segunda-feira, 27 de agosto de 2007

LÁGRIMAS DA PARTIDA



Nas trilhas da solidão
Desfaço meu coração
Em milhões de mim

Tal o vento faz
Com a seca semente
De capim gordura,
Na lonjura do sertão afora.

No meu existir...
Nas veredas da solidão
Derramo meu coração.

Nos carreiros da vida
A alma sozinha...
Aflita colhe margaridas
Nos banhandos das lágrimas
Derramadas na partida.

27 de agosto de 2007, 23h 04min



Robério Pereira Barreto

INTERAÇÃO SÓCIO-CULTURAL ATRAVÉS DO TELEFICÇÃO*

*
Este trabalho discute as interações sócio-culturais criadas pelo consumo na sociedade contemporânea. Portanto, o fulcro é a homogeneização dos sentidos promovida pela teleficção brasileira quando, nelas, são apresentados ícones de beleza e comportamento com intuito de transformá-los em paradigmas e, assim, corporificá-los no cognitivo social, levando ao desejo e à fixação por determinadas condutas, nas quais não se tem estrutura cultural nem política.
Sabe-se que a teleficção produzida no Brasil nos últimos anos, especificamente, a partir da segunda metade da década de 90, perdeu seu fio estético-narrativo. Os autores e diretores passaram a atender às especulações do mercado, isto é, incluíram e ou deixaram espaços em suas tramas novelísticas para a publicidade, na qual os patrocinadores metaforicamente vendem seus produtos ao público, o qual, às vezes, se obriga a adquirir-los para se fazer reconhecido na/pela comunidade à qual pertence. Tem-se, pois, as publicidades de cosméticos e carros cujas mensagens têm públicos específicos.
Conforme afiançam os sociólogos e antropólogos contemporâneos, a Mídia, na atualidade, é o principal elemento de mediação sócio-cultural nos países latino-americanos, tendo na teleficção – novela – seu principal mecanismo homogeneizante das culturas, uma vez que todas as classes e sexos assistem a este programa.
A conglobação das culturas via teleficção é fruto de ações conjuntas entre o Estado e Instituições Privadas que promovem o alargamento das fronteiras dos desejos, isto é, as empresas de mídias, sobretudo, a televisão situam e expandem ideologias do mercado, em contrapartida elevam imagens e soberania dos governos. Para Barbero (2003, p. 141) isto acontece porque há uma substituição na qual se “possibilita a passagem da unidade de mercado à unidade política”, integrando de modo sistemático as culturas consumistas criadas pela teledramaturgia nacional.


Embora sejam recentes as preocupações da academia a respeito homogeneização da cultura novelística brasileira, no que se referem aos padrões de consumo ofertados através de merchandising nos intervalos dos capítulos diários dos folhetins, cuja mensagem publicitária tem levado à massificação de elementos culturais e, às vezes, ao resgate de princípios da cultura subalterna, transformando-os em produto da moda. (Veja-se, pois, o exemplo da personagem Bebel, de Paraíso Tropical, da rede Globo de Televisão, exibida de segunda a sábado às 21 horas, por meio da qual se vende padrões sócio-comportamentais a preços módicos a uma massa de espectadores incultos. Subliminarmente estão ai, intenções consumistas promovidas pelas imagens de espaços que, jamais serão ocupados pela maioria dos consumidores normais. Entretanto, estes construirão no seu imaginário modelos de consumo relativos aos apresentados na teleficção. Imagina-se, pois, que vários espectadores – homens – desejariam ser nem que fosse por um dia um Olavo da vida, ou uma espectadora ser uma Bebel nas calçadas da Copacabana – Rio, uma vez que a representação do espaço é legitimando pelas imagens e o glamour do Rio de Janeiro – Cidade Maravilhosa.

Dito isto, portanto, este trabalho se inscreve numa perspectiva de recensão teórica tanto dos objetos – teleficção nacional – quanto das discussões semiótica e sociológicas que permeiam a cultural televisiva do país.


* Comunicação a ser apresentada no I Encontro de Educação, Marxismo e Emancipação Humana no Território de Irecê, do DCHT, Câmpus XVI, Universidade do Estado da Bahia, Irecê – BA, de 19 a 21 de outubro 2007.
* Imagem captada na internete direto do sitio eletrônico www.diretodoestudio.globolog.com.br

domingo, 26 de agosto de 2007

GÊNEROS TEXTUAIS DAS MÍDIAS, PERSPECTIVAS DE ENSINO DE LEITURA E ESCRITA

Este texto é síntese do projeto homônimo. Com efeito, intui como perspectiva a construção de uma consciência coletiva, na qual os profissionais da linguagem possam de fato, entender que a tecnologia e a mídia fazem parte do novo cenário educativo e processual da aprendizagem. Para tanto, tem nos gêneros textuais sua maior aplicabilidade, de maneira que, tais produções se hibridizam no universo da informação, dando ao leitor maior oportunidade de interpretação.

Antes de se imergir no universo conceitual de gêneros textuais e discursivos que permeiam a mídia, é importante dizer que a sociedade em que se vive hoje, é um espaço de letramento, por isso demanda de novos elementos sintagmáticos e paradigmáticos na compreensão dos processos comunicativos que estão sendo apresentados via mídia de massa aos estudantes em espaços não escolares.

A escola enquanto meio de formação de leitores e produtores de texto não pode desprezar a riqueza dos gêneros discursivos e midiáticos usados pela imprensa para a manipulação das ideologias capitalista e consumista elaboradas pelo Estado.
Desta forma, este projeto está dividido em duas partes: na primeira apresentar-se o pensamento bakhtineano de gêneros textuais; na outra, discutir-se-á a teoria de estruturação, de Giddens e, também questões de semiótica da cultura, a partir de Culturas das mídias de Lucia Santaella e Mídia e modernidade de John B. Thompson.
A compreensão dos gêneros do discurso é segundo a acepção de Todorov (1980), uma forma de “mergulhar” no oceano de signos existentes na sociedade da escrita, imprensa. Esta é aqui compreendida como mídia de massa e os textos produzidos nessa perspectivas ganham segundo orientação de Bakthin (2002), categoria de gêneros textuais, significando que dessa maneira há uma completude nos dois pensamentos.
Marcondes e Meneses (2003) ponderam que, na atualidade, há uma lacuna a ser preenchida pelo professor em sala de aula; ausência de trabalhos com textos de circulação social – jornal, letra de música, anúncios, outdoors – isso leva à negação do estudante como cidadão, o qual percebe que nos espaços não escolares também há letramento[1]. Diante desse contexto, a ação de leitura e escrita na escola deve ser ampliada através da aquisição de materiais midiáticos, nos quais a discursividade é uma marca estilística.
A escola cada vez mais se afasta da realidade lingüística e cultural do cotidiano, porque, às vezes, concentra seu esforço e metodologias na leitura e produção de gêneros escoláticos, esquecendo que escrever é uma atividade que exige basicamente as habilidades de fazer associações de diálogos com outras escritas. Dessa forma, escrever consiste fazer perguntas a uma gama de textos já armazenados no inconsciente individual e coletivo, sendo que neste último, a polifonia torna-se característica da mídia.
Já a leitura para Marcondes e Meneses (2003) é uma ação que está psicologicamente liga à capacidade de se fazer questionamentos, buscando as respostas tanto nos elementos explícitos quanto implícitos no texto, ideologia. Com isso, a presença de textos sociais tanto no espaço escolar como no ambiente não escolar é uma realidade a ser considerada, enquanto mecanismo de ensino-aprendizagem.
O trabalho de produção e compreensão dos gêneros discursivos nas mídias precisa ser visto pelo professor como uma forma importante de comunicação, na qual se aplicam as metodologias de aprendizagem de língua e linguagem. Considerando que os gêneros discursivos veiculados nas mídias, segundo Todorov (1980) são carregados de magia e que trazem consigo, uma fórmula que atrai o leitor-espectador também para o universo de deleite. É justo, portanto, que a escola estude esse material com o mesmo entusiasmo de seus produtores.
Ainda conforme Todorov (1980, p. 424) a criança ao ser estimulada pela leitura de textos variados, sobretudo os que estão fora do espaço escolar e fazem parte de seu cotidiano, a sensibiliza para ampliação de sua capacidade lingüística, uma vez que ela já maneja a linguagem com destreza e magia. “Ao crescer, ela não é coagida a modificar esse hábito, pois as palavras lhe asseguram sempre o domínio das coisas.”
Para Bakhtin (2002) os gêneros discursivos se caracterizam pela apresentação e construção de tema e estilo específicos. Ainda segundo esse teórico, a comunicação humana se dá com base nos gêneros, os quais são determinados tanto pelo espaço formal; escola, quanto pelo informal; mídia impressa. Considerando a tese bakhtineana de gêneros discursivos como elemento estruturador da comunicação interpessoal, Machado (2005, p.139) defende que:
O ensino de produção e compreensão de textos deve centra-se no ensino de gênero, sendo necessário, para isso, que se construa, previamente, um modelo didático do gênero, que defina, com clareza, tanto para o professor quanto para o aluno, o objeto que está sendo ensinado, guiando, assim as intervenções didáticas.

