quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

PARA SE VIVER É

CONTRARIANDO...




Quando choram os olhos
É porque a alma sente dor
E a alma neste estado
É ruim ao amor.


Se lágrimas banham a face
É como se dissesse:
Ó coração, és enternecido sofredor!

Amam-se de verdade aqueles que
Não permita aos olhos venerados
O desamor de viver a dúvida

E menos ainda, prontos de horror.
Contrarie estampando ao Mundo
Sorrisos alegre e sedutor;
Ser amado sente-se em esplendor.

29 de dezembro de 2009, 22h05min
Robério Barreto.

domingo, 27 de dezembro de 2009

FRENÉTICO AÇOITE




Na alcova ao lado
Convulsos fremidos de amor
Denunciam toda luta de corpos
Em movimentos em majestosa dor.

Na minha (...) há um querer alado
E o desejo em tê-la amado,
Ergue a plano elevado a imagem
De ti em afoita vadiagem.

Pernas, bustos, bocas fremem
Enquanto corações fustigados
Diante de tão efêmera paixão geme e;

Na obscuridade da noite,
Olhos declam poeticidade
Declarando o prazer à eterna
Longevidade do querer-te no acoite; Gozo!


27 de dezembro de 2009. 20h21min.
Robério Barreto

sábado, 26 de dezembro de 2009

ONDAS E SAUDADES...

As ondas banham a praia
Lentamente em maré baixa,
E, igual às lágrimas
Silenciosamente irrigam
As raízes de minha alma;

Que se afogando nessa maré
Traz consigo as vontades de
Estar contigo e sem ressalvas te querer.



26 de dezembro de 2009, 20h58min.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

COP15: O ENCONTRO DE FARSAS

Nunca se viu tanta exibição pública de discursos demagógicos e falsas contendas sobre um tema mais do que óbvio; a temperatura do planeta está aumentando e isso não há que duvide. Por outro lado, se tem os desejos de crescimento econômico e de superação dos limites das bolsas de valores. No caso de Brasil, China e outros que a custa da miserabilidade e exploração humanas de muitos cidadãos, vai-se cada vez mais se construindo uma farsa sobre níveis de poluentes. Aqui no Brasil nosso discurso está centrado no desmatamento ilegal da floresta Amazônica, todavia não se tem visto projetos nem programas governamentais sérios a respeito da caatinga e do cerrado. Este último agoniza sob os grilhões das correntes acopladas aos tratores que o violentam sem piedade, para em seguida serem semeados de sementes de capim, soja, algodão e outros comodities agrícolas. No que se refere à caatinga pouca coisa se ouve falar. Afinal, no sertão não há muito que investir; chove pouco e o retorno seria ínfimo. Então, mata e queima-se a caatinga nos fornos das indústrias, estas sim, com sua fome monstruosa, precisa ser alimentada com carvão e energia elétrica que, por acaso advém de usinas hidroelétricas e nucleares.

Interessante em toda discussão na Cop15 é que tivemos delegações das nações mundiais que, eram meramente figurativas, veja o exemplo da delegação brasileira a qual viveu todo evento em discordância; lembre-se, pois as gafes de Ministra da Casa Civil e Ministro do Meio Ambiente, (que saudades da firmeza de Marina Silva) sem contar que o presidente em sua forma peculiar de se fazer o centro das atenções, se autorizando em nome não se sabe de quem e porque está disposto a aumentar as metas de reduções. Ele esquece o que pensa os plantadores de soja, os mineradores e os industriais que cada projeto amplia seus lucros sem se importar diretamente com questões ambientais.

Diante dessas evidências, não é difícil perceber que mais uma vez fomos enganados e levados a pagar as contas das vontades e do poder do capitalismo verde, amarelo, vermelho e branco, ou seja, cada um da América à África terá que desembolso dinheiro para pagar uma conta que ainda não foi calculada, mas se reconhece como enorme. Por fim, a Cop15 não passou de uma farsa em nome da defesa do planeta. Ate porque não se decidiu absolutamente nada! Ficou na promessa! Nada e coisa nenhuma!

domingo, 20 de dezembro de 2009

CARTA AO LEITOR: O DONO DESSE ESPAÇO

Senhores leitores,

Agradeço a todos pelos vários acessos feitos a esse nosso espaço de produção poética, acadêmica e cultural durante esse ano de 2009. Em pouco mais de 2,5 anos de existência foram publicados textos da diversas ordens e estilos; uns com arroubos acadêmicos, outros com elucubrações poéticas e até com desabafos pessoais. Mas, independentemente do conteúdo vi a cada olhada, o contador registrando que pessoas passaram por aqui, às vezes, comentaram outras só leram.
Diante de tamanha fidelidade, publicamente os convido para que juntos, em 2010, possamos ter forças para produzir novas ideias com a quais todos possam refletir sobre a vida, a arte, a cultura e o amor que existem em cada um de nós. Assim sendo, quero que todos curtam suas famílias e amigos e tenha milhões de alegria nesses dias de festanças. Feliz Natal e ótimo Ano Novo!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

DELEITES

Amanheci com vontade de tê-la nos meus braços

Para amá-la até a exaustão
Tendo meu corpo debraçando sobre o seu
Dizer em brados e em suspiro-te ao infinito:
Gosto de ter você e, vivendo plenamente
Seus delirios de prazer
Deleito em gozos... 
.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O PORTUGUÊS DAS MÍDIAS DE RUAS

RESUMO: Este texto articula-se em torno da temática: desvios das normas nas mídias de rua: cartazes, anúncios e placas que promovem a realização social, econômica e cultural dos usuários do idioma brasileiro. Em tal material – discurso - não se respeita os ditames da gramática normativa e há nele intencionalidade comunicativa de modo que os cidadãos conseguem interagir significativamente no mundo dos negócios. A compreensão destas questões dar-se-á a partir do diálogo da semiótica e os objetos de estudos; textos expostos em placas e letreiros nas vias públicas de Irecê -BA, bem como mensagens coletadas da internet -, levando-se em conta que tais discursos não apresentam autoria definida, por isso, atribuir-se-á tal domínio a empresa onde está estampada a mensagem. O “português do povo” ocupará neste trabalho lugar de conflito para demonstrar que a forma como a escola oferece a língua portuguesa ao estudante, na atualidade, é inócua e impraticável no cotidiano, haja vista a prática das mídias escrita nas ruas: faixa, letreiros, cartazes na qual há consideráveis desvios da norma padrão, porém tal produção lingüística não deixa de ser parte do idioma nacional. Assim sendo, a língua (gem) serve à persuasão do homem, ser político por natureza. Para Aristóteles (384-322 a. C) as palavras são construções dos homens e não uma imitação (mímesis) do objeto nomeado. Nesse sentido, o idioma usado pelo “o homem do povo” em seu cotidiano vai ao encontro de suas necessidades comunicativas. Nesta abordagem procura compreender o surgimento da linguagem em função da vida em sociedade, entendendo, pois que a faculdade da linguagem é uma adaptação complexa, que foi sujeita às leis da seleção natural na história evolutiva humana recente, servindo à função de comunicação com extrema efetividade.

AQUISIÇÃO DE LEGISSIGNOS CULTURAIS

A civilização ocidental tem suas características asseguradas devido aos registros construídos; imagens e signos representacionais realizados pelos homens da caverna (Memórias discursiva, cultural e imagética). Tais procedimentos foram armazenados no inconsciente desses homens e transmitidos às novas gerações através de discursos - fala -, uma vez que, essa comunidade ainda não articulava significados para a formação da palavra escrita, texto. Embora já fizesse usos deles quando desenhava os animais abatidos durante a caça. Essa ação talvez fosse intencional, porque era uma forma de se colocar no papel de herói, dizendo aos demais que se baseassem na informação ali contida e a guardasse em suas memórias individual e coletiva, pois, o futuro e a sobrevivência da comunidade dependiam de tal habilidade; reconhecer os animais a serem capturados através das imagens desenhadas nas cavernas.

A palavra escrita ganha status e é usada com propósitos unilaterais (lembremos-nos do manuscrito de Em nome da rosa, de Umberto Eco), no qual o conhecimento é mantido sob a proteção da Igreja com objetivo de barganhar, pois este privilégio (dominar a leitura e a escrita dos textos bíblicos, doutrinários e artísticos) era reservado a poucos privilegiados, os quais, na maioria das vezes, recebiam da corte uma indicação, mantendo-se assim, a dominação das informações estratégicas da corte.

Diante dessa perspectiva, certamente irá surge uma pergunta crucial, portanto, a antevejo para o leitor: Afinal, onde estará a questão da leitura nesse processo? Implícita! É a resposta. Explicamos então tal assertiva: Caro leitor! Se levarmos em consideração que o sujeito per si é um leitor desde o momento de sua concepção ( junção do óvulo com o espermatozóide) exigindo desses organismos uma leitura das melhores condições do setting de fecundação para encontrar o melhor espaço no útero para o início da vida. Então está ai o motivo pelo qual somos os agentes de nossa própria memória. Sendo esta formada e ligada diretamente com as nossas realidades sócio-histórica e cultural, fazendo nos usuários e produtores contínuos de memórias - textos.

Os historiadores e psicólogos sociais têm mostrado em suas teses a importância da memória para o entendimento da arte e da vida em sociedade por meio de resgate oral e escrito dos textos acumulados na sociedade empírica. De sorte que, na clássica obra Memória e sociedade: lembranças de velhos, de Ecléa Bosi, a autora ressalta a importância do conhecimento e da cultura armazenada pelos idosos ao longo de suas experiências. Tais informações se encontram na memória de cada um, sendo que esses sujeitos da/na linguagem têm suas memórias em estado de inércia, contudo, estão prontas para se movimentarem e, assim, contribuírem para a compreensão do homem contemporâneo.

Assim sendo, é intenção mostrar que ao produzir um texto o enunciador precisa saber quais serão os significados que podem extrair do saber acumulado tanto na comunidade, quanto no meio social em que circulará a informação por ele prestada. Ademais, o sentido de texto aqui ganha maior espaço e passa a ser entendido parte significativa da memória histórica e cultural, configurando assim numa reescritura paráfrase do saber socialmente acumulado pelos indivíduos em suas comunidades. Portanto, produzir texto é uma atividade diária a qual requer do produtor técnica e esforço contínuo no sentido de estabelecer associação entre o que pretende informar e formar com suas mensagens e, consequentemente, possibilitar ao leitor as inferências possíveis do assunto a partir do resgate da memória histórica e cultural nele existente e que pode ser trazida à tona por meu dos significados dos discursos, constituindo assim uma nova memória discursiva.

