quinta-feira, 13 de novembro de 2008

INTERNETÊS NA MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA

A mídia digital tendo como mediador o ciberdiscurso[1]que modifica o fazer social, cultural, lingüístico e escolástico da sociedade contemporânea na qual a escola constitui-se no lócus econômico e político das comunidades de falantes, como mais uma possibilidade de ação. Uma coisa é certa: a rede digital traz para a escola uma nova linguagem com vocabulário e aspectos lingüísticos inovadores. Assim, é importante que os profissionais da educação e, principalmente, os professores da Língua Portuguesa entrem em contato com essas novas tecnologias urgentemente. Pois, sabe-se que os governos não têm conseguido atender as necessidades das escolas no que se refere à inserção dos profissionais da educação no universo da informática e, sobremodo, da rede digital.
Neste ensaio busca-se apresentar à comunidade educacional, possibilidades de se usar os conhecimentos e recursos da mídia digital – parcos, diga-se de passagem - para aperfeiçoar os mecanismos de construção de leitura, de escrita e de sentido das mensagens veiculadas na “sociedade da imagem”.
Quem usa a internet e seu hipertexto constitui-se em atores, cujas perspectivas há muito vêm sendo discutidas com grande insatisfação, pois as ações nesse processo são, normalmente, entendidas a partir da ótica da exclusão. Em outros termos, comenta-se que o acesso à mídia digital é uma impossibilidade por parte da massa proletária de estudantes e com isso, tem-se uma série de desequilíbrios político, social e cultural devido ao afastamento dos estudantes do saber tecnológico proposto pela rede mundial de computadores.
Por outro lado, a expansão do interesse pelo uso da mídia digital nas escolas brasileiras já está defasada há décadas, e pede publicação de trabalhos tanto teóricos quanto aplicados ao ensino de linguagem na escola pública. Pensado nisso, traz-se à baila uma visão instigadora das possibilidades que a internet e suas mídias podem contribuir para a ação pedagógica dos profissionais da linguagem, quando estes se referirem às práticas lingüísticas do cotidiano, posto que, na rede digital existem hipertextos que passaram a ocupar o inconsciente coletivo, dando assim um novo entendimento à variedade de campos do saber na literatura, no cinema, na publicidade, na televisão e também na música, sendo estes entendidos sob a ótica do leitor, como elementos subjacentes à comunicação de massa.
Nas próximas seções, seguem princípios teóricos e práticos que aludem à prática do professor em sala de aula, como sujeito e objeto da ação de ensinar e aprender a “navegar” nas ondas da fibra ótica e construir interatividade entre a mensagem da rede e o pensamento lingüístico e cultural dos “navegantes do oceano cibernético”.
O estudante vive experiência do cotidiano lingüístico digital e com isso transfere seu raciocínio para a prática efetiva da comunicação. Tal acontecimento precisa de orientação metodológica. Portanto, o professor precisa aproveitar essas informações e fazer com o aluno transforme tal bagagem em conhecimento, por meio de uma seleção discursiva. Em outros termos, o profissional da linguagem deve atuar como mediador no processo discursivo do aprendiz, lhe informado que o uso cotidiano da linguagem prática na rede digital não se aplica ao contexto exterior (sala de aula, entrevista de emprego, paquera e, principalmente na prática escrita formal), contudo seus saberes linguísticos digitais são importantes para sua convivência na comunidade internética.
Não obstante às críticas, o internetês como tem sido chamado, é uma realidade e por isso precisa ser entendida e apreciada como tal. Se se quer a compreensão de que a língua evolui conforme a sociedade que a pratica avança tecnologicamente, eis ai o resultado; a linguagem prática na internet seja qual for sua maneira traduz de forma singular o processo de modernidade. Dessa forma, a escola, principalmente, no que se refere ao ensino-aprendizagem de língua portuguesa ficou inerte, uma vez que professores de “língua portuguesa” ficaram presos a conceitos superficiais da língua, tendo inclusive engessado o idioma de Machado de Assis às regras gramaticais.
O que impressiona na prática lingüística internética são os números. Conforme pesquisas realizadas recentemente, o número de usuários desse veículo aumentou significativamente e, por isso, a comunicação e a língua por eles utilizada têm mostrado avanços no que se refere à dinâmica lingüística.
Para Silvia Marconato( 2006), no Brasil, um batalhão de 15 milhões de usuários troca 500 milhões de mensagens por dia por meio do Messenger (MSN), o comunicador instantâneo da Microsoft. O Ibope/NetRatings divulgou em janeiro que o internauta brasileiro continua sendo o campeão mundial da navegação, com uma média de 17 horas e 59 minutos, deixando para trás Estados Unidos, Japão e Austrália.
Assim sendo, a revolução do internetês é uma realidade e, portanto, nós, professores de língua portuguesa necessitamos “conectarmos” às suas variantes para na perdermos o rumo e a dinâmica da língua porque a “simplificação da grafia e uso de símbolos aplicam liberdade da fala à escrita; efeito sobre a sintaxe dos jovens pode não ser catastrófico como se imagina” afirma o lingüista Ataliba de Castilho.
Num trabalho denominado O professor de português junto ao aluno, usuário de sala de bate-papo na internet (2004), publicado no livro prática de linguagem no contemporâneo discute-se a relação do professor de língua, o aluno e escrita praticada pelos jovens, a partir de princípios da lingüística, tendo no pensamento de Pretti, (2003) o qual assegura que: “a língua funciona como elemento de interação entre individuo e sociedade em que ele atua. É através dela que a realidade se transforma em signos, pela associação de significantes sonoros a significados arbitrários, com os quais se processa a comunicação lingüística” (Pretti, 2003. 12 apud Barreto, 2004, p. 15).
A produção lingüística dos internautas tem tirado o sono dos puritanos da língua. Entretanto, tem havido uma preocupação saudável por parte dos estudiosos contemporâneos da língua no sentido de alerta aos professores e, consequentemente aos jovens que, tal prática tem como contexto apenas os ciberespaços. Então, sua realização fora desse contexto soa como erros, devido à permanência da gramática reguladora da produção escrita e, às vezes da fala. Por fim, acredita-se que o internetês configura-se como um mediador da prática lingüística contemporânea, embora seja vigiado pela norma padrão da língua. Não obstante, aos caprichos dos estudiosos ortodoxos da língua os quais o considera como interferência negativa na produção culta, uma vez que já temos muitos problemas no uso da língua padrão.
Segundo Chierchia “as línguas, por trás de sua fluidez, têm um esqueleto lógico, e ele permite que nos compreendamos”. Então, é por isso talvez que nos preocupamos com a produção lingüística dos internautas, porque não conseguimos interagir com eles. Tal fato nos tira a ‘autoridade’ que antes detínhamos ao promover a língua no variante padrão (escrita literária) à condição de mestra da boa comunicação e, sobretudo, instrumento de erudição.

Bibliografias
BARRETO, R. P. Práticas de linguagem no contemporâneo. Tangará da Serra: Sanches, 2004
BARRETO, Robério Pereira; BALDINOTTI, Sérgio, Ciberdiscurso e interculturalidade na Web. 2005.

[1] Cf. BARRETO, Robério Pereira; BALDINOTTI, Sérgio, Ciberdiscurso e interculturalidade na Web. 2005.

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