Marcondes e Meneses (2003) sopesam que através da observação e uso sistemático dos gêneros textuais nas mídias impressas, na sala de aula como instrumento de construção de sentidos é, sem duvida, uma maneira de atender ao interesse da escola; desenvolvimento da intelectualidade do estudante por meio de seus textos – livros, ensaios científicos -; e outro é de interesse do aluno, que ler o que é recorrente socialmente, bem como produz textos explorando os discursos do ambiente social.
A leitura é, enquanto prática de letramento, um meio de conhecimento e compreensão de uma realidade social que ultrapassa a idéia de simplesmente codificar símbolos gráficos (Bezerra, Loureiro & Maldonado, 2001). É através da leitura que o indivíduo constrói uma visão reflexiva e crítica da realidade na qual está inserido. Essa concepção de leitura é descrita pelos novos Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC, 1999) e as Novas Diretrizes Curriculares para o ensino médio, que propõem uma articulação entre as práticas de leitura escolar e as práticas sociais para que o aluno aprenda de forma contextualizada e desenvolva a crítica ao ler o mundo e ao escrever sobre ele. Esse é o grande desafio da escola, que vai além da alfabetização do aluno, ou seja, ensinar o domínio do código escrito. Cabe à escola tornar o aluno um indivíduo letrado, habilitando- o a usar a escrita em atividades comunicativas e culturais e a compreender o mundo de forma crítica e contextualizada. Embora o meio social e familiar sejam ambientes favoráveis ao letramento, a escola é uma grande influente no desenvolvimento de níveis de letramento. Aqui o termo letramento é tomando com elemento que tem despertado amplas discussões e gerado diferentes concepções entre estudiosos das áreas da educação, da lingüística e das ciências sociais. Para Soares (1998) isso funcionar efetivamente no grupo ou na comunidade significa compreender o mundo da escrita no qual o indivíduo está inserido. Na busca de compreender as implicações da escrita no mundo social, surgiu o termo letramento. Trata-se da versão em português da palavra “literacy”, que vem do latim “littera” (letra), com o sufixo “cy” (condição, qualidade) (Soares, 1998; Ribeiro, 2001). Sob a ótica do letramento, a leitura e a escrita são vistas não apenas como a tecnologia de registrar a fala em escrita, de decodificar a escrita em fala, mas enquanto práticas sociais que possibilitam uma melhor inserção cultural do indivíduo (Soares, 1998).

[1] Atualmente, considera-se que, para o indivíduo inserir-se em uma sociedade letrada, ele precisa ser capaz de compreender textos escritos, mesmo que não tenha o domínio do código escrito, isto é, mesmo que não seja alfabetizado. Ser alfabetizado e ser letrado são condições diferentes. O indivíduo alfabetizado é aquele que domina a tecnologia de ler e de escrever. Já o indivíduo letrado é aquele que usa funcionalmente a leitura e a escrita nas práticas sociais cotidianas, de forma a favorecer sua inserção cultural (Soares, 1998).

AMOR CARTÃO DE CRÉDITO








Você diz que me ama
e aos quatro ventos
meu singelo nome chama.


Quando lhe procuro
não a tenho...
Quando a tenho é riscoso
tal andar sobre trilho no escuro.

Dissimulada, não está
nem ai pro meu tesão.
Se rir não é pra mim, sei!
Depois do pseudo-amor
Gargalha ao relento
de olho no meu cartão.
Louca, quer saber se
ainda no banco da emoção
deixo lhe escapar
os últimos miseros tostões.
Devota ao amor medido
e pago em moeda certa,
pede meu cartão de crédito!
26 de agosto alta madrugada.


















quarta-feira, 22 de agosto de 2007

INTERNETÊS: MEDIADOR PEDAGÓGICO OU INTERFERÊNCIAS LINGÜÍSTICAS?

A mídia digital tendo como mediador o ciberdiscurso que modifica o fazer social, cultural, lingüístico e escolástico da sociedade contemporânea na qual a escola constitui-se no lócus econômico e político das comunidades de falantes, como mais uma possibilidade de ação. Uma coisa é certa: a rede digital traz para a escola uma nova linguagem com vocabulário e aspectos lingüísticos inovadores. Assim, é importante que os profissionais da educação e, principalmente, os professores da Língua Portuguesa entrem em contato com essas novas tecnologias urgentemente. Pois, sabe-se que os governos não têm conseguido atender as necessidades das escolas no que se refere à inserção dos profissionais da educação no universo da informática e, sobremodo, da rede digital. Neste ensaio busca-se apresentar à comunidade educacional, possibilidades de se usar os conhecimentos e recursos da mídia digital – parcos, diga-se de passagem - para aperfeiçoar os mecanismos de construção de leitura, de escrita e de sentido das mensagens veiculadas na “sociedade da imagem”. Quem usa a internet e seu hipertexto constitui-se em atores, cujas perspectivas há muito vêm sendo discutidas com grande insatisfação, pois as ações nesse processo são, normalmente, entendidas a partir da ótica da exclusão. Em outros termos, comenta-se que o acesso à mídia digital é uma impossibilidade por parte da massa proletária de estudantes e com isso, tem-se uma série de desequilíbrios político, social e cultural devido ao afastamento dos estudantes do saber tecnológico proposto pela rede mundial de computadores. Por outro lado, a expansão do interesse pelo uso da mídia digital nas escolas brasileiras já está defasada há décadas, e pede publicação de trabalhos tanto teóricos quanto aplicados ao ensino de linguagem na escola pública. Pensado nisso, traz-se à baila uma visão instigadora das possibilidades que a internet e suas mídias podem contribuir para a ação pedagógica dos profissionais da linguagem, quando estes se referirem às práticas lingüísticas do cotidiano, posto que, na rede digital existem hipertextos que passaram a ocupar o inconsciente coletivo, dando assim um novo entendimento à variedade de campos do saber na literatura, no cinema, na publicidade, na televisão e também na música, sendo estes entendidos sob a ótica do leitor, como elementos subjacentes à comunicação de massa. Nas próximas seções, seguem princípios teóricos e práticos que aludem à prática do professor em sala de aula, como sujeito e objeto da ação de ensinar e aprender a “navegar” nas ondas da fibra ótica e construir interatividade entre a mensagem da rede e o pensamento lingüístico e cultural dos “navegantes do oceano cibernético”. O estudante vive experiência do cotidiano lingüístico digital e com isso transfere seu raciocínio para a prática efetiva da comunicação. Tal acontecimento precisa de orientação metodológica. Portanto, o professor precisa aproveitar essas informações e fazer com o aluno transforme tal bagagem em conhecimento, por meio de uma seleção discursiva. Em outros termos, o profissional da linguagem deve atuar como mediador no processo discursivo do aprendiz, lhe informado que o uso cotidiano da linguagem prática na rede digital não se aplica ao contexto exterior (sala de aula, entrevista de emprego, paquera e, principalmente na prática escrita formal), contudo seus saberes linguísticos digitais são importantes para sua convivência na comunidade internética. Não obstante às críticas, o internetês como tem sido chamado, é uma realidade e por isso precisa ser entendida e apreciada como tal. Se se quer a compreensão de que a língua evolui conforme a sociedade que a pratica avança tecnologicamente, eis ai o resultado; a linguagem prática na internet seja qual for sua maneira traduz de forma singular o processo de modernidade. Dessa forma, a escola, principalmente, no que se refere ao ensino-aprendizagem de língua portuguesa ficou inerte, uma vez que professores de “língua portuguesa” ficaram presos a conceitos superficiais da língua, tendo inclusive engessado o idioma de Machado de Assis às regras gramaticais. O que impressiona na prática lingüística internética são os números. Conforme pesquisas realizadas recentemente, o número de usuários desse veículo aumentou significativamente e, por isso, a comunicação e a língua por eles utilizada têm mostrado avanços no que se refere à dinâmica lingüística. Para Silvia Marconato( 2006), no Brasil, um batalhão de 15 milhões de usuários troca 500 milhões de mensagens por dia por meio do Messenger (MSN), o comunicador instantâneo da Microsoft. O Ibope/NetRatings divulgou em janeiro que o internauta brasileiro continua sendo o campeão mundial da navegação, com uma média de 17 horas e 59 minutos, deixando para trás Estados Unidos, Japão e Austrália. Assim sendo, a revolução do internetês é uma realidade e, portanto, nós, professores de língua portuguesa necessitamos “conectarmos” às suas variantes para na perdermos o rumo e a dinâmica da língua porque a “simplificação da grafia e uso de símbolos aplicam liberdade da fala à escrita; efeito sobre a sintaxe dos jovens pode não ser catastrófico como se imagina” afirma o lingüista Ataliba de Castilho. Num trabalho denominado O professor de português junto ao aluno, usuário de sala de bate-papo na internet (2004), publicado no livro prática de linguagem no contemporâneo discute-se a relação do professor de língua, o aluno e escrita praticada pelos jovens, a partir de princípios da lingüística, tendo no pensamento de Pretti, (2003) o qual assegura que: “a língua funciona como elemento de interação entre individuo e sociedade em que ele atua. É através dela que a realidade se transforma em signos, pela associação de significantes sonoros a significados arbitrários, com os quais se processa a comunicação lingüística” (Pretti, 2003. 12 apud Barreto, 2004, p. 15). A produção lingüística dos internautas tem tirado o sono dos puritanos da língua. Entretanto, tem havido uma preocupação saudável por parte dos estudiosos contemporâneos da língua no sentido de alerta aos professores e, consequentemente aos jovens que, tal prática tem como contexto apenas os ciberespaços. Então, sua realização fora desse contexto soa como erros, devido à permanência da gramática reguladora da produção escrita e, às vezes da fala. Por fim, acredita-se que o internetês configura-se como um mediador da prática lingüística contemporânea, embora seja vigiado pela norma padrão da língua. Não obstante, aos caprichos dos estudiosos ortodoxos da língua os quais o considera como interferência negativa na produção culta, uma vez que já temos muitos problemas no uso da língua padrão. Segundo Chierchia “as línguas, por trás de sua fluidez, têm um esqueleto lógico, e ele permite que nos compreendamos”. Então, é por isso talvez que nos preocupamos com a produção lingüística dos internautas, porque não conseguimos interagir com eles. Tal fato nos tira a ‘autoridade’ que antes detínhamos ao promover a língua no variante padrão (escrita literária) à condição de mestra da boa comunicação e, sobretudo, instrumento de erudição.
Bibliografias
BARRETO, R. P. Práticas de linguagem no contemporâneo. Tangará da Serra: Sanches, 2004 BARRETO, Robério Pereira; BALDINOTTI, Sérgio, Ciberdiscurso e interculturalidade na Web. 2005