Para Barthes (1987) é nesse momento que o professor de linguagem deve atuar como mediador das memórias discursivas presentes no ambiente escolar. Assim:“O professor não tem aqui outra atividade senão a de pesquisar e da falar - eu diria prazerosamente de sonhar alto a sua pesquisa - não de julgar, de escolher, ...”os caminhos para os seus alunos produzirem textos, ao contrário; juntos com seus aprendizes busca-se no inconsciente coletivo informações que lhes sejam úteis como exemplos e associações de pensamentos. Por isso, a leitura diária faz questão fundamental no processo de formação da memória discursiva e cultural do cidadão. Parafraseando o famoso dito popular: você é o que come. Diria que sua memória discursiva e cultural é o que você ler. Isso porque à medida que se realiza a leitura a estrutura da língua (léxico, sintaxe, classe gramaticais, etc.) vai se fixando em sua mente, podendo ser solicitada mais tarde quando da escritura de uma mensagem. Logo, “os signos de que a língua é feita, os signos só existem na medida em que são reconhecidos, isto é, na medida em que se repetem; o signo é seguidor, gregário;” Barthes, 1978, p. 15), fazendo com que o leitor recorra às reminiscências sígnicas do texto para se situar no tempo e no espaço do enunciado proposto pelo enunciador do texto.

Leitura: memória discursiva e cultural

O texto é mais que um tecido cujas partes se entrelaçam a partir da organização das sentenças. Na verdade, ele é uma miscelânea de informações na qual estão dispostos elementos históricos, culturais e políticos construídos sob a perspectiva da linguagem que, às vezes, vai além e se traduz em metalinguagem.

Para Kleiman é fundamental que o sujeito adquira o hábito de ler o mundo através da apreensão de “um conhecimento dos aspectos envolvidos na compreensão e das diversas estratégias que compõem os processos”. (p.07) Sendo que tais processos se dão por meio das relações estabelecidas entre o que o texto diz e o que está associado à memória social. Logo, todo procedimento de leitura deve ser associado à releitura dos acontecimentos históricos, sociais e culturais.

O texto enfatiza os aspectos cognitivos da leitura, porque consideramos que a percepção de, bem como a reflexão sobre o conjunto complexo de componentes mentais da compreensão contribuirão, em primeira instância, à formação do leitor e, conseqüentemente, ao enriquecimento de outros aspectos, humanísticos e criativos, do ato de ler. (KLEIMAN, 2000, p. 9).

Dessa maneira, o ato de leitura, sobremodo, de textos literários precisa seguir o processo de metalinguagem, isto é, o leitor se posiciona na leitura conforme os tempos enunciados no discurso, adentrando assim aos universos lingüísticos forma de escrita e construção de sentidos empregados na linguagem da obra ; cultural observar-se-ão os aspectos do cotidiano no qual, o homem e a sociedade são retratados via escrita -; além das questões políticas e ideológicas usadas pelo autor quando da escrituração de sua obra. Essa atividade acontece através de metacognição a qual segundo especialistas é o processo de “reflexão sobre o próprio saber, o que pode tornar esse saber mais acessível a mudanças.” afirma Kleiman.

Com essa perspectiva, o leitor por sua vez é agente histórico da leitura e ao longo de sua existência interage com ambientes sociais e culturais, nos quais sua memória discursiva e cultural vai se construindo de acordo com os estímulos recebido durante a interlocução praticada na comunidade. Então, afirma-se que tal sujeito é detentor de certo grau de conhecimento prévio e, portanto, está apto a produzir sentido ao realizar uma leitura dentro do seu contexto sócio-político e histórico-cultural. Conquanto seja necessária a prática diária de leitura na qual se busca agregar novos conceitos, valores e, consequentemente, a assimilação de vocabulário para melhoria de sua prática lingüística. Isso só acontecerá segundo Kleiman (2000), se o leitor estiver disposto a estender sua capacidade reflexiva, pondo-se em destaque e associação com objeto lido “o conhecimento adquirido ao longo de sua vida.” Então, Dessa forma acontece aquilo que Kleiman considera a:

interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. [...] este conhecimento abrange desde o conhecimento sobre como pronunciar português, passando pelo conhecimento de vocabulário e regras da língua, chegando até o conhecimento sobre os usos da língua. (Kleiman, 2000, p. 13).

Mediante essa assertiva, infere-se que na medida em que se ler há assimilação de elementos estruturais do texto e, também, da cultura à qual ele se reporta. Portanto, nesse ato, leitor assume papel importante dando ao texto novos significados, ou seja, atribui-lhe sentidos de acordo com novo setting de leitura, pois se fazem associações do enunciado com o novo ato de enunciação, formando novas expectativas a respeito do assunto tratado no texto.

No que se refere à leitura de peças literárias existem dois modos de se ver a construção do ato de ler: “Leva em conta os leitores na sua diversidade histórica ou social, coletiva ou individual; outro, a imagem do leitor tal como ela se acha representada em alguns textos.” (Todorov, 1994, p. 83). E já Kleiman considera essa questão a partir do conhecimento lingüístico, histórico e cultural do leitor a respeito do texto lido, porque tal saber leva ao processamento das informações presentes no objeto. Assim sendo, o processamento é entendido como: atividade pela qual as palavras, unidades discretas, distintas, são agrupadas em unidades ou fatias maiores, também significativas, chamadas constituintes da frase. À medida que as palavras são percebidas, a nossa mente está ativa, ocupada em construir significados, e um dos primeiros passos nessa atividade é o agrupamento em frase...

A memória discursiva do agente de leitura ao encontrar no texto marcas lingüísticas (tempos verbais, adjetivos e predicação), culturais (eventos, festas religiosas, sociais, personagens e costumes, etc.) faz associação com o presente da leitura, ou seja, transfere para a atualidade os sentidos criados pelo autor quando da enunciação do texto. Por exemplo, ao ler uma passagem bíblica o fiel transfere (às vezes de maneira pessoal) as informações nela contida para sua realidade, dando assim uma conotação de verdade ao evento lido. Esse processo segundo Celso Antunes (2001) ocorre porque o leitor atingiu um nível de maturidade importante, transformando dessa forma, informação em conhecimento.

Há ainda de se destacar o papel dos meios de comunicação na propagação das informações no meio social através do qual se constrói a memória discursiva do homem moderno. Tal questão incentiva nos perspectiva à produção de conhecimento porque à maior parte dos sujeitos estão ligados a vários mecanismos que propagam a informação em tempo real. (Lembramo-nos dos episódios das guerras no Oriente Médio, estas foram transmitidas via satélite para todas as casas do mundo).

Para Celso Antunes tudo isso exige do profissional da linguagem uma nova formação, isto é, além de aprender as questões específicas de sua área de atuação, o professor deve buscar per si, meios com os quais possa agregar sentidos às suas novas descobertas. “o professor precisa ir também se transformando em um analista de símbolos e linguagens, um decodificador de sentidos nas informações e, também, o profissional essencial do despertar das relações interpessoais.” ANTUNES, 2001, p. 13).

Fala: instrumento de concretização de linguagem



Em A linguagem (1980), formada por onze capítulos, nos quais Edward Sapir discutiu os principais pontos que formam a linguagem no seu todo social, cultural e político a partir de uma visão interativa na qual a fala e a escrita se transformam em linguagem de dadas comunidades. O autor adverte no prefácio: “Destina-se este livrinho a dar uma visão de conjunto a respeito da linguagem e não propriamente a coligir fatos da linguagem. Pouco lhe cabe dizer sobre os fundamentos psicológicos últimos de fala, e, dos fatos tanto atuais descritivos como históricos, das várias línguas só ministra o que é suficiente para ilustrar certos princípios. [...] o problema do pensamento, a natureza do processo histórico, a raça, a cultura, a arte.” (SAPIR, 1980, p. 9).

Nesse sentido, a complexidade da linguagem se institui nos elementos linguísticos expressos por meio da oralidade, pois a “fala é uma atividade humana que varia, sem limites previstos, à medida que passamos de um grupo social a outro, porque é uma herança puramente histórica do grupo, produto de um uso social prolongado. [...] falar é uma função não instintiva, uma função adquirida, “cultural”. (idem. p. 12). Logo, o contato com grupos de falantes leva o usuário da linguagem à assimilação das estruturas semântica, gramatical e, sobremodo, fonética das palavras, dando-lhes pronúncias relativas às usadas pela comunidade da qual faz parte.

Para Guatarri e Deleuze (1995) essa questão tem como base o enunciado que, segundo a teoria por eles elaborada, a produção de fala é a base elementar da linguagem e, portanto, “A linguagem não é a vida, ela dá ordens à vida; vida não fala, ela escuta e aguarda.” Concordando com os autores acima mencionados, Sapir (1980, p. 15), considera a fala uma produção complexa a qual demanda de estruturas físicas e culturais uma vez que é necessária ao falante a articulação de idéias. Estas por seu turno devem estar armazenadas na consciência e na memória discursiva de cada ser. “A fala não é uma atividade simples executada por um ou mais órgãos biologicamente a ela destinados. É uma trama extremamente complexa e ondeante de ajustamentos no cérebro, no sistema nervoso, e nos órgãos de articula e audição em direção ao fim colimado, que é a comunicação das idéias.” (Idem). Ainda algumas palavras do lingüista sobre a linguagem: “a linguagem é uma herança imensamente antiga da raça humana, sejam ou não sejam todas as suas variantes desdobramentos históricos de uma única e prístina forma.” (ib.idem, p. 24). Em outras palavras; pode-se considerar que o homem se constitui como tal devido a produção e uso de enunciados lingüisticamente. Assim sendo o estudioso encerra o primeiro capítulo aceitando a linguagem como “instrumento da expressão significativa”. (op. cit.).

Em relação aos elementos constitutivos da fala palavras; Sapir aponta o som em si mesmo como algo subjacente à fala e, por isso, informa que é preciso haver uma seqüência de sons para que a fala ganha status de linguagem.

Os elementos verdadeiramente significativos da linguagem são em geral seqüências de sons, que tanto podem constituir palavras como partes significativas de palavras, ou, ainda, grupos de palavras. O que distingue cada um desses elementos é que ele representa o sinal externo de uma idéia específica, seja um conceito uno, uma imagem uma, ou certo número de conceitos ou imagens nitidamente ligadas num todo. (SAPIR, 1980, p. 27).

Conforme perspectiva acima, a comunicação se estabelece quando o falante produz sons audíveis e o ouvinte os capta transformando-os em significados para si e sua comunidade. No Tratado de semiótico (1980), Umberto Eco diz que esse acontecimento pode ser entendido como ato de “significar e comunicar” e tem função social que, por sua vez, “determina a organização e a evolução cultural, “falar” dos “atos de palavras”, significar a significação ou comunicar a respeito da comunicação não podem deixar de influenciar o universo do falar, do significar, do comunicar.” (ECO, 1980, p. 22).

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O PAPEL PEDAGÓGICO DAS REDES SOCIAS NA ESCOLA CONTEMPORANEA.

Caracteriza-se, pois, a sociedade contemporânea a partir da compreensão de que se está vivendo num acelerado processo de desenvolvimento tecnológico e científico no qual cada vez mais há substituição do fazer humano pela máquina da informação e, sobretudo, no campo educacional.

Nesse sentido, vale ressaltar que a forte presença dos meios de comunicação social – orkut, twitter, facebook menseger nos espaços escolares seja através de inforcentros, ou fora dele, lan houses há crescente descompasso no processo de ensino e aprendizagem no universo da escola públicas do estado da Bahia, de maneira que se reconhece a importância de uma formação voltada para o uso didático e pedagógico dos meios digitais de comunicação social no sistema educacional do estado.

