quarta-feira, 30 de abril de 2008

ANOITECI EM VOCÊ

Naquela noite...

O amor tomou conta do meu céu
Ao tê-la em mim por instantes mil,
Quando deixamos cair o véu
Que nos cegava a paixão.

Sem ti em aqui
Cerro os olhos
Para voltar àquele momento;
Quando em gritos éramos
Levado ao prazer infinito...

Livres, porém distantes
Retorno aos instantes
Em que sua boca suave
Deliciava a mim como...

30 de abril de 2008, 12h19
Robério Pereira Barreto

domingo, 27 de abril de 2008

RASTRO DE MIM

Como a aranha que deixa
Nos fios da teia
Parte de sua vida...

Este ser deixa no caminho
Por onde passa rastro
Pensando em retornar um dia
À paixão cheia de galardia,
.

Então, o coração em arritmia
Descompassadamente marca
A hora do reencontro...



27 de abril de 2008, 20h41
Robério Pereira Barreto

DEPOIS DA PARTIDA

Qual beija-flor na primavera
Saboreia a vida da flor
Osculei sua boca
E trago comigo seu sabor...

Entre as muralhas da separação
Há em mim um pouco de ti
Porque insone fecho os olhos
E a tenho no fundo na memória.

Agora, restam-me as horas
Que nos separam do crepúsculo
Nevoento à brilhante e cheirosa aurora.

Boca e olhos fechados degustam
Nossos últimos momentos,
Quando entre medo e volúpia
Éramos apenas almas juntas.

27 de abril de 2008, 10h55
Robério Pereira Barreto

sábado, 26 de abril de 2008

MÓRBIDO DESEJO

Moribundo e perdido na (in)maginação,
O silêncio ecoa gemidos fúnebres da alma,
Levando o corpo à contrição.

(Des) pedaçado pelo vento do devir
Que sopra labaredas fumegantes;
O cadáver nu é chamuscado pela
Indiferença da in(decisão)
Impossibilitado não reage, chora.

No relento da solidão
Queima-se em lágrimas
Como se fosse vulcão
Chorando a dor da seperação.

A maresia que cai aumenta
As chamas da (dês) ilusão.

Mórbido desejo, ou dor da separação?

26 de abril de 2008, 00h31
Robério Pereira Barreto

sexta-feira, 25 de abril de 2008

PRECARIEDADE...


Por detrás de clara lua
Escondem-se fantasmas
Que flutuam na escuridão...

No labirinto da mente
Voam cacos de mim...

Solto no espaço negro
De esse meu singelo existir,
Fios de negrura do devir
Reluzem na imensidão...


25 de abril de 2008, 22h56min
Robério Pereira Barreto

quinta-feira, 24 de abril de 2008

FIOS DE NOITE

FIOS DE NOITE

No lugar da letargia
Depois de mais um dia
Em que a dura lida
Era suportada na
Esperança de te encontrar
Com sorriso manhoso...

Tenho uma vigília constante
Acompanhada de imagens,
Sabores e cheiros seus,
Fazem de o coração ser pulsante.

Agora, estremecido na cobiça
De seu carinho e aconchego,
Os fios da escuridão são
De mim mesmo minha comiseração.

Entorpecido pelo negrume da noite
Reclamo a mim mesmo a falta de ti
Pedindo: aplacar minha insone ilusão
Com sua meiguice consideração;
Beije-me até a exaustão.

24 de abril de 2008, 00h10min.
Robério Pereira Barreto

quarta-feira, 23 de abril de 2008

SONO INVADIDO

INVASÃO

Nesse momento, enquanto vejo no rosto
As marcas da noite anterior,
No espelho sua imagem toma meu espelho
Como se me dissesse: Eis me aqui novamente.

Não, não é verdade...
Você continua a me seguir
Essa noite não me deixou dormir
Invadiu meus pensamentos
Fazendo-me um zumbi...

Dê-me uma razão para estar assim
Ou melhor, me diga qual mal lhe fiz
Porque quero nesse momento apenas ser feliz.

Se lhe falei algo
É porque simplesmente lhe quis
Em meus abraços para beijar...

Mesmo que pareça infantil
Não há razão para seguir
Meus pensamentos
Me deixando assim...

23 de abril de 2008, 09h11
Robério Pereira Barreto

ERROS

FOI ASSIM...


A cada manhã procurando meus erros
Escritos nas linhas amassadas do lençol
Depois de uma noite sem dormir,
Olhando a estrelas e a lua sobre mim.
Foi assim... aqui estou...

No rosto estão as marcas da espera
Todo olhar voltado à porta.
Insone a noite inteira espreitando-te
Não veio, só judiou de mim.

O corpo chamou por ti
E em silêncio latejante,
No mais alto dos gritos infames
Calou o tambor do peito...

Padecendo de carinho toda a noite
Mantive meus pensamentos em ti
Tirando do tecido a maciez
Que queria tira da sua pele.
Não veio, só judiou de mim.

Derrotado, fiz do lençol Confessor
Que na balburdia do meu delírio;
Ouviu-me sonolento fazer promessas
De que se um dia nos encontrarmos
Não haverá razão que me segure
Amar-te-ei sem reservas seja
Onde estivermos...
Foi assim... aqui estou...
Não veio, só judiou de mim.

23 de abril de 2008, 00h44
Robério Pereira Barreto

terça-feira, 22 de abril de 2008

MALINO OLHAR

FULMINANTE OLHAR

Ao seu lado sinto medo
Porque desejo seu beijo
Em demasiada alegria.

O coração em arritmia
Se derrete ante este olhar
Ingênuo e fulminante...

Em volúpias mil
Sinto-me infantil a cobiçar
Um afago nesse regaço...

Em transe engulo ar ardil
E sigo vagante na aspiração
De tê-la ao menos num instante
Nem que para isso fique febril.

22 de abril de 2008, 16h43.
Robério Pereira Barreto

BELEZAD DE...

SINTO APENAS...

Neste imenso lugar
Sinto a falta de ti
Com esse matreiro olhar
Esgarçando-me em desejos...

E, por detrás da cortina branca
A cair do céu cobrindo-lhes
Ombros e cândida face,
Sobressai uma beleza deslumbrante.

Com formosura vibrante
A desabrochar naturalmente,
Amanhã se esforça na sua lindeza
Para alinhar-se a ti.

Tristeza e felicidade me fazem
Acordar olhando para o céu,
Esperando a caída do véu
Que cobre sua face e lábios de mel.

22 de abril de 2008, 13h
Robério Pereira Barreto

domingo, 20 de abril de 2008

AMOR NAS ALTURAS...

CAMA DE LUA.

Gosto de sentir os fios da lua
Roçando minha face como
Suas mãos suavemente nuas
Desciam em frenética maestria
Para encontrar abrigo em meu
Peito ofegantemente sem jeito.

Encabulado, porém gostando
De tamanha ousadia
Deixava a timidez ao vento,
Para tomá-la nos braços
E sob pingos de lua subtrair
Dessa beleza láctea o prazer
Num beijo demorado.

Depois de embebedado por ti
De forma sublime e crua
Desfaleço nos lençóis de cristais
Que cobrem a cama do universo
Na qual esse amor se perpetuará.


20 de abril de 2008, 22h45
Robério Pereira Barreto

COMPLEIÇÃO...

COMPLEIÇÃO
Posso ver e sentir
Seus braços aqui
Acariciando-me a tez
Em chama...

Depois de amá-la
Sonolento, fico sem voz,
Ouvindo sua aveludada
Fala acalentando esse exausto corpo.

Como recompensa
Entrego-me às suas mãos
Que enxuga o suor...

Em febre delirante
Convido-lhe a amar
Em paixão vibrante...

20 de abril de 2008, 19h27
Robério Pereira Barreto

SINA GUIA

SINA GUIA

Que a vida me guie
Ao encontro de algo
Ao qual certamente confie.

Nessa caminhada quero a luz
Que, como a paixão me leve
Me ceguei diante dessa beleza
Magistral de seu espírito flui.

Afogar-me-ei na secura da ilusão
De um pode ter a ti
Ofegante sobre o meu coração
Depois de amar-te de montão.

Lânguidos, olhos brilham
Como se fosse derreter
A escuridão...

20 de abril de 2008, 00h47
Robério Pereira Barreto

sábado, 19 de abril de 2008

Seria a Iracema do sertão?

BELA DO SERTÃO

Negros e belos olhos
Enfeitam-lhe a face cor de jambo
Emoldurada por essa boca
De lábios carnudos, macios
E doces tal caju colhido no pé.

Cabelos negríssimos
Cobrem-lhes delicado
E perfumoso pescoço
Por onde deslizo desfaço-me
Em maliciosas carícias...

Embriagado na simplicidade
De sua beleza coração pulsa
Porque a desejo...

Em desatino peço
Mais que carinho, Você!

19 de abril de 2008, 23h52min.

LIED

NARCÍSEA

Envolta na teia cristalina da lua
Caminhas pela noite iluminada,
Levando na bagagem mente
As saudades da gente.

Na aresta da avenida infinita
Há figuras desenhadas a pincel
Na tela da escuridão vibrante.

Coberta pelo globo de néon
Mimetiza-se na escultura fria
De luzes a confundir os passantes
A fitarem lhe de olhos vibrantes.

Perdida na vasta beleza de si
Como Narciso, passeia a esmo
Admirando-se no devir.

20 de abril de 2008. 22h32min
Robério Pereira Barreto

quinta-feira, 17 de abril de 2008

OBTUSA LUCIDEZ

Nos fios de lua
A mente vaga na rua.

A procura de si
Perambula na imensidão,
Carente isola-se na claridade
Que a faz demente.

Ofuscada pela lucidez da vida,
Entregar-se a leviandade
E Renegar a verdade:
Ora, chegou-se ao fim.

17 de abril de 2008, 08h08
Robério Pereira Barreto

quarta-feira, 16 de abril de 2008

BANQUETE

Em noite de amor em babylon
Corpos desfiam em suas peles
Carinhos que provocam arrepios
Como se fossem nylon.

Em movimentos frêmitos,
Bocas e braços entrelaçam-se
Em energia contagiante.

Absortos no prazer do encontro
Recolhem-se aos desejos,
De outrora escondidos na inocência.

Livres, a ingenuidade perde-se
Em meio aos sabores do banquete
Oferecido pela noite em que
O prazer suplanta saudade e dor.

Robério Pereira Barreto

POEMA NO VALE

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POEMA NO JORNAL

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domingo, 13 de abril de 2008

MÍDIA DE MASSA: O CORO DA TRAGÉDIA MODERNA

Neste ensaio, discute-se brevemente o poder da mídia de massa em fabricar consenso, adiantar-se a seu modo aos episódios, criando juízos de valores diante de acontecimentos cotidianos das metrópoles, crimes. Isto é, refere-se nas linhas a seguir a cobertura que a mídia, sobretudo, a imprensa televisiva de massa tem dado ao "Caso Isabella" – criança que morreu após ser encontrada no jardim do prédio onde morava com o pai e madrasta - ocorrido recentemente em São Paulo.
Sabe-se, portanto, que o papel da mídia na sociedade contemporânea é informar, pois estamos numa democracia cujo princípio é fazer com que o público, por meio dos meios de comunicação tenha acesso aos acontecimentos de maneira livre e imparcial. Entretanto, o que se viu nestes últimos dias nos telejornais foi um verdadeiro coro trágico, isto é, fez-se do ocorrido uma comoção nacional, (quantas Isabellas não morrem diariamente de fome, doença, miséria,etc., inclusive quantas não se foram recetemente de dengue no Rio de Janeiro) devido às interpretações e entrevistas controvertidas, ou seja, cada agente de fala ao se posicionar de seu lugar de discurso (polícia, promotor, advogados de defesa) contradiziam-se e neste labirinto de discursos a mídia de “grande consumo” acabou fabricando um consenso para o telespectador; a criança foi assassinada... a partir da fala da autoridade - promotor de justiça - tudo já está esclarecido, porém este discurso é desfeito pela fala da policia técnica quando afirma que ainda falta concluir os exames e laudos.
Destarte, estas contradições discursivas levaram a mídia de massa à exaltação de tal modo que, num processo catártico as pessoas nas ruas reproduzem a opinião dos apresentadores de telejornais como se estes fossem autoridades, levando ao acontecido tom de tragédia. Para Charaudeau, desse tipo de fato resulta que, “por efeito de retorno, as mídias são levadas a tomar posição sobre o que deve ser a informação, sobre a maneira de tratá-la” (CHARAUDEAU, 2006, P. 13).
Para Aristóteles em sua Poética, a tragédia se caracteriza por ser:
“... imitação de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada e com várias espécies de ornamentos distribuídas pelas diversas partes (do drama), (imitação que se efetua) não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções.” (ARISTÓTELES, 1973:447).
Desse modo, há no discurso da mídia a promoção intencional da catarse aristotélica, a qual consiste na purificação, na moderação, na sublimação dos dois sentimentos mais característicos da tragédia: a compaixão e o terror. Sendo que, estes elementos são introduzidos no inconsciente coletivo pelos apresentadores de jornais de “grande consumo” de tal maneira que, mesmo sendo, ou não culpados pelo ocorrido, os “pais” já foram julgados e condenados pelo tribunal popular.
Evidencia-se assim o que Foucault considerou em seu livro Ordem do discurso (1971) de possibilidades de se atingir “o núcleo interior e oculto” do receptor por meio de um discurso, no qual existem probabilidades para que, neste lugar de fala se posicione o manipulador ante as deficiências do manipulado, espectador.
Este tipo de mídia conforme Charaudeau (2006, p.18) há o intento “em declarar sua intenção, a qual é somente através da vítimação e do engodo que se pode concluir que existe uma manipulação”. Isto mostra o quanto à imprensa de massa tem poder sobre aqueles cuja ignorância é marca de sua identidade, uma que vez o papel da imprensa é transmitir e informar um saber a quem supostamente não o possui e não aproveitar desse expediente para promover a catarse, levando a uma espécie de prazer trágico por meio da massificação das controvérsias das falas, as quais são produzidas por sujeitos que se posicionam apenas de seu lugar de fala, jornalistas interessados em vender notícias.
Para Charaudeau isto acontece por que a informação ganha status de produto de consumo e que ofertar primeiro no mercado da comunicação, o torno
“... mais forte quanto maior é o grau de ignorância, por parte do alvo, a respeito do saber que lhe é transmitido. Assim sendo, a informação midiática está diante de uma contradição: se escolhe dirigir-se a um alvo constituído pelo maior número de receptores possível, deve basear-se no que se chama de “hipótese fraca” sobre o grau de saber desse alvo e, logo, considerar que ele é pouco esclarecido. (Idem).
Para atingir esse nível, os agentes de comunicação usam linguagem afetiva, visando um retorno, porque elas não transmitem o que ocorre na realidade, são suposições, porém, se o fizessem não asseguraria a atenção dos espectadores. Assim sendo, pode-se afiançar que o “Caso Isabella” se tornou mais um espetáculo na mídia de grande consumo, colocando em xeque a capacidade das instituições do estado em se posicionar em tempo real do que reportar de um acontecimento estarrecedor.
Referências
FOUCAULT, M. Ordem do discurso. São Paulo: Graal, 2000.
CHAREAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006.

sábado, 12 de abril de 2008

MACABEA: HEROÍNA TRÁGICA NA METRÓPOLE

Este ensaio traz à discussão a posição do sujeito desterritorializado, isto é, apresenta-se a trajetória da heroína trágica, Macabea. A narrativa A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector é edificada sob o olhar do narrador Rodrigo S.M. que aos poucos demonstra como o sujeito clareceano, Macabea é justaposta aos símbolos socioculturais de um meio social estranho ao de sua origem, cujo drama se inicia e é corroborado pela falta de sentimento de pertença, ou seja, a protagonista vive as mazelas e vicissitudes da nova realidade sociocultural, Rio de Janeiro, e não podia ter nenhuma referência para si. Devido a isso, ela passa por grandes dificuldades em virtude da falta de intelecto e personalidade suficientemente fortes para lidar com os novos desafios que lhes foram impostos pela nova realidade. Restando-lhes duas saídas: i) negar sua origem e construir imaginariamente uma nova identidade; ii) atribuir suas incompetências e desgraças ao destino, passando destarte, a ser uma nova vítima da tragédia. Com isso Rodrigo S.M a posiciona tragicamente, elevando-a ao panteão das vítimas da modernidade, imigração constante das massas e sujeitos. O que se tem a partir daí é o drama interior do personagem em meio à busca e à fuga de sua verdade.
Para Aristóteles em sua Poética, a tragédia se caracteriza por ser:
... imitação de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada e com várias espécies de ornamentos distribuídas pelas diversas partes (do drama), (imitação que se efetua) não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções. (ARISTÓTELES, 1973:447).
Conforme Estudiosos da obra de Lispector afiançam, A hora da estrela, de Clarice Lispector tem como base as influências da tradição do teatro grego no romance moderno. Isto, sem dúvida é possível de vislumbrar em alguns pontos de contato com o texto trágico, não só no que concerne à transposição de recursos dramáticos para o gênero narrativo, como também no que diz respeito à proximidade de temas entre o texto clariceano e a obra Édipo Rei, de Sófocles, já que os dois textos tratam do desvelar de si mesmo e do próprio destino.
A realidade manifestada em A hora da estrela é dotada de extremo subjetivismo, não sendo uma essência, mas sim uma estrutura plurissignificativa que depende de uma determinada ótica para se manifestar sob uma forma distinta. Assim, na narrativa clariceana é comum o multiperspectivismo, isto é, coexistem o olhar do narrador e o olhar dos personagens, no qual só se pode falar em realidades plurais, uma vez que a protagonista se torna “fantoche”, sendo manipulada pelos fatos sócio-psicológicos que acerca.
Para Aristóteles neste tipo de discurso está presente a epifania, ou seja, é o medo de si dos demais, aqui representado nas ações de Macabea em seu quarto ouvindo o radio-relógio. Isto a leva ao prazer trágico, o qual evocar a catarse, provocando alívio de emoções, através da purgação. A catarse aristotélica, de acordo com o Antônio Freire (1985), consiste na purificação, na moderação, na sublimação dos dois sentimentos mais característicos da tragédia: a compaixão e o terror. Portanto, a protagonista é uma mulher comum, para quem ninguém olharia, ou melhor, a quem qualquer um desprezaria: corpo franzino, doente, feia, maus hábitos de higiene. Além disso, era alvo fácil da propaganda e da indústria cultural (para exemplificar, seu desejo maior era ser igual à Marilyn Monroe, símbolo sexual da época). Nossa personagem não sabe quem é, o que a torna incapaz de impor-se frente a qualquer um.
Dessa forma, Macabea caracteriza-se como sujeito trágico, pois ao longo da narrativa, ela segue de maneira linear seu próprio esvaziamento enquanto sujeito, perdendo inclusive sua autonomia, devido à obediência aos ditames do destino. Se na tradição trágica se diz que o personagem sucumbe devido a um erro cometido por ignorância. Infere-se com isso que Macabea ao nascer cometera seu primeiro erro, passando a ter sua vida definida pelo poder metafísico.
Eu também acho esquisito, mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu não vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas parece que deu certo. (LISPECTOR, 1998:43).
O trágico não reside na noção do aniquilamento, mas na idéia de que a própria salvação torna-se o aniquilamento. Não é na degradação da heroína que se cumpre a tragicidade, mas no fato de ela sucumbir no caminho que tomou justamente para fugir da ruína. Deste modo, ao tentar escapar de seu destino, fugindo da casa da tia, Macabea encontra em figuras desconhecidas uma possibilidade se compreende enquanto sujeito. Triste, nossa personagem busca consolo numa cartomante, que prevê que ela seria finalmente feliz: “a felicidade viria do "estrangeiro".
Segundo Nietzsche (s/d), em A origem da tragédia, existem dois elementos essenciais na fundação da tragédia: o espírito apolíneo e o instinto dionisíaco. Nascido como conflito, o encontro destes dois estados, através de um milagre metafísico, harmonicamente, dá origem à tragédia àtica. Preso a um destino, o heroína trágica precisa cumprir seu percurso de desnudamento da aparência, o que ocorre através da extinção da individuação apolínea pelo êxtase dionisíaco. Reintegrado ao coletivo, Macabea receberá a gratidão da comunidade, pela qual doou seu sacrifício. Para haver tragédia é necessário o conflito, que irá se instaurar na medida em que os personagens buscam sua autonomia, desafiando os deuses e as leis da polis.
Em A hora da estrela, os acontecimentos – assumidos como história inventada e mediada pelo narrador – se materializam no decorrer da própria escrita: “Pergunto-me se eu deveria caminhar à frente do tempo e esboçar logo um final. Acontece, porém que eu mesmo ainda não sei bem como esse isto terminará”. Aqui, o narrador prefere se concentrar no interior da personagem Macabéa, pois é a partir dele que as reflexões e os conflitos se estabelecem. A heroína de Clarice é apenas mais um dos rostos sofridos dos que imigram para os grandes centros urbanos.
O pathos de Macabéa se relaciona com valores interiores; seu destino em nada influi na vida da cidade: “Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás dos balcões trabalhando até a estafa. Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiriam como não existiriam”. Macabéa é a anti-heroína, cuja história tem o valor questionado pelo próprio narrador.
Macabéa também não tem noção de si mesma: “Se tivesse a tolice de se perguntar ‘quem sou eu?' cairia estatelada e em cheio no chão. É que ‘quem sou eu?' provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto.” Macabéa não se questiona; sua ignorância é total. Também não busca nenhuma verdade, não tem esperança no amanhã e no seu destino. O desvendar de sua verdade, que acontece por acaso na fatalidade de seu atropelamento, só lhe é possível na iminência da morte: “Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci.” É preciso ainda mencionar que Macabéa também encontra no final trágico sua forma de redenção – finalmente ela “é”, como personagem central de sua própria história, tornando-se a estrela de sua própria morte.
Para Derrida citado por Hutcheon “o sujeito é absolutamente indispensável. Eu não destruo o sujeito; eu o situo” (Hutcheon, 1991, p. 204). Dessa forma, podemos situar Macabea, conforme ensinamento do pós-modernismo é reconhecer e situá-la nas diferenças das ideologias e subjetividades do sistema, o qual a envolve e absorve nas teias dos sistemas culturais pelos quais ela passou.
Por fim, Macabea, esse sujeito feminino produto da espetacularização da fêmea desprovida de corpo e mente é consumida pela sua própria insignificância diante da grandiosidade do sistema. Mesmo na modernidade o, sujeito, às vezes, nem sempre suporta toda essa superposição de choques, essa impessoalização das relações e a falta de espiritualidade. Tampouco Macabéa o suportou, sobretudo ela que “era à-toa na cidade inconquistável”. O Rio de Janeiro era a cidade incompreensível, inatingível e impossível para Macabéa, na qual não consegui se situar na linguagem simbólica e cifrada da metrópole carioca, a qual acabou a “engolida”; Macabéa não conseguiu se adaptar ao Rio de Janeiro, a cidade toda feita contra ela a levou a uma espécie de afasia. Na chegada quase muda, foi emudecida completamente, pois se tratava de uma lugar, para ela, surda e cega. (FREITAG, 1998).
Referências
ARISTÓTELES. Poética. In: Os pensadores . Vol IV. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
BORELLI, Olga. Clarice Lispector – Esboço para um possível retrato. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
CANDIDO, Antonio. No Raiar de Clarice Lispector. In Vários Escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1970.
ÉSQUILO. In: SZONDI, Peter. Ensaio sobre o trágico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
FREITAG, Barbara. O Mito da Megalópole na Literatura Brasileira. Revista do Tempo Brasileiro, nº 132, Rio de Janeiro: 1998.
FREIRE, Antônio. O teatro grego . Braga: Pub. Da Faculdade de Filosofia, 1985.
HUTCHEON, Linda. Poética do Pós-modernismo. Rio de Janeiro: Imafo, 1991.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela . Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
NIETZSCHE, Frederich. A origem da tragédia . /s.l./: Guimarães Ed., /s.d. b/.
NUNES, Benedito. O Drama da Linguagem – Uma Leitura de Clarice Lispector. 2. ed., São Paulo: Editora Ática, 1995.
SÓFOCLES. Édipo-Rei . São Paulo: Abril Cultiral, 1980.
SÁ, Olga de. A Escritura de Clarice Lispector. Petrópolis: Vozes, 1993.
WALDMAN, Berta. Clarice Lispector: a paixão segundo C.L. São Paulo: Escuta, 1992.

