MÍDIA DE MASSA: O CORO DA TRAGÉDIA MODERNA
Neste ensaio, discute-se brevemente o poder da mídia de massa em fabricar consenso, adiantar-se a seu modo aos episódios, criando juízos de valores diante de acontecimentos cotidianos das metrópoles, crimes. Isto é, refere-se nas linhas a seguir a cobertura que a mídia, sobretudo, a imprensa televisiva de massa tem dado ao "Caso Isabella" – criança que morreu após ser encontrada no jardim do prédio onde morava com o pai e madrasta - ocorrido recentemente em São Paulo.
Sabe-se, portanto, que o papel da mídia na sociedade contemporânea é informar, pois estamos numa democracia cujo princípio é fazer com que o público, por meio dos meios de comunicação tenha acesso aos acontecimentos de maneira livre e imparcial. Entretanto, o que se viu nestes últimos dias nos telejornais foi um verdadeiro coro trágico, isto é, fez-se do ocorrido uma comoção nacional, (quantas Isabellas não morrem diariamente de fome, doença, miséria,etc., inclusive quantas não se foram recetemente de dengue no Rio de Janeiro) devido às interpretações e entrevistas controvertidas, ou seja, cada agente de fala ao se posicionar de seu lugar de discurso (polícia, promotor, advogados de defesa) contradiziam-se e neste labirinto de discursos a mídia de “grande consumo” acabou fabricando um consenso para o telespectador; a criança foi assassinada... a partir da fala da autoridade - promotor de justiça - tudo já está esclarecido, porém este discurso é desfeito pela fala da policia técnica quando afirma que ainda falta concluir os exames e laudos.
Destarte, estas contradições discursivas levaram a mídia de massa à exaltação de tal modo que, num processo catártico as pessoas nas ruas reproduzem a opinião dos apresentadores de telejornais como se estes fossem autoridades, levando ao acontecido tom de tragédia. Para Charaudeau, desse tipo de fato resulta que, “por efeito de retorno, as mídias são levadas a tomar posição sobre o que deve ser a informação, sobre a maneira de tratá-la” (CHARAUDEAU, 2006, P. 13).
Para Aristóteles em sua Poética, a tragédia se caracteriza por ser:
“... imitação de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada e com várias espécies de ornamentos distribuídas pelas diversas partes (do drama), (imitação que se efetua) não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções.” (ARISTÓTELES, 1973:447).
Desse modo, há no discurso da mídia a promoção intencional da catarse aristotélica, a qual consiste na purificação, na moderação, na sublimação dos dois sentimentos mais característicos da tragédia: a compaixão e o terror. Sendo que, estes elementos são introduzidos no inconsciente coletivo pelos apresentadores de jornais de “grande consumo” de tal maneira que, mesmo sendo, ou não culpados pelo ocorrido, os “pais” já foram julgados e condenados pelo tribunal popular.
Evidencia-se assim o que Foucault considerou em seu livro Ordem do discurso (1971) de possibilidades de se atingir “o núcleo interior e oculto” do receptor por meio de um discurso, no qual existem probabilidades para que, neste lugar de fala se posicione o manipulador ante as deficiências do manipulado, espectador.
Este tipo de mídia conforme Charaudeau (2006, p.18) há o intento “em declarar sua intenção, a qual é somente através da vítimação e do engodo que se pode concluir que existe uma manipulação”. Isto mostra o quanto à imprensa de massa tem poder sobre aqueles cuja ignorância é marca de sua identidade, uma que vez o papel da imprensa é transmitir e informar um saber a quem supostamente não o possui e não aproveitar desse expediente para promover a catarse, levando a uma espécie de prazer trágico por meio da massificação das controvérsias das falas, as quais são produzidas por sujeitos que se posicionam apenas de seu lugar de fala, jornalistas interessados em vender notícias.
Para Charaudeau isto acontece por que a informação ganha status de produto de consumo e que ofertar primeiro no mercado da comunicação, o torno
“... mais forte quanto maior é o grau de ignorância, por parte do alvo, a respeito do saber que lhe é transmitido. Assim sendo, a informação midiática está diante de uma contradição: se escolhe dirigir-se a um alvo constituído pelo maior número de receptores possível, deve basear-se no que se chama de “hipótese fraca” sobre o grau de saber desse alvo e, logo, considerar que ele é pouco esclarecido. (Idem).
Para atingir esse nível, os agentes de comunicação usam linguagem afetiva, visando um retorno, porque elas não transmitem o que ocorre na realidade, são suposições, porém, se o fizessem não asseguraria a atenção dos espectadores. Assim sendo, pode-se afiançar que o “Caso Isabella” se tornou mais um espetáculo na mídia de grande consumo, colocando em xeque a capacidade das instituições do estado em se posicionar em tempo real do que reportar de um acontecimento estarrecedor.
