domingo, 29 de junho de 2008

REFUGIADA ALMA

Os olhos fechados não
Admiram a lindeza
Que é o pôr do sol
Na tarde de inverno...

Tampouco apreciam
O brilho de um olhar
Apaixonado a lhe cotejar...

Nem as mais claras súplicas
De amor os libertam da escuridão,
Também não os deixar
Ver a alvura da paixão...

Inertes, se furtam da perfeição
Dos campos liriais a cobrirem
De brancas e magistrais flores
A imensidão de novo amor...

Frágeis, alma, espírito e corpo
Flagelam-se ao se refugiarem
No negrume do medo da rejeição...

29 de junho de 2008, 22h56min
Robério Pereira Barreto

RESTO DO MEU NADA

O coração ferido sibila
Palavras ao vento...

Como névoa de inverno,
Fatiado pelas lâminas
De sua gélida expressão;
Agora está.

A coisa mais cruel
Que senti foi ver
Restos do meu nada
Atirados ao longe
Pela indiferença de ti
Que, cata-vento da solidão
Atirou ao chão os pedaços
Daquela grande paixão.

29 de junho de 2008, 12h50min.
Robério Pereira Barreto

sexta-feira, 27 de junho de 2008

ANIMOSIDADE

Na ânsia do amor reprimido
Pelo tempo, dividi o Eu
Em demasiada embriagues
Para em sua boca me fartar
Em saboroso e molhado beijo.

Era tanta vontade de ti
Que me joguei no abismo
Sem reparar as pontiagudas pedras
No final do báratro à espera
Desse coração para espetar.

Agora, há um coração partido;
De um lado da lança ficou
Lembranças daquele amor amigável,
De outro restam dor e saudades,
Que a cada manhã são cobertos
Pelo véu da maldade.


26 de junho de 2008, 19h10min.
Robério Pereira Barreto

quinta-feira, 26 de junho de 2008

DISCURSO: UM ELEMENTO DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO

O sujeito na fala: preconceito sociocultural e lingüístico

É através da linguagem que a Sociolingüística procura identificar os reflexos das estruturas sociais e tem por objetivo sistematizar a variação existente na linguagem. A Sociolingüística “considera que o sistema da língua não é homogêneo, mas heterogêneo e dinâmico. As regras, portanto, têm de abranger a variação das formas”. (ORLANDI, 2001:51). Nessa perspectiva o falante de uma língua materna é considerado, e são analisadas as formas lingüísticas usadas pelos falantes em suas respectivas comunidades.
A Sociolingüística relaciona as variantes lingüísticas com as variantes sociológicas, ou seja, com profissão, educação, salário, e ainda com diferenças de raça, sexo, idade, enfim, explica a variação lingüística através de fatores sociais, pois ações lingüísticas e ações sociais são constituídas.
Orlandi (2001, p.55) considera que a língua, mais do que sistema, arranjo de relações abstratas, “se vai passando para uma noção de língua considerada em suas características concretas, de uso, no mundo”.

Se a língua não é mais vista apenas como instrumento do pensamento, como nos formalistas mais ortodoxos, vai-se percebendo que ela também não serve só para transmitir informações, como poderiam deixar crer os que trabalham a linguagem enquanto comunicação. Quando os homens se comunicam, eles fazem muito mais do que apenas informar. (ORLANDI, 2001:55).

Como prova de que o homem não usa a linguagem apenas para informar, (BARRETO, 2005,p.03) em seu ensaio “Desmistificação do erro na oralidade: construção de aprendizagem de LE”, afirma que “o homem é um ser dotado de poder de comunicação, o qual o conduz à reflexão e, conseqüentemente, à produção e propagação do conhecimento”. Para tanto, é necessário o uso da linguagem verbal, cuja prática o homem exerce por excelência.
Voltando a atenção às variantes lingüísticas, veremos que elas podem ser observadas entre a linguagem urbana e a linguagem rural. A linguagem urbana tende, cada vez mais, aproximar-se do que se pode denominar linguagem comum (que é a linguagem que permeia o padrão lingüístico e o subpadrão lingüístico), pela influência niveladora dos meios de comunicação de massa, da escola, da literatura; e a linguagem rural, considerada de menor prestígio, tende a ser arcaizante e, como considera alguns gramáticos ortodoxos, a linguagem dos falantes do povo menos culto.
Para Bagno (2003), “essa mesma relação faz com que a língua das zonas rurais seja mais arcaizante do que a língua das grandes cidades, onde as transformações mais rápidas são acompanhadas no mesmo ritmo por transformações na variedade lingüística” (BAGNO, 2003:124).
Entende-se que os dialetos sociais ou sócio-culturais estão relacionados às classes sociais ou aos falantes que as compõem. Por isso a Lingüística estuda todas as línguas naturais em pé de igualdade, não importando com o grau de desenvolvimento econômico, social ou cultural alcançado pelas comunidades que a falam. Em detrimento da grande injustiça social, acompanhando a desigualdade econômica, observações assistemáticas levam a crer que a escolaridade plena no Brasil, “é um funil por onde só passa uma porcentagem relativamente pequena de brasileiros” (BAGNO, 2003:166), que marcados pelo preconceito lingüístico são bombardeados por atitudes de rejeição diante de determinados interlocutores ou situações.
Os pesquisadores engajados nos grandes projetos de pesquisa lingüística do português brasileiro chegaram à conclusão de que é o nível de escolaridade o principal fator a ser levado em conta na hora de classificar um falante e sua variedade. Nesses projetos, o rótulo falante culto é aplicado ao indivíduo que tem curso superior completo. (BAGNO, 2003:161)

Considerando a língua como criação da sociedade e, ao mesmo tempo, seu reflexo, há que se dizer na existência de falantes que por razões sociais não se sentem retorquidos em seu modo de falar considerando sua norma, a norma padrão, e há, em oposição, falantes que consideram seu modo de falar pouco valorizado e que vêem no outro modelo a forma mais prestigiada e correta. Essa desagregação da linguagem verbal (diz-se, aqui, desagregação no sentido de aceitação e não aceitação) fica evidente em circunstâncias de comunicação onde muito trabalhadores, que necessitam do trabalho e que tem intenção de permanecer, precisam se adequar à forma de linguagem verbal de tal comunidade. Calvet (2002) trata dessa questão referindo-se ao plurilinguismo. “Esta é a situação na qual se encontram os trabalhadores migrantes que chegaram a seu país de escolha sem conhecer ou sabendo bem pouco a língua. Eles são forçados a adquirir essa língua no ambiente de trabalho”. (CALVET, 2002:40). No entanto, há que se admitir que essa mesma problemática se defina dentro de uma única língua, pois apresenta variáveis usadas por comunidades diferentes.
Outro aspecto de variação lingüística importante de ser observado é na variação de sexo, pois é notável a diferença do comportamento social e, por conseguinte lingüístico, entre homens e mulheres. Essa diferença é observada por Pierre Bourdieu (1982:35) citado por Calvet (2002:71) onde ele coloca que,