NOVELA: RETRATO IDEAL DO COTIDIANO

Antes, porém, afirmo que não tenho intenção de fazer um discurso acadêmico sobre a novela. Apenas discorrei sobre alguns pontos que considero interessantes para que os espectadores possam se orientar quanto à radiografia que os autores e atores fazem do cotidiano, por meio das novelas brasileiras em exibição nesse momento. A novela pode ser apreendida de muitas formas, contudo chamo atenção para dois fatos importantes: a) todas as representações realizadas pelos personagens são verdades que poderiam ser, ou seja, aquilo é o ideal de vida que todos nós pretendemos ter. b) as novelas estão na programação das emissoras de maneira a atender as exigências da marcas que as patrocinam. Dando continuidade à primeira questão acima mencionada, eis a questão: qual é a tendência das novelas atuais? Quebrar tabus! Diriam os mais radicais. No entanto, a tendência das últimas novelas, sobretudo as globais, é trazer à baila as experiências do cotidiano, as quais marcam deliberadamente a rotina das pessoas. “Uma experiência de vida põe em jogo muito mais coisas do que nosso simples gosto, ela põe em jogo nossa própria existência e aquilo que somos.” Afirma Arnaud Guigue. Corroborando com esse lúcido pensamento, pensamos que a novela, por ser uma forma artística cujo objetivo se volta para o relato dos acontecimentos sociais, dando ênfase nas questões dramáticas que tomam conta das minorias, faz com que os espectadores se vejam e, também, criem para si uma maneira ilusória de vida – pelos menos enquanto a novela está no ar – e nesse momento passa a aceitar comportamento que jamais na vida real seriam admissíveis em suas vidas práticas. Exemplifico: Na novela que acabou ontem, tivemos durante 209 capítulos, um misto de romance policial de má qualidade com melodrama cotidiano: Mulher rica que se apaixona por um homem pobre, mas é desprezada por ele estando grávida. Para se vingar, ela oferece a criança à adoção. Pois, bem esse foi o enredo principal da novela de Silvio de Abreu. Se se quiser ser mais dramático ainda, lembremo-nos que esse tipo de acontecimento é a rotina da vida real, inclusive, temos ainda a memória recente, o caso da mãe mineira que jogo a filha na Lagoa da Pampulha, Belo Horizonte – MG. e a crinça foi resgatada por transiuntes. Isso é a novela da vida. Ou parafraseando Nelson Rodrigues, essa é a comédia da vida publica! Contudo, todos somos atores reais e, portanto, temos a vida como palco onde tudo é ao vivo. O público são espectador e juiz ao mesmo tempo, exarando a sentença ao final do primeiro ato. Por isso, a novela e seus personagens – herói e vilão são para nós – um espelho no qual vimos refletir a cada novo capítulo. De tudo isso decorre da nova perspectiva cultural do espectador com as histórias e personagens mostrados na novela, embora a distância entre o real e o ficcional seja tênue há quem afirme que, às vezes, as pessoas elegem para si a maneira de viver e ver “esfera publica” tal qual o personagem em destaque em tal trama novelística. Lembremos por exemplo à manifestação lingüística do personagem Geovani Improta, a forma debocha e pedante de Bia Falcão ao tratar as personagens do núcleo pobre de Belíssima. Essa e outras maneiras têm em si uma mensagem subliminar que nem sempre é vista pelo espectador incauto, o qual se volta para aquilo que, de fato dá sustentação à novela; estilo de vida, moda, viagens, comportamentos sexuais, etc., porque é nessa alienação que os patrocinadores inserem seus produtos, criando necessidades imaginárias nos espectadores que vai de adolescentes à dona de casa. O perfil do atual espectador de novelas no Brasil não mudou muito da década 70 para cá, pois segundo Mário Sérgio Conti em Notícias do planalto (1999), Sánchez obteve através de pesquisas o perfil das pessoas que fazem à audiência da televisão, principalmente da novela: “mulher, casada, com pouco mais de trinta anos, tinha filhos pequenos, era religiosa, romântica e, o decidia tudo o que se comprava na casa, da marca do fogão à roupa do marido e à comida das crianças.” Eis, ai o porquê de termos novela das 18 às 22h. Tendo sumarizado o primeiro tópico, chegamos ao ponto no qual pretendo mostrar como os anunciantes se posicionam em determinadas novelas em detrimento de outras. Na verdade, cada discurso televisivo tem seu público delimitado. Então, pensemos: Porque será que as grandes marcas de produtos de beleza, limpeza e carros preferem os intervalos da novela das oito? Resposta obvia: Maior audiência, porque é nesses horários que os maridos chegam a casa e, junto com a família assistem à trama. Instantes em que se manifestam as identidades e desejos imaginários nos quais conflitos familiares e pessoais ganham destaque, porque se tem nas personagens da novela uma referência. – a minha vizinha tem um fogão igual ao que à personagem tal faz comida, então quero um também – diz a mãe. Minha amiga na escola, tem uma sai igual à Roberta do RBD, pai eu quero uma também! – comenta a filha. E assim, se fecha o ciclo econômico e exploratório criado pela telenovela. Nela a imagem, a trilha sonora, o tom de voz, a linguagem corporal do atores em cada núcleo está consociado com o tipo de patrocinador que irá aparece entre uma parte e o intervalo da novela, completando assim o horário novelístico da televisão. Hodiernamente, de maneira subjetiva, os autores têm colocado em suas tramas questões de comportamento sociais significativa, principalmente no que se refere à sexualidade, religião, política e, principalmente, dramas individuais. Que me perdoem à memória, mas já faz algum tempo que temos nas tramas das oito, relacionamentos homoeróticos, porém é tão falso moralista que dar dó. Por exemplo, na trama de Abreu tivemos um par homoerótico feminino. (Não estou defendendo que se tenha na televisão mais baixaria, ao contrário, acho que esses temas devem ser tratados com respeito, mostrando ao espectador que tal questão é presença real na sociedade e, que todos devem respeitar). Afinal, não temos liberdade de expressão? Então para que tratar desses episódios com divagação? Por outro lado, Tivemos a oportunidade de refletir sobre uma coisa muito; a presença da prostituição masculina, fato que até então, viu-se à presença feminina nesse papel. Enfim, caro espectador de novela, tente ver o que está alem das imagens de lugares, rostos e corpos nus, refletindo sobre o cotidiano no qual a novela real é muito mais interessante do que está “mentira” que nos absorve durante horas diante da televisão. Preferi à discussão com seus familiares dos temas propostos pela teledramaturgia à alienação por produtos ou padrões de beleza e comportamentos morais, sócias e sexuais. Seja um leitor competente e crie para si e seus familiares momentos de descontração nos diálogos reais entre todos! Até porque ao termino da novela tudo que foi discutido sai da moda! Ou será que alguma madame, na sociedade na qual vivemos teria coragem de assumir publicamente uso de serviço amorosos pagos e que preferem meninos ao invés de relacionamentos conservadores? Por fim e discordando de um articulista que publicou num site renomado, um texto o qual traz o título: novela tem o final sem vergonha da história. Digo: talvez esse tenha sido o final de novela, no qual, algumas personagens retrataram realisticamente aquilo que a sociedade pretendia, sobretudo no plano da justiça, dos comportamentos pessoais e sexuais. Convenhamos; qual o quarentão que não fantasiaria tem em seus braços uma ninfeta como as que tiveram o personagem Alberto e seu (sogro e genro); qual a mulher que não têm dentro de si uma Safira da vida, e deseja sempre um Pascoal? Qual a vovô que não sonha de vez enquando com Matheus na sua cama sem complexidade? Conforme anunciei no título, a novela é retrato em cores do cotidiano, porém, somos daltônicos e não identificamos as cores nela contidas. Robério Pereira Barreto, em 08 de julho de 2006.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