Sabe-se, portanto, que o papel da mídia na sociedade contemporânea é informar, pois estamos numa democracia cujo princípio é fazer com que o público, por meio dos meios de comunicação tenha acesso aos acontecimentos de maneira livre e imparcial. Entretanto, o que se viu nestes últimos dias nos telejornais foi um verdadeiro coro trágico, isto é, fez-se do ocorrido uma comoção nacional, (quantas Isabellas não morrem diariamente de fome, doença, miséria,etc., inclusive quantas não se foram recetemente de dengue no Rio de Janeiro) devido às interpretações e entrevistas controvertidas, ou seja, cada agente de fala ao se posicionar de seu lugar de discurso (polícia, promotor, advogados de defesa) contradiziam-se e neste labirinto de discursos a mídia de “grande consumo” acabou fabricando um consenso para o telespectador; a criança foi assassinada... a partir da fala da autoridade - promotor de justiça - tudo já está esclarecido, porém este discurso é desfeito pela fala da policia técnica quando afirma que ainda falta concluir os exames e laudos.
Destarte, estas contradições discursivas levaram a mídia de massa à exaltação de tal modo que, num processo catártico as pessoas nas ruas reproduzem a opinião dos apresentadores de telejornais como se estes fossem autoridades, levando ao acontecido tom de tragédia. Para Charaudeau, desse tipo de fato resulta que, “por efeito de retorno, as mídias são levadas a tomar posição sobre o que deve ser a informação, sobre a maneira de tratá-la” (CHARAUDEAU, 2006, P. 13).
Para Aristóteles em sua Poética, a tragédia se caracteriza por ser:
“... imitação de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada e com várias espécies de ornamentos distribuídas pelas diversas partes (do drama), (imitação que se efetua) não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando o terror e a piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções.” (ARISTÓTELES, 1973:447).
Desse modo, há no discurso da mídia a promoção intencional da catarse aristotélica, a qual consiste na purificação, na moderação, na sublimação dos dois sentimentos mais característicos da tragédia: a compaixão e o terror. Sendo que, estes elementos são introduzidos no inconsciente coletivo pelos apresentadores de jornais de “grande consumo” de tal maneira que, mesmo sendo, ou não culpados pelo ocorrido, os “pais” já foram julgados e condenados pelo tribunal popular.
Evidencia-se assim o que Foucault considerou em seu livro Ordem do discurso (1971) de possibilidades de se atingir “o núcleo interior e oculto” do receptor por meio de um discurso, no qual existem probabilidades para que, neste lugar de fala se posicione o manipulador ante as deficiências do manipulado, espectador.
Este tipo de mídia conforme Charaudeau (2006, p.18) há o intento “em declarar sua intenção, a qual é somente através da vítimação e do engodo que se pode concluir que existe uma manipulação”. Isto mostra o quanto à imprensa de massa tem poder sobre aqueles cuja ignorância é marca de sua identidade, uma que vez o papel da imprensa é transmitir e informar um saber a quem supostamente não o possui e não aproveitar desse expediente para promover a catarse, levando a uma espécie de prazer trágico por meio da massificação das controvérsias das falas, as quais são produzidas por sujeitos que se posicionam apenas de seu lugar de fala, jornalistas interessados em vender notícias.
Para Charaudeau isto acontece por que a informação ganha status de produto de consumo e que ofertar primeiro no mercado da comunicação, o torno
“... mais forte quanto maior é o grau de ignorância, por parte do alvo, a respeito do saber que lhe é transmitido. Assim sendo, a informação midiática está diante de uma contradição: se escolhe dirigir-se a um alvo constituído pelo maior número de receptores possível, deve basear-se no que se chama de “hipótese fraca” sobre o grau de saber desse alvo e, logo, considerar que ele é pouco esclarecido. (Idem).
Para atingir esse nível, os agentes de comunicação usam linguagem afetiva, visando um retorno, porque elas não transmitem o que ocorre na realidade, são suposições, porém, se o fizessem não asseguraria a atenção dos espectadores. Assim sendo, pode-se afiançar que o “Caso Isabella” se tornou mais um espetáculo na mídia de grande consumo, colocando em xeque a capacidade das instituições do estado em se posicionar em tempo real do que reportar de um acontecimento estarrecedor.
Referências
FOUCAULT, M. Ordem do discurso. São Paulo: Graal, 2000.
CHAREAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006.
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