Assim sendo, a crescente proliferação e a inserção da linguagem e dos meios eletrônicos se faz pensar no campo da educação continuada aos profissionais da educação que, é fundamental o domínio teórico e metodológico de jogos eletrônicos, filmes, vídeos, sites de relacionamentos que compõem o dia a dia dos infocentros das unidades educacionais do estado.

Em verdade esses meios digitais estão disseminando novas ideias, hábitos, juízos éticos e, sobremodo, estéticos relacionados aos conhecimentos disponíveis na web. Portanto, interessa nesse caso, oferecer uma possibilidade de formação articulada com esses novos desafios para se enfrentar a nova educação escolar que se instaura nesse panorama em que o virtual cada vez mais é potencializado pela linguagem e imagem da mídia digital.



(...) os desafios que enfrenta a educação escola nesse cenário de intenso desenvolvimento da mídia imagético-eletrônico. Está implícita nessa problematização que a escola não está imune às diversas mudanças sociais. Essas mudanças são provocadas pela nova ordem social e econômica pela qual passa o país (Grifo meu) e ascende à instituição escolar e, ao mesmo tempo, são, de alguma maneira, tocadas por ela. (LOUREIRO, 2003, p. 11).





Dessa maneira surge uma nova perspectiva de pensar a escola e a formação dos profissionais da educação para atuarem de maneira significativa nos espaços onde a tecnologia da informação e comunicação – TICs e as redes sociais se intensificam como presença potencial de aquisição de conhecimento. Por outro lado, a ação pedagógica ora suscitada por essa nova atividade educativa, reclama por formações nessa direção, ou seja, o estado precisa avançar rapidamente nesse direção e criar mecanismos pedagógicos que assegure a formação continuada dos profissionais da educação, visando um processo de formação, que implique escolhas, valores e convenções éticas e concepção de homem e mundo contemporâneos.

Na sociedade contemporânea, vem se acentuando o domínio pedagógico dos meios de comunicação e das tecnologias intelectuais atreladas às internet ligada à escola cada vez mais midiatizada. “A mídia concretiza práticas pedagógicas à medida que se ocupa, intencionalmente, da transmissão e assimilação de sensibilidades e saberes hegemonicamente vinculados ao consumo. (LOREIRO, 2003, p. 13).

Nessa perspectiva, a educação na contemporaneidade deve seguir ao princípio de que “o saber muda de estatuto ao mesmo tempo em que as sociedades entram na idade pós-industrial e a cultura na idade pós-moderna” (LYOTARD, 2000, p. xv). Não há dúvida de que a educação está sendo levada à incorporar elementos da contemporaneidade, posto que as mudanças tecnológicas, culturais, políticas e econômicas, na maioria das vezes sintetizadas no surgimento de uma forma socio-educacional pautada na velocidade da informação e criação instantânea de conhecimentos.



terça-feira, 17 de novembro de 2009

ASSIM QUE NOS VIMOS NO COTIDIANO

EU, REFLUXO DE MIM


 

Estou na cidade e ando pelas ruas

Entre carros, gentes passantes,

Luzes, cores e sons esvoaçantes

Mas não me sinto aqui;

Ninguém sabe ou se importa com

O meu existir.


 

Entre caneletas esgotos correm

Como rios desviando de carros

Apressados que me banham

Do fétido suco humano liberado

Das casas lindas e infames.


 

Grita com todo meu pulmão,

Mas não me ouve o cidadão

Que, protegido pelo terno cinza

Nem olhar para mim se anima.


 

Na clara escuridão da vida

Sou mais uma luz que não mais cintila:

Sou refluxo de mim!


 

Robério Pereira Barreto


 

domingo, 15 de novembro de 2009

DISCURSIVIDADE E NOMADISMO NA WEB

A contemporaneidade tem sido marcada por divergências conceituais e teóricas entre os estudiosos das ciências humanas. Ao mesmo tempo em que a reconhece o rompimento das fronteiras fixadas a detratam-na por ter em si elementos da modernidade ainda não terminada.

Nesse contínuo fluxo encontram-se e deslocam-se os conhecimentos em várias vertentes, dentre as quais o discurso da ciência é posto em destaque devido à crise da hegemonia pretendida pela ciência moderna.

Por outro lado, uma nova ordem discursiva tem se instituído, isto é, na contemporaneidade há novos meios de propagação das ocorrências sociais, políticas, culturais e científicas, a web que suporta as tecnologias de informação e comunicação – TICs.

A web com sua força motriz tem posto a baila a crise e a correlação de forças existentes entre “conhecimento cientifico e o conhecimento vulgar tenderá a desaparecer e a prática será o fazer e o dizer da filosofia da prática” (SANTOS, 2006, p.20).

Quanto à outra vertente do discurso, sobressai o saber, a da sua metodologia de transmissão, ou seja, o discurso acerca do saber tornou-se facilmente descrito à maneira pela qual tem prevalecido a mutação dos critérios que nomeia o desempenho, bem com aqueles que os afetam.

Assim se questiona: que tem autoridade para transmitir e legitimar as informações veiculadas na web? O que é transmitido e de que lugar nasce? A quem interessa tal produção? E de que forma é trasmitido? Nesse contexto de discursividade nômade e, sobretudo, potencial o mais provável é que se reconheça a presença e a legitimação dos experts em discursos, as mídias.

Desse ponto de vista é importante dizer que por meio da web tem havido a formação de uma nova forma de se produzir saberes e, consequentemente, conhecimentos. É significativo ainda afirma que há uma geração de jovens produzindo e postando na web questões fundamentais do cotidiano, isto é, desde fotos e scraps no orkut até informações sigilosas que promovem o caos nas organizações consideradas ortodoxas.
Nesse conjunto de ações ficam prementes os movimentos de pensamento e seus deslocamentos discursivos, visto que seus autores não podem ser considerados a partir de um lugar fixo, ao contrário, todos se movimentam na velocidade da rede, construindo e dando significado para suas atividades e linguagens próprias da web.











domingo, 8 de novembro de 2009

EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS INTELECTUAIS: NOVO CONTRATO SOCIAL

Anuncia-se neste ensaio o pensamento que hora se constrói a respeito do binômio contemporaneo: educação e tecnologias intelectuais o qual pode se tornar um novo contrato social para a sociedade que se apresenta cada vez mais tecnológica, contrariando assim à expectativa da escola que, convencionalmente está atrasada em relação ao uso das tecnologias intelectuais, embora o Estado insista na publicidade da escola informatizada.
Pensar em educação, hoje, pressupoe quase que automaticamente em pensar em tecnologias intelectuais, uma vez que a sociedade esta imersa em processo ciberculturais, exigindo assim uma nova maneira de olhar a pluraridade em que se transformam as ações educativas da sociedade tomada pelo novo espírito e cultura do capitalismo.
Diante dessa novo movimento uma nova concepção de educação se faz necessária, isto é, a educação do cidadão, hoje, solicita e introduz no contexto educacional brasileiro elementos complexos circunstanciais de um coletivo pautada na perspectiva de uma vida suportada pela mais valia intelectual e que ao mesmo tempo reclama por saberes locais, nacional e planetário de modo que as tecnologias passam a fazer essa papel edificando as redes sociais do conhecimento.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

CIBERDISCURSO: UMA PERSPECTIVA DE LINGUAGEM


 

    Pretende-se neste subtópico apresentar algumas questões relativas às linguagens do ciberdiscurso ancoradas pelas tecnologias da informação e comunicação – TICs – na perspectiva de que elas têm na internet uma ferramenta de divulgação e, portanto, são permeadas de elementos e sentidos e significação de linguagem.

    Assim sendo, reconhece-se que
tecnologia tem crescido tão rapidamente que se torna difícil designar, classificar e ou acompanhar suas variações técnicas e, sobretudo, pontuar qual a linguagem que será a ela anexada pelos usuários, sobremaneira aqueles que se vinculam à internet. A cada dia, novos equipamentos surgem no mercado e, em pouco tempo, o que era de última geração passa a ser obsoleto, em nome do conforto e da rapidez.

    Uma das áreas que mais tem avançado e se difundido em praticamente todas as classes sociais, é a internet. E, juntamente com esse desenvolvimento, cresce a preocupação de pais e professores com a linguagem que se praticam nesse ciberespaço. Essa linguagem tem até vários conceitos, ciberdiscurso (Barreto; Baldinotti, 2005) internetês (Araújo, 2004, Bisognin 2009).

    A internet tem proporcionado um espaço no qual os internautas exploram suas capacidades cognitivas, comunicacionais e a criatividade linguística de maneira a caracterizá-los como seres humanos facultados de ação de linguagem. Isso sem dúvida tem levado à interação social dos mesmos, se tornando cada vez mais rica em virtude das práticas socioculturais que levam à subversão da ordem instituída pela linguagem canônica da escola, visto que essa reconhece apenas a escrita como tecnologia estática empregada ao suporte do papel.

    Para Bisognin (2009) o suporte tecnológico da internet tem facilitado o uso variado da linguagem na web, inclusive no chat, Orkut, weblog, Msn, etc. de modo tal que os apologetas da variante canônica da língua chegam a considerar a linguagem da web como um empobrecimento. Por outro lado, reconhece na linguagem do ciberdiscurso e ou internetês uma forma de enriquecimento do idioma, visto que nesse particular exerce-se a liberdade e a democracia linguisticas.

    Para compreender o que acontece com a linguagem quando cibernauta se comunica por meio, por exemplo, do msn – que é um programa de bate-papo que permite conversas instantâneas – temos de considera-se a internet como um meio muito rápido de comunicação. Assim, isto revela que o texto usado no msn é muito próximo da língua falada e, portanto, tem sua pertinência enquanto linguagem no suporte tecnológico que veicula e não há motivos para alarmes.
    Destaca-se que, nesse caso, há uma economia na escrita das palavras, isto é faz-se corruptelas de algumas letras para evidenciar a emergência da escrita e com isso novos significados são atribuídas às conversações. Lembra-se, pois, que isso não é novo, visto que há muito tempo se praticava a corrupção e ou codificação do texto nos telegramas, sendo tal economia articulada na perspectiva de sintetizar a mensagem e assim diminuir o preço do serviço.

    Sabe-se ainda que essas modificações levem à alteração dos sentidos da mensagem, uma vez que a linguagem passa a ter outro significado. Este de acordo com Coseriu (1979b) é o conteúdo de um signo lingüístico em sentido estrito, é a configuração das possibilidades de designação.

    No que se refere aos sentidos articulados nas mensagens postadas e trocada na web pelos cibernautas, os sentidos passam a assumir destaque quando seu conteúdo especialmente é postos no próprio texto, isto é só existe sentido no plano do texto, no ato da fala de um falante numa determinada situação, e não no falar em geral ou nas línguas. Coseriu (1979b)

    Assim, tomando a produção de linguagem escrita no internet como ato comunicativo que se aproxima da fala, tem-se, na verdade, uma produção de significado e sentido efetivados por meio de uma variante de linguagem além da ideia canônica de escrita.