TEXTO: ARQUIVO SÓCIO-CULTURAL

O texto é mais que um tecido cujas partes se entrelaçam a partir da organização das sentenças. Na verdade, ele é uma miscelânea de informações na qual estão dispostos elementos históricos, culturais e políticos construídos sob a perspectiva da linguagem que, às vezes, vai além e se traduz em metalinguagem.
Para Kleiman (2000, p. 07) é fundamental que o sujeito adquira o hábito de ler o mundo através da apreensão de “um conhecimento dos aspectos envolvidos na compreensão e das diversas estratégias que compõem os processos”. Sendo que tais processos se dão por meio das relações estabelecidas entre o que o texto diz e o que está associado à memória social. Logo, todo procedimento de leitura deve ser associado à releitura dos acontecimentos históricos, sociais e culturais onde ele foi originado.
O texto enfatiza os aspectos cognitivos da leitura, porque consideramos que a percepção de, bem como a reflexão sobre o conjunto complexo de componentes mentais da compreensão contribuirão, em primeira instância, à formação do leitor e, conseqüentemente, ao enriquecimento de outros aspectos, humanísticos e criativos, do ato de ler. (KLEIMAN, 2000, p. 9).
Dessa maneira, o ato de leitura, sobremodo, de textos literários precisa seguir o processo de metalinguagem, isto é, o leitor se posiciona na leitura conforme os tempos enunciados no discurso, adentrando assim aos universos lingüísticos forma de escrita e construção de sentidos empregados na linguagem da obra; cultural observar-se-ão os aspectos do cotidiano no qual, o homem e a sociedade são retratados via escrita -; além das questões políticas e ideológicas usadas pelo autor quando da escrituração de sua obra. Essa atividade acontece através de metacognição a qual segundo especialistas é o processo de “reflexão sobre o próprio saber, o que pode tornar esse saber mais acessível a mudanças.” afirma Kleiman.
Com essa perspectiva, o leitor por sua vez é agente histórico da leitura e ao longo de sua existência interage com ambientes sociais e culturais, nos quais sua memória discursiva e cultural vai se construindo de acordo com os estímulos recebido durante a interlocução praticada na comunidade. Então, afirma-se que tal sujeito é detentor de certo grau de conhecimento prévio e, portanto, está apto a produzir sentido ao realizar uma leitura dentro do seu contexto sócio-político e histórico-cultural. Conquanto seja necessária a prática diária de leitura na qual se busca agregar novos conceitos, valores e, consequentemente, a assimilação de vocabulário para melhoria de sua prática lingüística. Isso só acontecerá segundo Kleiman (2000), se o leitor estiver disposto a estender sua capacidade reflexiva, pondo-se em destaque e associação com objeto lido “o conhecimento adquirido ao longo de sua vida.” Então, Dessa forma acontece aquilo que Kleiman considera a: interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. [...] este conhecimento abrange desde o conhecimento sobre como pronunciar português, passando pelo conhecimento de vocabulário e regras da língua, chegando até o conhecimento sobre os usos da língua. (Kleiman, 2000, p. 13).
Mediante essa assertiva, infere-se que na medida em que se ler há assimilação de elementos estruturais do texto e, também, da cultura à qual ele se reporta. Portanto, nesse ato, leitor assume papel importante dando ao texto novos significados, ou seja, atribui-lhe sentidos de acordo com novo setting de leitura, pois se fazem associações do enunciado com o novo ato de enunciação, formando novas expectativas a respeito do assunto tratado no texto.
No que se refere à leitura de peças literárias existem dois modos de se ver a construção do ato de ler: “Leva em conta os leitores na sua diversidade histórica ou social, coletiva ou individual; outro, a imagem do leitor tal como ela se acha representada em alguns textos.” (Todorov, 1994, p. 83). E já Kleiman considera essa questão a partir do conhecimento lingüístico, histórico e cultural do leitor a respeito do texto lido, porque tal saber leva ao processamento das informações presentes no objeto. Assim sendo, o processamento é entendido como: atividade pela qual as palavras, unidades discretas, distintas, são agrupadas em unidades ou fatias maiores, também significativas, chamadas constituintes da frase. À medida que as palavras são percebidas, a nossa mente está ativa, ocupada em construir significados, e um dos primeiros passos nessa atividade é o agrupamento em frase...
A memória discursiva do agente de leitura ao encontrar no texto marcas lingüísticas (tempos verbais, adjetivos e predicação), culturais (eventos, festas religiosas, sociais, personagens e costumes, etc.) faz associação com o presente da leitura, ou seja, transfere para a atualidade os sentidos criados pelo autor quando da enunciação do texto. Por exemplo, ao ler uma passagem bíblica o fiel transfere (às vezes de maneira pessoal) as informações nela contida para sua realidade, dando assim uma conotação de verdade ao evento lido. Esse processo segundo Celso Antunes (2001) ocorre porque o leitor atingiu um nível de maturidade importante, transformando dessa forma informação em conhecimento.
Há ainda de se destacar o papel dos meios de comunicação na propagação das informações no meio social, através do qual se constrói a memória discursiva do homem moderno. Tal questão incentiva nos à produção de conhecimento, porque à maior parte dos sujeitos estão ligados a vários mecanismos que propagam a informação em tempo real. (Lembramo-nos dos episódios das guerras no Oriente Médio, estas foram transmitidas via satélite para todas as casas do mundo).
Para Celso Antunes tudo isso exige do profissional da linguagem uma nova formação, isto é, além de aprender as questões específicas de sua área de atuação, o professor deve buscar per si, meios com os quais possa agregar sentidos às suas novas descobertas. “o professor precisa ir também se transformando em um analista de símbolos e linguagens, um decodificador de sentidos nas informações e, também, o profissional essencial do despertar das relações interpessoais.” (ANTUNES, 2001, p. 13).