Como os sociolingüistas freqüentemente observam, as mulheres são mais inclinadas a adotar a língua legítima (ou a pronúncia legítima): do fato de que elas são votadas à docilidade para com os usos dominantes e pela divisão de trabalho entre os sexos, que as especializa no campo do consumo, e pela lógica do casamento, que é para elas a via principal quando não exclusiva, da ascensão social, e onde elas circulam de alto a baixo, estão dispostas a aceitar, especialmente na Escola, as novas exigências do mercado de bens simbólicos.” (CALVET, 2002:71)

Logo, “poderíamos então dizer inversamente que os homens não sentem necessidade de questionar seu modo de falar, que eles o consideram legítimo” (CALVET, 2002:72).
Em decorrência de motivos sócio-culturais e históricos, algumas variedades são consideradas como sendo a melhor, e essa se denomina língua padrão advinda do poder econômico, social e político; as outras variedades são formas lingüísticas consideradas pobres, e vistas é claro, de maneira pejorativa. Essas diferenças são estigmatizadas e, portanto, recebem a maior carga de preconceito e rejeição por parte do conhecedor do português padrão. Em vista disso, a língua já não pode ser considerada apenas valor ideológico, mas como resultado de fatos sociais, passíveis de ser analisados e compreendidos por critérios lingüísticos modernos.
Entretanto, deve-se considerar que todas as variedades da língua são valores efetivos e que não será negando-as e humilhando quem as usa que se fará ascender lingüisticamente tais locutores, pois bem se sabe que o desrespeito pelo diferente não leva a lugar nenhum e que “negar valor ao modo como a pessoa fala seria quase o mesmo que negar valor ao que a pessoa é” (BAGNO, 2003:188). Evidencia-se, portanto, que a língua padrão não é usada como meio de ascensão social, como muitos pensam ser essa a função dela, pelo contrário, ela é usada como mecanismo de exclusão social, de rejeição à forma diferente de linguagem usada por muitos falantes. Assim, o problema não está no que se fala, mas em quem fala e como fala. Então, o preconceito lingüístico é decorrente do preconceito social. E enquanto não houver igualdade social, onde todos possam ser considerados econômicos, social e culturalmente iguais, não haverá, por conseguinte, igualdade lingüística. Dessa maneira, Bagno infere o seguinte:


Como é fácil perceber, o que está em jogo não é a simples “transformação” de um indivíduo, que vai deixar de ser um “sem-língua padrão” para tornar-se um falante da variedade culta. O que está em jogo é a transformação da sociedade como um todo, pois enquanto vivermos numa estrutura social cuja existência mesma exige desigualdades sociais profundas, toda tentativa de promover a “ascensão” social dos marginalizados é, senão hipócritas e cínica, pelo menos de uma boa intenção paternalista e ingênua. (BAGNO, 2005:71)

Em rigor, ninguém comete erro em língua, o que normalmente se comete são transgressões da norma culta. Vale lembrar que a língua é um costume, e como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa de sê-lo no exato instante em que muitos o cometem, passando, assim, a constituir fato lingüístico, registro de linguagem definitivamente consagrado pelo uso. Em vista disso, será útil eliminar do vocabulário palavras como certo e errado ao se julgar as construções lingüísticas de determinados falantes.
A língua pressupõe também cultura e, às vezes, o próprio povo se encarrega de rechaçar uma criação que não se ajuste ao espírito da língua como “evolução natural”. É através da grande variedade de práticas sociais que a aprendizagem, a conservação, a transformação e a transmissão da cultura se realizam, portanto, a linguagem é um fato eminentemente cultural.
Entendendo a língua como um veículo de comunicação, de informação e de expressão entre os indivíduos de uma dada sociedade, pode-se afirmar que todo indivíduo sabe a língua que fala que em linguagem todos são autodidatas, e com pleno êxito. “Todo falante nativo de uma língua sabe essa língua. Saber uma língua, no sentido científico do verbo saber, significa conhecer intuitivamente e empregar com naturalidade as regras básicas de funcionamento dela.” (BAGNO, 2005:35). O que vale lembrar é que, em toda comunidade de fala há formas lingüísticas em constante variação, que uma língua não pára nunca, ou seja, muda sempre e que “o que hoje é considerado como ‘certo’ já foi ‘erro’ no passado. O que hoje é considerado ‘erro’ pode vir a ser perfeitamente aceito como ‘certo’ no futuro da língua” (BAGNO, 2005:143). Portanto, consideram-se aqui, como variantes lingüísticas, as “diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, e com o mesmo valor de verdade” (TARALLO, 2004:08).
No entanto, para se realizar uma pesquisa sociolingüística é necessário compreender a relação entre língua e sociedade. Essa relação se estabelece ao verificar que a cada situação de fala em que os sujeitos se inserem e da qual participam, nota-se que a língua falada é heterogênea e diversificada. Da mesma forma, essa heterogeneidade existe economicamente, culturalmente, além das diversidades de raça, sexo, idade. Como coloca Luft (1997,p.67) “em sociedades econômica, social e culturalmente heterogênea, é inevitável a heterogeneidade no campo da linguagem”. Assim, cada falante possui um conhecimento internalizado de sua língua e a partir disso é possível dizer que a “gramática” de uma pessoa é mais simples que a de outra, mas nunca que a fala é errada. E ainda, como apresenta Saussure “a linguagem tem um lado individual e um social, sendo impossível conceber um sem o outro” (SAUSSURE, 2004:16). Portanto, fica evidente que o uso particular que cada falante faz da língua pode variar, segundo seu nível de instrução, condição sócio-econômico, idade, região e, principalmente, a situação em que acontece a fala, ou seja, os indivíduos que falam a mesma língua, não falam exatamente iguais, e isso acontece porque o homem, afirmando o que ora foi escrito, pertence a diversos grupos sociais e, consequentemente, é levado a falar de diversas maneiras. Assim, “em toda língua do mundo existe um fenômeno chamado variação, isto é, nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os lugares, assim como nem todas as pessoas falam a própria língua de modo idêntico” (BAGNO, 2005:53).
Em toda comunidade lingüística há julgamentos de valores tanto lingüísticos quanto sócio-econômicos, portanto, “como qualquer língua, ou variedade de língua, é propriedade de um grupo social, vemos surgir julgamento de valores que se prendem às línguas, quando, na verdade, se aplicam às pessoas que falam essas línguas: tal língua é considerada admirável, outra desprezível” (BUYSSENS, 2002:103), então, fica subentendido o preconceito social disfarçado de preconceito lingüístico. Julga-se a pessoa pelo que ela representa não pelo que ela é, rejeita-se sua origem classificando-a como ignorante ou até mesmo pobre, mas é importante lembrar que poder econômico não corresponde, muitas vezes, com capacidade lingüística.
É muito comum se considerarem as variedades lingüísticas desprestigiadas como erradas e isso acontece porque o valor e a importância dada aos usos lingüísticos são determinados segundo as classes sociais dominantes. Assim, quando alguém fala, logo há a preocupação de observar se trata de alguém ignorante, pobre, de outra região, ou seja, diferente de quem ouve. E percebendo algumas características na fala, quem ouve costuma chamar de erros. É pensando nessa situação desconfortável para os falantes (de achar que sua fala é inferior, errada) que surge a necessidade de uma pesquisa de campo em que se concretizará o que foi estudado em algumas bibliografias sobre a língua materna.
Sendo a língua falada veículo lingüística de comunicação usada especificamente nas situações comuns de interação social, a enunciação dos fatos, as idéias, opiniões, acontecem sem a preocupação de como expressá-las e são essas partes do discurso, ou seja, essas situações naturais de fala que constituem o material básico dessa pesquisa sociolingüística.

