terça-feira, 11 de novembro de 2008

ANÁLISE DO DISCURSO E OS AMBIENTES VIRTUAIS

Para a Análise do Discurso, não se focaliza o indivíduo falante, compreendido como um sujeito empírico, ou seja, como alguém que tem uma existência individualizada no mundo. Importa o sujeito inserido em uma conjuntura social, tomado em um lugar social, histórica e ideologicamente marcado; um sujeito que não é homogêneo, e sim heterogêneo, constituído por um conjunto de diferentes vozes. Assim as noções de polifonia e heretogeneidade também constituem objeto de reflexão e são necessárias para se compreender o que chamamos sujeito discursivo. (FERNANDES, 2007, p.11).
Aplicada a teoria do sujeito discursivo nos ambientes virtuais, onde os internautas atuam em nível heterogêneo de fala e sentido, tem-se, pois nessas reflexões necessárias para inferir que; a formação discursiva e o interdiscurso compõem o universo lingüístico-discursivo promovido por estes enunciadores sociais, uma que neles são realizados explanações que variam de acordo com o lugar social de cada sujeito do discurso.
Nos Chat e Weblog há entrecruzamentos dos aspectos sociais, históricos e, sobretudo, ideológicos da linguagem, conforme as vozes dos sujeitos discursivos se constituem como ponto de partida para a negociação dos sentidos por eles pretendidos nos contextos comunicativos em que se lançam no tempo e no espaço sociais elementos socioideológicos, tendo como meio de materialização destes, a linguagem, uma que os discursos realizados nos ambientes virtuais precisam da estrutura da língua (gem) para existirem, seja de modo virtual ou real.
Diante disso, a escolha do léxico e seu uso expõem os princípios ideológicos com os quais lidam em determinadas posições dos grupos sobre um determinado tema. É, portanto, necessário compreender ainda que seja nesse espaço que se manifestam os sentidos dos discursos, isto é, os sujeitos ao se pronunciarem em determinados lugares sociais por meio da linguagem levam ao nível máximo seus pronunciamentos.
Para a teoria da Análise do Discurso, os sentidos são produzidos em decorrência da ideologia dos seus enunciadores, de forma que cada um, de seu lugar de os compreende a partir de sua realidade política, social e cultural a que estão submetidos no momento da interlocução.
Assim, afiança-se que os discursos praticados pelos sujeitos discursivos, usuários de Chat e Weblog não são fixos, “estão sempre se movendo e sofrem transformações, acompanham as transformações, sociais e políticas de toda natureza que integram a vida humana.” (FERNANDES, 2007, p.20).
Sobre a natureza social do discurso Orlandi (1999, p.15) afirma: “a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a idéia de curso, de percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando.” Ao fazer isso ele [homem] se movimenta no tempo e nos espaços sociais e, com isso provoca no outro e no grupo social, inquietações que levam às reminiscências de questões até então vistas através neblina homogeneidade.
Dessa forma, quando se observa a produção lingüístico-discursiva dos internautas nos ambientes virtuais, busca-se a compreensão dos sujeitos no conjunto social, uma vez que AD sugere que a tal interpretação se levará em conta os sentidos atribuídos pelos falantes aos elementos socioideológicos presentes nas atividades sociais realizadas no contexto do discurso. Dessa maneira, crê-se que nos ambientes virtuais “A ideologia materializa-se no discurso de cada um dos participantes na medida em que se articulam acerca de uma temática específica. Para isso tem como suporte material a linguagem a qual se configura na forma de escrita-fala, uma espécie de código secreto por eles criado para manter suas informações restritas ao grupo, cuja ideologia determina o significado de cada fragmento de discurso realizado pela comunidade virtual.
Por isso, se diz que a produção de sentidos num discurso depende, exclusivamente, dos lugares ocupados pelos sujeitos no momento da interlocução. Em outras palavras, a depender do ponto de vista socioideológicos do falante as palavras podem ganhar significados diferentes, levando inclusive, a graves problemas de comunicação.
O estudo do discurso toma a língua materializada em forma de texto, fora lingüística-histórica, tendo o discurso como o objeto. A análise destina-se a evidenciar os sentidos do discurso tendo em vista suas condições sócio-históricas e ideológicas de produção. As condições de produção compreendem fundamentalmente os sujeitos e a situação social. As palavras têm sentido em conformidade com as formações ideológicas em que os sujeitos (interlocutores) se inscrevem. (FERNANDES, 2007, p.22).

Para Pêcheux, (1977b, p.190) a noção de sentido deve ser construída a partir das proposições sócio-históricas que as palavras carregam em virtude da coletividade ter dado à elas um lugar de destaque em determinado momento de sua existência. Nas palavras de Pêcheux “o sentido de uma palavra, de uma expressão, de uma proposição, etc., não existe “em si mesmo” (...) mas, ao contrário, é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-histórico no qual as palavras, expressões e proposições são produzidas.” (PÊCHEUX, 1977b, p.190 apud FERNANDES, 2007, p.22).
Mister se faz dizer que o ponto central do discurso é a compreensão da ideologia na qual ele é produzido, visto que ambos se complementam para demonstrar o lugar de onde o sujeito do discurso enuncia, isto é, o falante ao se pronunciar ocupa um lugar de fala, e com isso inscreve-se em um espaço socioideológico e assim sua voz emana e reflete seus pontos de vistas histórico e social.

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