quinta-feira, 13 de novembro de 2008

CRIATIVIDADE E CIDADANIA: ENSINO DE HUMANIDADES NA ESCOLA:

Robério Pereira Barretoã


Faz algum tempo que venho discutindo nos bastidores da Universidade e da Escola Publica onde trabalho, que o ensino de linguagem e, principalmente, das questões relacionadas à aprendizagem da leitura e da escrita por parte dos estudantes tanto do nível básico quanto do superior deveria ser através da arte, literatura, pintura e humanidades. É senso comum encontrarmos em todas as salas de professores (inclusive já me flagrei fazendo isso), alguém está sempre falando que os estudantes não estão nem aí para aula, os conhecimentos que lhes transmitimos pouco importam, etc. Então, resolvi aprofundar na reflexão e eis que cheguei ao seguinte entendimento. (claro que isso não é inédito). Tem-se muito estudante louco por leitura e que produz textos significativos, contudo, não é a tipo de texto reconhecido pela instituição escolástico e, portanto, não é certificado como tal. Por isso, eles não se interessam por tal prática, ou seja, por mais que leiam e produzam não lhes damos os devidos créditos, porque estamos pautados em tipologias e regras de leitura e produção textuais do século de Anchieta, que não mais acompanham a evolução do pensamento do estudante da era digital.
Nesse contexto, surge a pergunta: qual é a sugestão para resolução de tal problema, gênio? De acordo com os ensinamentos que realizamos em relação ao plano da leitura e escrita em todos os níveis educacionais, tanto na “esfera publica” como particular, uma coisa é certa; estamos fadados ao fracasso como professores! Mas nem tudo está tão ruim assim. Porque vejam: a minha idéia (brilhante). Se a filosofia da escola de ensino básico é formar estudantes para o mundo da linguagem e suas complexas relações com a mídia, então, a melhor forma é conduzi-lo a esse universo, usando as “armas” do inimigo onipresente; a mídia, através da exploração da criatividade deles, pois, esses cidadãos têm muito a nos informar e surpreender. Para tanto, basta incentiva-los no que eles têm de melhor, capacidade de invenção. Veja os exemplos da linguagem internética!
Ainda mantendo a provocação inicial, considero uma perda de tempo e dinheiro, a criação inócua dos chamados “cantinhos da leitura” nos quais temos de tudo – almofadas, pufes, paredes decoradas, etc., contudo, tal espaço é guardado a chave e o protagonista nunca estão em ação, estudantes escolhendo o que quer ler. Ao contrário, quando os sujeitos têm acesso a esse espaço, estão acompanhados de um professor que, por sua vez, dirige as atividades conforme seu gosto pessoal, ou do programa didático instituído pela escola. Para completar o princípio de discórdia (sei que alguns ao lerem - se é que lerão – encherão minha caixa postal de impropérios não tem problemas, estou acostumado com o rótulo de provocador). Tem-se nas escolas de ensino básico, a famosa prática – estudante que aprender rápido o raciocínio linear do professor e fica “bagunçando” em sala de aula deve ir à biblioteca. Graças a Deus! Feliz daquele que tem como castigo ficar horas junto a vários pensadores, artística, críticos, etc. seriam ótimos resultados se todos os professores que não conseguisse atenção dos estudantes dessem a esses, o castigo da biblioteca, certamente teria um número maior de leitores competentes e capazes de entender a homem e a sociedade na qual atua.
Diante de tamanha provocação, exponho a seguir a idéia base desse ensaio: minha tese é de que esse modelo educacional arcaico está falido faz um tempo considerável, sobre tudo no que diz respeita ao ensino-aprendizado de língua materna. Os profissionais formados no curso de licenciatura em letras e pedagogia deveriam se interessam em conhecer e dominar a linguagem das grandes obras de arte – literatura, pintura, teatro -, as quais, por sua vez, estão repletas de ensinamentos históricos, linguísticos, literários e culturais.
Para tanto, seria necessário criar mecanismos que acabassem com essa estrutura de aulas segmentadas – Português, Matemática, História – como se cada uma fosse objetos estranhos e que após a saída do professor da sala de aula, o estudante deve guardar em sua caixinha as informações que lhe foram oferecidas, para daqui a uma semana resgata-lo. Calma! Já explico como esses mecanismos seriam criados. Se a idéia da educação básica é formar cidadãos capazes de se relacionarem com seus iguais e produzirem conhecimentos por meio da aquisição da linguagem, tendo como mediador a língua. Então, vejam: pode-se instituir na unidade educacional que, durante o ano letivo, todos os profissionais da educação estarão envolvidos num projeto, o qual tem como objetivo a montagem de uma peça teatral, sendo que para isso, os conteúdos a serem ministrados aos estudantes devem referir-se a tal proposta. Dizendo de outro modo; o professor de língua materna apresentará aos alunos textos fundamentais da literatura dramática universal e os princípios da leitura e escrita da peça teatral, com quais eles desenvolverá suas atividades, tendo na reescritura a consolidação dos princípios da língua em suas variantes culta e popular; o professor de matemática trabalhará de maneira idêntica, adequando os conteúdos da disciplina ao estudo das dimensões do palco, bem como os fundamentos da geometria, criando expectativas para a montagem do palco – calculando área, quantidade de madeira, tinta, assoalho, etc. seriam necessários para tal construção -; a disciplina de Química e Física terão seus programas baseados nas cores e sentidos atribuídos aos elementos que comporão os cenários e; a Educação Física e artes trabalhar-se-ão as linguagens corporais e níveis de corporeidade, possibilitando assim a comunicação expressiva do estudante.
Ufá! Como seria bom se realmente tivéssemos alguém que comprasse, ou melhor, roubasse essa idéia e colocassem em ação, porém, creio que alguns ortodoxos dirão: essa só mais uma esquisitice, não dará certo. O pior é haverá quem afirme que essa idéia só aumentará a indisciplina dos estudantes, escola será uma bagunça! Antecipando-me digo: Não será, ao contrário, teremos estudantes mais interessados nas aulas, até porque será uma forma de valorizar o conhecimento e capacidade de criação que eles têm e nós com nossas soberbas e paradigmas arcaicos os impedimos de mostrar.
Para concluir, reafirmo; está na hora da escola se tomar iniciativa e buscar junto com seu quadro docente e discente inovações no campo do ensino-aprendizado, porque se continuar nesse marasmo estará fadado à derrocada total. Acordemos todos para as novas exigências da sociedade contemporânea, na qual a formação do homem moderno está além das recomendações contidas nos manuais de leitura e escrita. Hodiernamente, a comunicação se dá necessariamente por meio das imagens se símbolos convencionalizados pelos sujeitos da linguagem, na qual a comunicação se processa no plano da criatividade lingüístico, histórica e identitária, dando a cada um, perspectivas diferenciadas. Enfim, com a decisão os interessados em mudar esse quadro patético que nos apresentado pelos institutos de pesquisa quando se referem à questão educacional do país. Ah, lembre-se não estou dizendo para se fazer mágica ou pacto de mediocridade, conforme a expressão: vamos fingir que ensinamos, porque eles também fingirão que aprenderam e daí continuamos no mesmo zero a zero.
Bibliografia:
MORIN, Edgar. A religação dos saberes: o desafio do século XIX. 4. ed. São Paulo: Bertrand Brasil. 2004.

ã Professor de Linguagens e Línguística, poeta e escritor.

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