quarta-feira, 29 de julho de 2009

TEXTO RECEPTIVO À POETISA MÔNICA FERNANDES

POETAS

REUNIDOS NA IMENSIDÃO DA VIDA
CONSTROEM E DISTROEM ALMAS,
MACHUCAM CORAÇÕES COM PALAVRAS
DIÁFANAS E PUERIS QUE CORTAM
PEITOS FEITO FACAS.

SOLITÁRIOS AMAM MAIS
E ODEIAM EM DEMASIA
A SI E AOS DEMAIS...

JUNTOS DESGOTAM E GOSTAM
DA VIDA QUE LEVAM;
A NOITE, ENTRE PALAVRAS E MEDOS
MARCAM O PAPEL COM A TINTA DOS DESEJOS
AINDA NO DEVIR...

ISOLADOS MORREM NA PLÂIDE
DE ESQUECIDOS NAS ESTANTES
ENTRE PALAVRAS EMPOEIRADAS,
DITAS NA PENUMBRA DE SEREM
SIMPLES SÓS.

24 DE JULHO 2009,
UNEB – DCHT – CAMPUS XVI - IRECÊ

ATE QUANDO...?

Até aonde vamos nós
Levando esse amor
Que a distância todo dia tenta,
Mas não destrói?

Até onde nos sentimos nossos
Porque à noite, para dormir
Esforço-me e penso em ti
Como se estivesse aqui?

Até quando esse querer irá resistir
Se o desejo fez-se devir,
Fazendo-me sentir seu corpo no meu
Com a força e calor de um vulcão
A explodir em...?

29 de julho de 2009. 17h
Robério Pereira Barreto

sábado, 25 de julho de 2009

INCIDÊNCIA

Ando ao leu e sinto você
Ao toque suave do vento,
Que vagarosamente me faz
Estremecer de prazer.

Flutuando no êxtase...
Nesse encontro
Caminho entre nuvens
Sentindo a alegria de fazer...

Declinando ao firmamento
Em silêncio profundo,
Declamo seu nome
Em Ré, Dó, Mí, Fá,
Sol, Sí Lá estiver
Comigo para amar


25 de julho de 2009, 18h
Robério Pereira Barreto

domingo, 19 de julho de 2009

IMAGINANDO...

Na sua presença rio como menino
Solto à beira do rio que,
Na verdejante campina
E a sombra fresca do remanso
Perde a noção de tempo.

Na sua ausência choro sua saudade
Como o condenado que jogado no
Calabouço sente-se inútil e perdido
Na escuridão morre aos poucos.

Por isso, tenho a ti na memória
E no coração como o sangue
Que dar-me vida.

domingo, 12 de julho de 2009

WEBLOG COMO SÍTIO DE PRODUÇÃO DE LINGUAGEM ESCRITA E LEITURAS HIPERTEXTUAIS

Este ensaio traz à luz da discussão de que a weblog é um espaço de comunicação via escrita, bem como reconhecimento de que há nesse lugar a possibilidade de se permitir o acesso ao letramento daqueles que o acessa como meio de trocas simbólicas e culturais.
Desse pressuposto, pensa-se que as contribuições que o weblog oferece, são autorizar aos blogueiros a produção de textos nos quais se trocam de maneira contínua informações, sentimentos, contribuindo assim, com o processo de letramento dos cibernautas, sobremodo, do público infanto-juvenil, freqüentadores habituais do ciberespaço.
Nesse sentido, é relevante refletir quais as razões que levam a escola a ainda não reconhecer a produção escrita realizada no weblog como ação lingüístico-educativa, posto que, à medida que os paradigmas da educação na contemporaneidade convergem para o reconhecimento da formação de sujeitos produtivos e participativos na sociedade atual, onde há a prevalência de sujeitos letrados.
A esse respeito se faz interlocução com Soares (2000), uma vez que esta pesquisadora nos conduz à compreensão do conceito de letramento além da decodificação de sentenças formuladas em língua materna. Assim sendo, o ato de letrar se torna a possibilidade de levar o sujeito da linguagem ao mundo da escrita, a qual se dá pela aprendizagem de toda a complexa tecnologia envolvida no aprendizado do ato de ler e escrever. Todavia, a internet como dispositivo, bem como as tecnologias de informação e comunicação com as quais o weblog se concretiza como tecnologia intelectual facilitadora do processo de escrita na web.
Por isso, o cibernauta carecer saber fazer uso e envolverem-se nas atividades de produção de leitura e escrita quando as assume na coletividade do ciberespaço. Ou seja, para entrar nesse universo de produção escrita e leitura, é fundamental apropriarem-se do hábito de buscar informações no hipertexto da web e, com isso, fazem-se deslocamentos severos dos papéis tanto de que escreve quanto de que ler no ciberespaço. Nesse mister, evidenciam-se ainda as funções até então exercidas pela escola enquanto espaço de formação de sujeitos na sociedade dos signos, letrada.
Importa dizer aqui, ainda, que sob o auxílio do computador ligado à internet, a ação de letramento ocorre de maneira singular, isto é, distancia-se assim, daquela concepção de que somente o alfabetizado é capaz de comunicar-se usando a tecnologia intelectual escrita.
Para Lévy (2000) a dimensão da comunicação via escrita no ciberespaço é perpassada pelos signos que formam o ciberespaço como um hipertexto, posto que:

O espaço cibernético é a instauração de uma rede de todas as memórias informatizadas [...] A dimensão da comunicação e da informação, então está se transformando numa esfera informatizada. O interesse é pensar qual o significado cultural disso. Com o espaço cibernético, temos uma ferramenta de comunicação muito diferente da mídia clássica, porque é nesse espaço que todas as mensagens se tornam interativas, ganham uma plasticidade e têm uma possibilidade de metamorfose imediata. E aí, a partir do momento em que se tem o acesso a isso, cada pessoa pode se tornar uma emissora, o que obviamente não é o caso de uma mídia como a imprensa ou a televisão. (LÈVY, 2000, p. 13).
Neste ponto de vista, tem-se a presença da virtualização da sociedade contemporânea, referendada pela virtualização do saberes possibilitados pela internet, visto que a linguagem, a técnica e as relações sociais, são postos em destaque a partir dos novos papéis atribuídos à escrita enquanto tecnologia intelectual.
Nessa perspectiva, Lévy (2000) pondera que, o surgimento da escrita abrevia nossa capacidade de nos comunicarmos de maneiras variadas, por meio de textos escritos de e com formatos diferenciados, visto que os autores – blogueiros - passaram a usar o espaço cibernético como possibilidade de superação dos anacronismos do conceito e alfabetização e letramento proposto pela cultura escolástica até então vigentes no meio educacional brasileiro. Isso certamente ocorre porque eles – cibernautas, blogueiros – aprendem o código e a mecânica, do weblog mesmo sem terem sido alfabetizados ciberneticamente; até porque a escola ainda pensa e atua de forma antinômica no que se refere à produção de escrita e a realização de leitura no ciberespaço.
No plano de reconhecimento de que a escrita tem sido perpassada por novos sistemas sígnicos, Lévy nos provoca:

Com a escrita, e mais ainda com o alfabeto e a imprensa, os modos de conhecimento teóricos hermenêuticos passaram, portanto, a prevalecer sobre os saberes narrativos e rituais das sociedades orais. A exigência de uma verdade universal, objetiva e crítica só pôde se impor numa ecologia cognitiva largamente estruturada pela escrita, ou, mais exatamente, pela escrita sobre suporte estático. (LÈVY, 1996, p. 38).
Esta corrente leva-nos à inferência de que força do pensamento de Lévy está na perspectiva de que a comunicação escrita e as leituras realizadas por meio da weblog, não se limitam ao reconhecimento da escrita como prática de alfabetização, tampouco da leitura como mero ato de letramento. Isso ocorre porque há o estabelecimento de novos paradigmas lingüísticos na concepção de linguagem e de construção de conhecimento bastante diferente da tradicional, situada na historicidade do sujeito e da linguagem.
Desse modo, a relação do sujeito com a “escrita de suporte estático” é subvertida em virtude da criatividade com a qual os “blogueiros” fazem funcionar a linguagem e as ações lingüístico-discursivas que constituem e constroem os sujeitos dos enunciados, bem como provocam e solicitam praticas pedagógicas que “Antes de ser para a comunicação, a linguagem é para a elaboração; e antes de ser mensagem, a linguagem é construção do pensamento; e antes de ser veículo de sentimentos, idéias, emoções, aspirações, a linguagem é um processo criador em que organizamos a informamos nossas idéias.” (FRANCHI, 1977, p. 25).
Disto, certamente, transcorre que a criatividade não está apenas no estilo de comunicação escrita que é realizada no weblog, sobretudo, porque há uma individuação no uso da escrita e das ações lingüísticas nas quais se estabelecem a subjetividade como “ações de linguagem” que se tornam recursos expressivos no ato de produzir escrita e leitura no ciberespaço.
Nesse contexto é imperativo dizer que as “ações de linguagens” decorrentes do uso da escrita no weblog são, em verdade, caracterizam-se como atos de construção de discursos com os quais se justapõem a estruturação e o rigor da escrita e a criatividade de seu uso, possibilitada pela dinâmica do ciberespaço com a qual se deparam sujeitos da linguagem diante da tela do computador permeada por signos hipertextuais.
A ação de produzir escrita e leitura no weblog leva o blogueiro, produtor de comunicação escrita a reconhecer que

