terça-feira, 11 de novembro de 2008

LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO CONTROLADOR DO PENSAMENTO MODERNO


A experiência não é nem formadora nem produtora. É a reflexão sobre a experiência que pode provocar a produção do saber e formação.
A. Novoa, 1996.

Apresentação

Este trabalho se apresenta em formato de comunicação, visto que foi construído numa perspectiva de levar os graduandos em Pedagogia, da Faculdade de Educação de Tangara da Serra, refletirem sobre os paradigmas[2] que cercam o uso da língua, nas vertentes escrita e oral, com destaque para o uso da linguagem eletrônica instituída pelo desenvolvimento da comunicação em alta velocidade. (computador, internet etc.).
Com efeito, este ponto de vista visa, trazer à luz episódios que estão sendo utilizados por instituições que trabalham com formação de professores comprometidos com a busca e o aperfeiçoamento intelectual, através de instrumentos didáticos que melhorem o nível sócio-cultural dos seus estudantes.
Embora seja evidente a falta de capacitação técnica de nossos sujeitos, acreditamos que a escola é o espaço que deve proporcionar discussões atinentes ao uso da linguagem e suas tecnologias.

A tecnologia e suas simbologias comunicativas

Ao longo dos séculos o homem ocidental baseio seus costumes e ações em processos comunicativos, de forma que sentiu pressionado a utilizar conhecimentos lingüísticos e, sobretudo, inventar instrumentos para sua propagação. Não obstante, este processo resultou na confecção de símbolos que tinham como objetivo registrar todos os eventos produzidos por determinados grupos humanos.
Eis, grosso modo, a criação da imprensa, que a partir renascimento foi muito importante para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das ideologias cristã no mundo ocidental, de tal maneira que os jesuístas construíram um império na América em virtude da tecnologia advinda da criação da imprensa, cujo veiculo principal de propagação das ideais do catolicismo estava registrados no livro doutrinários..
Dessa forma, o semioticista Barthes (1978), diz que a linguagem é uma legislação, a língua é seu código. Não vemos o poder que reside na língua, porque esquecemos que toda língua é uma classificação, e que toda classificação é opressiva.
Referindo-se ao idioma o lingüista estruturalista Roman Jakobson provou que um idioma se define menos pelo que ele permite dizer, do que por aquilo que ele obriga dizer. A exemplo disso, o francês figura no todo deste discurso.
Dessa forma, fica claro que a estrutura da língua por natureza possibilita a língua criar uma relação entre a fala e alienação. Assim, falar significa, de acordo com os pensamentos dos estudiosos, não é necessariamente comunicar, pois a língua nada mais é do que uma reição generalizada.
Sabemos ainda que, o domínio da língua em sua vertente mais significativa – escrita – existe a serviço do poder, de modo que Barthes classifica este episódio em dois pontos de vista importante: a Autoridade da asserção, o gregarismo da repetição.
Para o semioticista, isso ocorre em virtude de que “a língua é imediatamente assertiva: a negação, a dúvida, a possibilidade, a suspensão de julgamento, requerem operadores particulares que são eles próprios retomados num jogo de máscaras linguageiras”;
Neste contexto, pode-se afirmar que a língua em sua essência cria uma relação dialética entre o poder e a servidão, ou seja, a utilização massificante e repetida de determinados tipos de discursos produzem em seu interior uma série de relações, as quais delineiam e, até confundem entre si, oferecendo ao leitor/ouvinte um verdadeiro labirinto.
Diante disso, pode-se estabelecer que a língua visa o real da linguagem, de maneira que ela reconhece em sua essência as implicações que formam o paradigma da língua como simbologia de um fenômeno controlador da realidade escrita.
Para Sánchez, os meios de comunicação e a sociedade estão articulados em um processo comunicativo em que a linguagem ganha uma amplitude sem igual. Não obstante, este fenômeno atingiu diretamente os professores em seu fazer diário, pois para se comunicar estes profissionais necessitam empregar terminologias que geram uma situação comunicacional, isto é, utiliza-se do que se dispõem no momento.
Neste plano, ainda há de se destacar que comunicar é, segundo, Schramm (1973) citado por Sánchez (1999: 55) é um ato voluntário, uma ação que envolve vontade entre os interlocutores, pois, é a partir da vontade que os comunicadores elegem seus instrumentos de comunicação.

