quarta-feira, 19 de novembro de 2008

SIGNIFICADO: UNIDADE CULTURAL



O texto a seguir é um recorte da matéria sobre o significado. No campo da semântica isto tem pretensões apenas de orientar os estudos sobre o sentido das palavras e os símbolos decorrentes da produção escrita em voga no decorrer das atividades em curso; aulas de semântica no curso de letras. Tais produções, obviamente são escritas e, portanto, têm em suas estruturas elementos ideológicos e, por isso, se tornam importante para a compreensão do pensamento do cursista de letras a respeito do(s) sentido(s) que a cultura atribui aos discursos escritos por ele estudados. Assim, tal ação decorre daquilo que Bakhtin entendia como “ato de fala sob a forma do discurso escrito é de certa maneira parte integrante de uma discussão ideológica em grande escala: ele responde a alguma coisa, refuta, confirma, antecipa as respostas e objeções potenciais, procura apoio, etc.” (BAKHTIN, 2005, p. 7).
Neste conjunto, como se ver, busca-se contemplar o universo dos significados propostos pelas unidades culturais – sentidos - construídas a todo instante pela sociedade; textos e imagens. Até porque o conceito de língua que se aplica aos estudos semânticos não a contempla como sistema estático, ao contrário, a tem como sistema cuja estrutura é flexível exatamente na parte dos sentidos, isto é, as palavras ganham significação na medida em que a sociedade lhes faz uso. Na verdade, no que diz respeito à “Semântica”, o estruturalismo lingüístico não pode deixar de desembocar em um estruturalismo filosófico que tenta abarcar no explicável o resíduo inexplicável a posição histórica das palavras no bojo das questões comunicativas. (Grifo meu). “[...] o indivíduo é interpelado como sujeito [livre] para livremente submeter-se às ordens do Sujeito, para aceitar, portanto, [livremente] sua submissão...” (PÊCHEUX, 1997, p. 281).
Em tal perspectiva, pode-se considerar que em semântica não há neutralismo. Esse pensamento considera que as palavras como instrumentos poderosos, refletem a posição do sujeito no discurso, e com isso pode se transformam tanto em armas como em veneno, ou tranqüilizantes à medida que se aplica ao controle ou incitação das massas.
Para Bréal a palavra deve ser considerada em suas relações com outras palavras, no conjunto do léxico, nas frases em que aparecem, pois é através dela que consideramos a história ou parte dela, ao realçar seu sentido no contexto sócio-cultural. “Tomar uma palavra à parte é um método quase tão artificial quanto dar, como se é obrigado fazer em fonética, a história de uma vogal ou de uma consoante. As letras não têm existência senão nas palavras, as palavras não têm existência senão nas frases.” (BRÈAL, 1983, p. 133, apud GUIMARÃES, 2005, p. 13).
Dessa maneira, faz-se importante entender que a linguagem é, por seu turno, um fenômeno humano, cuja característica principal é sua historicidade. Nessa perspectiva, eis que surge a semântica de Brèal como sendo uma ruptura com a posição naturalista que considerava a linguagem como organismo, como um quarto reino da natureza, afirma Guimarães. (2005, p.16).
A constituição do significado está situada na condição humana de conhecer e reconhecer o signo a partir da subjetividade que ele oferece, pois, para Brèal “o aspecto subjetivo da linguagem é representado por palavras, membros de frases, formas gramaticais e pelo plano geral de cada língua.” Ou seja, as línguas têm as marcas dos elementos subjetivos [...] a língua tem forma própria para expressar o elemento subjetivo da comunicação a seu modo de ver o mundo dos enunciadores e enunciatários. Portanto, “a semântica se constitui como uma disciplina histórica, por se considerar que a linguagem é feita de signos, ou seja, que seu caráter fundamental é simbólico e não natural.” (GUIMARÃES, 2005, p. 17).

Abstracionismo e significação nas palavras

Diante do quadro demonstrado por Brèal, torna-se pernicioso querer sustentar a univocidade do significado. Então, passa-se a considerar o que todos lingüísticas concordam; o significado de uma expressão é a relação que se estabelece entre essa expressão e algo não-linguístico.

significado é a relação que se dá entre as expressões lingüísticas e o uso que os falantes fazem delas (proposta, por exemplo, dos defensores da chamada semântica de atos de fala); para outros, ainda, o significado é a relação entre as expressões e algo equivalente aos conceitos mentais propostos pela teoria ideacional do significado, resultando na contraparte relacional. (NETO, 2003, p.10).

De certo modo, infere-se que o objetivo da teoria semântica consiste em estabelecer relações existentes entre as expressões das línguas naturais e as representações semânticas. Assim, Neto considera que “entender o significado de uma expressão é estabelecer uma conexão entre a expressão e as entidades não-lingüísticas a que a expressão se aplica.” (NETO, 2003, p.10).
Nesse espaço se discuta o abstracionismo do significado e a importância de se compreender o estudo das línguas naturais, o qual não é um assunto livre de polêmicas. Ao contrário, as linguagens formais dos lógicos e dos matemáticos nada tema a dizer sobre os problemas das línguas naturais, que são instituições de outra ordem e com outra natureza. Até porque as línguas naturais são “maiores” do que as linguagens formais, i.e., todas as linguagens formais estão, de uma forma ou de outra, contidas na língua natural. Esta afirmação de Neto, quando sugere que seguir modelos no plano dos estudos semânticos é arbitrário e infrutífero.
Nessa perspectiva de discussão conceitual e teórica, sabe-se que, argumentar torna-se uma atividade importantíssima em lingüística, pois, através dos significados atribuídos ao discurso, o argumentador pode influência, intencionalmente, tanto o meio como o contexto, promovendo neles alterações no modo de perceber os objetos, e, inclusive seus próprios argumentos.
Com base nisso, Nascimento toma como exemplo de texto argumentativo o editorial de jornal no qual a empresa representa sua opinião através do pensamento jornalístico que veicula, e com isso dar a significação que lhe convém para os fatos do dia-a-dia.

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