FALANTE E LÍNGUA: UMA INTRÍNSECA RELAÇÃO

Introdução: O homem: um ser social

Desde Aristóteles, afirma-se que o homem é um ser social e que, por isso, precisa se comunicar. Necessita, assim, viver em comunidade onde troca seus conhecimentos e suas experiências, que irão levá-lo a assimilar e compreender o mundo em que vive e assim, dando-lhe meios para transformá-lo. Acumulando as experiências de sua comunidade, o homem vai construindo uma cultura própria que é transmitida de geração para geração. No entanto, para transmitir sua cultura e para suprir a necessidade de buscar a melhor forma de expressão de suas emoções, suas sensações e seus sentimentos, o homem se viu diante de certos desafios e um deles foi o de criar e desenvolver uma maneira de comunicar-se com seus semelhantes.
O homem, então, conseguiu criar símbolos e signos de vários tipos, picturais, gráficos e lingüísticos, com o intuito de concretizar a comunicação. Portanto, entende-se que a linguagem verbal é o mais útil e perfeito meio de comunicação humana, constituído por um conjunto de símbolos articulados por meio de palavras, sendo elas orais ou escritas, então a língua é o código lingüístico, visto que utiliza a linguagem, própria e particular de uma comunidade.
Diante disso a Lingüística estuda cientificamente o principal sistema de signos conhecido pelos homens: as línguas naturais, e se baseia na observação de fatos procurando investigar, observar como as diversas línguas se organizam e funcionam, sempre estabelecendo relações entre essas línguas e as comunidades em que são produzidas e utilizadas.
A Lingüística nos mostra que as línguas não são um corpo homogêneo, unitário e estático, mas que evoluem com o tempo, transforma-se e vão adquirindo peculiaridades próprias em função do seu uso por comunidades específicas. Então, como apresenta Evanildo Bechara “mesmo nesse esforço de unidade lingüística, existem fracionamentos quer diatópicos, isto é, regionais, quer diastráticos, isto é, de níveis de língua, quer diafásicos, isto é, de estilo” (AZEREDO, 2001:15). Ou seja, não há que desconsiderar certas construções na fala, desde que haja comunicação. Ainda, em “O gigolô das palavras” Luís Fernando Veríssimo afirma que “a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal”.1 A forma de construção errada da fala são aquelas que não são aceitas pela classe dominante, ou seja, aquela que fala a norma culta do país. Então, quando uma construção lingüística, adquirida por razões culturais, sociais não corresponde ao status de língua padrão os falantes começam a se sentir, por decorrência do preconceito lingüístico, complexo de inferioridade em relação a sua própria linguagem.
Portanto, essas proposições consideradas incorretas, são nada mais que as construções não aceitas pelas classes dominantes da sociedade. Como apresenta os gramáticos, geralmente puristas, o certo é a linguagem das pessoas cultas, educadas, e o errado caracteriza a linguagem das pessoas incultas, não educadas. Mas é importante observar que, numa sociedade econômica, social e culturalmente heterogênea como a nossa, é inevitável a heterogeneidade no campo lingüístico, e como a estratificação lingüística advém de uma estratificação sociocultural, só crescerá o nível de linguagem do cidadão se o mesmo ascender de nível sociocultural.
Bagno (2005) enfatiza com muita propriedade que o tipo mais trágico de preconceito lingüístico é aquele que a pessoa exerce sobre si mesma. Em vista disso, todo falante nativo de uma língua deve ser consciente de que ele é plenamente competente dessa língua. Logo, há que se pregar a consciência da especificidade do povo brasileiro, valorizando a nossa identidade nacional e, conseqüentemente, a nossa cultura já que “diferença não é deficiência” (BAGNO, 2005: 29).
A língua, sendo uma prática humana, revela o uso particular que os falantes fazem dela e a sociedade está ligada à língua de modo bastante aproximado.
Para Saussure, a língua é um fato social, no sentido de que é um sistema convencional adquirido pelos indivíduos no convívio social, é “um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” (SAUSSURE, 2004:17). Entretanto, toda língua é, sem dúvida, um conjunto de variedades e essas variedades são reais e concretas e, tendo existência na consciência de cada indivíduo, a língua constitui um sistema individual, não que ela seja definida por um indivíduo, mas pelo grupo social ao qual esse indivíduo pertence. Na verdade, a língua vive na fala das pessoas e só aí se realiza plenamente. Deve-se, então, admitir que um falante não atua por imitação ou por estímulo-resposta (behaviorismo), mas acionando um conhecimento implícito adquirido na sociedade em que vive. Chomsky vê nessa capacidade específica, inata, a linguagem ou “faculdade lingüística” de comunicação verbal, e que a língua materna não pode ser ensinada, pois a mesma já é despertada na mente através do convívio social. Essa inteligência lingüística, como diz Luft (1997:57), “pertence à condição do ser humano, ser de linguagem verbal”. Portanto, o saber lingüístico, que é competência plena da linguagem verbal, constitui-se de um sistema completo das regras que orientam os atos da fala.
Sabe-se que a linguagem é, sem dúvida, ubíqua e que sem ela a sociedade, tal como se conhece, não seria possível, pois o volume de conhecimentos, a cultura, tudo é guardado e transmitido pela linguagem. É a linguagem que está em nossos pensamentos, que intermeia as nossas relações na sociedade. Mas, apesar das características da linguagem supra citadas, há quem determine conceitos falsos a seu respeito, inclusive pessoas instruídas, cultas, mas pode-se afirmar que nem mesmo os profissionais da linguagem a compreende totalmente.
Logo, poder-se-ia afirmar que há tantas normas quantos são os falantes, pois cada indivíduo determina seus próprios padrões de uso da língua, ou seja, seu estilo. Entretanto, a norma pode ser social, regional ou individual. A fala é por si só, assistemática e admite uma pluralidade de variantes. Do ponto de vista lingüístico não há norma melhor que a outra, todas apresentam o mesmo valor a partir do momento que servem de veículo para a comunicação. E, diante da pluralidade da cultura brasileira é importante refletir sobre o que é certo e o que é errado na língua. Não se deve dizer, portanto, que este ou aquele nível de linguagem seja errado, pode ser apenas inadequado. No entanto, o nível de linguagem deve variar de acordo com a situação em que se desenvolve o discurso, pois a consciência geral é de que, quando se fala ou escreve, deve-se fazer de maneira proficiente. A língua, enquanto código permite uma multiplicidade de usos que podem ser adotados pelos falantes.
Partindo da concepção Chomskiana de que a linguagem é inata e que por ser o homem dotado de racionalidade, há relação entre linguagem e pensamento, a linguagem oral apresenta algumas variedades, pois a fala pressupõe contato direto com o falante, o que a torna mais concreta e mais espontânea, e em situações formais a falante procura observar as normas gramaticais para se adequar ao nível de linguagem que tal discurso exige.
Enfim, a língua atua na relação entre o sujeito e a sociedade, sua abordagem deve ser feita por sua inserção no contexto social.