Na verdade é somente na tela, ou em outros dispositivos interativos, que o leitor encontra a nova plasticidade do texto ou da imagem, uma vez que, como já disse, texto em papel ( ou filme em película) forçosamente já está realizado por completo. A tela informática é uma nova “maquina de ler” e escrever (grifo meu), o lugar onde uma reserva de informação possível vem se realizar por seleção, aqui e agora, para um leitor particular. Toda leitura em computador é uma edição, uma montagem singular. (LÉVY, 1996, p. 41)
Assim, infere-se que há nesse espaço uma ação mediada pelo computador, o qual se faz presente como recurso tecnológico a facilitar a movimentação do blogueiro enquanto sujeito da escrita e da leitura veiculadas na blogosfera*.
Provisoriamente, é fundamental reconhecer que em virtude da realidade contemporânea na qual a internet e suas ferramentas de comunicação e informação promovem a cibercultura da sociedade, perceber o weblog como espaço de produção de escrita e leitura da realidade social em que as redes sociais, políticas e culturais se ampliam continuadamente em tal ciberespaço é uma nova vertente a ser explorada pela escola.
Espera-se, portanto, que nesse processo os professores que atuam na sala de aula, possa utilizar esse expediente como ferramenta de produção criativa de saberes através dos usos continuados da escrita como tecnologia intelectual da sociedade contemporânea.
Bibliografia
OLIVEIRA, José Marcio Augusto. Escrevendo com o computador na sala de aula. São Paulo: Cortez, 2006.

terça-feira, 7 de julho de 2009

SER BEM MAIS DO QUE...

A vida é um sonho onde a calvada se faz na imaginação de amar e viver momentos de solidão e alegria com e/ou sem companhia. À noite vive-se as chamas do querer a ti no desejo de amar com o calor da vida. Ai, esta música de Paula Fernandes faz isso de maneira instigante. Então, webleitor se delicie com o clique abaixo:

PERTECENDO A TI

Na solidão da distância
E na frieza dessa alma viajante,
Fico a espera de seu aconchego
No calor de nosso leitor de amor.

Nesse lugar de amor quero
A te pertencer amando-te
Feito louco dependente de seu segredo
Contado devagarzinho ao meu ouvido.

Diz para mim que posso ser seu
E que na solidão da ausência
Sóis minha a cavalgar no meu querer
Como se delirasse no calor de nosso amor
Ao desfiar aos seus segredos na afabilidade
De nossos corpos em chama de prazer.

João Pessoa, 07 de julho de 2009, 18h54min
Robério Pereira Barreto

segunda-feira, 6 de julho de 2009

WEBLOG: LINGUAGEM E INDIVIDUAÇÃO DA PALAVRA ESCRITA

A linguagem e as formas nas quais os indivíduos contemporâneos produzem seus discursos é conseqüência das relações sociais, lingüísticas e culturais provenientes da presença social da web como espaço de comunicação, tendo nas tecnologias de informação e comunicação seu meio condutor e integrador dos enunciadores da língua(gens) possível no meio. “as formas de linguagem podem ser usadas de maneira mais ou menos consciente pelos grupos sociais, para se diferenciarem dos outros, por meio da fala, de uma forma elaborada ou “nobre” da língua ou mesmo de uma língua estrangeira...” (BURKE, 1993, p. 10).
Nesse contexto, a política de linguagem circulante na internet, sobretudo, aquela que movimenta as relações sócio-comunicativas dos cibernautas é estruturada sob a égide palavra escrita que, por seu turno, é carregada de ambigüidades com as quais, elementos semânticos e pragmáticos disputam a atenção dos interlocutores, isto é, a palavra escrita no weblog é vista como produção íntima, posto que a linguagem nesse contexto é carregada de sentidos individuais a tal ponto que se pode vê-la como existência histórico-social, cujo mérito é perpassado de interesses e fenomenologia da vida cotidiana na qual há o significado das coisas. (BURKE, 1993, p. 14).
No weblog, o autor é reconhecido como alguém que, em ação livre, expõe seus pensamentos, vontades definidas por meio de regras próprias, ou seja, a autoria da escrita nesse espaço é, sem dúvida, transcorrida por intimidades com as quais a polifonia discursiva constitui-se o universo da linguagem. “Agora que o “autor” foi proclamado morto, parece que tudo o que resta para ser analisado são as próprias regras que a linguagem possui para escrever a si mesmo, o “software” do texto. (BURKE, 1993, p. 14). Esse fato tem sido recorrente na transformação tecnolinguística e no desenvolvimento da linguagem produzida e veiculada no weblog.
Assim sendo, não se pode negar que a teoria da linguagem se faz cada vez mais presente, sendo assim, reconhece-se a produção escrita no weblog e seu autor como autoridade intima. “a linguagem e os mundos conceituais e simbólicos por ela moldados são classificados em termos gêneros de nomes maneira abrangente.” (idem, 1993, p. 14).
Nessa perspectiva, os grupos sociais entremeados pela força da palavra no weblog, constituem-se nas individualidades dos sujeitos de modo que nesse espaço de construção de cidadania e significados, a escrita é permeada por elementos de patriotismo e união de massas.
No plano da significação, a linguagem no weblog é entremeada de sociossemioses em que o visual – imagem – verbal – palavras e signos estruturam “o pensamento, transmitem informações e consolidam os contatos interpessoais. Nem toda troca é verbal: [...] e ignora a análise de funções tais como a comunicação, a preservação de memória e de registros, o exercício de documentação oficial, o próprio desenvolvimento da autoconsciência.” (BURKE, 1993, p. 18).
Este é um dos pontos de referenciação à linguagem no weblog, ou seja, este talvez seja o novo deslocamento, ou desvio, daquilo que é considerado a linguagem padrão, visto que é com a palavra escrita que se faz a aprovação dos modos de fazer educação por meio da internet, mídia social contemporânea.

Mesmo assim, a maioria dos grupos dentro de tais sociedades – dos mais privilegiados às classes mais baixam sem mencionar os imigrantes e as maiorias – continuam , e ainda continuam, a manifestar altos níveis de diferenciação na fala ou na escrita (ou em ambos), devido tanto à relutância quanto à incapacidade de adaptação. (BURKE, 1993, p. 20).

Os membros participantes da comunicação no weblog atuam de maneira a contrariar o padrão comunicativo até então vigente, pois deixam vir à tona elementos da língua falada de forma a relaxar as práticas comunicativas, indo ao aviltamento daqueles indivíduos que participam dos meios de comunicação em que as estruturas sociais são rígidas e perpassadas pelo rigor da escrita, empenhando-se, assim em campanhas de manutenção da “pureza da língua(gem) escrita.
Todavia, reconhece-se que isso não é a homogeneização da língua(gem) no plano da comunicação via weblog, ao contrário, é uma ação em que a fala e a escrita se aproximam no processo de interlocução dos cibernautas com seus interlocutores. Assim sendo, considera-se que a língua(gem) realizada nesse médium se aproxima da linguagem que sustentam as letras das músicas de “rap” às quais baseiam sua estrutura nos padrões rítmicos e de caráter pessoal que a linearidade da escrita não consegue registrar nem copiar. (BURKE, 1993, p. 21).
Diante disso, afinal, de que é constituída a linguagem escrita na weblog? Para Burke (1993) a palavra escrita individualizando os autores, ganha autoridade especial, posto que ela – escrita

Na maioria das sociedades todos falam, embora os membros de algumas ordens religiosas optem por não fazê-lo durante muito tempo. Há outros que são silenciados por deficiências que podem ou não ser naturais: a censura arquetípica é a excisão da língua. Escrever e ler são mais exclusivos. Conseguir que seus escritos sejam lidos é motivo de especial autocongratulação. [...] Os níveis de linguagem são dispostos em hierarquias sociais que, de maneira geral, são oficialmente reforçadas (e, às vezes, igualmente subvertidos, por meio das formas paródicas da comedia, do carnaval e da charge). (BURKE, 1993, p. 23).

Como conseqüência dessa multiplicidade de linguagens veiculadas pela tecnologia de informação e comunicação via weblog, bem como as mudanças nas maneiras de produzir e socializar informações individuais de caráter profundos, experimenta-se assim, contínuas e variadas maneiras de se reconhecer os sujeitos nas incertezas da era contemporânea. (MORIN, 2001).
Nesse sentido, a Educação na contemporaneidade pode ser compreendida por outra dimensão, isto é, ensinar e aprender por meio do uso da linguagem veiculada pela internet tem outro significado, pois proporciona aos cibernautas condições de produzir informações via palavra escrita numa grandeza maior, cuja abrangência tem levado à compreensão de que as pessoas aprendem a todo instante, de modo que o entendimento de aprendizagem, na atualidade tem sido posto à prova, uma vez que as relações no ciberespaço são fontes de aquisição de saberes e, portanto, levam à constituição de uma nova forma de se pensar e fazer linguagem por meio do reconhecimento de que a palavra escrita é carregada de ambigüidades como o é o discurso oral.
No ciberespaço são cultivadas heterogeneidades discursivas e culturais de maneira que a questão da palavra escrita leva à inferência de que a língua(gem) ponderada na comunicação via weblog, molda as identidades individuais e coletivas postadas na rede.
Nesse sentido, Burke (1993) afirma que a língua(gem) deve ser vista como viga mestra no surgimento de novas maneira de se produzir relacionamentos por meio do uso da palavra escrita, sobretudo, na manutenção de diários íntimos onde os indivíduos esboçam o registro e a reificação das memórias individuais e coletivas. Isso acontece porque

[...] nossa autoconsciência depende da posse da linguagem adequada, das palavras para dizer “eu”, devemos pensar no surgimento da subjetividade moderna não apenas como a criação de um domínio intensamente privado, mas que se tornou possível por meio de certos tipos de discurso público. (BURKE, 1993, p. 27).

Ademais, o próprio meio – ciberespaço – weblog tende a moldar a linguagem e remoldar o vocabulário, bem como coloca em destaque conceitos que levam à compreensão de que a palavra escrita no weblog é fruta da criatividade e dos jogos representacionais possíveis pelo sistema sígnicos publicamente convencionalizados na web e que são compreensíveis no universo da ciberlinguagem.
Assim sendo, os cibernautas, participantes do weblog se interessam pela

totalidade de códigos semânticos dentro de um sistema coeso; vão investigar os usos que indivíduos e grupos fazem da linguagem que lhes seja disponível; vão se preocupar com os mitos e ideologias que cercam a linguagem em geral (homo loques, o homem ou a mulher como animal) e as linguagens individuais específicas. Estarão alertados para as relações entre as linguagens e os mundos imaginados. (BURKE, 1993, p. 29).

Nesse processo, na realidade, a participação criativa na produção e publicação de informações pessoais e sociais no weblog é muito mais sério que o singelo ato de escrita, e a linguagem do consumo e da publicidade de caráter pessoal é bem mais compreendida na rede, do que em qualquer outro meio. O que realmente importa reconhecer é que por meio da palavra escrita no weblog, esta acontecendo uma revolução na maneira de se usar a linguagem como meio de exposição das intimidades.
Em verdade, o segredo desse tipo de produção escrita é a rapidez com que o interlocutor tem acesso às informações. Pois há nesse universo o hábito de se freqüentar diuturnamente as páginas – weblog – das pessoas com as quais se relacionam os cibernautas.

Assim que o hábito é criado, é difícil acabar com ele, porque o tempo é algom muito precioso hoje em dia. Eu visito milhares de blogs por ano, mas apenas um punhado diariamente. Esse “punhado” dificilmente é mudado e, se é assim comigo, também é com milhões. E de fato uma corrida para conquistar espaço na mente das pessoas, fazer parte dos hábitos do leitor da blogosfera. [...] a conversa tem valor mesmo se os autores não forem muito experientes; além disso, qual o sentido de uma reunião de debates sobre música em que não há compositores? (HEWITT, 2007, p. 19).

Reconhece-se, assim que a função primária da linguagem é a comunicação, então a noção de uma linguagem particular e até mesmo secreta é, sem dúvida, real no fazer discursivo da blogosfera. Para Burke (1997) esta forma de se usar a palavra escrita revela a relação diametral entre o privado e público, visto que há nesse contexto um sistema lingüístico velado que atua como um discurso realizado no interior do weblog. Destarte, os discursos praticados no weblog são mantidos nesse contexto sob a perspectiva de que há um segredo a ser revelado a público. “A exposição está implícita no segredo, e os segredos, especialmente quando relacionados a rituais, podem ser construídos para fins de revelação retórica.” (BURKE, 1997, p. 167).
Considera-se que a palavra escrita e a maneira como ela circulam no ciberespaço, weblog são conhecimentos de que essa língua(gem) especiais torna-se cada vez mais evidente nos dias atuais. Por isso, entende-se que o sujeito dessa linguagem é ontológico e, portanto, carrega em seu fazer discursivo sociossemioses que desloca do lugar comum a língua (gem) considerada padrão.
Dessa forma, as língua(gens) praticadas no ciberespaço, sobremodo, no chat e weblog dão conta de que, embora ainda a margem do processo lingüístico convencional, portanto, não reconhecida como atividade intelectual, tem se tornado a preferência de milhões de usuários para realizar comunicação entre aqueles que as compartilham como código.
Nesse sentido, este “código secreto” recorrente no ciberespaço – weblog e chat – tem fascinado milhões de pessoas a buscarem a conhecer as intimidades de outras pessoas, estas dispostas a publicizarem seus sentimentos na web. Mesmo assim, é interessante que se diga quão difundido na rede é a presença do cibervoyeur, ou seja, há indivíduos habituados bisbilhotar e o cotidiano das pessoas, visitando os blogs pessoais existentes na blogosfera.
Apesar disso, não se deve associar demasiadamente a forma como a palavra escrita à questão do interesse pela intimidade dos outros. Até porque os weblogs também têm apresentado outras possibilidades de comunicação, mormente, na perspectiva de entretenimento o que, é, sem dúvida, um espaço que gera “códigos secretos” da mesma maneira que outros espaços têm o fazem. “[...] isso tem ocorrido especialmente desde o final do século XVIII, quando diversos esportes foram institucionalizados, comercializados e formalizados [...] uma linguagem deturpada, do tipo falado...” (BURKE, 1997, p. 21).
Infere-se que por detrás dessa ação despretenciosa dos cibernautas ao usarem a palavra escrita no ciberespaço há uma inquietação no sentido de afirmar que existe uma nova prática de se produzir linga(gem), posto que os cibernautas, por meio do uso das tecnologias intelectuais disponíveis na web assumem diferentes posições no ato comunicativo, isso significa que usam códigos variados visando a comunicação e a interlocução com os ciberleitores.
Por isso, à medida que o individuo se relaciona seja no cotidiano real, ou no ciberespaço, ele é levado a exercer diferente papéis ao usar a língua(gem), inclusive a falar e escrever de maneiras diferentes. No chat e weblog isso fica premente quando são usadas imagens e avatares no ato comunicativo para que haja interlocução entre o enunciador e o enunciatário, posto que essa dependência é buscada no significado estabelecido em relação ao contexto e momento específicos da comunicação.
No ciberespaço esta produção criativa tem como finalidade a comunicação mais rápida e eficiente entre os iniciados. Já no que se refere à participação dos leigos nesse ato de enunciação, estes, sem dúvida terão dificuldades em se posicionar na conversação - chat, bem como na interação via escrita – weblog – visto que não domina o “código secreto”. Dessa maneira, a linguagem dos cibernautas e outros iniciados no ciberespaço não é só diferente, é particular, um meio de comunicação que o público, incluindo os possíveis interlocutores especialistas e os incautos que, certamente seria incapazes de decodificar tal ato enunciativo. “A linguagem das burocracias, em especial, tem sido criticada com freqüência como “elaborada para mistificar, para intimidar e para criar uma impressão de que a atual disposição da sociedade é imutável.” (BURKE, 1997, p.23).
Até agora foram apresentadas questões que levam ao entendimento de que aquilo que se apresentada na palavra escrita no weblog de maneira ostensiva, com certeza pode ser considerado conhecimento, bem como também pode mostrar que é uma forma de expressão de um individuo em um grupo no qual, fala para todos e todos falam para ele; na medida em que receber de volta comentários em seus textos. Logo, é recorrente a concepção de que a linguagem é um sistema simbólico, com qual lidam de modo eficiente os cibernautas na rede ao realizarem seus atos comunicativos.
Sendo, a linguagem é um sistema sociossemiótico e simbólico, e deveríamos, pelo menos, nos perguntar sobre as possíveis funções simbólicas da palavra escrita no ciberespaço. Como tal, por exemplo, pode ser empregada em forma entretenimento, brincadeira, como acontece com freqüência entre os cibernautas – crianças, adolescentes e jovens – quando a empregam em individual o coletivamente.
Nesse sentido, o uso da palavra por uma cibercomunidade é um dos meios mais potentes de inclusão e exclusão, pois ela representa e incentiva corporativismo, criando assim um sentimento de pertença naqueles que se vêem representados no ciberdiscurso realizado.
Desse modo não é por acaso

que essa forma de linguagem seja desenvolvida de maneira tão rica em instituições totais, em que habitantes sentem-se extremamente diferentes do resto do mundo – descrito por eles em um série de pitorescas expressões de desprezo tais como “civies” [paisanos], “landlubers” [marinheiro de primeira viagem], “suckers”[otários e outras. Isso sem dúvida [grifo meu] é um meio e um sinal de iniciação em uma nova comunidade, verdadeiramente uma “segunda vida” (drugie zycle),(BURKE, 1997, p. 24).

Nas cibercomunidades onde a palavra escrita é empregada de modo que cada um pode dizer o que deseja à maneira, cria-se mecanismos de interação, ou seja, de acordo com que é proposto no ciberdiscurso a língua(gem) expressa um desejo de isolamento social e psicológico e não um afastamento físico do resto da sociedade, até porque no ciberespaço a questão da espacialidade física é o que menos importa, visto que ali encontram-se sujeitos do devir em um tempo discursivo a ser realizado na interlocução síncrona e assicrona.
No plano do conteúdo semântico e pragmático da palavra escrita da mesma maneira que sua própria significação traz consigo significados simbólicos. O ciberdiscurso é carregado de figuras de linguagem, sobretudo, metáforas e eufemismos e códigos. Exemplo, “namorar” significa “ficar” que ainda não beijo na boca é conhecido na rede como “BV” – boca virgem – assim, a linguagem desse grupo social nesse contexto pode ser considerada uma forma de poder, isto é, uma maneira de se perverter o poder da língua(gem) e da comunicação dos grupos sócio-comunicativos até então instituídos.
Por outro lado, há que considere essa tipo de produção de língua(gem), considerando-a como uma língua(gem) franca, visto que esse tipo de comunicação realizada entre grupos na tensão cotidiana, isto é, ele se estabelece entre senhores e empregagos. Entretanto, no ciberespaço não é possível associar a língua(gem) realizada no chat e weblog sob essa lógica, porque todos se apresentam com as mesmas características e, por isso, não há como medir e reconhecer a classe sociocultural de cada. Destarte, faz-se necessário reconhecer que

Uma língua franca poderia muito bem dar a impressão de ser [...] elaborada pra permitir que dois grupos sociais se comunicasse entre si porque existe nessa cena enunciativa [grifo meu] algo em comum entre os dois e complementam os vernáculos nativos dos falantes. [...] essa língua desenvolve-se pela combinação de elementos dos vernáculos, caracterizando-se assim numa mistura em que sociossemioses constituem a relação da palavra escrita com o contexto em se organiza a comunicação entre sujeitos e grupos. (BURKE, 1997, p. 26).