    Ao se utilizarem programas como o msn, a comunicação ocorre através de um meio escrito, no entanto o texto é oral. Sendo a internet um meio que exige agilidade e rapidez, a escrita por meio de abreviaturas faz com que a comunicação seja mais rápida, simulando assim a mesma rapidez da fala.

    Então pais, professores que ainda não foram articulados sobre a produção de linguagem por meio das farramentas da internet – chat, orkut, weblog, msn, etc acalmem-se. Essa forma de escrita já faz parte do cotidiano virtual de todos nós e não tem mais como ignorá-la, tampouco impedi-la.

    A língua à maneira de Saussure é um sistema vivo e, portanto, adequa-se às situações de comunicação. Isso não significa dizer que agora "pode-se escrever de qualquer forma na web.". As abreviações são permitidas no msn, no orkut, nos e-mails informais, nos chats (e até nesses textos existem regras! Caso contrário, nem mesmo os internautas se entenderiam), não cabe usá-las em outros gêneros textuais.

    O ciberdiscurso ou internetês não prejudica o bom português, porque os comunicantes dessa modalidade sabem que se trata de uma linguagem de uso específico no ambiente virtual. Por outro lado, sabem que o acesso livros, jornais e revistas da web compõem seus espaços de leitura. A nós professores, cabe o papel de ampliar a capacidade de recepção e produção textual dos alunos, priorizando a formação de escritores e leitores competentes, que saibam usar a língua nas diversas situações de interação.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

SIMPLESMENTE À LUA...

Olha para céu e vejo a lua

Passeando pela rua

Lindamente nua...


 

A falta que sinto no peito

É a ausência sua...


 

Percebendo o meu desânimo,

Ela [lua] se envolve na nuvem branca

Que a rodeia escondendo seu ânimo

No véu que passeia por seu corpo

Cálido e misterioso me faz invejoso.


 

03 de novembro de 2009, SSA, 20h50min.

Robério Pereira Barreto

O SILÊNCIO E A REIFICAÇÃO DO CORPO FEMININO

    

Este trabalho tem como objetivo visualizar o silêncio e a reificação do corpo feminino, em 234 contos – Dalton Trevisan -, buscando destacar o poder masculino empreendido no discurso direto dos personagens masculinos

Escrever sobre o silêncio é uma tarefa que apresenta de imediato dificuldades, sobretudo, quando a escrita está relacionada com o texto literário, sendo que a linguagem literária, sustenta-se num sistema semiótico secundário, o qual busca afirmação para o significante no sistema lingüístico. Logo, é licito dizer que é a partir desse entendimento que se constrói os discursos literários numa perspectiva de conotação. Se entendermos que o silêncio, também é um tipo de expressão/discurso e que tem certo grau de conotação, sem dúvida, a contribuição de Lefebvre sobre o conceito de conotação corrobora de maneira magistral para a compreensão das nuances que subjazem o silêncio que torna o corpo feminino das personagens de Trevisan algo reificado no texto literário.

Uma verdadeira conotação só se manifesta quando a palavra é empregada precisamente por oposição à palavra corrente'flingue' é calão e reenvia, por isso, a um certo meio social. Parece, pois, que o termo conotação deve ser reservado para sentidos de uma palavra ou de uma expressão que podem existir virtualmente na experiência que temos da coisa designada por essa palavra, ou nas associações que nascem do uso que se faz dessa palavra (ou expressão) na linguagem em geral, ma que só se actualizam pelo seu emprego particular num certo discurso. A conotação é um sentido que só advém à palavra numa dada situação e por referência a um certo contexto (de linguagem ou vivido).


 

    Dessa maneira, convém deixar claro que, tomo o silencio como uma forma de discurso que, certamente provoca reflexão, de qualquer maneira, crê que seja interessante dizer já de imediato que a premissa básica para o desenvolvimento desse trabalho é a observação das marcas que o silencio deixa no discurso do texto literário moderno. Todavia, convém afirmar que tal procedimento será realizado a partir da análise dos contos de 234, de Dalton Trevisan, que em seu bojo tem uma série de expressões discursivas que conotam ideologias que não são completadas pela linguagem verbal.

há uma dimensão do silêncio que remete ao caráter de incompletude da linguagem: todo dizer é uma relação fundamental como não dizer. O silêncio é assim a "respiração" (o fôlego) da significação; um lugar de recuo necessário para que se possa significar, para que o sentido faça sentido. Reduto do possível, do múltiplo, o silêncio abre espaço para o que não é "um", para o que permite o movimento. O silêncio como horizonte, como iminência do sentido..." (ORLANDI, 1997, 12-13).


 

    As relações discursivas criadas na narrativa de ficção contemporâneas têm movimentado uma série de estudos, despertando assim o interesse da crítica e dos estudiosos. Todavia, isso não é gratuito, pois os debates atinentes, a questão sígnica do silencio no discurso literário, tem de tal modo considerado esta marca lingüística como uma forma de expressão.

No plano lingüístico, este evento leva-nos a velha polêmica da filiação teórica, isto é, o signo lingüístico é interpretado de maneiras diferentes, de forma que a Semiótica e a Analise do Discurso tem realizado ações conflitivas quando das observações das marcas que configuram o silencio. Se aceitarmos a idéia de que a teoria da análise do discurso, certamente parte para o porto que leva a inferência de que somos resultado dos discursos apreendidos ao longo de nossa existência, em contrapartida temos a Semiótica e o Estruturalismo Lingüístico que nos remete ao pensamento de que todo signo tem uma função ideologia, estando implícita ou não na construção discursiva.

Entendendo que este estudo deve pauta-se numa teoria, elegemos para tal fim a teoria de Bakhtin, destacando a linha que dá conta da interação verbal, cujo cerne é o pensamento filosófico - linguístico que liga os discursos literários.

Este trabalho visa argumentar e colocar em discussão alguns pontos que marcam o processo narrativo de Dalton Trevisan, de maneira que a eleição da obra 234, dar-se em virtude da configuração do espaço discursivo empreendido na narrativa, de tal maneira que o autor realiza o discurso em uma linha seqüencial, possibilitando assim a diluição do silencio num contexto altamente contrastivo, isto é, de um lado a cultura machista – poderosa, imponente - de outro a feminina, submissa e quase imperceptível na fala do narrador, concretizando assim o pensamento bahktiniano que afirma:


 

O subjetivismo individualista apóia-se também sobre a enunciação monológica como ponto de partida da sua reflexão sobre a língua. É verdade que seus representantes não abordaram a enunciação monológica do ponto de vista do filólogo de compreensão passiva, mas sim de dentro, do ponto de vista da pessoa que fala, exprimindo-se.


 


 

    Assim sendo, busca-se sustentação teórica nas observações dos estudos semiológicos realizados pelos membros do círculo de Bakhtin, o que conseqüentemente, levará aos estudos da análise do discurso, pois o texto de Trevisan está carregado de símbolos, inclusive o silêncio, que está configurado nas marcas lingüísticas. Dessa maneira, é lícito que se transite também nas idéias de Roland Barthes y Pêcheux, que certamente nos orientará sobre os processos lingüísticos que subjazem a questão do silencio no discurso literário.

    Entende-se que o silêncio é uma forma de expressão, de modo que o discurso empreendido por Trevisan na obra em questão, situa-se num ponto nefrálgico deste trabalho, de tal maneira que o texto em estudos está repleto de pontos em que se apresenta a submissão da mulher. Com efeito, registra-se isso com maior vigor nos contos em que as personagens femininas ouvem os discursos dos personagens masculinas sem fazer contestação.

    No plano filosófico e, sobretudo, ideológico da linguagem Bakhtin (1997:31-38) corrobora ao afirma que "um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social) como todo corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo; mas, ao contrário destes, ele também reflete e refrata outra realidade, que lhe é exterior. Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. [...] tudo que é ideológico é um signo. Sem signo não existe ideologia."

Neste caso, é possível perceber que o silêncio em um discurso carregado de pausa como o existente em 234 leva-nos a inferir que tal atitude narrativa é uma forma ideológica, em que está implícito todo poder de uma cultura baseada nos mandamentos machistas. Todavia, as personagens femininas agem de maneira silenciosa, possibilitando uma ação dissimulada dos episódios que estão presentes na estrutura discursiva dos personagens masculinas.

Partindo de um pressuposto filosófico, sobretudo no que se refere ao processo condenativo empreendido pelos personagens masculinos contras as femininas dos contos em estudos, poder-se-ia dizer que Foucault (1987), estabelece este tipo de castigo como sendo o resultado de um no código corretivo, no qual "as punições estão menos diretamente físicas, certa discrição na arte de fazer sofrer, um arranjo de sofrimento mais sutis, mais velados e despojados de ostentanção."


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BACCEGA, Aparecida Maria. Palavra e discurso: história e literatura. 2. ed. São Paulo, Ática, 2000.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: vontade de saber. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1990.

LEFEBVE, Jean-Maurice. Estrutura do discurso da poesia e da narrativa. Coimbra, Livraria Almedina, 1980.

ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. 4. ed. Campinas, Editora da UNICAMP, 1997.

TREVISAN, Dalton. 234 contos, Rio de Janeiro: Record, 1997.

WALDMAN, Berta. Do vampiro ao cafajeste: uma leitura da obra de Dalton Trevisan. 2. ed., São Paulo, Hucitec, 1989.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

SIMPLESMENTE POESIA A...

AMENIDADES


 

Quando estou triste

Pequeno e me sentido

Imerso no mundo no qual

A solidão me toma a alma,

Lembro de seu sorriso que,

Feliz e reluzente tal a lua cheia,

Faz me reagir.


 

Enxugando as lágrimas que

Banham-me a alma nessa hora

Entrego o meu ser em seus braços

Para viver intensamente essa paixão.


 

No seu colo deitarei meu calor

Para nos seus seios beber a seiva do amor

Que escorrendo de nossas bocas

Iguala-se ao rio que sai do imo da serra

E desliza mansamente leito a fora...


 

29 de outubro de 2009, 19h30min

Salvador -BA

 

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ampliando possibilidades de comunicação

CIBERESPAÇO: LIBERALIDADE LINGUÍSTICO-COMUNICACIONAL

                    

                                Robério Pereira BarretoL


 

Introdução

Ferreiro

    Após as descobertas de Saussure, é normal ver-se em grandes compêndios a afirmação de que o papel fundamental da língua é a comunicação. Não havendo, portanto, muito que se obstar a isso, se aceita que a comunicação só se realiza com êxito quando os agentes do ato comunicativo compreendem bem o que ambos dizem. Por isso é necessário que os interlocutores estejam aptos a decodificarem as mensagens e códigos lingüísticos usados no sistema (fala e escrita) para, assim, interagirem de maneira significativa.

