REFLEXÕES E PRÁXIS NO ENSINO DA EJA
RESUMO: Este artigo relata experiência realizada no curso de formação de professores alfabetizadores na modalidade de ensino EJA, no município de Irecê-BA, com intuito de orientá-los sobre as novas perspectivas de ensino-aprendizagem da língua portuguesa para jovens e adultos, uma vez que ambos já usam a língua materna em sua vida e comunidade. Para isso apresentamos como temática: os usos de elementos lingüísticos da fala e da escrita usada no cotidiano das pessoas como referência para a aprendizagem de língua portuguesa pelos estudantes da Educação de Jovens e Adultos – EJA. Conforme lingüistas e historiadores da linguagem, a fala é o meio lingüístico essencial dos seres humanos. Dessa forma, no que diz respeito à produção oral dos alunos da EJA, a função do professor(a) é mais incentivá-los à produção discursiva, desinibindo-os com comentários positivos sobre sua fala. A sociedade atual é de escrita – letrada – que tem como representante institucional a escola, que ver o ensino-aprendizagem da língua na perspectiva da escrita, alfabetização. Assim sendo, o professor informa aos alunos a importância da escrita, dizendo que, ao registrar um pensamento por meio da escrita, ele perdurará no tempo atravessando grandes distâncias, por isso ela [escrita] tem que obedecer a certas regras e organização.
A questão que dar origem a este curso são os índices de analfabetismo divulgados pelos entes federativos para território de Irecê, levando em conta a necessidade que se tem da ofertar à comunidade em idade e séries incompatíveis uma oportunidade de se inclui no universo da língua(gem) por meio da ampliação de sua capacidade de usar os elementos lingüísticos de sua comunidade para realizar leitura a respeito do mundo e, por conseguinte, à apreensão de tecnologia de comunicação formal, a escrita.
Para isso apresentamos como temática: os usos de elementos lingüísticos da fala e da escrita usada no cotidiano das pessoas como referência para a aprendizagem de língua portuguesa pelos estudantes da Educação de Jovens e Adultos – EJA.
Por se tratar de um curso preparatório para professores que atuariam tanto na periferia quanto na zona rural, vimos que esta seria uma metodologia compatível e possível de ser aplicada com maior facilidade para compreensão das discussões levantadas pelo material aplicado no curso (20 horas aulas) e, sobretudo por que os professores participantes tinham apenas ensino médio, variando do magistério ao propedêutico.
Assim, o objetivo do curso foi oferecer aos profissionais da educação do município de Irecê-BA., fundamentos teóricos e atividades práticas que pudessem orientá-los a desempenhar de maneira didática e pedagógica ações que facilitassem a aprendizagem dos estudantes da modalidade EJA na escolas públicas municipais. Para isso, aplicamos uma metodologia bazilada na abordagem sócio-histórica, isto é, os cursistas participaram de atividades dialogadas nas quais narraram suas experiências com leitura e escrita, visando estabelecer parâmetros para aplicabilidade dos pressupostos da linguagem, quando esta fosse empregada com os estudantes da EJA.
Neste trabalho será feita uma abordagem sócio-histórica. A opção por tal perspectiva se justifica, uma vez que os pressupostos dessa natureza permitem uma compreensão a partir de uma perspectiva dos sujeitos, através de uma dialética constante com o contexto do qual são integrantes. O entrelaçamento das teorias e perspectivas de linguagem advinda do Círculo de Bakhtin é primordial para alicerçar uma metodologia cuja centralidade esteja na questão da linguagem, fazendo, assim, emergir o sujeito como ser dotado de historicidade e sociabilidade.
As atividades têm como lócus de ação um programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Irecê-BA, e sujeitos os profissionais da educação que atuam no respectivo programa e modalidade de Ensino.
Como estratégia metodológica utilizar-se-á a observação mediada. Os sujeitos do programa, professor(as) de Língua Portuguesa das turmas farão leituras e diálogos entre si na perspectiva de construir um plano didático-metodológico a ser empregado em sala de aula com estudantes de EJA. Compreendendo que o professor-orientador, além de participar da ação, deve, também, tornar-se um sujeito ativo durante o processo criativo, buscando a produção de idéias novas que possam levar a novas práxis. Dessa maneira, a observação mediada se fez através de conversas com as professor(as) cursistas durante ou após cada atividade.