terça-feira, 8 de abril de 2008

ASPECTOS ESTÉTICOS NA LITERATURA E CULTURA DA DIÁSPORA DO CICLO FEIJÃO

ORALIDADE E SUPERAÇÃO NA POÉTICA DA DIÁSPORA DO “FEIJÃO”
Robério Pereira Barreto©
Este texto é a primeira (em formato de resumo) da parte do projeto homônimo desenvolvido por mim, no Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias, da Uneb – Universidade do Estado da Bahia, Câmpus XVI, Irecê- BA, desde o segundo semestre de 2007, o qual foi aceito como comunicação no Congresso Internacional da ABECAN – Associação Brasileira de Estudos Canadenses, UFBA, Salvador-BA, de 11 a 14 de novembro de 2007. Objetivamos inicialmente compreender os aspectos estéticos provenientes da diáspora interna – ciclo do feijão – ocorrida na região de Irecê -BA, a partir da década de 70, momento em que o território ireceense recebeu significativa massa de migrantes dos estados nordestinos, Pernambuco e Paraíba, modificando ao longo do ciclo do feijão as características locais de tal maneira que, hoje, não se tem claro quais de fato são a identidade do povo e cultura locais.
Neste espaço, ocorreram simbioses importantes, isto é, as gerações que se seguiram à “diáspora do ciclo do feijão” construíram na diversidade suas relações socioculturais baziladas na tolerância e na superação, uma vez que a maioria dos descendentes enfrentou problemas relativos à sua aceitação individual e, sobretudo, cultural. Dizendo de outro modo, os primeiros migrantes foram levados a espaços de produção, ou seja, tiveram oportunidade de trabalhar a terra, e com isso realizarem seus sonhos: plantar e colher o alimento para o sustento de sua família. Já no que se referem ao uso de tecnologias ficaram bem além, pois não detinham saberes escolásticos suficientes para dominarem as tecnologias que iam surgindo ao longo do ciclo do feijão. É sabido ainda que uma parcela desses migrantes, não tendo acesso a terra para plantar feijão, dedicou-se ao comércio. Isso faz com que a cidade se tornasse o centro informal de comércio, onde se compra e vendia, na maioria das vezes, usando apenas o empenho da palavra e a garantia era o “fio do bigode”.
Estes fatos demonstram que a região é de cultura oral e, portanto, os espaços para o letramento só se tornaram possível a partir da segunda geração dos migrantes, a qual foi incentivada migrar para a cidade em busca de escolarização. Isto, conforme Jackson Rubem seu livro: Irecê, a saga dos migrantes (2004), possibilitou a construção de uma nova caracterização do cidadão irecense, pois muitos dos jovens, filhos dos paraibanos e pernambucanos que vieram para o cultivo do feijão, tendo ou não adquiridos patrimônio, fizeram com que seus filhos fizessem o caminho de volta em busca de estudos, especialmente com destino à Paraíba. Ainda de acordo com a obra citada, atualmente a maior parte dos profissionais formados, foi graduada nas universidades paraibanas. Por outro lado, os filhos dos nativos preferiam mandar seus filhos à capital da Bahia e, às vezes, ao Rio de Janeiro. Com isso, evidencia-se que, locais e migrantes promoveram de certa consciente ou inconscientemente a cultura híbrida que temos hoje; uma cidade que ainda não se definiu literária, artística e culturalmente, porque há em todos os recantos elementos culturais justapostos, fazendo com que não seja possível se compreender qual é afinal a identidade cultura da cidade, embora hajam manifestações isoladas, como por exemplo, a festa junina na qual predomina o forró, a vaquejada, etc. No plano literário sobressaem produções escritas, sejam elas poéticas ou não, fruto do trabalho de autores filhos da diáspora. De acordo com antologia publicada pela Academia Ireceense de Letras e Artes – AILA, fazem parte desse processo, os irmãos João e Pedro Correia – PB; Irajá Claudino de Souza[1]- PB; José Galdino de Souza – PB; José Otávio de Moura – PE. A partir da criação da agremiação literária e da editora Printfox, por Jackson Rubem surgiram escritores locais, como o próprio Rubem, Moacir Eduão Farias, Núbia Paiva e outros que, embora não tivessem nascidos em Irecê veio de cidades vizinhas para estudar e, assim, contribuir com a ainda incipiente produção literária local.
© Professor de Lingüística e Literatura da UNEB – Câmpus – XVI – Irecê – BA, poeta e escritor.
[1] Presidente da Academia Ireceense de Letras e escritor que prima pela poesia popular dando as suas palavras ritmos e cadência próprias da literatura de cordel.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

CATÁLISE POÉTICA NOS ESCRITOS DE REJANE TACH

Este pequeno ensaio chega com o objetivo de mostrar algumas das características da poetiza Rejane Tach que, como a maioria dos habitantes do Centro-Oeste, sobretudo de Mato Grosso são fruto de um processo diásporico interno que culminou em vários tipos de expressões socioculturais. Dentre estas destacam-se a literatura matogrossense na qual há vários estilos desde o clássico contemporâneo Manoel de Barros, passando pela pós-modernidade de Lucinda Persona até chegar ao estilo neo-romantismo, próprio da poesia de Rejane Tach. Em Mato Grosso, na verdade, existe uma produção artística que expressa os sentimentos de artistas que ao longo desse tres décadas em que se deu a separa e emancipação política administrativa do MAto Grosso do Sul, tem revelado a identidade de seu povo miscigenado, embora mantenha sua arte articulada com os elementos regionais.

Dessa maneira, é muito importante destacar a estilo rejaneano de fazer poesia falando das angústias que lhe toma a alma diante desse sistema brutal, o individualismo promovido pelas idéias de "modernidade tardia". Para isso, seguem algumas singelas linhas para demonstrar ao público com poetiza e poesia se imbricam num só ser ante as dúvidas da vida.

As ponderações que se seguem nas linhas abaixo são ínfimas, diante da grandiosidade que têm os versos confessionais de Rejane Tach. Diferentemente do seu livro anterior: Sanas loucuras, (2007) onde estão registrados sentimentos intimistas, estes, por sua vez parecem ter sido urdidos nas entranhas de um eu-lírico demasiado ambivalente, cujo desejo central parece ser a expurgação de todos os sentimentos que a alma humana guardou nos recônditos mais secretos e, agora, eles se rebelaram e vieram à tona, colocando o leitor para refletir diante de questões subjetivas, conforme sugerem os versos: A correr pelo silêncio/Sem contorno algum/Anda minha alma e/Decompõe-se num sopro Sutil...
Faz-se imperativo questionar: o que significa para o eu-lírico rejaneano a correria desta alma pelo silêncio? O que é este silêncio? Enfim, por ser uma poetiza de estilo ambivalente, sem dúvida, não existem respostas pré-configuradas. Ao contrário, à medida que se adentrar ao universo poético tacheano, novos inquéritos surgem ao invés de réplicas.
Em realidade, sua produção tem algo além do enigmático que, por natureza só a poesia oferece aos espíritos sensíveis às contradições da humanidade; encontram-se na maioria dos versos uma espécie de vazio, ou na melhor das hipóteses, uma continuidade do discurso do silêncio, todavia, esta alocução parece ser agressiva, logo é censurada pelo eu-lírico da poetiza. Comprava-se tal assertiva à medida que se nota a presença contínua e até exagerada das reticências em todos os poemas. Teria o eu-poético algo a confessar? Só lendo cada um dos poemas com a merecida atenção para se chegar a um veredito. Ai está o convite leitor para descobrir o “mistério” das reticências rejaneanas!
No poema a transcrito na íntegra a seguir, Rejane entrecorta os discursos de uma forma tal que ficam suspensas no ar múltiplas possibilidades de leitura, exigindo, portanto, para sua poesia um leitor modelo, conforma idealizou Umberto Eco. Mas, então como inferir os sentidos desses vazios?
Minha alma...fala comigo!
O que vai dizer-me?
Vai mentir-me?
Pra eu sobreviver como sempre foi?
Pateticamente transparente...
Sob um interminável apetite de...
Obscenas branduras...
Naturalmente, é possível que algum leitor imprudente venha sugerir uma exegese inapropriada e, assim, desvendar os misteriosos vazios dessa poesia cuja ambivalência promove uma assimetria na decodificação dos sentidos.
Sabemos que, na verdade, a poesia de Rejane é fruto de uma profunda catálise de signos, em que vários eu-liricos se manifestam por meio de uma linguagem alquimística. Nota-se que de acordo com movimento da linguagem empregada em cada poema, a poetiza expõe seus “arquétipos inconscientes”. Não seria forçoso sugerir que nos poemas da autora há uma intenção de obter por meio da expressão poética o resgate da personalidade, para isso é necessário tomar decisões complexas, cujo resultado é segundo se ver nas estrofes abaixo, uma ritual de passagem, ou melhor, o eu-lírico está diante de uma dicotomia universal: morte e vida.
Abraça a morte se quiser...
Sem receio de um dia
Aqui não caminhar...

Liberta-te!
Em teus anseios de sono
Para além
De algum lugar
Inimaginável em tua luz !
Assim, se ver na produção em destaque neste ensaio uma possível configuração poética em que se justapõem significantes e significados e, por isso, a metaforização da linguagem é acompanhada por profunda ambigüidade do eu rejaneano.

Robério Pereira Barreto

[1] Professor de Linguagem Literatura da Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Câmpus XVI – Irecê – BA.

EXPLICAÇÕES AO BLOGGER-LEITOR

Prezados Senhores,

Antes, porém, agradeço-lhes a benevolência e a disposição em acessar este espaço de escrita e reflexão sobre as linguagens cotidianas. Ademais, gostaria de lhes informar que estou republicando poemas já veiculado em um jornal matogrossense "O jornal do Vale" para que você, blogger-leitor possa ter acesso a estes trabalhos ainda não publicado nestes espaço. Aproveitem!

POEMA DE JORNAL 2

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POESIA EM O JORNAL DO VALE

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sábado, 5 de abril de 2008

REFLEXÕES E PRÁXIS NO ENSINO DA EJA

RESUMO: Este artigo relata experiência realizada no curso de formação de professores alfabetizadores na modalidade de ensino EJA, no município de Irecê-BA, com intuito de orientá-los sobre as novas perspectivas de ensino-aprendizagem da língua portuguesa para jovens e adultos, uma vez que ambos já usam a língua materna em sua vida e comunidade. Para isso apresentamos como temática: os usos de elementos lingüísticos da fala e da escrita usada no cotidiano das pessoas como referência para a aprendizagem de língua portuguesa pelos estudantes da Educação de Jovens e Adultos – EJA. Conforme lingüistas e historiadores da linguagem, a fala é o meio lingüístico essencial dos seres humanos. Dessa forma, no que diz respeito à produção oral dos alunos da EJA, a função do professor(a) é mais incentivá-los à produção discursiva, desinibindo-os com comentários positivos sobre sua fala. A sociedade atual é de escrita – letrada – que tem como representante institucional a escola, que ver o ensino-aprendizagem da língua na perspectiva da escrita, alfabetização. Assim sendo, o professor informa aos alunos a importância da escrita, dizendo que, ao registrar um pensamento por meio da escrita, ele perdurará no tempo atravessando grandes distâncias, por isso ela [escrita] tem que obedecer a certas regras e organização.

A questão que dar origem a este curso são os índices de analfabetismo divulgados pelos entes federativos para território de Irecê, levando em conta a necessidade que se tem da ofertar à comunidade em idade e séries incompatíveis uma oportunidade de se inclui no universo da língua(gem) por meio da ampliação de sua capacidade de usar os elementos lingüísticos de sua comunidade para realizar leitura a respeito do mundo e, por conseguinte, à apreensão de tecnologia de comunicação formal, a escrita.
Para isso apresentamos como temática: os usos de elementos lingüísticos da fala e da escrita usada no cotidiano das pessoas como referência para a aprendizagem de língua portuguesa pelos estudantes da Educação de Jovens e Adultos – EJA.
Por se tratar de um curso preparatório para professores que atuariam tanto na periferia quanto na zona rural, vimos que esta seria uma metodologia compatível e possível de ser aplicada com maior facilidade para compreensão das discussões levantadas pelo material aplicado no curso (20 horas aulas) e, sobretudo por que os professores participantes tinham apenas ensino médio, variando do magistério ao propedêutico.
Assim, o objetivo do curso foi oferecer aos profissionais da educação do município de Irecê-BA., fundamentos teóricos e atividades práticas que pudessem orientá-los a desempenhar de maneira didática e pedagógica ações que facilitassem a aprendizagem dos estudantes da modalidade EJA na escolas públicas municipais. Para isso, aplicamos uma metodologia bazilada na abordagem sócio-histórica, isto é, os cursistas participaram de atividades dialogadas nas quais narraram suas experiências com leitura e escrita, visando estabelecer parâmetros para aplicabilidade dos pressupostos da linguagem, quando esta fosse empregada com os estudantes da EJA.
Neste trabalho será feita uma abordagem sócio-histórica. A opção por tal perspectiva se justifica, uma vez que os pressupostos dessa natureza permitem uma compreensão a partir de uma perspectiva dos sujeitos, através de uma dialética constante com o contexto do qual são integrantes. O entrelaçamento das teorias e perspectivas de linguagem advinda do Círculo de Bakhtin é primordial para alicerçar uma metodologia cuja centralidade esteja na questão da linguagem, fazendo, assim, emergir o sujeito como ser dotado de historicidade e sociabilidade.
As atividades têm como lócus de ação um programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Irecê-BA, e sujeitos os profissionais da educação que atuam no respectivo programa e modalidade de Ensino.
Como estratégia metodológica utilizar-se-á a observação mediada. Os sujeitos do programa, professor(as) de Língua Portuguesa das turmas farão leituras e diálogos entre si na perspectiva de construir um plano didático-metodológico a ser empregado em sala de aula com estudantes de EJA. Compreendendo que o professor-orientador, além de participar da ação, deve, também, tornar-se um sujeito ativo durante o processo criativo, buscando a produção de idéias novas que possam levar a novas práxis. Dessa maneira, a observação mediada se fez através de conversas com as professor(as) cursistas durante ou após cada atividade.
O curso foi divido em três etapas, a saber: discussão teórica e atividades práticas sobre 1º segmento (1ª a 4ª séries); 2º segmento (5ª a 8ª séries) Ensino fundamental; 3º segmento (1ª a 3ª séries) Ensino Médio. Esta tripartição decorreu da necessidade de se possibilitar a compreensão e uso dos mais diferenciados recursos e tecnologias à realização da alfabetização dos Jovens e Adultos.
Sabemos que a língua é o principal instrumento que temos para interagir com as outras pessoas, para termos acesso às informações, aos saberes, enfim, à cultura da qual fazemos parte.
Assim, o ensino de Língua Portuguesa nos segmentos de EJA deve ser balizado na perspectiva de se levar ao aprendente o reconhecimento dos diferentes níveis da língua materna, isto é, os professores foram colocados em situações reais de aquisição de língua(gem), isto é, foram feitas atividades em que se colocava em destaque ocorrências em que eles poderiam vivenciar em sala de aula com seus aprendizes. A partir de então, refletiram sobre sua práxis e os reflexos delas na aprendizagem e na vida das pessoas com as quais estavam trabalhando, ou iriam trabalhar.
Dessa maneira, tais circunstâncias reais de ensino-aprendizagem de linguagem, resultaram no planejamento de ações que os levem ao contato direto com a escrita e a oralidade de seus alunos. Com relação à linguagem escrita ficou evidenciado nos relatos orais dos cursistas que, dependendo do segmento há resistência a determinados mecanismos de aprendizagem, por exemplo, o uso de filmes como instrumento pedagógico, visto que alunos ainda entendem a sala de aula como lugar para aprender a ler e, principalmente, escrever numa tentativa de se recuperar o tempo “perdido”. Isso evidencia o grau de imaturidade de leitura desses alunos, uma vez que o filme pode servir como elemento instigador do inconsciente, dando-lhes condições se posicionar enquanto sujeitos do processo.
Com relação à leitura, ficou evidenciando ainda que os alunos devido às suas experiências de vida são efetivos “leitores de ouvido”, ou seja, ao ouvirem a professor(a) narrando o texto seja este receitas de bolo, lista de compras, panfleto, conto, notícia, etc.) interferiam construindo sentido. Entretanto, não demonstraram o domínio do sistema de representação alfabética, a ortografia e a pontuação.
Já no plano da linguagem oral, invertiam-se os papeis, isto é, senhoras de 60 anos de idade, mostravam-se hábeis contadoras de histórias tanto de sua vida quanto dos saberes populares de sua localidade. Foi ai que se evidenciou a necessidade do professor(a) ofertar a estes aprendizes condições especiais para que eles pudessem expressar seus sentimentos por meio da oralidade. Para tanto, o professor(a) aproveitaria esta oportunidade para trabalhar a Língua Portuguesa em suas variantes oral e escrita criando situações de fala, isto é, foram dados aos alunos temas de seu cotidiano (causos, histórias, relatos e cantigas) com os quais eles articulariam suas comunicações e o professor monitoraria tal produção. Para, em seguida, identificar a prosódia do discurso e orientá-los sobre esses “desvios” chamando a atenção para a questão da escrita, visto que muitos confundiam a palavra com os sons.
Conforme lingüistas e historiadores da linguagem, a fala é o meio lingüístico essencial dos seres humanos. É a responsável pela nossa comunicação cotidiana independente de nossa formação escolar ou cultural. Esta modalidade de interação marca o modo de expressão cultural daqueles pouco ou nada alfabetizados. A oralidade é sua simbologia mais forte (identidade), demonstrada através de uma bagagem cultural articulada no contato cotidiano e na tradição oral, a qual a fruto de experiências pessoais.
Isso, certamente, tem seus efeitos socioculturais relevantes. Por isso não é raro encontrarmos pessoas pouco ou nada escolarizadas que têm domínio sobre a oralidade e, portanto, são ótimos contadores de causos, poetas, repentistas, líderes populares. Não obstante, há indivíduos que têm seus discursos marcados pela vaguidão, isto é, não ordena logicamente as idéias ao serem oralizadas, por isso, às vezes não são compreendidos, isolando-se do mundo por se sentirem humilhados pela falta de competência comunicativa.
Estas afirmações foram narradas pelos cursistas, nos colocando em contato com uma realidade, vindo ao encontro das discussões feitas com as turmas de educação de jovens e adultos, uma vez que ali temos uma gama de variedades lingüística; sotaques e expressões que diferenciam as gírias dos jovens, os modismos da televisão, a singeleza dos mais adultos e velhos. Sendo assim, recomendamos que o professor(a) se situasse na cena de ensino-aprendizagem valorizando a linguagem oral ou escrita que cada um possuía, tendo sempre em mente a natureza mais flexível e dinâmica oralidade diante da escrita. Para em seguida orientar os usuários dessa modalidade de comunicação a observar alguns requisitos básicos da língua, por exemplo, a pronúncia adequada para as palavras.
A práxis do professor com a lingua(gem) na EJA
De posse desse saber, o professor(a) deve planejar estratégias e situações para que os alfabetizandos experimentem e ampliem suas maneiras de expressão oral individual e coletiva. Recomendou-se que seja oferecido aos alunos um fato do cotidiano como tema para ser discutido em pequenos grupos, em seguida, formam-se um grande grupo com o qual o professor interageria ouvindo e reelaborando os discursos e argumentos, bem como fazendo anotações de palavras e expressões que viessem a fugir do “padrão”.
Dessa forma, no que diz respeito à produção oral dos alunos da EJA, a função do professor(a) é mais incentivá-los à produção discursiva, desinibindo-os com comentários positivos sobre sua fala. Em outras palavras, orientar é a questão chave neste processo, visto que estes aprendizes já são usuários da vertente oral da linguagem e, certamente, têm suas formas de falar culturalmente concretizadas.
Em outras palavras, na cultura de tradição oral como a nossa, mesmo depois de termos conhecido as letras e sido alfabetizados, continuamos a usar a linguagem oral para realizar a maior parte dos nossos atos comunicativos, e também aprender nas conversas com nossos iguais. Portanto, a escola, sobretudo, na modalidade da EJA o professor deve estar atento isso e criar situações comunicativas em que os educandos exponham e reconheçam aquilo que já sabe sobre a sua língua.
A sociedade atual é de escrita – letrada – que tem como representante institucional a escola, que ver o ensino-aprendizagem da língua na perspectiva da escrita, alfabetização. Entretanto, aqueles que não foram a tal instituição têm conhecimentos mesmo que limitado da escrita, inclusive reconhecem algumas letras e fazem seu nome. Além disso, por meio da percepção visual, verbal e sonora aprenderam a identificar e ler placas escritas, preencher formulários, manusear listas de compras, anotar preços de mercadorias e, até lidar com “receitas médicas.”
Conforme já citado antes, a escola e o professor que se propõem alfabetizar jovens e adultos precisam lidar com essa questão e, portanto, construir um planejamento que insira o estudante no universo textual, ou seja, crer-se que em virtude da exposição ao material escrito variado, os aprendizes reconheçam aquilo que já sabe da e sobre a escrita e, em seguida, exponham seus pensamentos através da organização desse material por meio do registro escrito.
Dessa forma, é fundamental que o professor alfabetizador faça atividades em que os alunos sintam-se a vontade com o material escrito. Exemplo, leituras dirigidas de cordel, contos, notícias, etc. Pede-se aos aprendentes que recortem letras (tamanhos variados) e palavras de diferentes formados e, em seguida, montem textos com estas palavras a partir de tema apresentado ao grupo pelo professor.
O nosso sistema de escrita é alfabético e, no processo de aprendizagem, os alunos devem estabelecer as relações existentes entre os sons da fala e as letras. Assim sendo, o professor informa aos alunos a importância da escrita, dizendo que, ao registrar um pensamento por meio da escrita, ele perdurará no tempo atravessando grandes distâncias, por isso ela [escrita] tem que obedecer a certas regras e organização.
Para dominar esta questão, o professor conscientizárá seus alunos de que o funcionamento da escrita se dá através do conhecimento de letras e palavras, pois estas são signos que nosso sistema de representação usa. Além disso, é importante que o estudante passa a conhecer as relações entre as letras e os sons da fala, isto é, para cada fonema – som – temos uma representação gráfica (é por isso que nosso sistema de representação escrita é chamado de alfabético).
Uma mesma palavra pode ser pronunciada de várias formas, mas deve ter uma única grafia. Ex. “Muito” pode ser Muintu; muinto., muncho, munto ou outras dependendo de quem a pronúncia. Porém a escrita é uma só. Enfim para que os alunos leiam e escrevam com autonomia, precisam familiarizar-se com a diversidade de textos existentes na sociedade em vivem.
Referências.
BURKE, Peter. Historia social da linguagem. São Paulo. UNESP, 2000.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolingüística na sala de aula. São Paulo, Parábola Editorial, 2004.
SEBER, Maria Glória da. A escrita infantil:o caminhos da construção. São Paulo, Scipione, 1997.