REALIDADE-FICÇÃO NAS MÍDIAS INTEGRADAS

A imagem na sociedade segundo nos apresentou Mikail Bakhtin nos idos de 20, é uma duplicidade da realidade, pois faz dela um (re)apresentação da realidade através do signo, o qual foi definido pelo pensador russo como espelho, o qual reflete e refrata a qualidade do corpo nele projeto. Todo signo é, em maior ou menor medida, uma espécie de imagem especular: o signo não é apenas um corpo físico que habita a realidade, mas também é capaz de refletir essa realidade de que ele é parte e que está fora dele.
A realidade refletida nesse espelho, leva nos à compreensão de que há uma valorização da imagem em detrimento do corpo real. Assim, há um tipo de fissura que, às vezes, não é preenchida pela interpretação do leitor.
Por isso, é que se aperfeiçoa cada vez mais a comunicação via tela, ou seja, as imagens produzidas e reproduzidas na televisão, no cinema e, principalmente, na internete seguem um padrão técnico cujo paradigma é preencher os espaços entre o signo e o objeto representado por meio de cores em que se destacam a definição e a roupagem do objeto. (Basta-se ver as matérias dos programas sensacionalistas, as quais seguem a máxima: uma imagem fala por mil palavras, por isso são apresentados ao espectador/leitor imagens em tempo real, fazendo com que as tragédias do cotidiano se tornem elementos comuns, impedindo qualquer ato de indignação).
Para Baudrillard (2005, p. 40) esse tipo de acontecimento leva a sociedade real a desinteressar-se pelas ações da classe política e das instituições. Contudo eles não deixam de desfrutar o espetáculo que, direto ou indiretamente promovem diante das câmaras, após as tragédias cotidianas. Dessa forma, ainda segundo o filósofo francês, a mídia serve enfim para alguma coisa e a “sociedade do espetáculo” tira todo o seu sentido dessa feroz ironia: as massas concedendo-se os riscos da corrupção das instituições e Estado mantêm se atentas aos acontecimentos, dando audiência à representação social e política criada pelos signos televisivos.
A realidade (re)apresentada na mídia é quase ficcional, pois a forma como os fatos são expostos em suas grades televisivas, de algum modo, trouxeram benefícios à classe política à qual, embora apareça em todos os cantos do país em tempo real, conforme Thompson (1998, p. 19), o desenvolvimento da mídia transformou a natureza da produção e do intercâmbio simbólicos no mundo moderno. Portanto, os meios de comunicação de massa têm uma dimensão simbólica irredutível e, por isso, o homem é um animal suspenso em teias de significado que ele mesmo teceu.
Simbolicamente, estas teias são emaranhadas de significações possíveis, apresentados ao leitor-espectador, o qual deve, a seu modo, interpretar a gama de “realidades” a ele apresentada através dos meios que, segundo, havia asseverado MacLuhan (1962), embora tenha sido constestadamente pelos pares; “que o meio é a mensagem.” Se se quer tomar esta questão sob a ótica da amplitude tomada pelos meios de comunicação de massa, ver-se, portanto, nesta afirmação o grande poder de persuasão que a televisão tem sobre os espectadores incautos, o qual aceito de forma passiva semi-realidades que lhe chega a casa com dia e hora marcados.
Dessa maneira, a realidade transforma-se em ficção e vice-versa justamente para atender às necessidades do momento televisivo. Como exemplo, tem-se as coberturas ao vivo das ações policiais transmitidas pela imprensa digital em tem real, criando no espectador-leitor infinitas possibilidades de inferência. Contudo, na verdade, esta se dar pela via mais sangrenta, ou seja, platéia parece se deliciar com imagens e discursos que primam pela polêmica e, sobretudo por aqueles que formam o coro da tragédia, isto é através de um apresentador cuja intenção é discutível se chora em uníssono uma nação inteira.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

QUIS ASSIM...


QUIS ASSIM...

Fui eu quem quis assim:
Você lindamente sorriu
E meu ser partiu
Tal terremoto faz
Com a terra deixando
Seu imo exposto,
Com medo e frio.

Logo me apaixonei
Por sua beleza
Enigmática e sem fim.

Amar-te é minha sina
E o que posso fazer?
Se seu sorriso é a luz
Alumia o meu amanhecer.

Fui eu quem quis assim:
Ter a solidão de ti
A judiar-me tal fogo
No cerrado queimando
Lentamente o frágil capim.

16 de agosto de 2007, 20h25min

(Robério Pereira Barreto)

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

PROTESTO DE PAIXÃO

Sua beleza alumia
Tal fosse luz dia
A me guiar
No escuro da solidão
Que coração judia.

Seu sorriso chameja
Tal farol que
Na tempestade
Orienta o náufrago
Quando lampeja.

Sua boca sibila
Hinos de amor
Qual Calipso encantou
O herói navegante,
Fazendo-o seu adorador.

Suas mãos ameigam
A alma tal colcha
De veludo que o corpo
Cansado acolhe
E serena aconchega.

Seu amor queima
Tal vulcão que acorda
De letargo torpor
E loucamente declara
A ti todo seu amor.
15 de agosto de 2007, 21h06min
(Robério Pereira Barreto)

terça-feira, 14 de agosto de 2007

ENIGMA

ENIGMA
(Robério Pereira Barreto)
Coração, universo
Que nos protege das maldades
Do mundo perverso

Braços, quentes e macios
Guardam-nos das perversidades
E inquietudes do que está perto.

Boca, nascente de água pura
Banha-nos com juras
De amor eterno.

Mãos, fórceps de aço
Que nos puxa dos momentos
Difíceis e próximos do fracasso.

Pés, máquinas potentes
Que limpam os caminhos da vida
Para nossas às andanças mundo a fora.

Olhos, Faróis de luz potente
Que iluminam as alamedas
Escuras da noite-mundo
Guiando-nos ao encontro da aurora.

domingo, 12 de agosto de 2007

AUSENTE ENCANTO


AUSENTE ENCANTO
(Robério Pereira Barreto)

Na solidão da vida
Aparecestes...
Com luz nos olhos
Maciez na voz
Calor no beijo
Fazendo-me feliz.

Nesse jogo de amor
E veneração me fez
Seu adorador.

Sem juízo
Ficou louco
Por não ter você
Para, em carícias,
Deleitar-nos com
As chamas quentes
De amor de fogo.

12 de agosto de 2007, manhã de ausência...

AFLIÇÃO

AFLIÇÃO
(Robério Pereira Barreto)
Tal meteoro em noite negra
riscastes o meu céu
com a luz de vida,
Alegria....

Descortinados,
meus olhos
que eram tristes
e cobertos por negro véu,
agora, irradia luz
nas manhas ensolaradas
como se rissem ao leu.

Quando me deixou partir
cobriu meu coração de luto
aceitando tal absurdo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

AVANTESMA


AVANTESMA
(Robério Pereira Barreto)

Do negro manto da noite
Desenrola-se em rito triunfal
Rosa de pétalas lívidas
E perfume catedral...

Embriagados, os sentidos
Perdem o rumo...

O coração alvoroçado
Lamenta em gemidos...

Os olhos dilatados
Apreciar nascimento
De rara beleza em noite
De carregado céu...

As mãos trêmulas
Relutam tocar em fina pele
De tão belo e frágil ser...

Impávidos e desalinho
Os pés movem-se
Procurando levar
Especial ser
À luz do amanhecer...

Ante a estúpida formosura
Esmaece cai em torpor,
Loucura!