A transformação do pensamento educacional pela tecnologia


É senso comum que os textos que aborda os problemas da educação, chamem atenção para o episódio da transformação do estudante por meio de novas teorias e o uso de instrumentos tecnológicos que facilitam tal atitude educativa.
Para os investigadores educacionais, transformar significa perceber os resultados de trabalhos complexos e árduos que ao longo das ações foram se organizando de tal maneira, que as práticas se interligam com os pressupostos teóricos levantados em busca da concretização da mudança. “Transformação também é um conjunto de atividades que podem alterar estruturalmente uma pessoa, que mudam a forma da psique e do corpo[3]”.
Este argumento sintetiza as ideologias empregadas pelos sistemas comunicativos instruído pelo sistema dominante – capitalismo – o qual tem como nervo central à dominação do sujeito de corpo e alma, criando assim um alienado.

O boom tecnológico: euforia no uso de tecnologias computacionais

Sabe-se que nos últimos anos criou-se uma corrida vertiginosa em busca de inovações socioculturais e, sobretudo tecnológicas que possibilitasse a manipulação do sistema educacional e formativo de nossa sociedade.
Neste contexto, está o computador como ferramenta que possibilita a criação de episódios e mundos simbólicos, ao mesmo tempo em que introduz diferentes formas de atuação e de interação entre as pessoas que circulam ao seu redor, motivando a inovações muitas vezes vazias.
Para Almeida (2000:12-17), o clima de euforia em relação à utilização de tecnologias em todos os ramos da atividade humana coincide com um momento de questionamento e de reconhecimento da inconsistência do sistema educacional. Embora a tecnologia informática não seja autônoma para provocar transformações, o uso de computadores em educação coloca novas questões ao sistema e explicita inúmera inconsistência.”“.
No plano histórico, lembremos que o inicio de uso e/ou invenção de tecnologia voltada para o ensino foi provocado por Comenius (1592-1670), ao usar o livro impresso como instrumento de trabalho, o qual estava baseado no pensamento de universalização da equação ensino-aprendizagem. Assim, compreendemos que o homem sempre buscou instrumento que possibilitasse a universalização do saber através de um processo didático, cujo objetivo é tão somente a massificação da informação.
Em suma, não é possível pensar em educação sem fazer uma referencias aos processos tecnológicos que são criados com intuito de “facilitar” a fixação do conhecimento. Não obstante, não devemos esquecer que para que esta atividade se de maneira concreta é necessário, antes de tudo a formação de profissionais engajados com desenvolvimento da sociedade de informação em alta velocidade.
Seguindo o pressuposto do sistema, é inevitável um inquérito; como agir o professor que está no meio desse fogo cruzado? De um lado analfabetismo e miséria, do outro e tecnologias futuristas, porém inalcançáveis.
Em se tratando das evoluções no sistema educacional é licito refletirmos sobre o discurso de Paulo Freire a este respeito, de maneira que este corrobora chamando atenção para o evento da integralização dos esforços para a facilitação do acesso ao conhecimento, de maneira que asssoma-se isso ao desenvolvimento técnico-cientifico presente nas discussões educacionais dos últimos 20 anos do século XX.
No que se refere à inclusão de tecnologias computacionais no ambiente educacional, é licito entender o paralelismo criado por esta ideologia de modernidade. Em outras palavras; ao mesmo tempo em que há uma busca incessante para a implantação de computadores nas escolas como meio de garantir a qualidade do ensino, visto que deparamos com uma deficiência básica, isto é, temos milhares de crianças fora da sala de aula, aquela tradicional (quadro de giz, professor) a qual oferece os primeiros passos para a construção da aprendizagem.
Todavia, temos que compreender que cerca de 40% dos professores que compõe o quadro de nossas escolas não tem habilitação em nível superior. Além disso, a maioria dos profissionais da educação tem conhecimento básico de informática. Então perguntamos mais uma vez; porque não qualificamos nosso corpo docente conhecimentos voltados para os paradigmas educacionais que funcionem de acordo com as nossas possibilidades e depois pensem no uso de tecnologias? A resposta para esta questão esta centrada simplesmente nos ideais americanizados de educação, onde a tecnologias é parte do cotidiano de uma sociedade industrializada, a qual possibilita altos investimentos em equipamentos tecnológicos para laboratórios e, sobretudo, na formação de professores.
Para Dowbor (1994:122), este procedimento deve ser visto de maneira ampla, pois “frente à existência paralela deste atraso e da modernização é que temos que trabalhar em ‘dois tempos’”, fazendo melhor possível no universo preterido que constitui a nossa educação, mas criando rapidamente as condições para uma utilização ‘nova’ dos novos potenciais que surgem “.
Assim sendo, abre-se possibilidades que levam-nos a compreender os discursos dos estudiosos que questionam o uso do computador, como sendo a salvação da falência da educação. Ao contrário, o computador e suas simbologias tecnológicas são apenas ferramentas de trabalho.