    Nesse processo, os comunicadores, os quais, segundo a teoria da comunicação são as pessoas que participam do processo de interação comunicativa e, portanto, os responsáveis pela continuidade da língua como mecanismo de interação sócio-cultural. Com efeito, nesse arcabouço lingüístico comunicativo se estabelece de fato à comunicação, porque os sujeitos do enunciado e da enunciação fazem uso da linguagem comum, à qual se dá no processo de interação que, a partir da construção e negociação dos sentidos propostos se define como mensagem inteligível.

Portanto, a linguagem abre aos comunicadores várias possibilidades de interação quando apreendem os sentidos por ela veiculada, uma vez que é formada pelo verbal e não-verbal. Sendo que a verbal tem como sua unidade básica a "palavra". Já não-verbal tem como meio de transmissão de sentidos a imagem, o gesto, a música, etc. além dessas, há também as chamadas linguagens mistas que, segundo teóricos da comunicação, estas se dão por meio da junção de imagens e palavras. Por exemplo, nas histórias em quadrinhos, no cinema, na publicidade, etc.

No que se refere à capacidade comunicativa promovida pelas linguagens da web, afirma-se que, devido à unicidade da palavra, a linguagem verbal é mais eficaz, porque transmite a informação com mais objetividade, inclusive dá aos interlocutores, maior poder na atribuição de sentido à mensagem.

A linguagem visual, contudo, é a mais econômica, porque veicula a informação com maior rapidez. Assim, há quem considere este tipo de mensagem mais complexa, posto que exija dos agentes comunicativos um nível maior de conhecimento, por isso, às vezes, não atinge o objetivo desejado durante a comunicação.

    Nessa perspectiva, é pertinente lembrar que além da palavra (oral e escrita) há também os códigos convencionalmente articulados, como por exemplo, os emoticons - :), ): - e as omonomatopeias – kkkkk, hehehe, rsrsrsr – da comunicação via chat e scraps.

    Historicamente, a sociedades se compõem de sujeitos que através do assujeitamento lingüístico, ideológico e cultural vivem as contradições: liberdade e submissão. Isto, segundo Orlandi (2003:50) significa dizer que os naturais e os migrantes convivem num espaço no qual são livres e submissos uns aos outros ao mesmo tempo; submisso às suas tradições – colocando-as como superiores às locais - e livres quando às praticam como sendo uma inovação na cultura do local. "[...] o assujeitamento se faz de modo que o discurso apareça como instrumento (límpido) do pensamento e um reflexo (justo) da realidade."(Orlandi, 2003, p. 50).

    Ainda segundo Orlandi é possível compreender que:


 

Ao dizer, o sujeito significa em condições determinadas, impelido, de um lado, pela língua e, de outro, pelo mundo pela sua experiência, por fatos que reclamam sentidos, também por sua memória discursiva, por um saber/poder/ deve dizer, em que os fatos fazem sentido por se inscreverem em formações discursivas que representam no discurso as injunções ideológicas. (Orlandi, 2003, p. 50).

    

    Em verdade, o sujeito discursivo, ser da memória ideologicamente formada na enunciação, está de algum modo, submetido às regras da língua, à história em quando discurso realizado, fazendo, portanto, parte da materialidade da histórica. Em que a representação simbólica da realidade está no cotidiano da linguagem, levando estes falantes a mostrarem por meio dos sentidos, as evidências de sua ideologia. "A evidência, produzida pela ideologia, representa a saturação dos sentidos e dos sujeitos produzida pelo apagamento de sua materialidade, ou seja, pela sua des-historicização" (Orlandi, 2003, p. 55).

A interação verbal é a comunicação realizada a partir do pensamento saussureano de que a língua é um sistema ao qual estão ligadas a fala e língua, sendo que está última é colocada em movimento através da relação direta entre falante e destinatário.

Tais usuários desempenham papéis importantes no processo de comunicação pois, o falante tem em sua fala informação cujo paradigma é resultado de suas experiências sócio-culturais, bem como o destinatário, também os tem. Assim, o falante ao dirigir seus enunciados ao destinatário deseja realizar algum tipo de mudança no paradigma deste.

    Através da intenção, tenta antecipar o grau de modificação promovido no ouvinte; perspectiva igual é esperada pelo ouvinte ao interpretar a mensagem a ele proposta, reconstruíndo-a por meio de seus paradigmas.

    Dessa maneira, a competência que o ser humano tem em manter relações comunicativas com o outro, é devido à mediação proposta pela sociedade, de maneira que os símbolos, gestos, cores, figuras e palavras se organizam em sistemas cuja complexidade é singular. Isso se torna meios de interação verbal e é o único meio de expressão que traduz os sentimentos e desejos dos agentes envolvidos na comunicação: emissor e receptor em conversa por telefone na qual se empregam os mais variados recursos interação verbal.

        A interação verbal – que é a interação social estabelecida por meio da linguagem – constitui uma forma de atividade cooperativa estruturada: "estruturada", porque é governada por regras e convenções, e "cooperativa", porque necessita de, pelo menos, dois participantes para atingir seus objetivos.

    Para Bakhtin, na verdade, é na categoria de expressão que verifica a interação verbal. Através dela inferimos o seguinte esquema:


 


 

    Ainda conforme discute Bakhtin, é possível ver no esquema acima que a categoria de expressão, mantém em si as características sociais e ideológicas para que haja comunicação entre os sujeitos da enunciação. Para autor russo, "tudo que é essencial é interior, o que é exterior só se torna essencial a título de receptáculo do conteúdo interior, de meio de expressão do espírito." (Bakhtin, 2000, p. 111). Com efeito, diz-se que a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados em um dado sistema lingüístico e, mesmo que não haja interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor. Em síntese, o pensamento bakhtineano pode assim entendido:


 


 

    

    A interação verbal sob esse enfoque, leva-nos a crer que; o mundo interior e a reflexão de cada indivíduo tenham determinado espaço social, o qual deve ser bem apropriado. Por isso, não haverá interlocutor abstrato ou neutro. Porque a palavra é, segundo Bakhtin produto da interação do locutor e do ouvinte. Configurando assim numa espécie de ponte a qual que está ligado aos seres na/da comunicação. "Se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra se apóia sobre o meu interlocutor."

    Dessa maneira, o contexto social imediato determina quais serão os ouvintes possíveis, amigos ou inimigos para os quais serão orientados a algum tipo de consciência individual ou coletiva, quando da interação de ambos. Cumpre-se, então, o círculo ideológico da interação verbal. O qual, segundo Bakhtin, ocorre por que "a enunciação enquanto tal é um puro produto da interação social, quer se trate de um ato de fala determinado pela situação imediata ou pelo contexto mais amplo que constitui o conjunto das condições de vida de uma determina comunidade lingüística." (Bakhtin, 2000, p. 121).


 


 

domingo, 25 de outubro de 2009

AE... TC NA WEB EH D+ M SINTO

CHATTERS : DA PERTENÇA À LINGUAGEM


Robério Pereira Barreto*

Uma língua é um sistema de relacionamentos entre formas e significados.


Mario Alberto Perini, 2006, p. 45

O objetivo deste ensaio é colocar em destaque alguns pontos que levam à compreensão do que significa a linguagem praticada na internet, chat e scraps e weblog a qual se passa a denominar de ciberdiscurso (Barreto, 2005). Sem recorrer a exaustivos exemplos práticos.

A fim de melhor elucidar a maneira como o chatters se posicionam na rede, como produtores sócio-discursivos na web, desde o chat aos scraps postados no Orkut, vai-se destacando as categorias de sujeitos, linguagem e sentido.

Os sujeitos do ciberespaço criam ações e denominações específicas, entre elas, teclar significando assim, ato de conversação. Isso leva à inferência de que há uma novidade na maneira pela qual os sujeitos se relacionam com o mundo, posto que esteja incluso no meio.



(...) o sujeito navegador se encontra em relação com o ambiente internetiano, ele precisa arregimentar e manter relações com os outros sujeitos que também estão no mesmo ambiente. Além dessas, o internauta mantém relações consigo mesmo e com uma escrita que lhe exige um nível sofisticado de letramento digital para compreender seus pares e se fazer entender por eles. É nessa teia de relações que ele se constrói como sujeitos e que a escrita digital se manifesta como atividade, desenvolvendo-se à luz da criatividade dos internautas, conforme mostra a ilustração acima. (ARAUJO, 2009, p. 126)



Nesse sentido, os chatters atuam no plano da escrita a partir de uma perspectiva estética da escrita, a qual é tomada por uma tecnologia intelectual manuseada por um grupo amplo de sujeitos que desejam ir além da produção de linguagem comunicação, pretendem ainda, se relacionarem com outros sujeitos. Para isso é necessário o domínio do código lingüístico o qual é minimamente exigido, isto é, os sujeitos precisam estar letrados digitalmente , pois dialogaram com outras pessoas que já detêm com certa desenvoltura essa atividade de escrita.

Do contrato sócio-comunicacional

É sabido que todo ato comunicativo é suportado pela interação entre os comunicantes. Desse ponto de vista discute-se o contrato sócio-comunicacional do chatters em virtude destes serem sujeitos sociais e comunicativos em ambiente digital.

Dessa maneira, entre o chatters há uma conveniência na qual se articulam sentimentos de pertença linguística e comunicacional. Dizendo de outro modo, os comunicantes do chat estabelecem entre si um contrato social no qual ficam estabelecidas normas lingüísticas e, que, portanto, não será permitido o descumprimento, visto que todos estão cientes de que o ambiente digital é constituído por ações lúdicas permitidas pela perversão da ordem linguistica canônica.

Isso ocorre por que chatters já apreenderam o sentido da atividade no ambiente digital. Por isso a natureza da tecnologia intelectual usada, escrita no chat é de outra ordem e que, se fosse ao ambiente canônico da escrita, seriam feitas outras escolhas lingüísticas.

Desse ponto de vista, a relação e o sentido estabelecidos e engendrados pelos chatters constituem saberes que levam a novas relações com a linguagem as quais são mediadas pela escrita, levando os comunicantes à compreensão de que o contrato sócio-comunicativo entre eles vai além da simples modificação vocabular. Ou seja, considera-se que, sob a ótica da sociolingüística esta prática comunicativa está embasada na perspectiva de variedade linguística e como tal materializa nos enunciados dos cibernautas em chat, weblog, scraps, etc.

Nesse sentido não é preciso à escola pensar em fazer a alfabetização de seus estudantes, estes já tem o domínio da linguagem digital e, portanto, são autônomos em suas práticas sócio-comunicativas. Cabe sim, a escola repensar seu lugar no contexto lingüístico atual, isto é, abolir de suas salas de aula a ciberfobia e, assim, agregar para seus contextos essa nova variante linguística como saber institucionalizado pela comunidade virtual.

Nas palavras de Araújo (2009) postula-se que a escola faça uma leitura positiva do contexto linguístico comunicacional ofertado pela web, posto que assim, ter-se-ia na linguagem digital um espaço de ampliação do conceito de língua como sendo tecnologia de interação sócio-cultural dos falantes, posto que esteja se afirmando em trocas linguísticas constantes, ou melhor, nas economias das trocas linguísticas.

Assim sendo, conclui-se temporariamente que a escola ainda não está situada e/ou preparada para assimilar a produção orkuteira, chateana e blogueiro como aliada para estimular seus estudantes a produzirem textos e leituras além da prevista pelo canônico educacional.

Outro aspecto importante nesse contexto são as contribuições da ciberdiscurso ou internetês para uma nova história social e comunicacional da linguagem. Isso pode ser configurado devido à inserção do computador no cotidiano das pessoas, sejam crianças e jovens que, pervertendo a ordem linguística criam para se códigos e mecanismos que reafirme seus sentimentos de pertença por meio da linguagem praticada na rede. Portanto, ouve-se a opinião de um chatter sobre a linguagem e a prática comunicativa na web. “ae... pra tc vc teim q ser fera ¡ s naum mata chat! Aqui naum teim freskura pq u tp naum paraaaaaaaa! :-) ae prof... nois fla do jto q eh bm pra gente, s vc naum sabe o nosso vcb eh freskura sua pq acentua d+. ae naum tc speed. Ta forahhhhhhhhhhhhhhh! :-) net eh d+ ea tc eh tdb!

Bibliografias consultadas

ARAUJO, Júlio César. “pra tc c a galera vc tem q abrevira muito”: o internetês e as novas relações com a escrita. In. DIEB, Messias. Relações e saberes na escola: os sentidos do aprender e do ensinar. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. pp. 119-137.

BARRETO, Robério Pereira. Ciberdiscurso e interculturalidade na web. Tangará da Serra [MT], Chances Editora, 2005.




quinta-feira, 22 de outubro de 2009

ALENTO

Estar em seu pensamento

É sentir passeando no firmamento.


 

É nesse momento que sinto

Estando dentro de minha essência.

Por dentro de

Mesmo na distancia não tenho arrependimento

E encontro nisso todo meu alento.

SURTO


 

Queria viver num mundo

Que apaixonasse como

A luz do dia impulsiona

A flor a ter perfume

Mesmo nascida no munturo.


 

Queria amar como as mães

Amam incondicionalmente suas crias,

Acordando manhãs frias.


 

22 de outubro de 2009.

Robério Pereira Barreto


 


 

VONTADE

Na vontade de querer-te
Sempre lembro de nós
em momentos de...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

SINITROS E VAZIOS

Hoje, segunda à noite
Nos bares da vida
Misturam-se cheiros
E sabores da vida...
Aos vazios de homens
E mulheres vazias.



No cavo humano à noite
Todos se preenchem na falta
De si e todos ao mesmo tempo.



Acelerados ou lentos sob a alquimia
Da noite repleta de vazios
Homens e mulheres vazias
Entopem-se de sinistros vasilhames
Existenciais...



19 de outubro de 2009, 23h33min.
Robério Pereira Barreto

DUPLO QUERER

No desejo de tê-la

E no espaço nós

Nossos corpos e olhares

Esmagam-nos no querer...



Nossas bocas a distâncias

Devoram-se com a volúpia

Da escuridão que, voluptuosamente

Envolve no manto da noite

Os raios do dia.



18 de outubro de 2009, 22h



Robério Pereira Barreto

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

CONTIGO

Quando estou contigo
seja onde for rio de tudo
sentido seguro qual menino
que, segurando a mão firme
se diverte sem tem o escuro.

Com você em meu colo
e mente tono-me valente,
gritando o quão emocionante
é sentir seu corpo quente
tocando o meu lentamente.

16 outubro de 2009.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

DO DIZER AO FAZER

Software Livre como Política Estruturante do Governo Federal.


Ministro José Dirceu afirma que o Software Livre faz parte do conjunto de políticas estruturantes do Governo Federal



Durante a realização do IV Fórum do Planalto, cujo tema desta edição era Desenvolvimento com Distribuição de Renda, realizado nas dependências do Palácio do Planalto, o Ministro José Dirceu, ao responder pergunta sobre a política e critérios de utilização de Software Livre no Governo Federal como forma de desenvolvimento e independência, afirmou que o tema Sofwtare Livre faz parte do conjunto de políticas estruturantes do Governo Federal e não se corre o risco de deixar de fazer parte dessas políticas ou o Governo se afastar das mesmas.



O Ministro disse ainda que no momento da elaboração dessas políticas o pensamento é direcionado para a maioria da sociedade e quando o Governo não age assim os resultados não são satisfatórios.



Sobre Software Livre, destacou ainda o Ministro, existe a consonância com a Câmara de Deputados e o Senado Federal pois os presidentes daquelas casas, Deputado João Paulo e Senador José Sarney, respectivamente, são defensores e entendem a importância da adoção do Software Livre como política governamental, seja no uso, na pesquisa e no desenvolvimento.

fonte: http://www.softwarelivre.gov.br/noticias/declaracao/view

SOFTWARE LIVRE: EXPECTATIVAS E FALÁCIAS

A discussão sobre a presença do software livre no cotidiano do ciberespaço tem sido uma constante. Entratanto, a realidade é outra. No Território de Identidade de Irecê -, onde há mais de 390 mil pessoas, tendo nesse contexto vários CDCs e liboratórios de informática em instituições públicas de ensino. Nestes espaços públicos a realidade é outra. Isto é, no laboratório da universidade do Estado da Bahia, do 24 computadores ligados a internet, apenas 10 funcionam com Linux, os outros são software proprietário - Windows. Verificou-se questão parecida em é no Centro de informática da Universidade Aberta do Brasil - UAB. No ambiente privado há domínio da software proprietário.
Em entrevista com o coordenador de um laboratório sobre o uso de software livre, ele nos informou que o linux roda na plantaforma, mas os estudantes preferem o pacote do software proprietário porque tem mais recursos e, além disso, os alunos não conseguem transitar nas liberdades do software livre.
Disso inferimos que é necessário uma maior conscientização para que o software seja de fato uma realidade. Por outro lado, é fundamental reconhecer que nem todos os usuários estão autorizados a fazer as modificações no código fonte do software livre, uma vez que necessita de conhecimentos tecnicos sobre sintaxe de programação.
P.S este texto será ampliado e fundamentado teórico e cientificamente a posteriori. Aguardem!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

AÇÃO E DISCURSO: UMA CONCEPÇÃO POLÍTICA

    Para Aristóteles a cidade é constituída a partir da associação e, como tal se forma acerca de algo e bens comuns. Assim sendo, no que se refere ao governo político e real, dizem que quando um homem governa só e com autoridade própria, o governo é real; e sendo, pelos termos da constituição do Estado, alternadamente, senhor e súdito, o governo é político. (ARISTÓTELES, 2006, p. 10).

    Nesse contexto, Hannah (2009) propõe que a díade "ação e discurso são as atividades políticas por excelência, diferença e igualdade são dois elementos constitutivos dos corpos políticos. (HANNAH, 2009, p. 109).

domingo, 20 de setembro de 2009

DISCURSIVIDADE E NOMADISMO NA WEB

A contemporaneidade tem sido marcada por divergências conceituais e teóricas entre os estudiosos das ciências humanas que, ao mesmo tempo em que a reconhece como os rompimentos das fronteiras fixadas detratam-na por ter em si elementos da modernidade ainda não terminada.

Nesse contínuo fluxo encontram-se e deslocam-se os conhecimentos em várias vertentes dentre as quais o discurso da ciência é posto em destaque devido à crise da hegemonia pretendida pela ciência moderna.

Por outro lado, uma nova ordem discursiva tem se instituído, isto é, na contemporaneidade há novos meios de propagação das ocorrências sociais, políticas, culturais e científicas.

Dentre estes se destaca a web que, com sua força motriz tem posto a baila a crise e a correlação de forças existentes entre “conhecimento cientifico e o conhecimento vulgar tenderá a desaparecer e a prática será o fazer e o dizer da filosofia da prática” (SANTOS, 2006, p.20).

Quanto à outra vertente do discurso, sobressai o saber, a da sua metodologia de transmissão, ou seja, o discurso acerca do saber tornou-se facilmente descrito à maneira pela qual tem prevalecido a mutação dos critérios que nomeia o desempenho, bem com aqueles que os afetam.

Assim se questiona: que tem autoridade para transmitir e legitimar as informações veiculadas na web? o que é transmitido e de que lugar nasce? a quem interessa tal produção? e de que forma é trasmitido? Nesse contexto de discursividade nômade e, sobretudo, potencial o mais provável é que se reconheça a presença e a legitimação dos experts em discursos, as mídias.


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

OS SIGNOS EM BARTHES & PEIRCE: A SEMIÓTICA NA MODA

Elis Caroline Nunes Rodrigues Santos 1

Ana Paula Maciel

Cíntia Sancho Paiva

Denise de Castro Dourado Ferreira Braga

Mara Batista Carvalho

Robério Pereira Barreto


 

Um signo é uma coisa que, além da espécie ingerida pelos sentidos, faz vir ao pensamento, por si mesma, qualquer outra coisa.

Santo Agostinho

Resumo:

O presente artigo faz um passeio semiótico nas visões de Barthes e Peirce mostrando o que é o signo para cada um deles e posteriormente fazendo um diálogo com a teoria semiótica na moda usando o corpo como fonte de legitimação.


 

Palavras-chave: Signo, Semiótica, Moda.


 

Reflexão sobre os fundamentos semânticos e semióticos

 
 

Tendo em vista o estudo das teorias do signo e suas significações em Bhartes e Peirce, faz-se necessária uma reflexão prévia sobre os fundamentos da Semântica e da Semiótica.

O método semiótico tem por conceito fundamental o estudo do signo que, conforme Saussure (2001) apresenta um primeiro elemento chamado significante, caracterizado não por sua natureza material, mas como a imagem acústica, a impressão psíquica do som, que pode desencadear outro fenômeno psico-semiológico, o significado, o segundo elemento constituinte do signo.

    Para Charles Sanders Peirce (2000), a semiótica é constituída em três níveis: o sintático, o semântico e o pragmático. O primeiro revela a relação que o signo tem com o seu interpretante, o segundo diz respeito à relação existente entre o signo e o seu referente (objeto) e o último se importa com a relação do signo com ele mesmo e com outros signos.

É perfeitamente perceptível que a sociedade atual organiza-se em torno de um grande e poderoso universo de signos, diga-se de passagem, bastante complexo. De igual modo, é também perceptível o estado absoluto em que se portam a linguagem humana e seus signos de valor incondicional. Conforme Barthes (1991), nenhum outro sistema com a mesma complexidade e grandeza foi observado em nosso espaço e tempo.

    Dada a complexidade da linguagem humana, seus signos e respectivas significações, Barthes, além de definir a semiótica como sendo a ciência que se ocupa do estudo de qualquer sistema de signo, considerando suas substâncias e/ou limites, também refuta Saussure, quando diz que: "A Lingüística não é uma parte, mesmo privilegiada, da ciência dos signos: a Semiologia é que é uma parte da Lingüística; mais precisamente, a parte que se encarregaria das grandes unidades significantes do discurso" (BARTHES, 1991, p. 13).

