terça-feira, 11 de novembro de 2008

SEMANTICA E SEUS LIMITES NO TEXTO

Tratar das maneiras como a linguagem se articula na língua natural construindo sistemas de significação tal como ocorre no português e no inglês, é considerar que sistemas de signos são importantes para a comunicação. Por isso, “a referência a outros sistemas de signos acontecerá ocasionalmente e terá por objetivo a compreensão da estrutura das línguas naturais”[1]
No português, essas abordagens se dão a partir do entendimento de que há termos lingüísticos e semanticamente diferentes, no entanto, se aproximam quando abordados no plano da significação.

Por símbolo ou expressão, entendemos qualquer objeto físico (uma seqüência de sons, sinais gráficos, ou qualquer outra coisa) que, na consciência da comunidade que a utiliza, está associado, ou “está por”, alguma outra coisa. Já um signo é a associação convencional de um símbolo ou expressão com alguma outra coisa. Por exemplo, a seqüência de letras que formam o nome próprio Luciano Pavarotti é uma expressão; essa expressão junto com o célebre tenor que ela nomeia constituem um signo. As palavras e as sentenças das línguas são exatamente isto, signos[2].

É interessante perceber no texto de Chierchia a representação que os símbolos têm e desempenham na comunicação e na interpretação da linguagem. Assim, quando usamos um signo para informar algo a alguém, sem dúvida, precisamos empregar signos que sejam compreensivos tanto pelo emissor quanto pelo receptor. O contexto, normalmente define os atos elocutivos dos agentes da comunicação.

O contexto pode ser subdividido em contexto linguístico (o discurso no qual o ato lingüístico está inserido) e contexto extralingüístico (os fatos não-linguisticos que caracterizam o ambiente no qual a comunicação acontece (...) Uma língua fundamenta-se numa gramática, o sistema de regras e/ou princípios que governam o uso dos signos da lingua.[3]

Aqui, entendemos à maneira do semanticista citado que, linguagem dar-se a partir do uso que a sociedade faz da língua e sua significação, empregando de uma maneira ou de outra sua “gramática na vida de uma comunidade de usuários. Logo, Chierchia diz que: “A sintaxe estuda o aparato combinatório de uma língua; a semântica, seu aparato interpretativo. A pragmática trata da maneira pela qual a gramática como um todo pode ser usada em situações comunicativas concretas.”[4]
Diante disso, referência, denotação, significado ou sentido de um signo são elementos que contribuem para o entendimento das mensagens na comunicação cotidiana do grupos sociais.

Semântica e semiótica: uma aproximação empírica

Para a ciência do signo – Semiótica – o homem se diferencia do animal face a sua capacidade de comunicação simbólica. Por isso, a estrutura da semântica leva o sujeito a conformação do ser em seu universo ideológico e, principalmente o subjetivo.
A partir disso, se toma o termo; Semântica cuja perspectiva é de avizinhar-se, atualmente, de semiologia e semiótica. Contudo, nessas disciplinas há elementos conceituais e práticos que as diferenciam.
Para os filósofos empiristas da linguagem, tendo nesse quadro J. Locke como representante, a Semiótica – ciência dos signos -. Já na concepção do filósofo estado-unidense Ch. S. Pierce existem distinções acerca do icônico, indicial e, sobretudo o simbólico. Nesse sentido, ele compreendeu e havia confessado que: o que estudara até aquele momento, tudo era base na teoria semiótica na qual o símbolo possibilita e, conseqüentemente, se torna a marca distintiva do homem ante ao animal, constituindo assim, o ponto central comum ao estudo do mito, da religião, da arte e da ciência, que por seu turno são linguagens.
Na década de 60, os estudos de semântica junto com os marxistas, ocorreram na ótica da ideologia e da subjetividade, sendo que, Adam Schaff defendia a conciliação entre o pensamento marxista e a semântica, dado que a semântica passa a ser entendida como a “parte da lingüística que se ocupa da significação das palavras e da evolução dos seus sentidos”.
A linguagem no plano comunicativo foi entendida por Schaff como instrumento de socialização de ideologias. Portanto, para ele a função comunicativa se desenvolve a partir dos sentidos que o sujeitos atribuem aos objetos e coisas que usam para se expressarem.
Para o semanticista polonês, a função comunicativa da linguagem é desenvolvida a partir de:

O processo de comunicação e a relacionada situação-signo, isto é, a situação em que objetos e processos materiais se tornam signos no processo social da semiose, têm-nos servido de base à analise das categorias semânticas signo e significação. Tal análise, porém, mostra que, para entender o processo de comunicação e também o que é signo e significação, é necessário fazer referencias à linguagem por plano social e dentro da qual objetos e processos materiais podem, sob circunstâncias definidas, funcionar como signos, isto é, adquirir significações definidas. Eis por que a linguagem e a fala são elevadas ao papel de categorias fundamentais, em todas as pesquisas semânticas. Além disso, o lingüista, o lógico, o psicólogo, o antropólogo, etc., todos eles se referem à linguagem e a fala. (SCHAFF, 1968, pp. 355-6).