Desmistificando o conceito de erro em língua
Toda vez que se fala, faz-se o uso do código geral que é a língua, mas isso não quer dizer que todas as pessoas falem exatamente igual. Mesmo obedecendo a esse código, que é a língua, pode-se combinar, de maneira particular, o material lingüístico que ele dispõe e assim, criar a fala, ou seja, o uso particular que cada pessoa faz do código lingüístico. Portanto, a língua é compreendida como instrumento de comunicação e liberdade. Em vista disso, é importante habilitar-se a falar claro, de forma eficiente, utilizando-se desse bem tão pessoal, a língua, com desembaraço.
A linguagem é considerada inculta, mas não inferior, entretanto, o que se pretende aqui é mostrar que o conceito de erro em língua criou estereótipos dos comportamentos lingüísticos das comunidades desprestigiadas. Assim, a classe social prestigiada impõe, obviamente, a variedade culta, desprestigiando as outras variedades com uma natural discriminação sociolingüística. Mas, para Bagno (2003) “todo mundo fala de um modo que tem explicações na história da língua ou na história de quem fala esta língua. E falar ‘diferente’, como eu venho insistindo o tempo todo, não quer dizer falar ‘errado’” (BAGNO, 2003:103).
Todo falante de uma língua usa variações dela, ou seja, torna-se um poliglota na sua própria língua, como costuma dizer Evanildo Bechara, e ainda sabe adaptar seu discurso de acordo com as circunstâncias. Portanto, o falante pode “usar uma linguagem na rua com amigos, outra com familiares em casa, e outra se tiver de fazer um discurso” (LUFT, 1997:40). Porém, “o pensamento tradicional só aceita a variedade culta, formal, a linguagem policiada, cerimoniosa – todo o resto visto como ‘errado’” (LUFT, 1997:40).
A língua existe para que com ela se pratique a comunicação e interpretação do mundo, mas, às vezes, as pessoas se sentem incapacitadas de encontrar as formas adequadas de comunicação, pois o medo de errar não permite que se comunique com naturalidade. Isso se torna compreensível já que a imperiosa norma culta impõe as formas corretas de falar e não propõe a adequação comunicativa, e uma das marcas específicas da comunicação humana é a capacidade que a língua tem de ajustar-se às necessidades expressivas dos seus falantes. Sendo assim,

Usar uma língua, tanto na modalidade oral como na escrita, é encontrar o ponto de equilíbrio entre dois eixos: o da adequabilidade e o da aceitabilidade (...) Essa nossa tentativa de adequação se baseia naquilo que consideramos ser o grau de aceitabilidade do que estamos dizendo por parte de nosso interlocutor ou interlocutores. (BAGNO, 2005:130).

Apesar da linguagem padrão se diferir muito da linguagem subpadrão, ou seja, a das classes sociais desprivilegiadas, devido a sua importância cultural, política e econômica, ambas diferem muito pouco no que diz respeito as suas capacidades expressivas. Todo falante, culto ou não, sabe a língua, a sua língua, isto é, a língua de sua comunidade, da sua classe social e se expressa de maneira clara e eficiente, independente de conhecer regras de gramáticas artificiais, sua gramática é natural, implícita. É o que coloca Luft (1997):

É próprio de o pensamento tradicional ingênuo supor que a gramática da língua está nos livros, e que os falantes, em maior ou menor grau, estropiam a língua, provocando aquelas afirmações de que “todo mundo fala errado”, como se, primeiro, os gramáticos inventassem as regras, para depois os falantes obedecerem a elas e poderem falar.
O inverso é que é verdadeiro: a gramática está na mente dos falantes, só ali existe em plenitude; as gramáticas (livros), em maior ou menor grau, mutilam a língua, e são todas elas, lacunosas, falhas. (LUFT, 1997:85).

As regras de funcionamento de uma língua são seguidas e usadas implicitamente, “quem fala sabe a gramática da língua; por intuição, sem se dar conta, mas sabe” (LUFT, 1997:87), porém se confunde saber a língua com saber regras gramaticais da língua padrão, e o que se observa é que o falante, mesmo não escolarizado, sabe bem tudo que precisa para falar, e esse saber internalizado o falante adquire com sua convivência lingüística.

O mais importante é compreender que qualquer pessoa quando fala não faz isso sem “regras”. Ela pode estar violando uma “regra” da língua padrão, da língua de cultura, da gramática da linguagem formal, mas não viola a “regra” da sua linguagem, da sua própria gramática. (MURRIË, 1998:20)

A língua, portanto, é um sistema de caráter social, embora só se concretize nos atos de fala produzidos por cada falante, o que implica dizer que o modo de falar também fornece meios para a identificação social, parte-se da língua para definir o grupo social que o falante pertence. Assim, quando se tenta extirpar as formas lingüísticas desprestigiadas de uma comunidade dizendo que são erradas está, conseqüentemente, informando que os seus valores culturais também são errados. Como Bagno (2003) explica:

A língua que uma pessoa fala à língua que ela aprendeu com sua família e com sua comunidade, a língua que ela usa para falar consigo mesma, para pensar, para expressar seus sentimentos, suas crenças e emoções, faz parte da identidade dessa pessoa, é como se a língua fosse à pessoa mesma... (BAGNO, 2003:188).

Estigmatizar a fala de uma pessoa ou comunidade é abafar os talentos naturais, é causar insegurança na linguagem e assim, gerar medo quanto à expressão autêntica e espontânea. “Uma perseguição neurótica de erros só gera insegurança e desamor ao trato com a língua”. (LUFT, 1997:17). E,

Por forças de teorias gramaticais dessa espécie, puristas, reacionários, quantas pessoas arrastam pela vida preconceitos que lhes bloqueiam a livre expressão. Nunca se sentem à vontade no terreno que mais lhes pertence: a sua língua de berço, com a qual pensam, se comunicam e expressam os mais íntimos pensamentos e emoções. (LUFT, 1997:92).

Quando se pensa nos conceitos de certo ou errado na língua é necessário atentar para a questão da legitimidade de uma forma lingüística, pois a norma-padrão muda se não mudasse, “ainda estaríamos falando latim” (BAGNO, 2005:98). Assim:

Ao contrário do que as pessoas em geral pensam os conceitos de certo e de errado não são definidos de uma vez por todas, para todo sempre. Como tudo na vida e no universo muda, a língua também muda junto com tudo mais. É verdade que existe uma pressão muito grande dos defensores da norma-padrão de fazer com que ela fique inalterada, compacta e sólida, mas isso é simplesmente impossível. O que a história das línguas – de todas as línguas – nos ensina é que, ao longo do tempo, não importa qual for a intensidade da pressão normatizadora, a norma-padrão vai sofrer alteração. (BAGNO, 2003:167)

É preciso atentar-se para o fato de que o que é considerado erro pela norma culta é usado com muita tranqüilidade pela maioria dos falantes da língua materna, e que os dizeres pejorativos devem ser retirados, pois não se pode falar de erro já que a forma de linguagem usada pela maioria é perfeitamente entendida. Além disso, urge reconhecer que a língua popular (subpadrão) é mais espontânea, expressiva e dinâmica. Não é possível, portanto, negar a complexidade e dinamicidade da linguagem de qualquer falante, independente do meio de que provém e das experiências lingüísticas que vivenciou ou vivencia. Então, é necessário desenvolver, em todos os falantes sendo cultos ou não, a sensibilidade em relação às variedades lingüísticas e acabar com os preconceitos que privilegiam umas e discriminam e estigmatizam outras, pois aquilo que parece “errado” ou “estranho” no português não-padrão é, na verdade, resultado da ação de tendências muito antigas na língua, que são refreadas, reprimidas pela educação formal, pelas regras de linguagem literária, oficial, escrita, mas que encontram livre curso na boca do povo.” (BAGNO, 2003:113).

