terça-feira, 8 de abril de 2008

ASPECTOS ESTÉTICOS NA LITERATURA E CULTURA DA DIÁSPORA DO CICLO FEIJÃO

ORALIDADE E SUPERAÇÃO NA POÉTICA DA DIÁSPORA DO “FEIJÃO”
Robério Pereira Barreto©
Este texto é a primeira (em formato de resumo) da parte do projeto homônimo desenvolvido por mim, no Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias, da Uneb – Universidade do Estado da Bahia, Câmpus XVI, Irecê- BA, desde o segundo semestre de 2007, o qual foi aceito como comunicação no Congresso Internacional da ABECAN – Associação Brasileira de Estudos Canadenses, UFBA, Salvador-BA, de 11 a 14 de novembro de 2007. Objetivamos inicialmente compreender os aspectos estéticos provenientes da diáspora interna – ciclo do feijão – ocorrida na região de Irecê -BA, a partir da década de 70, momento em que o território ireceense recebeu significativa massa de migrantes dos estados nordestinos, Pernambuco e Paraíba, modificando ao longo do ciclo do feijão as características locais de tal maneira que, hoje, não se tem claro quais de fato são a identidade do povo e cultura locais.
Neste espaço, ocorreram simbioses importantes, isto é, as gerações que se seguiram à “diáspora do ciclo do feijão” construíram na diversidade suas relações socioculturais baziladas na tolerância e na superação, uma vez que a maioria dos descendentes enfrentou problemas relativos à sua aceitação individual e, sobretudo, cultural. Dizendo de outro modo, os primeiros migrantes foram levados a espaços de produção, ou seja, tiveram oportunidade de trabalhar a terra, e com isso realizarem seus sonhos: plantar e colher o alimento para o sustento de sua família. Já no que se referem ao uso de tecnologias ficaram bem além, pois não detinham saberes escolásticos suficientes para dominarem as tecnologias que iam surgindo ao longo do ciclo do feijão. É sabido ainda que uma parcela desses migrantes, não tendo acesso a terra para plantar feijão, dedicou-se ao comércio. Isso faz com que a cidade se tornasse o centro informal de comércio, onde se compra e vendia, na maioria das vezes, usando apenas o empenho da palavra e a garantia era o “fio do bigode”.
Estes fatos demonstram que a região é de cultura oral e, portanto, os espaços para o letramento só se tornaram possível a partir da segunda geração dos migrantes, a qual foi incentivada migrar para a cidade em busca de escolarização. Isto, conforme Jackson Rubem seu livro: Irecê, a saga dos migrantes (2004), possibilitou a construção de uma nova caracterização do cidadão irecense, pois muitos dos jovens, filhos dos paraibanos e pernambucanos que vieram para o cultivo do feijão, tendo ou não adquiridos patrimônio, fizeram com que seus filhos fizessem o caminho de volta em busca de estudos, especialmente com destino à Paraíba. Ainda de acordo com a obra citada, atualmente a maior parte dos profissionais formados, foi graduada nas universidades paraibanas. Por outro lado, os filhos dos nativos preferiam mandar seus filhos à capital da Bahia e, às vezes, ao Rio de Janeiro. Com isso, evidencia-se que, locais e migrantes promoveram de certa consciente ou inconscientemente a cultura híbrida que temos hoje; uma cidade que ainda não se definiu literária, artística e culturalmente, porque há em todos os recantos elementos culturais justapostos, fazendo com que não seja possível se compreender qual é afinal a identidade cultura da cidade, embora hajam manifestações isoladas, como por exemplo, a festa junina na qual predomina o forró, a vaquejada, etc. No plano literário sobressaem produções escritas, sejam elas poéticas ou não, fruto do trabalho de autores filhos da diáspora. De acordo com antologia publicada pela Academia Ireceense de Letras e Artes – AILA, fazem parte desse processo, os irmãos João e Pedro Correia – PB; Irajá Claudino de Souza[1]- PB; José Galdino de Souza – PB; José Otávio de Moura – PE. A partir da criação da agremiação literária e da editora Printfox, por Jackson Rubem surgiram escritores locais, como o próprio Rubem, Moacir Eduão Farias, Núbia Paiva e outros que, embora não tivessem nascidos em Irecê veio de cidades vizinhas para estudar e, assim, contribuir com a ainda incipiente produção literária local.
© Professor de Lingüística e Literatura da UNEB – Câmpus – XVI – Irecê – BA, poeta e escritor.
[1] Presidente da Academia Ireceense de Letras e escritor que prima pela poesia popular dando as suas palavras ritmos e cadência próprias da literatura de cordel.

Um comentário:

Moacir Eduão disse...

Só uma correção, o que não tira o mérito da matéria. O nome do escritor citado é Moacir Eduão Farias, e não Ferreira. Parabéns pela bela introdução ao tema, dando espaço ao estudo da literatura local e da diáspora em nossa região, que se pode até ser desvinculada do tema "feijão", caso imaginemos a situação econômica atual da região menos dependente da monocultura do feijão. O ciclo do feijão tende a se fechar, ao tempo em que a literatura ireceense tende a seguir no sentido da urbanização, tanto nas questões temáticas, como na estilística, em que nossos escritores tendem, por necessidade e, felizmente, a partir da construção do hábito da leitura, encontrar novas estruturas, reinterpretar, contextualizar e se auto-contextualizar.
Parabenizo ao professor Robério e reitero os votos de sucesso afirmando que tal blog se torna um presente a nossos leitores e amigos. Literatos, acadêmicos ou não, estamos percebendo que haverá mais leitores na próxima década do que em qualquer tempo da história de nosso município. Seja sempre bem vindo com seus textos. Abraços,
Moacir Eduão