A panacéia[4] dos males da educação moderna: o computador

O uso da informática como projeto de desenvolvimento pedagógico tem suscitado uma série de discussões no meio educacional e acadêmico. Segundo a crítica especializada este fenômeno ocorre em todo mundo, visto que as tecnologias informática se desenvolvem em alta velocidade tal qual a veiculação das informações através delas. Como não poderia ser diferente numa sociedade globalizada, o Brasil não está do centro das discussões.
No ambiente acadêmico construí-se um pensamento extremamente complexo, isto é, há em sua essência pontos não esclarecidos, todavia, existe uma credibilidade aqueles que dizem que “a tecnologia informática não é a característica fundamental da transformação educacional, não obstante, deve ser usada como instigadora de reflexões que levem a concepção dialética do processo educativo do individuo”.
Percebendo toda falácia que existe em torno do computador, que suas funções e seu uso apresentam-se como salvadores dos problemas da educação, o investigador Drucker (1993:153), assevera que “a tecnologia está ‘engolindo as escolas’ e enfatiza ainda que é necessário ‘repensar o papel e a função da educação escolar – seu foco, sua finalidade, seus valores... A tecnologia será importante, mas principalmente porque irá nos forçar a fazer coisas novas, e não porque irá permitir que façamos melhor as velhas”.
Aparentemente, temos um debate, o qual pode ser compreendido a partir do discurso de LOJKINE ( 127), que diz que o computador possibilita novos níveis de interpretação e entendimentos dos eventos educacionais, de maneira que os sistemas inteligentes criados pelo homem levam uma exigência maior por parte do profissional da educação que ministra conteúdos soltos e desconexos.
Diante disso, uma questão é inevitável, afinal, os computadores, na estrutura da escola e da sociedade , estão a serviço de quem e com que objetivos, uma vez que a escola não tem pessoa e equipamentos que atendam as necessidades básicas do conjunto?
Segundo Simon (1980) “a autonomatização dos processos de produção é a conseqüência lógica e o prolongamento da revolução industrial, que seguramente da continuidade ao processo de substituição da energia humana pela energia mecânica e digitalizada. Fato este que em virtude de sua velocidade não deixa tempo suficiente para que haja o processamento da informação, que conseqüentemente deveria se transformada em conhecimento.

Referências

BARTHES, Roland. Aula (trad. Leyla Perrone –Moisés) São Paulo: Cultrix, 1978.
Mediatamente! Televisão, Cultura e educação. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999.
Proinfo: Informática e formação de professores. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 2000, v. 1.
Proinfo: Informática e formação de professores. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 2000, v. 2.
LOJKINE, Jean. A revolução informacional (trad. José Paulo Netto) - 2. ed. – São Paulo: Cortez, 1999.
FIGUEREDO, José Carlos. Comunicação sem fronteiras: da Pré-História à era da informação. São Paulo: Editora Gente, 1999.
TILBURG, João Luís Van. A televisão e o mundo do trabalho: o poder de barganha do cidadão-telespectador. São Paulo: Paulinas, 1990.
GUARESCHI, A. Pedrinho. Comunicação & controle social. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
MORAES, M.C. Informática educativa: dimensões e propriedade pedagógica, MACEIÓ, 1993.
[1] Texto apresentado no 2º encontro de orientação e debate sobre os paradigmas e temas atinentes ao Provão – 2002.
· Especialista em Metodologia do Ensino de Língua Estrangeira: Inglês – UNEMAT, professor de Língua Portuguesa da Faculdade de Educação de Tangará da Serra e Literatura da Universidade do Estado de Mato Grosso – Campus Tangará da Serra.
[2] De acordo com etimologia paradigma (do grego paradeigma: padrão, modelo) esta empregada em sua essência, pois estes veículos de comunicação criaram seus próprios padrões comunicativos e simbológicos, cabendo ao profissional da educação adaptá-los ao seu uso em sala de aula, visto que seu o objetivo é melhora o nível de conhecimento dos estudantes.
[3] SADEK, José Roberto. Educação, Movimento e escolha in: Mediatamente! Televisão, Cultura e educação. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999.
[4] S.f. - Planta imaginária, a que os antigos atribuíam a virtude de curar todas as doenças.

Nenhum comentário: