toma como objeto de interpretação os livros: Em Irecê revivendo com um pouco de fantasia..., (1999), de Adalvo Nunes Dourado; Campestre e seus horrores, (2006), de Edizio Mendonça. Ambos narram passagem que se confundem com histórias pessoais e fatos aos quais parece os autores terem sido partícipes, deixando vir à tona elementos da cultura e da identidade dos moradores da região de Irecê – BA, antes da avalanche migratória nordestina que tomou conta da região.
Nota

[1] O termo literário, aqui empregado é no sentido da palavra escrita, porque a maior parte dos autores regionais que fizeram da palavra para narrativas históricas e pessoais, fugindo, pois, do evento estético da literatura. Conquanto, não se pode dizer que não haja nos textos certo grau de poeticidade.

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