Para falar efetivamente a língua materna não é preciso saber regras de gramática, mais que esse conhecimento é o conhecimento intuitivo ou inconsciente que todo falante de uma língua tem, pois “a variedade é de alguma forma regrada por uma gramática interior da língua. Por isso, não é preciso estudar uma língua para não ‘errar’ em certos casos. Em outras palavras, há ‘erros’ que ninguém comete, porque a língua não permite”. (POSSENTI, 2002:35). Portanto, pode-se dizer que as pessoas que falam dialetos desprestigiados são tão capazes quanto as que falam de acordo com a norma culta, pois mesmo sem conhecer regras, “o usuário dá a dinamicidade que a língua precisa para realizar sua função social, comunicar” (BARRETO, 2005:06). De acordo com Luft (1997) “o saber lingüístico, competência plena da linguagem verbal, comporta o sistema COMPLETO das regras que governam os atos de fala, devendo incluir necessariamente regras de comunicação” (LUFT, 1997:85). Assim sendo, é importante esclarecer que a língua é usada de maneiras diferentes, pois é produto de uma cultura, e como tal, é diversificada. E se uma cultura muda, a língua, que possui recursos necessários, também muda com ela.
Observando o prestígio da norma culta que se acentua cada vez mais e a imposição dessa norma como se fosse o único dialeto válido, fica claro que juntamente com as formas lingüísticas também se impõe os valores culturais ligados às formas cultas de falar e isso implica em diminuir valores populares. A língua culta é de fato o modo de falar dos grupos sociais privilegiados, e a formação social dos sujeitos leva-os, infelizmente, a admitir que a norma culta é eficiente, bonita e a única correta. É preciso que os falantes da linguagem subpadrão elevem sua auto-estima lingüística, e como propõe Bagno (2003) devem recusar os argumentos que visem menosprezar o saber lingüístico individual e imporem-se como falantes competentes de sua língua materna. Todas as formas lingüísticas são veículos perfeitos de comunicação e de relação entre as pessoas, e todas têm o seu valor. Sendo assim, torna-se necessário respeitar as variedades da língua, que são, incondicionalmente, uma preciosidade da cultura brasileira.
A partir disso convém salientar que “o que existe, de um lado, em termos de representação ou imaginário lingüístico, é uma norma padrão ideal, inatingível e, do outro lado, em termos de realidade lingüística e social, a massa de variedades reais, concretas, como se encontram na sociedade”. (BAGNO, 2003:161).
Desconsiderar a heterogeneidade no campo da linguagem é negar valor à heterogeneidade da formação do povo brasileiro, pois entre sociedade e língua não há uma relação de mera casualidade, é fato.
Por falar em relação de língua e sociedade tem-se observado que a linguagem influencia os comportamentos dos indivíduos, pois os discursos transmitidos são carregados de valores que são vistos de forma positiva ou negativamente. Ou os comportamentos lingüísticos são aceitos ou recebem uma carga de preconceitos. Mas, o que é inaceitável socialmente se refere à estrutura da linguagem subpadrão. A competência lingüística não é avaliada circunstancialmente, só se considera correta a forma lingüística prescrita por gramáticos ortodoxos. Assim, certas construções são estigmatizadas e ouve-se dizer que o erro é apanágio de pessoas ignorantes, não educadas. Pode-se concluir, portanto, que a língua é veiculo de valores e preconceitos de classe.
Bagno (2003) enfatiza que todo falante, seja culto ou não, está sujeito a todo tipo de influencias externas ou internas, pois ele está sujeito a todo tipo de situação e, portanto, sofre pressão do ambiente em que se encontra da hierarquia social em relação às pessoas com quem está interagindo, ou seja, os falantes de uma língua, talvez até sem perceber, usam constantemente variedades lingüísticas que consideram erradas. É o que coloca Possenti (2002) no que segue abaixo:

Pesquisas mostram que as pessoas utilizam muito mais freqüentemente do que imaginam as formas de expressão que consideram erradas. Este fato, aliás, tem uma forte influencia na mudança lingüística: as formas “erradas” que as pessoas cultas começam a empregar perdem sua conotação negativa e acabam por tornar-se “certas”. Os sociolingüistas em geral defendem a hipótese de que as regras são de natureza variável, de forma que é muito difícil para qualquer pessoa falar durante certo tempo sem passar inconscientemente de uma variedade a outra. (POSSENTI, 2002: 76).

Nesse contexto, a supervalorização da língua culta passa a ser simplesmente uma forma de preconceito com a linguagem subpadrão, ou melhor, com as pessoas que se utilizam dessa linguagem, já que na língua falada há presença de regras variáveis, até mesmo na língua culta. Então, “sendo a língua uma realidade essencialmente variável, em princípio não há formas ou expressões intrinsecamente erradas” (POSSENTI, 2002:86), a linguagem culta, na verdade, serve mais como manutenção do status quo das classes sociais privilegiadas.
1LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade: por uma concepção da língua materna. 1997, p.14.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

OS EMBARAÇOS DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA NA DIVERSIDADE TEÓRICO-METODOLÓGICA


Robério Pereira Barreto – UNEB- Campus XVI

RESUMO: Neste trabalho serão apresentados os nós do ensino da gramática na escola, tendo por objetivo observar como os professores têm ensinado a Língua Portuguesa na sala de aula, e as concepções modernas de linguagem. Uma vez que tem havido indecisão dos profissionais da língua(gem) na hora de atuar em sala de aula, ficando, portanto, sem saber se agem conforme metodologias advindas da lingüística moderna ou, se agem de acordo com o tradicional ensinamento da gramática. Ao fazemos um breve levantamento histórico do ensino de Língua Portuguesa, buscando compreender como se processam as atividades de aquisição de lingua(gem) na escola, e as concepções dos professores frente ao ensino gramatical tivemos as mais díspares acepções sobre a aquisição do idioma nacional. Por outro lado, temos ainda a questão do preconceito lingüístico presente na sociedade que privilegia os ordenamentos da escrita, buscando desmistificar os mitos que envolvem o ensino de Língua Portuguesa. É relevante observarmos o processo histórico da Língua Portuguesa em nosso país, mesmo porque é uma língua de civilização, visto que os primeiros habitantes das terras brasileiras, os índios, eram falantes de línguas indígenas como o tupi, guarani, entre outras. No Brasil, as variações lingüísticas presentes na oralidade divergem das raízes do português culto, essencial para a língua escrita. O problema do ensino do padrão só se põe de forma grave quando se trata do ensino padrão a quem não o fala usualmente...” (POSSENTI, 1996: 17), e este tem sido um dos fatores negativos para o êxito do ensino da Língua Portuguesa. Outro problema freqüente no ensino de Língua Portuguesa é a confusão gerada em torno da gramática, confunde-se ensino da língua com o ensino da gramática. As evidências apontam para a necessidade de uma reestruturação do ensino de Língua Portuguesa criando meios para que os alunos se tornem bons falantes e escritores do idioma.
Palavras-chaves: Língua Portuguesa; Ensino; Professor; Diversidade Lingüística.