    Embora acreditando que possa ser muito maior o universo do método semiológico, tomaremos como suporte os elementos de Roland Barthes, como sendo bastantes, a priori, para subtraírem da Lingüística cada uma das substâncias básicas e necessárias "para permitir a preparação da pesquisa semiológica" (BARTHES, 1991, p. 13). Os Elementos de Semiologia foram agrupados por Barthes da seguinte maneira: I. Língua e Fala; II. Significante e Significado; III. Sintagma e Sistema e IV. Denotação e Conotação.

    Assim sendo, torna-se possível perceber que o referido método de análise semiótica é binário e trabalha com a idéia dicotômica dos elementos que, aparentemente distintos, completam-se para formar o todo discursivo, dada a natureza dialética existente entre eles.

     

O Signo

É possível dizer que qualquer objeto, som, palavra capaz de representar outra coisa constitui signo. Na vida moderna, todos nós dependemos do signo para vivermos e interagirmos com o meio no qual estamos inseridos. Para o homem comum, a noção de signo e suas relações não são importantes do ponto de vista teórico, mas ele os entende de maneira prática e precisa. A utilidade do signo vai além do que imaginamos: ao dirigirmos, por exemplo, precisamos constantemente ler e analisar discursos transmitidos pelas placas de trânsito, pelas luzes do semáforo, pelas reações do veículo ao meio ambiente etc. O homem intelectualizado não vive sem o signo, precisa dele para entender o mundo, a si mesmo e às pessoas com as quais mantém relações humanas. As noções de signo são muito mais amplas e discutíveis do que podemos imaginar.


 

O signo em Roland Barthes

     

    Inicialmente, para Barthes, o signo é composto de um significante e de um significado, conforme prenunciou Saussure, e ele acrescentam que "o plano dos significantes constitui o plano de expressão e o dos significados o plano de conteúdo" (BARTHES, 1991, p. 43).

Barthes (1991) define o significado como a representação psíquica de uma "coisa" e não a "coisa" em si. Para fundamentar isso ele retoma Saussure, que este chamou primeiramente o significado de conceito, reconhecendo aí o valor psíquico que ele intrinsecamente carrega. Para clarear ainda mais o raciocínio de Barthes, tomaremos como exemplo da figura de uma bola:


 


 

A figura da bola de fato não é uma bola. A mente pode trair os que não lêem os signos como devem ser lidos. O significado da palavra bola não é o objeto bola, mas a representação gráfica do objeto, sua imagem psíquica. O significado expresso da figura pode ser lido e segmentado de várias maneiras, conforme as diferenças culturais de um dado leitor. Com base nisso, tomaremos Barthes novamente quando diz que "vários corpos de significados podem coexistir num mesmo indivíduo, determinando, em cada um, leituras mais ou menos 'profundas'". (BARTHES, 1991, p. 47).

Para Barthes (1991), o significante pode ser analisado com as mesmas observações que ele coloca para o significado, apenas com a diferença de ser o significante um elemento mediador que se comporta como gerador, ou seja, materializador da figura do objeto, o significado.

Por fim, Barthes diz que "a significação pode ser concebida como um processo; é o ato que une o significante e o significado, ato cujo produto é o signo" (BHARTES, 1991, p. 52). A significação, como elo de ligação entre o significante e o significado, não constitui uma teoria nova, ou seja, quando Barthes discute o assunto embasa-se em autores que o discutiram anteriormente, a exemplo de Hjelmslev, Lacan, etc.

    Assim como o significado é o conceito do signo e o significante a sua representação acústica, a significação é, em tese, o fator psico-sindético entre eles. Todo significante pode ter o seu significado prognosticado, de modo falso e/ou verdadeiro; todavia, isso não pode constituir exatidão, pois a perfeita relação entre o significante e o significado só será verificada em parte pelo contexto, em parte porque outros fatores deverão ser levados em conta, tais como as relações extralingüísticas espaço/tempo e sintonia entre interlocutores. 

Podemos dizer que a significação é o elo de ligação entre o significante e o significado, ou que a significação é a fusão do significante ao significado por meio de um contexto bem definido.

 
 

O signo tricotômico de Peirce

 
 

O signo e suas relações triádicas

 
 

    Para Peirce: "Um signo, ou representâmen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém." (PEIRCE, 2000, p. 46)

    A teoria do signo em Peirce é uma renovação de tudo o quanto já foi discutido e teorizado em relação ao assunto. A idéia do signo pelo signo e do significante que tem um certo significado fica obsoleta quando Peirce analisa o representâmen segundo as suas relações triádicas: o representâmen, o objeto e o interpretante.

    Conforme Peirce (2000), o representâmen é o signo primeiro, pode-se dizer que é o signo como tal, o objeto é a representação do signo e o interpretante a consciência intérprete do signo, ou seja, o seu significado. Todo signo gera um outro signo fruto da mente e é isto que Peirce chama de interpretante.

    

A primeira tricotomia do signo

 
 

Peirce divide o estudo dos signos em ramos diferentes para fins de análise: a primeira tricotomia trata do signo em si mesmo, a segunda refere-se às relações que o signo tem com o seu objeto e a terceira apresenta as relações entre o signo e o seu interpretante.

A primeira tricotomia é aquela em que o signo funciona com referência ao meio e está dividida seqüencialmente em três partes chamadas por Peirce de quali-signo, sin-signo e legi-signo.

O quali-signo (qualidade), segundo Peirce (2000), refere-se aos aspetos qualitativos do signo. Cada estado material do signo ou cada fenômeno, que nele tem a função de apresentar um caráter, é um quali-signo. Quando mudamos a dimensão, a cor, o volume de um dado signo, o quali-signo nunca é o mesmo, o que podemos deduzir: com a mudança de um quali-signo, o signo sofre alterações e passa a ser um signo novo, ou seja, semelhante ao primeiro e não ele mesmo. Para clarear, tomemos como exemplo as cores: o preto, na maioria das vezes, indica luto, assim como o branco representa a paz. O quali-signo possui aspetos sensoriais, pois pode ser percebido gustativa, olfativa, tátil, auditiva e visualmente. Vejamos um outro exemplo: uma maçã vermelha e aparentemente cheia de viço é um fruto próprio para o consumo; já a mesma maçã murcha e de tonalidade escurecida não deixa de ser maçã, mas é uma maçã podre e imprópria para o consumo. Este fenômeno pode ser percebido olfativa e visualmente.

O sin-signo (singularidade) está, conforme Peirce (2000), relacionado com a permanência do signo no espaço e no tempo. Todo signo é particular, é autônomo, porque goza de leis próprias para a sua organização e potencial de significação.

    O legi-signo
(lei), em Peirce, é o signo empregado consoante as normas que o regem. Trata-se da convenção do signo num dado tempo e espaço. Os signos são usados segundo as normas, por exemplo, as letras do alfabeto de uma língua, as palavras de uma língua, os sinais de trânsito, os graus dos termômetros, etc.

    

A segunda tricotomia do signo


 

Na sua segunda tricotomia, Peirce apresenta o signo que pode ser denominado como ícone, índice ou símbolo

 O ícone segundo Peirce "é um signo que se refere ao objeto que denota apenas em virtude de seus caracteres próprios, caracteres que ele igualmente possui quer um tal objeto realmente exista ou não" (PEIRCE, 2000, p. 52). A palavra ícone vem do grego e quer dizer imagem, por isso, quando representamos algo por meio de uma imagem (desenho), estamos utilizando um ícone. Como exemplo, podemos tomar certas placas de trânsito icônicas, ou seja, aquelas que representam travessia de pedestres (um homem estilizado dando um passo a frete).

O índice, conforme Peirce, "é um signo que se refere ao objeto que denota em virtude de ser realmente afetado por esse objeto" . (PEIRCE, 2000, p. 52) O índice é, portanto, um signo de referência a um dado objeto e/ou objetivo. Um bom exemplo disso é o dedo indicador da mão que é usado para fazer uma referência direta a alguém ou a alguma coisa. Trata-se da indicação de um caminho no espaço e no tempo. O marcador de páginas de um livro é o indicativo da página em que você parou de ler ou marcou para encontrar algo importante, isto é um índice. O índice de uma dada obra é o indicativo dos conteúdos e as páginas em que estão. No tempo, como índices referenciais, podemos fazer menção à importância que têm as datas em relação aos acontecimentos: 22 de abril de 1500 é um índice em relação ao descobrimento do Brasil pelos portugueses.

O símbolo para Peirce "é um signo que se refere ao objeto que denota em virtude de uma lei, normalmente uma associação de idéias gerais que opera no sentido de fazer com que o símbolo seja interpretado como se referindo àquele objeto" (PEIRCE, 2000, p. 52). Vezes e vezes, o objeto não parece com sua representação; a associação do signo ao objeto geralmente é instituída ao longo do tempo, por meio de uma assimilação cultural. Numa rodovia, o motorista, ao ler uma placa de indicação viária, está fazendo a leitura de um índice, mas se ao lado da placa for vista por ele uma cruz, estará fazendo a leitura de um símbolo. A cruz está simbolicamente relacionada à morte. O motorista poderá entender que naquele lugar ocorreu uma morte.

 
 

A terceira tricotomia do signo

 
 

A terceira tricotomia de Peirce diz respeito ao interpretante. Todo signo está para um objeto, assim como todo objeto está interpretante para um intérprete. A última das três tricotomias está em Peirce dividida da seguinte forma: rema, dicente e argumento.

Em Peirce, um "rema (signo singular) é um signo que, para seu interpretante, é um signo de possibilidade qualitativa, ou seja, é entendido como representando esta e aquela espécie de objeto possível" (PEIRCE, 2000, p. 43). Como elemento clareador do rema, podemos dizer que na frase As rosas são vermelhas, o predicativo – são vermelhas – é um rema, pois trata-se da interpretação que o intérprete faz de uma qualidade singular do signo.

Ainda para Peirce, "um signo dicente é um signo que, para seu interpretante, é um signo de existência real" (PEIRCE, 2000, p. 52). O dicente é uma proposição, trata-se de um signo que provoca e desperta uma reação crítica no intérprete. Por fim, pode-se dizer que é a interpretação particular do leitor de um signo, seja ela negativa, seja positiva. Com base nas afirmações anteriores, ainda podemos dizer que uma cerca é um signo dicente, pois ela indica que o transeunte não pode passar daquele ponto. Já uma porta aberta pode ser um convite, ou quem sabe uma armadilha.

Por fim, Peirce apresenta e define o último elemento de sua terceira tricotomia: "Argumento é um signo que, para seu interpretante é signo de lei" (PEIRCE, 2000, p. 53). O argumento é o juízo verdadeiro que o interpretante faz do signo, portanto se dissermos que um elemento "E" é igual a soma de um elemento "X" mais um elemento "Y", ou seja, (E = X + Y), estamos construindo um signo argumento, porque podemos dizer que a soma de X mais Y é igual a E, ou seja, (X.+ Y = E). Com isso, é possível perceber que o argumento que expressa verdades, ou juízos verdadeiros. É possível construir o seguinte exemplo: Pedro está com uma doença "A"; Pedro morrerá porque a doença é mortal e não possui cura. De posse destas informações, podemos deduzir que todas as pessoas com a mesma doença "A" morrerão, porque ela é mortal. Peirce ainda diz: "Um argumento é um signo cujo interpretante representa seu objeto como sendo um signo ulterior através de uma lei, a saber, a lei segundo a qual a passagem dessas premissas para essas conclusões tende a ser verdadeira" (PEIRCE, 2000, p. 57).