10 de agosto de 2007, 21h 11min

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

CONVERSAÇÃO: A (RE) COMPOSIÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL

A produção intelectual e cientifica na/da Universidade precisa ser vista como um apêndice da vida cotidiana. Assim sendo, O dicionário oral lingüístico da microrregião de Irecê vem ao encontro da necessidade de se ter um registro das expressões lingüísticas, no qual fiquem anotados os resultados das atividades de pesquisas e ensino e extensão, desenvolvidos por docentes e discentes no âmbito regional, uma vez que a Universidade tem em seu quadro docente e discente uma heterogeneidade de pensamentos e culturas advindas de várias cidades da região de Irecê, podendo realizar por meio de produções escritas, o mapeamento lingüístico e semântico dos discursos proferidos pelas comunidades locais, uma vez que estas diuturnamente recriam novas expressões a partir de vocábulos extraídas das experiências de fala cotidiana, dando-lhes conotações que se ajustam aos seus processos comunicativos, determinando ainda os lócus para seus devidos usos.
Em verdade, O dicionário oral lingüístico da microrregião de Irecê surge como espaço de divulgação do saber empiricamente construído pelos falantes da microrregião de Irecê. A partir de agora se torna saber científico, pois estudantes e professores do Colegiado de Letras do Câmpus XVI, o concretiza com intuito de auxiliar os profissionais da educação engajados em melhorar suas práticas educativas e lingüísticas, entretanto, não dispunham de meios que pudessem lhes orientar na discussão uso de idéias inovadoras no ensino de linguagem no cotidiano de sala de aula.
Dessa maneira, esta obra técnico-lingüística justificar-se-á ao devir, isto é, conhecer-se-á o que de fato O dicionário oral lingüístico da microrregião de Irecê representa para a comunidade acadêmica e educacional quando os conteúdos de seus verbetes forem discutidos pelos professores e, conseqüentemente colocados em prática na sala de aula e no diário das estudantes do ensino básico numa tentativa de melhorar a qualidade da educação lingüística do povo que a realiza livre mente, sem, contudo, entender a importância de tais vocábulos na (re)composição da identidade da sociedade, a qual, por seu turno, é resultante da “diáspora da diáspora”, isto é, sertanejos que migraram de outras partes do nordeste, chegaram a Irecê e tiveram a oportunidade de se fixar por algum, outros fizeram dessa região apenas ponto de paragem para, mais tarde, seguirem seu curso migratório, conquanto neste ínterim, deixaram como herança, expressões regionais que passaram a compor o repertório lingüístico e semântico da comunidade local.
Como se sabe, a produção lingüística de um povo é “bem simbólico”, assim como os são: a cultura, a literatura e as artes. Portanto, a elaboração desta obra os estudantes-pesquisadores partiram da perspectiva teórico-metodológica de que a compreensão da linguagem produzida e exercitada por determinada comunidade é a referência que a comunidade científica tem para compreender a gênese de seu usuário. Então, O dicionário oral lingüístico da microrregião de Irecê se insinua neste objetivo; mostrar aos profissionais da educação básica, profissionais das letras, da cultura e pesquisadores interessados no assunto que “língua é uma capacidade inata do homem, que lhe permite reconhecer as sentenças, atribuindo-lhes uma interpretação semântica, ou produzir um número infinito de sentenças, atribuindo-lhes uma representação fonológica.” (Castilho, 2004, p.11).
O glossário em questão faz-se científico, à medida que traz expressões do falar sertanejo para o espaço da escrita. Em seguida, faz dos turnos conversacionais correntes no sistema lingüístico local, marcadores da identidade desse povo, cuja tradição e cultura são passadas por meio da oralidade, isto é, o homem do agreste ao longo dos séculos garantiu a sobrevivência estilística e estética de sua linguagem usando a conversação como tecnologia para informar aos seus a respeito dos acontecimentos que o trouxe até aqui. “A conversação é uma atividade lingüística básica. Ela integra as práticas diárias de qualquer cidadão, independentemente de seu nível sócio-cultural. A conversação representa o intercurso verbal em que dois ou mais participantes se alternam, discorrendo livremente sobre tópicos propiciados pela vida diária.” (Castilho, 2004, p.29). Ainda seguindo este raciocínio, é interessante que se veja a importância desse trabalho sob inferência que do valor que a oralidade tem na vida do “homem do povo”, porque a “conversação é a primeira das formas da linguagem a que estamos expostos e provavelmente a única da qual nunca abdicamos pela vida a fora” (Marcuschi, 1986, p.14).
A partir desta tese e, sabendo que os elementos conversacionais são intermináveis e, melhor ainda, gratuitos; os organizadores de O dicionário oral lingüístico da microrregião de Irecê verificaram também como os verbetes são segmentados conforme mapeamento feito durante a pesquisa. No município de Barra do Mendes, os falantes dão sentidos diferenciados para os mesmos vocábulos usados pelo povo da cidade de Central, visto que ambos são resultantes de processos de colonização diferenciados. Diante disso, o leitor terá oportunidade de compreender o porquê das pessoas usarem as mesmas palavras com sentidos diferentes em contextos conversacionais também distintos.
Com a publicação desta obra, os profissionais da linguagem e estudantes de letras e interessados no assunto passam a ter uma referência científica para edificarem suas opiniões sobre a produção lingüística do homem do sertão, o qual em sua complexidade é “antes de tudo um artesão da linguagem” dando à língua nacional beleza estética que a faz diferente das demais vertentes praticadas no território brasileiro. Portanto, a despeito de sua natureza acadêmica O dicionário oral lingüístico da microrregião de Irecê apresenta poeticidade em seus verbetes, em virtude da autoria das expressões advirem dos “homens do povo” o qual transformou e adapto lingüístico e semanticamente procedimentos complexos da língua, em matéria de “saber popular” através dos quais, a sociedade indistintamente se delicia em longos e demorados banquetes conversacionais em meio à apreciação da vida simples e bela do sertão.
Robério Pereira Barreto
Professor-Poeta e escritor
Em Crepúsculo frio de 08 de agosto de 2007.

domingo, 5 de agosto de 2007

VERSOS PALINDRÓMICOS


ANDE...
(Robério Pereira Barreto)

odnçaor zov evaus auA
sodviou suem soaA
zeicam a ritnes é
odulev orbur od
em-odnaiciraca
adasnac amla a.

Sua suave voz roçando
Aos meus ouvidos
é sentir a maciez
do rubro veludo
acariciando-me
a alma cansada.

Seu caloroso carinho
incendeia minha pele
é meteoro que cai na campina,
iluminando o céu
com chamas colossais.

Seu perfume embriaga
meus sentidos
é alfazema espalhando
sua presença no ar,
causando suspiros
faz-me viajar no
além do mundo...
daí fico mudo
aos poucos me desnudo
porque levo na viagem
sabor de beijos impuro.


05 de agosto de 2007, 21h 44min.

SEIVA DA PAIXÃO

SEIVA DA SOLIDÃO
(Robério Pereira Barreto)

A solidão é água de ribeirão
Que ao ser presa na concha da mão
Da um jeitinho e foge entre os dedos
Procurando juntar-se ao mar;
Para isso quebras as barreiras que há.

A prisão da alma por um amor
Que no caminho malfadou é tentativa vã;
Porque controlar a vontade da alma
É sufocar grito do vulcão roncador.

Então, a solidão que há aqui
Tornar-se-á um furacão no devir,
Bastando isso você surgir diante mim
Com sorriso maroto no rosto
E balançar faceiros nos quadris.

Isso me torna seu prisioneiro
À espera do encontro verdadeiro
Nem que para isso tenha que viver
Na masmorra solidão onde a alma
É regada como se fosse jasmim.

Portanto, eu não vivi até aqui
Para deixar evadir-se de mim,
Por entre os dedos como seiva capim
Que ao ser esmagado nas mãos
Geme sufocado até o fim.

13 de setembro de 2006, 22h24’


VENDEDOR DE PAIXÃO
(Robério Pereira Barreto)

Solitário nas esquinas e avenidas,
ou acompanhando na multidão de bares,
está o vendedor de flores,
trazendo nos braços vários amores;
perfeitos e, às vezes mais que perfeitos
são lírios e margaridas.

As flores com seus perfumes e cores se misturam
entre os sabores das paixões reais
e aquelas cuja formosura será despertada
no desabrochar de um copo de leite.

Os corações afloram diante da poesia
aveludada da rosa vermelha
e lírio cor de aquarela
que toca alma dos amantes
mesmo em momento de querela.

Oh, preciso comprar uma paixão
Para alegra meu coração!
Cadê o vendedor de flores
Que traz nos braços novos amores?

Quero o amor mais perfeito
Que dê a esse peito o pulsar
De infante diante da emoção primeira.

(...)

Sei que se não encontrar o vendedor
Posso ficar para sempre com a dor
De um amor que aos poucos se acabou.

LUAR DE AGOSTO


LUAR DE AGOSTO

Quem averbou que a lua
não é uma artista se enganou
porque o luar de agosto se superou
e entre os galhos e folhas do bambuzal
eximia escultora se declarou;
seu rosto esculpiu
com brilhos com de anil.

Agora, fico sozinho a contemplar-te
até que a lua se canse de expor
sua a obra maior, sua beleza.

Como espectador
amante de tal arte
Espero que as portas do museu
da noite se fechem
E a lua como boa anfitriã
me convide a sair,
Prometendo que amanhã tudo irá repetir.

11 de agosto de 2006, 00h 01’
Robério Pereira Barreto

sábado, 4 de agosto de 2007

ESCADA

ESCADA...