Introdução

Neste trabalho serão apresentados os “nós” do ensino da gramática na escola, tendo por objetivo observar como os professores têm ensinado a Língua Portuguesa na sala de aula, e as concepções modernas de linguagem. Uma vez que tem havido indecisão dos profissionais da língua na hora de atuar, ficando, portanto, sem saber se agem conforme as metodologias advindas da lingüística moderna ou, se atum de acordo com o tradicional ensinamento da gramática.
Um dos fatores que ocasionam esses impasses é a falta de conhecimento mais aprofundado das novas teorias lingüísticas. A maioria dos professores, principalmente, os que estão a mais tempo em sala de aula, crêem que a maneira tradicional é a mais eficiente e segura para o ensino da língua. Isto demonstra a falta de acesso a uma reclassificação dos saberes e, por conseguinte, conhecimento sobre outras metodologias.
Assim, esse trabalho propõe que a gramática seja trabalhada dentro de um contexto real da linguagem, para uma melhor aquisição da competência lingüística do aluno.
Ao fazemos um breve levantamento histórico da Língua Portuguesa, buscando compreender como se processam seu ensino na escola e as concepções dos professores frente ao ensino gramatical, tivemos as mais díspares acepções sobre a aquisição do idioma nacional. Por outro lado, notamos ainda, a questão do preconceito lingüístico presente na sociedade, a qual privilegia os ordenamentos da escrita, buscando desmistificar os mitos que envolvem o ensino de Língua Portuguesa.
Pesquisa qualitativa realizada com os professores buscando compreender o que é importante para o ensino de Língua Portuguesa, bem como observando a visão de cada um sobre o ensino da gramática e que metodologias devem ser adotadas para que os alunos tenham uma compreensão ampla da língua e desenvolvam suas habilidades orais e escritas nos mais variados meios sociais, demonstra a obstinação do profissional em aceitar os ditames do ensino gramaticalista, em detrimento de uma sistematização dos elementos sociolingüísticos trazidos pelos estudantes ao universo da sala de aula.

Como se processa o ensino de Língua Portuguesa na escola

É relevante observarmos o processo histórico da Língua Portuguesa em nosso país, mesmo porque é uma língua de civilização, visto que os primeiros habitantes das terras brasileiras, os índios, eram falantes de línguas indígenas; o tupi, guarani, etc. A Língua Portuguesa chegou ao Brasil através das grandes navegações, trazida pelos colonizadores portugueses, pioneiros náuticos, sendo utilizada como meio de comunicação entre europeus e asiáticos, e estabelecendo-se no Brasil por meio do processo de civilização das nações indígenas e, mais tarde o idioma africano.
Segundo Bearzoti (2001), a Língua Portuguesa hoje é idioma oficial de oito nações, sendo a sexta língua mais falada no mundo, com quase 200 milhões de falantes, “é hoje uma língua culta de dimensão internacional e intercontinental, falada nos cinco continentes”. Entretanto, por ser uma língua falada em países pobres e subdesenvolvidos acaba por não ter a expressão mundial que deveria.
No Brasil, as variações lingüísticas presentes na oralidade divergem das raízes do português culto, o qual é essencial para a língua escrita. O ocorre que para a maioria da população esta língua culta torna-se distante e confusa, passível de contato apenas na escola e nos meios de comunicação formais. Neste caso, podemos observar que a língua falada pela grande massa populacional difere do português padrão, ensinado na escola, o que dificulta o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes de classe populares. “... o problema do ensino do padrão só se põe de forma grave quando se trata do ensino padrão a quem não o fala usualmente...” (POSSENTI, 1996, p.17), e este tem sido um dos fatores negativos para o êxito do ensino da Língua Portuguesa. Outro problema freqüente no ensino de Língua Portuguesa é a confusão gerada em torno da gramática; confunde-se ensino da língua com o ensino da gramática. Aquela geralmente marcada pelo uso de livros e manuais didáticos, partindo de metodologias tradicionalistas que vêem a língua dissecada em partes gramaticais, nunca como um todo significativo.
Este ensino gramaticista tem sido alvo de críticas e questionamentos, sendo culpabilizado pelo fracasso escolar. As evidências apontam para a necessidade de uma reestruturação do ensino de Língua Portuguesa criando meios para que os alunos se tornem bons falantes e escritores do idioma. Segundo Luft (1997) o ensino gramaticalista tende a abafar os talentos naturais, gerando aversão ao estudo da língua e incutindo insegurança, ou seja, reprime a expressão livre e autêntica do usuário do idioma nacional.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCN/LP, 2000), a Língua Portuguesa tem sido marcada por uma seqüenciação de conteúdos, em que primeiro ensina-se a juntar sílabas para formar palavras, palavras formar frases e frases textos, porém este ensino descontextualizado serve somente para o aluno aprender a decodificar signos.

Se o objetivo é que o aluno aprenda a produzir e a interpretar textos, não é possível tomar como unidade básica de ensino nem a letra, nem a sílaba, nem a palavra, nem a frase que, descontextualizadas, pouco tem a ver com a competência discursiva...(PCN/LP, 2000, p. 35).

Compreendemos que neste contexto que o uso da língua tem que levar à capacidade de se produzir discursos orais ou escritos, adequados à comunicação em espaços específicos, formais - escrita, informais, conversas no cotidiano.
Mesmo com a existência de discussões teóricas e críticas sobre o ensino da Língua Portuguesa observa-se que mudanças efetivas ainda não ocorreram na escola. Em verdade, pode-se dizer que o professor de Língua Portuguesa se encontra num completo dilema, entre o novo e o tradicionalista, não conseguindo definir-se sobre o que ensinar. E assim, acabam por aceitar os livros didáticos e modelos de antigos professores tradicionalistas, sem contar aqueles que valorizam o ensino da gramática na escola para a preparação do educando para os possíveis vestibulares, concursos públicos, etc.
Com tais inquietações surge à necessidade de uma analise reflexiva sobre como tem se desenvolvido o processo de ensino da língua materna e como deve ser de fato este ensino. Verificando a problemática aqui levantada, observa-se que este ensino pautado nas regras gramaticais não tem alcançado os reais objetivos, que é levar o aluno a adquirir competências lingüísticas orais e escritas, mesmo porque não se levam em consideração os seguintes aspectos: “...Como aprendemos a falar? Falando e ouvindo. Com aprenderemos a escrever? Escrevendo e lendo, e sendo corrigidos, e reescrevendo, e tendo nossos textos lidos e comentados muitas vezes, com uma freqüência semelhante a freqüência da fala e das correções da fala...” (POSSENTI, 1996: 48).
Se o ensino da Língua Portuguesa só se preocupa com as questões gramaticais, sem dúvidas, a aprendizagem da língua, em si, acaba ficando em segundo plano, e o educando com a idéia de que não domina a língua materna. Para Luft (1997), o professor tradicionalista não considera que todo falante nativo sabe sua língua precisa apenas desenvolvê-la e praticá-la em outros níveis, enfim, parte do pressuposto de que o aluno não sabe a língua, e que cabe a ele ensiná-la.
Enquanto que, o ensino voltado para as questões lingüísticas exige do professor um posicionamento flexível e de valorização cultural do aluno, levando em consideração as particularidades e o contexto social em que este se encontra inserido.


O que a Lingüística traz de positivo ao ensino de línguas são as noções fundamentais de linguagem e língua, de variedades e registros; a noção de que não há língua que não evolua; a noção de que o uso e os fatos devem prevalecer sobre preconceitos normativistas – sobretudo, a noção de que a língua é um saber interior, pessoal, dos falantes, de onde o ensino deve partir e em que deve, sempre, se basear. (LUFT, 1997: 97)


No processo de ensino em que se observam os preceitos lingüísticos o professor jamais deve colocar o aluno num grau zero de conhecimento, mesmo porque deve se observar à gramática internalizada desenvolvida pelo falante. “Esse sistema de regras que os falantes internalizam na infância é que constitui a verdadeira gramática da língua, a legítima e autêntica, da qual todos os demais (livros, teorias de gramática, filólogos e lingüistas, etc) não passam de reproduções...” (LUFT, 1997: 97)
Infelizmente, a realidade do ensino de Língua Portuguesa não prima em sua totalidade pela utilização dos aspectos lingüistas, quando muito mascaram o ensino gramaticalista, ou seja, propõem-se atividades que deveriam levar a uma prática lingüista, mas que acabam servindo de pretexto para o estudo gramatical, podendo assim ser exemplificado com as boas e velhas interpretações textuais, tem-se o texto, mas que acaba não sendo observados os aspectos semânticos e discursivos presentes no mesmo, mas sim as famosas classes gramaticais.
É necessário desatrelar o ensino da Língua Portuguesa do ensino gramatical, para Possenti (1996), tal modificação poderá ocorrer quando as escolas se derem conta de que estão ensinando aos alunos o que já sabem, a gramática inerente a todo nativo, a qual a escola precisa levar em conta, para a partir daí trabalhá-la em outros níveis, inclusive desenvolvendo as habilidades lingüísticas orais e escritas, privilegiando a palavra escrita, mas não diminuindo a importância das características da oralidade para compreensão do processo de ensino.


1.2 - O Professor e suas concepções de ensino gramatical


Todo ensino tem muito haver com as concepções que o professor possui, no caso do ensino de Língua Portuguesa não é diferente. Se o professor possuir uma visão restrita de ensino, atrelada apenas a aspectos gramaticais, sua prática enquanto professor também será restrita, passando a incutir em seus alunos os mesmos valores que possui, muitas vezes reproduzindo insegurança e servilismo. “Em se tratando da área de Língua Portuguesa, o professor também terá outro papel fundamental: o de modelo. Além de ser aquele que ensina os conteúdos, é alguém que pode ensinar o valor que a língua tem...” (PCN/LP, 2000: 48)
O trato dado à língua pelo professor é essencial para o bom desenvolvimento da prática pedagógica e do sucesso de ensino aprendizagem. Se o professor habitua-se ao comodismo dos currículos prontos e bitolados, que não consideram a língua como uma unidade viva e dinâmica, sem dúvida, o ensino não atingirá níveis de compreensão e domínio pelo estudante.
Para Luft (1997), propor um ensino diferenciado requer do professor segurança e competência, bem como estar informado sobre o que há de novo em teorias de linguagem, isto não significa ensinar ao educando tais teorias, mas sim para que ele produza práticas de estudos para o domínio da língua, observando os reais objetivos do ensino da Língua Portuguesa.


Os objetivos de Língua Portuguesa salientam também a necessidade de os cidadãos desenvolverem sua capacidade de compreender textos orais e escritos, de assumir a palavra e produzir textos, em situações de participação social. Ao propor que se ensine aos alunos o uso das diferentes formas de linguagem (oral e escrita), busca-se o desenvolvimento da capacidade de atração construtiva e transformadora. O domínio do dialogo na explicitação, discussão, contraposição e argumentação de idéias é fundamental na aprendizagem da cooperação e no desenvolvimento de atitude de autoconfiança, de capacidade para interagir e de respeito ao outro. A aprendizagem precisa então estar inserida em ações reais de intervenção, a começar pelo âmbito da própria escola. (PCN/LP, 2000:46)


É natural que haja dificuldades em se propor um ensino que observe tais características, pois isto requer esforço e dedicação por parte do professor, assim como uma formação profissional adequada, bem como propiciar atividades que envolvam os alunos e os demais participantes do processo educativo. Em muitos casos o que dificulta a melhoria do ensino de língua materna é esta indisposição do professor em comprometer-se com as exigências que este processo requer, algumas vezes, por ser muito mais cômodo fazer uso do livro didático, e em outros casos por não compreender criticamente as teorias modernas da linguagem.
Aos professores de Língua Portuguesa, profissionais cuja responsabilidade é formar leitores e escritores competentes, o apego demasiado ao uso de regras e normas gramaticais só distancia seu objetivo de trabalho, para Louzada (1998, 19) “trata-se primordialmente da mudança de postura do profissional de ensino em relação a concepção de linguagem e do que é ensinar língua materna”, sem esta abertura à novas concepções de ensino fica impossível pensar numa transformação no ensino de Língua Portuguesa.
1.3 - O descompasso entre as teorias e as práticas de ensino da gramática


Segundo Faraco (2001), as teorias que definem a linguagem sob três aspectos diferentes são: a Filologia, a Gramática e a Lingüística. Sendo a filologia e a gramática criadas pela cultura helenística, enquanto que a lingüística é uma ciência moderna. A filologia estuda as manifestações escritas de culturas antigas, cujo objetivo é fixar esses textos de maneira confiável e mais próxima possível do original, isto envolve desde a comparação de manuscritos e diferentes edições de textos (após a invenção da impressa), até o estudo das palavras e seus respectivos significados. Para o autor, a gramática é uma espécie de livro de etiqueta que dita as regras de escrita, e o gramático aquele que se ocupa em estabelecer as normas do uso da escrita. Enquanto que a lingüística tem como objeto à própria língua, o lingüista preocupa-se com todos os fenômenos lingüísticos em torno do uso da língua, não se prendendo ao uso culto, mas estuda toda e qualquer manifestação escrita. Com relação a isto, há muitas divergências contra o trabalho do lingüista, pois afirmam que este não valoriza o uso padrão da língua, informação esta que não procede, aliás, foram eles que descreveram-na da melhor maneira.
Em se tratando de lingüística é indispensável recorrer aos estudos de Avram Noam Chomsky, lingüista americano, nascido em 1928, e que em 1950 elevou sua pesquisa sobre linguagem ao nível científico, tendo como ponto central à capacidade inata do ser humano em comunicar-se.
Para Luft (1997) a teoria de Chomsky determina que o ser humano nasce provido de uma capacidade inata para a linguagem, que é ativada pelo meio social, ou seja, ninguém nasce com a gramática de uma determinada língua, mas sim com uma estrutura genérica que serve como base para aprender as estruturas específicas de qualquer língua.