FAMÉLICAS BOCAS

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quinta-feira, 3 de abril de 2008

NOVO ENTREVE PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM

CIBERFOBIA DO PROFESSOR: ENTREVE NO ENSINO-APRENDIZAGEM

Robério Pereira Barreto

RESUMO: O ensino de linguagem na escola deve, sobretudo, atender às novas necessidades dos aprendizes, isto é, os profissionais que atuam na formação lingüística e cultural de adolescentes estudantes das escolas públicas do país, estão muito aquém dos desejos dos aprendizes, uma vez que a maioria dos professores reluta em aprender os princípios básicos da linguagem veiculada na internete, tornando-se ciberfóbicos convictos justamente para se furtarem das novas possibilidades de aprendizagem, com isso evita-se mais horas de trabalho.
Palavras-chave: Professor;Ciberfobia; internete; Educação; Aluno


O ensino de linguagem na escola deve, sobretudo, atender às novas necessidades dos aprendizes, isto é, os profissionais que atuam na formação lingüística e cultural de adolescentes estudantes das escolas públicas do país, estão muito aquém dos desejos dos aprendizes, uma vez que a maioria dos professores reluta em aprender os princípios básicos da linguagem veiculada na internete. Além desse “medo”, há problemas de ordem estrutural porque boa parte das cidades e escolas não tem laboratório de informática; aquelas que têm tal ferramenta a subutilizada porque as coordenações escolares ainda não criam programas para inserir seus aprendizes ao mundo digital através da escola.
Por outro lado, os púberes já se aventuram pelo mundo “www” saindo à frente daqueles que, de certo modo deveria lhes orientar na aquisição de conhecimento além livro didático. Com isso, se tem uma digladiar entre aprendizes capazes de encontrar na rede digital uma gama desconexa de informações e apresentá-la como sendo de sua autoria e o professor “analfabeto digital” que os aceitam sem condições de questionar este procedimento, uma vez que não sabem “navegar” pelos universos virtuais, onde possivelmente estariam armazenadas tais informações. (rede mundial é um espaço de consulta e aprendizado à medida que os usuários tenha consciência disso, todavia, o que se ver é exatamente o contrário; trabalhos escolares sendo mal feitos em virtude da ignorância ética da maioria dos consultores das bibliotecas digitais, sites).
Esta discussão vem sendo ponto de vários questionamentos entre os pesquisadores e estudiosos de tecnologia e educação, buscando informar que as tecnologias da informação e comunicação TICs precisam ser mais bem utilizadas pelas instituições educacionais. Entretanto, há o reconhecimento de que existe uma falta de querer por parte de muitos educadores, sobremodo, daqueles que se foram numa base educacional rígida, isto é, aprenderam que os livros são os meios de acesso à cultura e ao saber, esquecendo, portanto, os avanços das tecnologias nas quais estão mecanismos de armazenamento e circulação de informações em tempo real.
Assim sendo, “A interatividade é, com certeza, a marca semio-dicursiva da e na Wev, posto que os usuários do meio digital se comunicam a partir das interfaces que compõe o sistema World Wide Web.” (Barreto; Baldinotti, 2005, p. 41). Portanto, é neste sentido que a escola deve criar e promover instrumentos que levem professores a superação de seus medos, (cf. a psicanálise, é enfrentado os seus medos que os sujeitos os superam) em relação ao uso didático das TICs no sentido de ampliarem suas práticas pedagógicas, visto que na rede digital os discursos são produzidos e colocados à disposição dos interessados numa concepção de que nem tudo ali exposto é verdadeiro ou falso, cabendo aqueles que se interessa por qual ou tal informação decodificá-la e, assim, agregar valores para si mediante as representações que a cultura lhes atribuir.
Conflitos à parte, estar cada vez mais clara a necessidade do professor se conectar ao mundo digital e, com isso, aprender com seus alunos os mecanismos de linguagem e aprendizagem vigentes na cultura deles para, dessa maneira, dialogar com os novos saberes apresentados pelo mundo e cultura digitais e, sem remorso ou vaidade aprender a direcionar seu barco nos espaços virtuais promovidos pelas tecnologias da informação e comunicação.
Este sentimento de pertencimento tornar-se-á fato de motivação para a vida coletiva da comunidade escolar (aluno e professores aprendendo juntos a dominarem as “revoltas ondas digitais”, todos vivenciando e experimentando juntos às novas funções do ensino e aprendizagem, bem como discutindo as necessidades individuais e sociais de cada um, seria, sem dúvida a maneira de se superar a ciberfobia do professores. Entretanto, reconhece-se que tal tarefa é quase uma idealização, pois vários elementos culturais, sociais e econômicos depõem contra essa ideal de professor e escola.
Para Pierre Lévy esses aspectos são fundamentais ressaltar, porém é importante saber ainda que aos se estabelecer essas relações suscitam-se processos interativos nos quais “a inteligência ou cognição são resultados de redes complexas onde interage um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos. Não sou “eu” que sou inteligente, mas “eu” com grupo humano do qual sou membro, com minha língua, com toda uma herança de métodos e tecnologias intelectuais (dentre as quais, o uso da escrita)” (Lévy, 1997, p. 135 apud Barreto; Baldinotti, 2005, p. 22).
Portanto, encarar a aprendizagem e os ciberdiscursos na web é pensar na melhoria das condições de trabalho de si mesmo como profissional da educação integrado ao mundo dos estudantes, dando lhes oportunidade de ampliarem seus horizontes, visto que assim o professor estará engajado e buscará melhor orientar meios para aquisição dos novos saberes exigidos pelo mundo contemporâneo.
Bibliografias:
BARRETO, Robério Pereira; BALDINOTTI, Sérgio. Ciberdiscurso e interculturalidade na Web. Tangará da Serra [MT], 2005.
LÉVY, Pierre.As tecnologias da inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, 1997.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

INSÔNIA NA MADRUGAGA

NASCER DA ALVORADA

No silencio da noite enluarada
Entrego-me a saudade de ti
Como a aurora suavemente
Despe-se para sol na alvorada.

Na algaravia da manhã acordada
Pelos gritos dos passarinhos,
Reclamo ao destino a falta de ti
Com cabelos em desalinho,
Embelezando-lhe o rosto escultural.

Sem o seu bom dia...
As horas perdem a magia
E transformam-se em fantasmas...

02 de abril de 2008, 01h41
Robério Pereira Barreto

terça-feira, 1 de abril de 2008

FRIO DE SAUDADES

FRIORENTA ALMA


A chuva no telhado
Em compasso ritmado
Alimenta a terra sedenta
Como fazias ao beijar-me a boca.

O vento assovia uma canção
Por entre as frestas do teto
Embalando minha agonia;
O desejo por ti aumenta
E rolo na cama fria.

Neste torpor me sinto no deserto,
Onde não há cobertor para me aquecer;
Sinto ter você por perto.

Alma e coração friorentos
Fazer de mim frágil ser
A procura de seus braços
Para me abraçar e proteger.

01 de abril de 2008, 10h48min.
Robério Pereira Barreto