O curso foi divido em três etapas, a saber: discussão teórica e atividades práticas sobre 1º segmento (1ª a 4ª séries); 2º segmento (5ª a 8ª séries) Ensino fundamental; 3º segmento (1ª a 3ª séries) Ensino Médio. Esta tripartição decorreu da necessidade de se possibilitar a compreensão e uso dos mais diferenciados recursos e tecnologias à realização da alfabetização dos Jovens e Adultos.
Sabemos que a língua é o principal instrumento que temos para interagir com as outras pessoas, para termos acesso às informações, aos saberes, enfim, à cultura da qual fazemos parte.
Assim, o ensino de Língua Portuguesa nos segmentos de EJA deve ser balizado na perspectiva de se levar ao aprendente o reconhecimento dos diferentes níveis da língua materna, isto é, os professores foram colocados em situações reais de aquisição de língua(gem), isto é, foram feitas atividades em que se colocava em destaque ocorrências em que eles poderiam vivenciar em sala de aula com seus aprendizes. A partir de então, refletiram sobre sua práxis e os reflexos delas na aprendizagem e na vida das pessoas com as quais estavam trabalhando, ou iriam trabalhar.
Dessa maneira, tais circunstâncias reais de ensino-aprendizagem de linguagem, resultaram no planejamento de ações que os levem ao contato direto com a escrita e a oralidade de seus alunos. Com relação à linguagem escrita ficou evidenciado nos relatos orais dos cursistas que, dependendo do segmento há resistência a determinados mecanismos de aprendizagem, por exemplo, o uso de filmes como instrumento pedagógico, visto que alunos ainda entendem a sala de aula como lugar para aprender a ler e, principalmente, escrever numa tentativa de se recuperar o tempo “perdido”. Isso evidencia o grau de imaturidade de leitura desses alunos, uma vez que o filme pode servir como elemento instigador do inconsciente, dando-lhes condições se posicionar enquanto sujeitos do processo.
Com relação à leitura, ficou evidenciando ainda que os alunos devido às suas experiências de vida são efetivos “leitores de ouvido”, ou seja, ao ouvirem a professor(a) narrando o texto seja este receitas de bolo, lista de compras, panfleto, conto, notícia, etc.) interferiam construindo sentido. Entretanto, não demonstraram o domínio do sistema de representação alfabética, a ortografia e a pontuação.
Já no plano da linguagem oral, invertiam-se os papeis, isto é, senhoras de 60 anos de idade, mostravam-se hábeis contadoras de histórias tanto de sua vida quanto dos saberes populares de sua localidade. Foi ai que se evidenciou a necessidade do professor(a) ofertar a estes aprendizes condições especiais para que eles pudessem expressar seus sentimentos por meio da oralidade. Para tanto, o professor(a) aproveitaria esta oportunidade para trabalhar a Língua Portuguesa em suas variantes oral e escrita criando situações de fala, isto é, foram dados aos alunos temas de seu cotidiano (causos, histórias, relatos e cantigas) com os quais eles articulariam suas comunicações e o professor monitoraria tal produção. Para, em seguida, identificar a prosódia do discurso e orientá-los sobre esses “desvios” chamando a atenção para a questão da escrita, visto que muitos confundiam a palavra com os sons.
Conforme lingüistas e historiadores da linguagem, a fala é o meio lingüístico essencial dos seres humanos. É a responsável pela nossa comunicação cotidiana independente de nossa formação escolar ou cultural. Esta modalidade de interação marca o modo de expressão cultural daqueles pouco ou nada alfabetizados. A oralidade é sua simbologia mais forte (identidade), demonstrada através de uma bagagem cultural articulada no contato cotidiano e na tradição oral, a qual a fruto de experiências pessoais.
Isso, certamente, tem seus efeitos socioculturais relevantes. Por isso não é raro encontrarmos pessoas pouco ou nada escolarizadas que têm domínio sobre a oralidade e, portanto, são ótimos contadores de causos, poetas, repentistas, líderes populares. Não obstante, há indivíduos que têm seus discursos marcados pela vaguidão, isto é, não ordena logicamente as idéias ao serem oralizadas, por isso, às vezes não são compreendidos, isolando-se do mundo por se sentirem humilhados pela falta de competência comunicativa.