A cada passo no degrau da vida,
Sinto que aos poucos me distancio do começo
Mas, não me aproximo do fim.

A escalada para futuro é incerta...
tem início mas
impossivel enxerga o término
de tão impreciso.

A cada degrau vencido,
novos e aos milhares vão surgindo,
tornando-me estático...
Voltar não posso
todos os caminhos foram destruídos,
seguir para o topo é meu destino
não me tenho forças para vencer
os incansáveis
jovens degraus da caminho.

BÁLSAMO DA SOLIDÃO


BÁLSAMO DA SOLIDÃO
(Robério Pereira Barreto)

É noite...
O aroma da escuridão
Toma minh’alma
Como se pedisse perdão
Por invadi-la sem permissão.

Em prantos e lamento
Recolho minha abantesma.
À clausura de meu imo
Tal perseguido menino
Pelo fantasma da noite.

É madrugada...
O eco da aurora
Acorda-me com o cheiro da manhã
Penetrando em minh’alma
Lança pagã.

O aroma da solidão escorre
Nas ventas e entre os dedos
O sumo do prazer
Liquefaz e morre...

Martirizando-me em cobiço
A ti e vejo nosso amor esvair-se
Nos caprichos de...

O aroma da solidão
Entranha meu espírito.

Seu cheiro sacrifica-me
Alma tamanho desespero
De manter pulsando esse
Coração condenado ao desterro.

04 de agosto de 2007, 22h35min

DESVAIRO


DESVAIRO
(Robério Pereira Barreto)

É noite de lua clara
E tudo se parece
Em alvas sombras.

A luz afiada da paixão
Atravessa-me tal raio
Que corta as negras nuvens
Em tarde tempestades

O alvitre de nosso amor
Nasce sob a cortina de vapor
Imenso que conduz ao frenesi
De bocas e toques cheios de ardor

(...)

Nossos corpos em atrito
Levam as almas ao infinito
Tamanho os encantos
E união de corpo e espírito,
Ser uno e límpido.

Irecê – BA, 04 de agosto de 2007.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

WEBLEITORA COMENTA: "GOSTEI DO SILICONE"

...ESSE SILICONE QUE VEM SERVINDO DE ANTI DEPRESSIVO, UMA ESPÉCIE DE "ENGANA BOBO", A ILUSÓRIA FELICIDADE DA PERFEIÇÃO, UM CONTENTAMENTO " PALHACÉTICO" DE QUEM SABE NA REALIDADE COMO É NA VERDADE POR DEBAIXO DOS PANOS, OU SEM PANOS!!!! E A CONCORRÊNCIA PELOS PEITOS E BUNDAS ARREDONDADOS, PONTIAGUDOS E PERFEITOS É A BOLA DA VEZ!!!! QUE NÃO TEM TÁ POR FORA!!!!! É A MODA DO PAÍS DAS BUNDAS! EU PARTICULARMENTE PREFIRO MEU CORPO NATURAL COM OS CUIDADOS SAUDÁVEIS QUE ELE MERECE. PREFIRO 'SILICONAR" MINHA MENTE, MEUS CONHECIMENTOS, MEU SER COMO ALGUÉM QUE BUSCA FELICIDADE E SATISFAÇÃO COM OUTROS PREENCHIMENTOS... ISSO SIM DÁ PRAZER!!!!!! BJOS ROBÉRIO, GOSTEI DO SEU TEXTO!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

VEREDAS DA VIDA


No meu sertão solidão
tudo parece em desalinho...
ando em desatino
e busco sozinho abrir caminho
entre os espinhos da vida.

A cada novo passo
em movimento que faço
sou espetado pelas
dores e securas do sertão,
onde o dia se confunde
com calor do deserto,
dando me a morte por certo.

Eis que surgiu você
anunciando ao longe a vida;
lá estão as veredas
em meio a terra seca,
de onde brota do seio da natureza
a sangue que dá vida
ao coração do sertão; água.

As palmeiras da esperança,
da paixão indicam vale a pena viver
as dores e feridas sofridas na caminhada,
sempre há veredas no deserto da solidão.
Robério Pereira Barreto
01 de agosto de 2007. 22h48min.

MORIBUNDO


MORIBUNDO
(Robério Pereira Barreto)

Que os raios amenos
dessa última aurora de primavera
aqueçam-me meu rosto;

Tal o beijo do amante
na face rubra da donzela
ao ser surpreendida na janela;

Que o sol dessa manhã
Mantenha-me vivo,
embora meu semblante
sinta-se morto
e meu espírito moribundo;

Que o torpor do meio dia
dispa-me o corpo com galhardia,
deixando-me exposto às feridas...;

Que as margaridas
no canteiro solitário da avenida
exponham-me sem medo;

O precipitar da tarde
leve-me ao encontrar da liberdade...
entretanto é no crepúsculo
que mais final maldito se anuncia.

PRA TODA VIDA



PRA TODA VIDA
(Robério Pereira Barreto)

Seus beijos?
jóias impossíveis de comprar...
prêmio o qual
fui feliz em conquistar

Seu corpo?
Monumento que pude
Sem pressa escalar.

Sua voz?
Hino que meus ouvidos
Aprenderam a apreciar

Seus passos?
Avenida pela qual
Segui a caminhar.

Seu amor?
Tesouro que aos poucos
Aprendiz a conquistar.

Você?
Mulher que todas
noite busca feliz
para amar.
01 de agosto de 2007, 22h16min

JANGADA


JANGADA
(Robério Pereira Barreto)

O coração?
uma jangada
lançada ao mar revolto da paixão
a cada amanhecer...

As ondas furiosas
lhe faz sofrer
a dor da separação.

Forte resiste às procelas...
quase incólume
volta à praia da razão.

Porém traga consigo as cicatrizes
Da solidão e instantes sem amor.

A INVASÃO DOS SILICONES

A noite parece estar viva e com isso os foliões se acumulam em praças e avenidas com tal alegria que nem percebem quão solitários estão em meio à folia. Nessa cidade-cemitério, eis me aqui a contemplar corpos e belezas artificiais pela televisão, na qual, todos os canais mostram as mesmas caras e bundas. Socorro! Salve-me da invasão dos silicones rebeldes, porque eles parecem querer saltar de peitos e bundas, cujos sacolejos não param de lhes judiarem movendo-oss para lá e para cá! Dá dó, mas meu “pênis espectador” não pode fazer nada se não babar diante de tanta fartura artificial, e deixá-lo sofrer em nome do meu deleite.
Se pudesse seria mais um a maltratá-los, dando lhes esbarrões e amassos nas concentrações dos blocos e escolas de... Em minha direção surgem com tanta exuberância que parecem me convidar a cair na folia, Resisto!
Eis que penso: Puxa! Como seria o carnaval, ou melhor, as mulheres sem o “amigo do peito e bundas” modernas, silicone? Nossa! Não quero nem pensar. Certamente seria “depressão” total. Talvez isso fosse bom para os “pênis-espectadores” solitários, pois o “Estado democrático de direito” não seria desrespeitado e não teríamos em apartamentos e casas-cemitérios justiça feita pelas próprias em nome de uma representação ideal de mulher. E a manhã como vou olhar para as minhas vizinhas cujas partes siliconizáveis não são mais aquelas coisas? Socorro! Meu “pênis-espectador” carregará um trauma que nem Freud poderá salvá-lo. Socorro! Eles estão em toda parte! Que poderá salva meu “pênis espectador” da invasão dos silicones rebeldes?

INFLA DOR


INFLA DOR
(Robério Pereira Barreto)


No meu peito
o coração infla,
causando-me dor infernal
ao recordar do instante nupcial
que entre as juras...
o amor nos fez únicos
em nossa latitude de prazer.

Agora, sinto dores
tentando dizer:
tudo se passou
não quero mais sofrer.

cada pulsar do peito
faz-me sombrio
entre dores mil;
minha alma escorre no vazio.