A Semiótica na Moda

De acordo com Lúcia Santaella "o estudo da linguagem e dos signos é muito antigo. A preocupação com os problemas da linguagem começam na Grécia. A semiótica implícita compreende todas as investigações sobre a natureza dos signos, da significação e da comunicação, é uma semiótica explícita quando a ciência semiótica propriamente dita começou a se desenvolver" (SANTAELLA, 2002, p. 22).

Para Peirce "a semiótica não é uma ciência especial ou especializada, como são as ciências especiais, a física, a química, a biologia, a sociologia, a economia, etc., quer dizer, ciências que têm um objeto de estudo delimitado e de cujas teorias podem ser extraídas ferramentas empíricas para serem utilizadas em pesquisas aplicadas" (PEIRCE, 1995, p. 5).

A noção de signo é básica na lingüística. Signo é a menor unidade de um código dado. As famílias de signos não cessam de se multiplicar pelo planeta.

O desenvolvimento a partir de raízes estruturalistas foi evidente nos trabalhos de Roland Barthes (1915-1980). Ele foi um estruturalista e propagou o programa semiológico de Saussure. No quadro do paradigma estruturalista atingiu o clímax com o seu sistema da Moda (1967).

Abordando a cultura de massa Barthes analisou e encontrou a chave para as primeiras análises semióticas. Definiu o signo como um sistema constituído de E, uma expressão R em relação e C um conteúdo (ERC).

Tal sistema sígnico primário pode se tornar um elemento de um sistema sígnico mais amplo. Se a extensão é de conteúdo, o signo primário se torna a expressão de um sistema sígnico secundário. Neste caso, o signo primário é de semiótica denotativa, enquanto o signo secundário é de semiótica conotativa.

Na crítica literária e cultural, Barthes empregou o conceito de semiótica conotativa para revelar as mais diversas significações ocultas em textos. No seu estudo Mitologias, ele definiu tais sistemas de significações secundárias como mitos. Os meios de comunicação de massa criam mitologias e ideologias como sistemas conotativos. No nível conotativo, ele esconde significações secundárias e ideológicas e no denotativo elas expressam significações primárias "naturais".

Para Barthes, "o mito é sempre uma linguagem roubada" (BARTHES, 1993, p. 131).
Para J. Lotman, "a arte e a cultura em geral são consideradas como sistemas de modelagem secundárias" (LOTMAN, 1979, p. 7).
Para Pierce, é um significado, que aparece como resultado de um acordo interpretativo dos intérpretes do signo.

Barthes vê uma nova abordagem de semiologia ou a nova mitologia, já não será capaz de separar tão facilmente o significante do significado, o ideológico do fraseológico.

 Uma imagem vale mais do que mil palavras

A teoria semiótica nos habilita a penetrar no movimento interno das mensagens, o que nos dá a possibilidade de empreender os procedimentos e recursos empregados nas palavras, imagens, diagramas, sons, nas relações entre elas, permitindo a análise das mensagens.

As mensagens podem ser analisadas em si mesmas, nas suas propriedades internas, quer dizer, nos seus aspectos qualitativos, sensórios, tais como, na linguagem visual, por exemplo, as cores, linhas, formas, volumes, movimento, dinâmica, quando, em terminologia semiótica, analisa-se os quali-signos das mensagens.

Para Embacher, citado por Maria Luiza Feitosa "o vestuário participa da constituição da identidade e é por ela constituído, e verifica também a possibilidade do indivíduo, ao construir seu próprio estilo, ser capaz de tornar-se representante de si mesmo, criando uma identidade, que articula as igualdades e as diferenças que constituem e são constituídas pela história desse mesmo indivíduo"
(FEITOSA, 2003)

.     Isto porque, "a grande realização humana na conquista da identidade pessoal é conseguir adequar os papéis sociais que é obrigada a desempenhar, à capacidade de pautar essa identidade pelo seu desejo."
(Idem, Ibidem)

E sintetiza mostrando ser esta situação "uma autonomia que emancipa o sujeito proporcionando-lhe, entre outras coisas, um estilo próprio de vestir. Um estilo capaz de expressar o que ele está–sendo e o que ele é sem-estar-sendo, coerente com o movimento contínuo de concretização que lhe permite ser representante de si, com autonomia, na busca da mesmidade."  (Idem, Ibidem)

Ana Paula Celso de Miranda e Maria Carolina Garcia, afirmam que "atitudes levam as pessoas a gostarem ou não das coisas, aproximarem-se ou afastarem-se delas. Esses gostos e desgostos são chamados atitudes."
(MIRANDA e GRACIA, 2003)

Estas mesmas autoras, citando Eco, afirmam que "sendo a moda símbolo na essência, parece certo afirmar que à ela se aplica perfeitamente transferência de significados, visando a comunicação integrante de sociedades, onde tudo comunica, sendo assim, o vestuário é comunicação."
(MIRANDA, e GARCIA, 2003)

O indivíduo possui tendência psicológica a imitação e proporciona a satisfação de não estar sozinho. Imitar não só transfere a atividade criativa, mas responsabilidade sobre a ação dele para o outro. A necessidade de imitação vem da necessidade de similaridade. Daí a moda é a imitação de modelo estabelecido que satisfaça a demanda por adaptação social, diferenciação e mudança, que é adotada por um grupo social.

A moda, dentre outras, possui, duas vertentes singulares: uma é a individualidade e a outra a necessidade de integração social. Salomon, a nós trazido por Ana Paula Celso de Miranda e Maria Carolina Garcia ensina que "moda é processo muito complexo que opera níveis. Em um extremo, está o macro, fenômeno que afeta muitas pessoas simultaneamente, ela exerce efeito muito pessoal no comportamento individual. As decisões de compra do consumidor freqüentemente motivadas pelo desejo de estar na moda." (MIRANDA e GARCIA, 2003)

As mencionadas autoras, agora com substrato em Freyre registram que "a moda se impõe (...) é a pressão, sobre esse gosto de um consenso coletivo." (MIRANDA e GARCIA, 2003)

Dos muitos símbolos e expressões, a roupa é uma das mais importantes linguagens não verbalizadas do "eu" que passa de controle social. Por ela as pessoas procuram comunicar para os outros, esta percepção de si, que demandam a integração social mediante o que é culturalmente aceito. A moda é um dispositivo social, portanto o comportamento orientado pela moda é fenômeno do comportamento humano generalizado e está presente na sua interação com o mundo. Nesse sentido afirma Baudrillard que "se modernidade define-se pela hegemonia do código, a moda, enquanto dimensão total dos signos é sua instância emblemática. A moda constitui uma ruptura profunda no pensamento discursivo, mergulhando-o na irreverência absoluta, ela desarticula o esquema tradicional da representação". (BAUDRILLARD, 1996). Que nos impõe profundamente à moda é a ruptura com uma ordem imaginária: a da Razão sobre a todas as formas...

Os modelos regem o campo da moda. Existe, uma diferença fundamental entre a função totalizante da moda na modernidade e a função do ritual na ordem primitiva, à qual escapa o efeito estético da ostentação pelos signos que caracteriza o sistema da moda. A moda assume diante da funcionalidade econômica o aspecto de festa e de gratuidade. Exerce uma fascínio que advém dos aspectos de inutilidade e de arbitrariedade que lhes são próprios.

O sistema da moda é paradoxal e enquanto código absoluto ela está acima de qualquer valor. O design na moda nos possibilita entender a semiótica, que é como uma embalagem, um rótulo que é utilizado na moda para despertar sensações. São elementos comuns do design: o brilho, que são sinais visuais, que pontilham a rastro da roupa. Esse rastro marca com uma clareza a oposição entre brilho e não–brilho. Essa opção marcante entre duas qualidades, a de brilhar e a de não-brilhar dá essa alternativa uma predominância qualitativa e icônica.

Para Santaella o signo está apto a provocar em um intérprete sentimentos, isto é, um interpretante emocional. Ícones tendem a produzir esse tipo de interpretante com mais intensidade. Os interpretantes emocionais estão sempre presentes em quaisquer interpretações, mesmo quando não nos damos conta deles. (SANTAELLA, 2002, p. 24)

As palavras também se relacionam com as imagens, predominando também a complementaridade. Quer dizer, as mensagens são organizadas de modo que o visual seja capaz de transmitir a informação. Os padrões são especificados pelas diferentes cores, diferentes matizes, diferentes desenhos, que as roupas trazem formando assim uma distinção de padrões dentro da moda.

Padrões esses que dizem respeitos aos elementos culturais, as convenções de época que a moda incorpora. Os elementos culturais e convenções só  funcionam  simbolicamente  para  um interpretante. Dependendo do tipo de intérprete, dependendo especialmente do repertório cultural que o intérprete internalizou, alguns significados simbólicos se atualizarão, outros não.

A moda atende cegamente aos ditames do consumo. Se uma imagem é um bom produto, se vende bem, essa imagem será perseguida sem tréguas e sem limites.

A conclusão a que se chega é no sentido de que emoções são signos e, como tais a moda nos causa emoções. Nesse ponto, o caminho parece estar aberto para a nossa análise semiótica da moda como uma emoção, em pecado emocional que é um signo.

Qualquer signo, todo signo, mesmo um signo mental, deve estar corporificado. Estando corporificado, o signo tem qualidades materiais que lhe são peculiares como uma entidade ou evento que ele é, independente de sua função representativa.

Em conclusão, citam-se Barthes, para quem "o signo é, pois, composto de um significante e um significado. O plano dos significantes constitui o plano de expressão e dos significados o plano de conteúdo". (BARTHES, 1997, p. 43).


 

Referências:

BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 1978

___________. Elementos de semiologia. 17ª ed. São Paulo: Cultrix, 1997

___________. O sistema da moda. São Paulo: Nacional, 1979

___________. Mitologias. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993.

BAUDRILLARD, Jean. A troca semiótica e morte. São Paulo: Loyola. 1996.

LOTMAN, I. M. et al. Semiótica de la cultura Madri: Cátedra, 1979.

MIRANDA, Ana Paula Celso de. e GARCIA, Maria Carolina. Influenciadores e hábitos de mídia no comportamento do consumo de moda – parte 3.
Disponível em
www.recmoda.com.br/bazar/008.html
.


 

PEIRCE, Charles S. Semiótica. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.


 

PEIRCE, Charles S. Semiótica e Filosofia. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1993.

SANTAELLA, Lúcia. Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 30. ed. São Paulo: Cultrix. 2001.

SOUZA, Maria Luiza Feitosa de. Resenha sobre o livro: Moda e identidade – a construção de um estilo próprio – Airton Embacher – Anhembi Morumbi, publicado no Jornal da Tarde – julho de 1999. Disponível em: www.pucsp.br/pos/cos/moda/resenhal.htm.