Na resta dúvida de que há algo sedutor, excitante, inspirador e criativo a respeito do processo pelo qual a palavra escrita usada no ciberespaço chat e weblog torna-se um “código secreto e antilinguagem ” como vernáculo, ampliando seu vocabulário e suas funcionalidades semânticas e pragmáticas na web, constituindo-se de uma mistura sígnica e simbólica no sistema lingüístico contemporâneo.
Diante disso, faz-se necessário distinguir a existência de vicissitudes ocorridas no modo e no fazer lingüístico contemporâneo, os quais se constituem em “paralelos óbvios entre o processo lingüístico e outras mudanças culturais que tem ocorrido no mundo no final do século XX.” (BURKE, 1997, p. 27).
O fenômeno da escrita na web – mais precisamente, chat e weblog – às vezes é considerado como conseqüência da especialização e a competição no ciberespaço, o espraiamento de novas linguagens e a conseqüente necessidade que os cibernautas e suas cibercomunidades têm de manifestar, defendendo assim, seu sentimento de pertença ao demarcarem seus territórios virtuais e de destacarem-se em relação a seus competidores virtualmente distribuído na web.
Percebe-se nesse contexto que uma das maneiras de se garantir esse espaço está na criatividade em usar a língua(gem), isto é, recorrem os cibernautas à ininteligibilidade de suas enunciações para incluírem si e até excluir aqueles cibernautas considerados inaptos ou ameaçadores de suas realidades individuais e coletivas. Além disso, infere-se que, apesar das circunstâncias e contextos variáveis possibilitados pelo ciberespaço, há uma produção de antilinguagem na qual concentram elementos da língua formal justaposto a signos verbal, visuais e sonoros, cujos sentidos são decodificados por iniciados no ciberdiscurso da web.
A propósito do “código secreto” usado por grupos sociais na tentativa de se garantir sua legitimidade discursiva, faz-se importante destacar que, os primeiros indivíduos a fazerem uso desse artifício lingüístico-comunicativo foram os sofistas que, inclusive, foram criticados por Platão.
Numa dessas críticas Górgias foi alvo por ter sido considerado “astuto artesão do falar ” e sendo como tal “fazem, com o poder das palavras, as pequenas coisas parecerem grandes e as grandes coisas parecerem pequenas” por outro lado, Platão e Sócrates foram considerados importantes por falarem uma linguagem simples, bem como busca no cotidiano encontrar analogias da vida comum, do trabalho de parteiras e sapateiros seu vocabulário.” (BURKE, 1997, p. 35).
Nessa premissa se encontra as bases para se entender o porquê de os cibernautas atuarem e construírem sua comunicação usando a palavra escrita no weblog na perspectiva de hibridização, pois ao mesmo tempo em que rebuscam seus enunciados, usam vocabulários e signos cujo sentido denuncia a ingenuidade do discurso, isto é, há, na verdade, uma disposição em criar e circular no ciberespaço palavras e expressões novas, contrastando assim, com o ponto de vista instituído da língua(gem) formal circulante na escola e comunidades institucionais.

Referencias

BURKE, Peter; PORTER, Roy. (orgs.) Línguas e jargões: contribuição para uma história social da linguagem. São Paulo: Editora da UNESP, 1997.
______Linguagem, individuo e sociedade. São Paulo: Editora da UNESP, 1997.
HEWITT, Hugh. Blog: entenda a revolução que vai mudar o seu mundo. (trad. Alexandre Martins Morais). Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2007.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

LAN HOUSE: PERIFERIA E CENTRO IMBRICADOS

Sabe-se que a realidade comunicativa e intercultural dos sujeitos contemporâneos tem sido separada por uma linha muito tênue, ou seja, a linguagem e o espaço possibilitados pela internet, sobretudo, no que diz respeito da relação que os indivíduos tem com o seu lugar de fala e cultura e com os espaços dos outros é, sem dúvida, cada vez mais ampliado. Isso ocorre devido a presença de lan house em diversas regiões do país, sobremodo, nas periferias e rincões do Brasil, vindo dessa maneira colocar em discussão o papel de instituições até então referência no processo de formação social, política e educativos dos sujeitos que viviam a muito excluídos do mundo da informação e do saber.
Em verdade, a cibercultura é uma realidade no país e, portanto, traz consigo novas maneiras de se pensar a linguagem, a educação e as relações sociais e de lugar, posto que, já não é mais possível compreender a sociedade alijada do acesso à rede mundial, mesmo que estas esteja na periferia. Confirma-se isso no documentário periferia.com, conforme link abaixo.

http://www.youtube.com/watch?v=wkCJeYuDa98&feature=player_embedded