DO COLO À CIVILIS: “DIALÉTICA DA COLONIZAÇÃO”



O conceito de cultura é usado com acepções múltiplas, desde a mais simples e abstrata até a mais complexa e abrangente. O mesmo ocorre com termo identidade, sobretudo quando é levado ao plano cultural e lingüístico.
Nesse ensaio, busca-se discutir o primado da cultura a partir da ótica da colonização, tendo como recorte os acontecimentos ocorridos nas três últimas décadas na sociedade mato-grossense. Para isso, toma-se como referência o pensamento de Alfredo Bosi, em Dialética da colonização, através do qual se toma conhecimento a respeito dos conceitos de cultura empregados para designar as relações do homem com a sociedade atual.
Toma-se aqui de empréstimo do latim, colo que, segundo Bosi (1996, p.11), na língua de Roma, “eu moro, eu ocupo a terra, eu trabalho, eu cultivo o campo” o que se aplica à nossa realidade representa bem o movimento dialético ocorrido na comunidade mato-grossense nos últimos decênios. Ou seja, viemos para cá sob perspectiva do colo no sentido literal do termo.
Os fatos e a história do Estado dão-nos conta de que houve de maneira seqüencial “o deslocamento que os agentes sociais fazem do seu mundo de vida para outro onde irão exercer a capacidade de lavrar ou fazer o solo alheio. O íncola que emigra torna-se colonus”, pondera Bosi. Isso é um continuum no Estado porque há um crescimento da economia o qual é noticiado pela a imprensa nacional, atraindo assim a cada dia, centenas de migrantes em busca de melhores condições de vida, muito embora tragam pouco a oferecer (mão de obra nem sempre especializada) à sociedade local em termos culturais, artísticos, sociais e humanos, uma vez que o conhecimento acumulado que trazem consigo, já vem a serviço da exploração. Entretanto, “A colonização dá um ar de recomeço e de arranque a culturas seculares”. (Bosi, 1992, p.12).
Para Ferreira Gullar “o novo é para nós, contraditoriamente, a liberdade e a submissão” se se quer entender isso como iniciação ao processo dialético da colonização, observa-se, então como os nativos têm reagido às interferências das correntes migratórias no processo cultural do Estado; são indiferentes num primeiro momento, noutro agressivos. Contudo, não resistem às pressões sócio-econômicas dos migrantes e acabam deixando-se suplantar, até porque a força da corrente migratória é hibrida e, portanto, dilui-se, evitando ser atacada em suas bases.
É por isso que “a colonização não pode ser tratada como uma simples corrente migratória: ela é a resolução de carência e conflitos da matriz e uma tentativa de retomar, sob novas condições, o domínio sobre a natureza e o semelhante que tem acompanhado universalmente o chamado processo civilizatório”. (Bosi, 1992, p. 13)
Na verdade, a colonização vai aos poucos se construindo através das forças simbólicas, as quais são mediadas pelo Estado com o apoio dos meios de comunicação de massa. No caso específico de Mato Grosso, essa força foi mediada pelo próprio sistema, ou seja, foi a partir da década de setenta, que o Governo Federal incentivou a migração para o centro-oeste. Com isso, teve-se uma “invasão de íncolas” cujo objetivo era fazer a dominação dos naturais e, consequentemente, empregar tanto na terra quando na sociedade locais; hábitos e costumes advindos de suas origens. (veja-se o exemplos dos gaúchos, paulistas, paranaenses e nordestinos) que tomaram posse em diversas regiões do Estado, transformando-as em colônias para de modo simbólico manter suas tradições e origem. Portanto, “A colonização é um projeto totalizante cujas forças motrizes poderão sempre buscar-se no nível do colo: ocupar um novo chão, explorar os seus bens, submeter os seus naturais.” (Bosi, 1992, p. 15) tem razão em afiançar isso de maneira sistemática.
O colonizador vê o nativo como sujeito incapaz de promover as mudanças que ele supostamente as fariam se no seu lugar estivesse. Ainda no plano do empréstimo do latim, mudando-se, portanto de categoria gramatical; supino de colo chaga-se a culturus aqui tomado com significado amplo: Cultura é o conjunto das práticas, das técnicas dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social. A educação é o momento institucional marcado do processo. (Bosi, 1992, p. 15) Encontra-se no pensamento do autor, algo importante a ser dissecado antes de continuar a discussão, trata-se da “reprodução de um estado de coexistência social.” Isso bem entendido leva-se à percepção do por que de haver tantos centros de tradição espalhados por ai. Na realidade, esses centros tentam em sua manifestação, a busca de sua identidade, a qual já esta hibridizada e, por isso, é buscada por meio de símbolos que revelem seu poder de dominação; saber é poder, conforme dizia Francis Bacon. Será isso um reflexo da civilização cultural pós-modernidade?

“É NÓIS NA FITA!”: DA CADEIA À MÍDIA

Sabe-se que a papel da fala é a comunicação; através da qual se faz a difusão de idéias entre sujeitos da comunidade lingüística; a expressão mediadora da linguagem verbal por meio da qual se institui um sistema de significações usado pelos falantes em determinado contexto para expressarem suas identidades. Portanto, a comunicação é, de fato, o critério básico a vivencia em sociedade.
Desde tempos mais remotos até hoje foram variadas as maneiras de interações sociais promovidas diálogo. Essas formas coligiram inúmeras manifestações de linguagens, sejam verbais ou artísticas, sendo que ambas se interligaram para garantir a manutenção da cultura e das ideologias construídas em determinados momentos, garantindo assim o continuum raciona e intencional das experiências humanas.
Vygotsky (1993) ao trabalhar com a linguagem produzida pelas crianças; percebeu que desde tenra idade constrói e requer significado para sua produção lingüística, uma vez que elas atuam no plano da simplicidade. Assim, “o mundo da experiência precisa ser simplificado a fim de que a comunicação torne-se, de fato, possível, pois a experiência do indivíduo encontra-se apenas em sua própria consciência e é, estritamente falando que o sujeito é aceito e reconhecido pelo grupo. (grifo meu).
O pensamento identitário presente no discurso das massas da periferia há rompeu com as barreiras sociais e culturais das classes média e rica do país. Exemplo disso foi música (samba, funk e hip hop) que desceu o morro para fazer sucesso no asfalto. Agora, tem-se nas casas de todo país, programas de televisão que, ideologicamente, transformou a alocução do “homem do povo” em produto consumo, bem como a forma de falar e vestir, antes marginal, agora moda na novela “Vidas opostas” da Rede Record de Televisão, exibida semanalmente no horário “nobre” das famílias brasileira.
A novela sugere no título as oposições vividas por pessoas de classes sociais diferentes, incluindo-se ai ainda a questão étnica muito presente nos discursos dos personagens. É interessante destacar que, no núcleo pobre da novela estão subliminarmente discutidos problemas reais os quais fazem parte do cotidiano dos moradores das favelas cariocas e, por conseguinte, do país. Então é ai que começa a disseminação de uma produção lingüística que, para muitos se tornou uma afronta aos princípios da língua nacional, gírias.
Assim sendo, é a partir disto que se verifica a migração das gírias tanto da periferia para a classe média quanto das ruas para a mídia; o inverso também é verdadeiro. Para tanto é interessante que se veja com maior atenção um capítulo de “vidas opostas” para se perceber como a mídia vem reificando o discurso da marginalidade como se este fosse o código genético de todos os moradores das periferias brasileiras.
A metonímia do cidadão marginal da periferia é o personagem Jackson da referida novela, que mantêm sob seu controle uma favela inteira, denotando ai o poder da organização criminosa na periferia brasileira. (Pena que a população não consegue ver que em Brasília tem vários Jacksons praticando crime, porém usando outro vocabulário).
Tem-se neste recorte, a exposição da gíria (fr. argot) no cotidiano graças ao alcance da mídia televisiva através da qual se estigmatiza palavras do falar restrito a determinados grupos sociais promovendo assim à rejeição das identidades dos que convivem no mesmo ambiente, e por alguma razão não as usa como freqüência. Para Dino Preti “as gírias são resultantes da agressividade natural desses vocábulos às instituições.” Nesse plano de hostilidades estão crianças e adolescentes de todas as partes do país, inclusive daqui, sertão baiano, reproduzindo discursos apreendidos através das falas do personagem traficante “Jackson” sem ao menos saberem que se trata de expressões marginais cujo ambiente é a cadeia. Então, seria interessante que os pais percebessem isso para evitar que seus filhos usassem expressões que não correspondem a sua identidade cultural tampouco lingüística. Eis mais “agá” da mídia de comunicação de massa! “Já é”! “vou pegar o cabrito pra da um rolé porque como meu era nenhum enquadro a cavala.
Com essas e outras expressões é que a novela “Vidas opostas” segue seu curso, promovendo a disseminação de palavras cujo usuário é oriundo da cadeia. Portanto, é interessante não afirmar que nas periferias do país é assim que se fala, porque não é verdade.