Embora tenha sido demasiado longa a assertiva mencionada acima, e cuja autoria é de Schaff, abre-se espaço para um horizonte de expectativa, isto é, há nessa discussão a tentativa de promover no sujeito uma série de possibilidades de leitura dos objetos que compõe o meio social em que se ele atua. Por isso, nosso estudioso assegura que a linguagem é “um sistema de signos verbais que serve para formular pensamentos no processo de reflexão da realidade objetiva pela cognição subjetiva e para comunicação socialmente esses pensamentos sobre a realidade, bem como as expectativas emocionais, estéticas, volitivas, etc., a esta relacionada”.
O objeto da semântica tem sido compreendido e delimitado pelos especialistas, embora se tenham notícias de vários semanticistas que expõem suas opiniões em defesa da ampliação do seu campo e objeto de investigação. Para melhor didatizar a discussão, deve se entender, grosso modo, que ela é.

Semântica é o estudo do significado em linguagem, semântica é a disciplina lingüística que estuda o sentido dos elementos formais da língua, ai incluídos morfemas, vocábulos, locuções e sentenças (= estruturas sintaticamente completas ou lingüisticamente gramaticais), ou, ainda, semântica é o estudo da significação das formas lingüísticas.
Estas, pois, são as palavras de Marques (1990:15), as quais afirmam que os significados das palavras, segundo os princípios da lingüística se dão em três níveis: semântica lexical, semântica da sentença – independentemente de condicionamentos contextuais ou situacionais – e o da semântica do texto – relativo ao uso concreto da língua em textos falados ou escritos, contextual e/ou situacionalmente condicionados.
Além disso, existem afirmações que dão conta de que a melhor maneira de se conceituar a semântica é conhecer que estamos diante de uma ciência que trata de significados. Portanto, a melhor forma de se amenizar as discussões sobre tal conceito é, sem dúvida, aceitar que se trata de um estudo heterogêneo dos sentidos. Para Fodor e Katz (1964, p. 417) apud Marques (2000:17) o lugar-comum entre lingüística e semântica é“... a única maneira que se tem de descrever de modo preciso a atual situação da semântica é mostrar parte de sua heterogeneidade.” Assim, tais palavras corroboram idéia de que se tem um ciência aberta à múltiplas aplicações quando se busca entender os sentidos das palavras em textos e contextos específicos.
Nesse quadro é importante que se tenha em mente o conceito de comunicação, pois é a partir dela que os seres realizam seus sentidos, ou seja, é por meio do ato de comunicar que se faz saber conhecimentos de várias formas. Segundo conceitua Ducrot “Comunicar seria, antes de tudo, fazer saber, pôr o interlocutor na posse de conhecimentos de que antes ele não dispunha: não haveria informaçao a não ser que, e na medida em que, houvesse comunicação de alguma coisa.” (Ducrot, 1972, p. 10).
Assim, tem se a possibilidade de verificar através dos princípios da semântica a intersubjetividade dos falantes. Tal perspectiva, segundo Benveniste é apontada no uso dos pronomes EU e TU, ambos com característica de próxima. Sendo que, Eu “é uma maneira mais rápida o próprio nome), têm, na realidade, uma função mais complexa.”

O que é texto na perspectiva semântica e semiótica?

Para a semiótica contemporânea as contribuições de C.S.Pierce e Saussure possibilitaram ao estudioso, sobretudo, ao leitor comum observar e analisar os significados que as palavras têm tanto na cultura quanto na sociedade em geral, tendo obviamente a língua particular como código e, portanto, os signos constituem sistemas de significação complexos.

Uma conseqüência da substituição do signo – conceito histórico, artefato analítico (e inclusive ideológico), como gostava de afirmar Barthes (1980:1074) – pelos sistemas de significação foi a de centrar a mirada semiótica (Fabbri, 1973) no texto (ou discurso) que produz sentido, considerado num primeiro momento como sequencia de signos. (LOZANO, 2002, p. 2).

Dando continuidade ao entendimento do que é o texto Derrida e Kristeva de forma particular, segundo Lozano, sustentam que os textos são o lugar em que o sentido se produz e produza (prática significante).
O objeto da semântica e da semiótica é o texto. A semiótica visa mostrar através da metalinguagem os discursos produzidos pela sociedade, e conseqüentemente explicar o que e para que servem seus sentidos.
Bakhtin (1977: 179), afirmou Onde não há texto, tampouco há objeto de investigação e de pensamento. É a partir desse momento que ele situou suas observações de pesquisa, situando o papel e o limite do texto nas disciplinas que utilizam o texto como objeto de análise: filosofia, lingüística, a chamada crítica literária.
O lócus de Bakhtin é sem dúvida o espaço do texto. Por isso ele dizia que o texto escrito e oral é dado primário de todas as disciplinas e, em geral, de todo o pensamento teológico e filosófico em suas origens. Nesse sentido, apontava que o “texto é aquela realidade imediata (realidade de pensamento e de emoções) sobre a qual só podem fundar-se estas disciplinas e este pensamento.” (BAKHTIN, 1997, p.197).
Essa idéia fundante de texto nos permite entender que o texto é o objeto que permite, em função de um interesse comum, a convergência de disciplinas distintas. Tanto a sociologia como a sociolingüística, a psicologia social a teoria da informação e a teoria da comunicação e muitas outras têm em comum o fato de trabalhar com textos. (LOZANO, 2002, p. 2).

[1]CHIERCHIA, Gennaro. Semântica. São Paulo: EDUEL, 2003, p. 25.
[2] Idem.
[3] ib idem. p. 25
[4] op. cit, p. 26.

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