Estas afirmações foram narradas pelos cursistas, nos colocando em contato com uma realidade, vindo ao encontro das discussões feitas com as turmas de educação de jovens e adultos, uma vez que ali temos uma gama de variedades lingüística; sotaques e expressões que diferenciam as gírias dos jovens, os modismos da televisão, a singeleza dos mais adultos e velhos. Sendo assim, recomendamos que o professor(a) se situasse na cena de ensino-aprendizagem valorizando a linguagem oral ou escrita que cada um possuía, tendo sempre em mente a natureza mais flexível e dinâmica oralidade diante da escrita. Para em seguida orientar os usuários dessa modalidade de comunicação a observar alguns requisitos básicos da língua, por exemplo, a pronúncia adequada para as palavras.
A práxis do professor com a lingua(gem) na EJA
De posse desse saber, o professor(a) deve planejar estratégias e situações para que os alfabetizandos experimentem e ampliem suas maneiras de expressão oral individual e coletiva. Recomendou-se que seja oferecido aos alunos um fato do cotidiano como tema para ser discutido em pequenos grupos, em seguida, formam-se um grande grupo com o qual o professor interageria ouvindo e reelaborando os discursos e argumentos, bem como fazendo anotações de palavras e expressões que viessem a fugir do “padrão”.
Dessa forma, no que diz respeito à produção oral dos alunos da EJA, a função do professor(a) é mais incentivá-los à produção discursiva, desinibindo-os com comentários positivos sobre sua fala. Em outras palavras, orientar é a questão chave neste processo, visto que estes aprendizes já são usuários da vertente oral da linguagem e, certamente, têm suas formas de falar culturalmente concretizadas.
Em outras palavras, na cultura de tradição oral como a nossa, mesmo depois de termos conhecido as letras e sido alfabetizados, continuamos a usar a linguagem oral para realizar a maior parte dos nossos atos comunicativos, e também aprender nas conversas com nossos iguais. Portanto, a escola, sobretudo, na modalidade da EJA o professor deve estar atento isso e criar situações comunicativas em que os educandos exponham e reconheçam aquilo que já sabe sobre a sua língua.
A sociedade atual é de escrita – letrada – que tem como representante institucional a escola, que ver o ensino-aprendizagem da língua na perspectiva da escrita, alfabetização. Entretanto, aqueles que não foram a tal instituição têm conhecimentos mesmo que limitado da escrita, inclusive reconhecem algumas letras e fazem seu nome. Além disso, por meio da percepção visual, verbal e sonora aprenderam a identificar e ler placas escritas, preencher formulários, manusear listas de compras, anotar preços de mercadorias e, até lidar com “receitas médicas.”
Conforme já citado antes, a escola e o professor que se propõem alfabetizar jovens e adultos precisam lidar com essa questão e, portanto, construir um planejamento que insira o estudante no universo textual, ou seja, crer-se que em virtude da exposição ao material escrito variado, os aprendizes reconheçam aquilo que já sabe da e sobre a escrita e, em seguida, exponham seus pensamentos através da organização desse material por meio do registro escrito.
Dessa forma, é fundamental que o professor alfabetizador faça atividades em que os alunos sintam-se a vontade com o material escrito. Exemplo, leituras dirigidas de cordel, contos, notícias, etc. Pede-se aos aprendentes que recortem letras (tamanhos variados) e palavras de diferentes formados e, em seguida, montem textos com estas palavras a partir de tema apresentado ao grupo pelo professor.
O nosso sistema de escrita é alfabético e, no processo de aprendizagem, os alunos devem estabelecer as relações existentes entre os sons da fala e as letras. Assim sendo, o professor informa aos alunos a importância da escrita, dizendo que, ao registrar um pensamento por meio da escrita, ele perdurará no tempo atravessando grandes distâncias, por isso ela [escrita] tem que obedecer a certas regras e organização.
Para dominar esta questão, o professor conscientizárá seus alunos de que o funcionamento da escrita se dá através do conhecimento de letras e palavras, pois estas são signos que nosso sistema de representação usa. Além disso, é importante que o estudante passa a conhecer as relações entre as letras e os sons da fala, isto é, para cada fonema – som – temos uma representação gráfica (é por isso que nosso sistema de representação escrita é chamado de alfabético).
Uma mesma palavra pode ser pronunciada de várias formas, mas deve ter uma única grafia. Ex. “Muito” pode ser Muintu; muinto., muncho, munto ou outras dependendo de quem a pronúncia. Porém a escrita é uma só. Enfim para que os alunos leiam e escrevam com autonomia, precisam familiarizar-se com a diversidade de textos existentes na sociedade em vivem.
Referências.
BURKE, Peter. Historia social da linguagem. São Paulo. UNESP, 2000.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolingüística na sala de aula. São Paulo, Parábola Editorial, 2004.
SEBER, Maria Glória da. A escrita infantil:o caminhos da construção. São Paulo, Scipione, 1997.
A questão que dar origem a este curso são os índices de analfabetismo divulgados pelos entes federativos para território de Irecê, levando em conta a necessidade que se tem da ofertar à comunidade em idade e séries incompatíveis uma oportunidade de se inclui no universo da língua(gem) por meio da ampliação de sua capacidade de usar os elementos lingüísticos de sua comunidade para realizar leitura a respeito do mundo e, por conseguinte, à apreensão de tecnologia de comunicação formal, a escrita.
Para isso apresentamos como temática: os usos de elementos lingüísticos da fala e da escrita usada no cotidiano das pessoas como referência para a aprendizagem de língua portuguesa pelos estudantes da Educação de Jovens e Adultos – EJA.
Por se tratar de um curso preparatório para professores que atuariam tanto na periferia quanto na zona rural, vimos que esta seria uma metodologia compatível e possível de ser aplicada com maior facilidade para compreensão das discussões levantadas pelo material aplicado no curso (20 horas aulas) e, sobretudo por que os professores participantes tinham apenas ensino médio, variando do magistério ao propedêutico.
Assim, o objetivo do curso foi oferecer aos profissionais da educação do município de Irecê-BA., fundamentos teóricos e atividades práticas que pudessem orientá-los a desempenhar de maneira didática e pedagógica ações que facilitassem a aprendizagem dos estudantes da modalidade EJA na escolas públicas municipais. Para isso, aplicamos uma metodologia bazilada na abordagem sócio-histórica, isto é, os cursistas participaram de atividades dialogadas nas quais narraram suas experiências com leitura e escrita, visando estabelecer parâmetros para aplicabilidade dos pressupostos da linguagem, quando esta fosse empregada com os estudantes da EJA.
Neste trabalho será feita uma abordagem sócio-histórica. A opção por tal perspectiva se justifica, uma vez que os pressupostos dessa natureza permitem uma compreensão a partir de uma perspectiva dos sujeitos, através de uma dialética constante com o contexto do qual são integrantes. O entrelaçamento das teorias e perspectivas de linguagem advinda do Círculo de Bakhtin é primordial para alicerçar uma metodologia cuja centralidade esteja na questão da linguagem, fazendo, assim, emergir o sujeito como ser dotado de historicidade e sociabilidade.
As atividades têm como lócus de ação um programa de Alfabetização de Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Irecê-BA, e sujeitos os profissionais da educação que atuam no respectivo programa e modalidade de Ensino.
Como estratégia metodológica utilizar-se-á a observação mediada. Os sujeitos do programa, professor(as) de Língua Portuguesa das turmas farão leituras e diálogos entre si na perspectiva de construir um plano didático-metodológico a ser empregado em sala de aula com estudantes de EJA. Compreendendo que o professor-orientador, além de participar da ação, deve, também, tornar-se um sujeito ativo durante o processo criativo, buscando a produção de idéias novas que possam levar a novas práxis. Dessa maneira, a observação mediada se fez através de conversas com as professor(as) cursistas durante ou após cada atividade.
O curso foi divido em três etapas, a saber: discussão teórica e atividades práticas sobre 1º segmento (1ª a 4ª séries); 2º segmento (5ª a 8ª séries) Ensino fundamental; 3º segmento (1ª a 3ª séries) Ensino Médio. Esta tripartição decorreu da necessidade de se possibilitar a compreensão e uso dos mais diferenciados recursos e tecnologias à realização da alfabetização dos Jovens e Adultos.
Sabemos que a língua é o principal instrumento que temos para interagir com as outras pessoas, para termos acesso às informações, aos saberes, enfim, à cultura da qual fazemos parte.
Assim, o ensino de Língua Portuguesa nos segmentos de EJA deve ser balizado na perspectiva de se levar ao aprendente o reconhecimento dos diferentes níveis da língua materna, isto é, os professores foram colocados em situações reais de aquisição de língua(gem), isto é, foram feitas atividades em que se colocava em destaque ocorrências em que eles poderiam vivenciar em sala de aula com seus aprendizes. A partir de então, refletiram sobre sua práxis e os reflexos delas na aprendizagem e na vida das pessoas com as quais estavam trabalhando, ou iriam trabalhar.
Dessa maneira, tais circunstâncias reais de ensino-aprendizagem de linguagem, resultaram no planejamento de ações que os levem ao contato direto com a escrita e a oralidade de seus alunos. Com relação à linguagem escrita ficou evidenciado nos relatos orais dos cursistas que, dependendo do segmento há resistência a determinados mecanismos de aprendizagem, por exemplo, o uso de filmes como instrumento pedagógico, visto que alunos ainda entendem a sala de aula como lugar para aprender a ler e, principalmente, escrever numa tentativa de se recuperar o tempo “perdido”. Isso evidencia o grau de imaturidade de leitura desses alunos, uma vez que o filme pode servir como elemento instigador do inconsciente, dando-lhes condições se posicionar enquanto sujeitos do processo.
Com relação à leitura, ficou evidenciando ainda que os alunos devido às suas experiências de vida são efetivos “leitores de ouvido”, ou seja, ao ouvirem a professor(a) narrando o texto seja este receitas de bolo, lista de compras, panfleto, conto, notícia, etc.) interferiam construindo sentido. Entretanto, não demonstraram o domínio do sistema de representação alfabética, a ortografia e a pontuação.
Já no plano da linguagem oral, invertiam-se os papeis, isto é, senhoras de 60 anos de idade, mostravam-se hábeis contadoras de histórias tanto de sua vida quanto dos saberes populares de sua localidade. Foi ai que se evidenciou a necessidade do professor(a) ofertar a estes aprendizes condições especiais para que eles pudessem expressar seus sentimentos por meio da oralidade. Para tanto, o professor(a) aproveitaria esta oportunidade para trabalhar a Língua Portuguesa em suas variantes oral e escrita criando situações de fala, isto é, foram dados aos alunos temas de seu cotidiano (causos, histórias, relatos e cantigas) com os quais eles articulariam suas comunicações e o professor monitoraria tal produção. Para, em seguida, identificar a prosódia do discurso e orientá-los sobre esses “desvios” chamando a atenção para a questão da escrita, visto que muitos confundiam a palavra com os sons.
Conforme lingüistas e historiadores da linguagem, a fala é o meio lingüístico essencial dos seres humanos. É a responsável pela nossa comunicação cotidiana independente de nossa formação escolar ou cultural. Esta modalidade de interação marca o modo de expressão cultural daqueles pouco ou nada alfabetizados. A oralidade é sua simbologia mais forte (identidade), demonstrada através de uma bagagem cultural articulada no contato cotidiano e na tradição oral, a qual a fruto de experiências pessoais.
Isso, certamente, tem seus efeitos socioculturais relevantes. Por isso não é raro encontrarmos pessoas pouco ou nada escolarizadas que têm domínio sobre a oralidade e, portanto, são ótimos contadores de causos, poetas, repentistas, líderes populares. Não obstante, há indivíduos que têm seus discursos marcados pela vaguidão, isto é, não ordena logicamente as idéias ao serem oralizadas, por isso, às vezes não são compreendidos, isolando-se do mundo por se sentirem humilhados pela falta de competência comunicativa.
Estas afirmações foram narradas pelos cursistas, nos colocando em contato com uma realidade, vindo ao encontro das discussões feitas com as turmas de educação de jovens e adultos, uma vez que ali temos uma gama de variedades lingüística; sotaques e expressões que diferenciam as gírias dos jovens, os modismos da televisão, a singeleza dos mais adultos e velhos. Sendo assim, recomendamos que o professor(a) se situasse na cena de ensino-aprendizagem valorizando a linguagem oral ou escrita que cada um possuía, tendo sempre em mente a natureza mais flexível e dinâmica oralidade diante da escrita. Para em seguida orientar os usuários dessa modalidade de comunicação a observar alguns requisitos básicos da língua, por exemplo, a pronúncia adequada para as palavras.
A práxis do professor com a lingua(gem) na EJA
De posse desse saber, o professor(a) deve planejar estratégias e situações para que os alfabetizandos experimentem e ampliem suas maneiras de expressão oral individual e coletiva. Recomendou-se que seja oferecido aos alunos um fato do cotidiano como tema para ser discutido em pequenos grupos, em seguida, formam-se um grande grupo com o qual o professor interageria ouvindo e reelaborando os discursos e argumentos, bem como fazendo anotações de palavras e expressões que viessem a fugir do “padrão”.
Dessa forma, no que diz respeito à produção oral dos alunos da EJA, a função do professor(a) é mais incentivá-los à produção discursiva, desinibindo-os com comentários positivos sobre sua fala. Em outras palavras, orientar é a questão chave neste processo, visto que estes aprendizes já são usuários da vertente oral da linguagem e, certamente, têm suas formas de falar culturalmente concretizadas.
Em outras palavras, na cultura de tradição oral como a nossa, mesmo depois de termos conhecido as letras e sido alfabetizados, continuamos a usar a linguagem oral para realizar a maior parte dos nossos atos comunicativos, e também aprender nas conversas com nossos iguais. Portanto, a escola, sobretudo, na modalidade da EJA o professor deve estar atento isso e criar situações comunicativas em que os educandos exponham e reconheçam aquilo que já sabe sobre a sua língua.
A sociedade atual é de escrita – letrada – que tem como representante institucional a escola, que ver o ensino-aprendizagem da língua na perspectiva da escrita, alfabetização. Entretanto, aqueles que não foram a tal instituição têm conhecimentos mesmo que limitado da escrita, inclusive reconhecem algumas letras e fazem seu nome. Além disso, por meio da percepção visual, verbal e sonora aprenderam a identificar e ler placas escritas, preencher formulários, manusear listas de compras, anotar preços de mercadorias e, até lidar com “receitas médicas.”
Conforme já citado antes, a escola e o professor que se propõem alfabetizar jovens e adultos precisam lidar com essa questão e, portanto, construir um planejamento que insira o estudante no universo textual, ou seja, crer-se que em virtude da exposição ao material escrito variado, os aprendizes reconheçam aquilo que já sabe da e sobre a escrita e, em seguida, exponham seus pensamentos através da organização desse material por meio do registro escrito.
Dessa forma, é fundamental que o professor alfabetizador faça atividades em que os alunos sintam-se a vontade com o material escrito. Exemplo, leituras dirigidas de cordel, contos, notícias, etc. Pede-se aos aprendentes que recortem letras (tamanhos variados) e palavras de diferentes formados e, em seguida, montem textos com estas palavras a partir de tema apresentado ao grupo pelo professor.
O nosso sistema de escrita é alfabético e, no processo de aprendizagem, os alunos devem estabelecer as relações existentes entre os sons da fala e as letras. Assim sendo, o professor informa aos alunos a importância da escrita, dizendo que, ao registrar um pensamento por meio da escrita, ele perdurará no tempo atravessando grandes distâncias, por isso ela [escrita] tem que obedecer a certas regras e organização.
Para dominar esta questão, o professor conscientizárá seus alunos de que o funcionamento da escrita se dá através do conhecimento de letras e palavras, pois estas são signos que nosso sistema de representação usa. Além disso, é importante que o estudante passa a conhecer as relações entre as letras e os sons da fala, isto é, para cada fonema – som – temos uma representação gráfica (é por isso que nosso sistema de representação escrita é chamado de alfabético).
Uma mesma palavra pode ser pronunciada de várias formas, mas deve ter uma única grafia. Ex. “Muito” pode ser Muintu; muinto., muncho, munto ou outras dependendo de quem a pronúncia. Porém a escrita é uma só. Enfim para que os alunos leiam e escrevam com autonomia, precisam familiarizar-se com a diversidade de textos existentes na sociedade em vivem.
Referências.
BURKE, Peter. Historia social da linguagem. São Paulo. UNESP, 2000.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolingüística na sala de aula. São Paulo, Parábola Editorial, 2004.
SEBER, Maria Glória da. A escrita infantil:o caminhos da construção. São Paulo, Scipione, 1997.
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