Não foi por escolha nossa que adquirimos o idioma que falamos: ele simplesmente se desenvolveu em nossa mente em virtude da nossa construção interior e do meio ambiente em que vivemos. [...] para cada um de nós, a língua se desenvolve em conseqüência de nossa constituição atual, quando somos colocados no meio ambiente apropriado. (Chomsky, 1981:18-9 IN: LUFT, 1997:56)


A linguagem vista pelo prisma da teoria chomskyana não pode ser considerada tão complexa como faz crer o ensino tradicionalista, o grande problema é que o ensino tradicional não considera essa gramática natural do falante, mas somente aquela aprendida através dos livros. “O mais importante é compreender que qualquer pessoa quando fala não faz isso sem “regras”. Ela pode estar violando uma “regra” da língua padrão, da língua de cultura, da gramática da linguagem formal, mas não viola a “regra” da sua linguagem, da sua própria gramática” (LOUZADA,1998:20)
É importante lembrar que a gramática natural de cada indivíduo é aquela que norteia a fala, a oralidade, entretanto deve servir como base para a expressão de processos comunicativos mais elaborados. Segundo Luft (1997) é sob essa base que o professor irá construir sua prática, juntamente com o aluno, de forma realista, útil e produtiva. E assim é preciso que o professor observe a gramática internalizada que cada aluno traz para a sala de aula, bem como o contexto social e as características de sua formação, e é partindo das distâncias que a linguagem dele apresenta da língua culta, o professor vai sustentar seu trabalho, agindo assim estará rompendo com o paradigma; o estudante ao ingressar na escola encontra-se no grau zero de conhecimento da língua.
Dessa maneira o que se ver é a imposição do “realismo lingüístico é indispensável ao professor: a língua (e a gramática) é como é, não como deveria ser, como o professor queria que fosse, como os gramáticos pretendem impor que seja, presos a modelos do passado” (LUFT, 1997:67).
Ao observarmos a língua e sua estrutura com de fato se apresenta, concebendo-a na sua plenitude, e não a distanciando da oralidade, meio pela qual a utilizamos constantemente, torna-se menos complexo propor um ensino que valorize a língua e respectivamente o seu usuário, sem se prender aos processos inflexíveis das gramáticas normativas, ou o chamado “absolutismo gramatical” como define Luft (1997:67).
Na verdade a grande dificuldade em se desvencilhar desse absolutismo gramatical está no fato de pouco se conhecer a realidade do ensino lingüista, de não se compreender criticamente as teorias da linguagem, ou pior não produzir posicionamento ou argumentação frente a estas teorias. “É urgente que o professor de língua materna seja tecnicamente bem preparado, com sólida fundamentação lingüista, para termos um ensino mais eficiente, adequado à realidade do país, dos alunos e da escola”. (LUFT,1997:70)
No tocante a este assunto, é que se faz a relação do descompasso entre as teorias e práticas do ensino da gramática, pois mesmo com todo o avanço da lingüística, percebe-se uma carência assombrosa de práticas de ensino que primem pelo aspecto natural da linguagem, e isto está intimamente ligado à formação profissional do professor e suas concepções de linguagem, bem como de aspectos ligados a sua dignificação profissional.
A condição financeira também influi muito na atualização, motivação e no próprio desempenho do seu papel de professor. É necessário que seja dado ao professor suporte teórico, emocional e financeiro para que este desempenhe um ensino qualitativo de Língua Portuguesa.


O professor de língua materna deve ser um profissional especializado e competente. E bem remunerado para que possa atuar e reciclar constantemente, comprar livros e revistas, e dispor de todo o tempo necessário nessa tarefa difícil, mas do maior interesse num país que deseje conscientizar, libertar e dignificar seu povo. (LUFT,1997:70)


À tarefa que cabe ao professor de língua materna é árduo e espinhoso, propor um ensino que conscientize e liberte lhe exige muita força de vontade e disposição, além de estar preparado para enfrentar todos os obstáculos possíveis, tanto teoricamente, quanto emocionalmente.
É preciso compreender, entretanto, que não significa que o professor deva trabalhar as teorias gramaticais em sala de aula, mas conhecê-las e gerar posicionamentos para fazer o confronto destas com a realidade de seus educandos. Mas, infelizmente, este é que tem sido o drama do ensino da gramática nas aulas de Língua Portuguesa, acredita-se necessário utilizar suas teorias “a tradição sempre foi ser mais teórico que prático, mais normativo que descritivo, e distante da realidade” (LUFT,1997:71).
Geralmente também se confunde a idéia de se trabalhar na perspectiva da lingüística com “não trabalhar a gramática”, é comum ouvirmos comentários sob o desprezo dado à gramática normativa e que esta deveria ser rasgada ou queimada, isto é uma das confusões gerada pelo total despreparo e desconhecimento teórico da lingüística, pois esta vertente teórica condena a opressão gerada pelo ensino tradicionalista da gramática, não à gramática em si.
Para Luft (1997) a escola e os professores devem encarar com lucidez o fato de os alunos já chegam com uma gramática internalizada, entretanto com essa teoria deve-se trabalhar reforçando e ampliando para se chegar a outra teoria: a da gramática da língua culta, mesmo porque dentro do universo da linguagem as teorias não se excluem, mas se completam.
A escola como instituição de ensino e conhecimento tem a necessidade de compreender a linguagem e suas teorias, proporcionando aos professores o debate e as discussões sobre as praticas de linguagem, assim como dar suporte ao trabalho do professor. Isso implica numa revisão das práticas de ensino na instituição, até mesmo daqueles que fazem parte das outras áreas do ensino, não deixando a cargo somente do professor de línguas, mesmo porque de uma maneira ou de outra, todos utilizam a linguagem para desempenhar seu trabalho, “por isso, todas as disciplinas têm a responsabilidade de ensinar a utilizar os textos de que fazem uso, mas é a de Língua Portuguesa que deve tomar para si o papel de fazê-lo de modo mais sistemático”. (PCN/LP, 2000:31)
Se a função da escola e do ensino de Língua Portuguesa é auxiliar o aluno na aquisição das competências lingüísticas, não se pode tratar a linguagem como um conteúdo em si. Mas sim como um meio para melhorar a qualidade da produção lingüística, através de atividades que proponham a reflexão e o uso da língua, entretanto, é preciso que o professor tenha clareza e consciência deste trabalho.
O que há de mais prejudicial para o ensino de Língua Portuguesa é a incompatibilidade de concepções de ensino dentro de uma mesma instituição, gerando atritos e discussões que não levam a prática nenhuma, só o que se consegue é desestabilizar ainda mais o ensino.

Parece que estamos em guerra. Os gramáticos não concordam entre si. Os lingüistas brigam com os gramáticos tradicionais. Professores da mesma instituição não se entendem, vão aos jornais e expõem ao público os pontos discordantes a respeito do ensino de língua portuguesa. Jornais e revistas publicam artigos que dão aos leitores a impressão de que o ensino de português se tornou caótico. As brigas e mal entendidos nas suas manifestações multiformes, desorientam os professores que, nesta altura dos acontecimentos, se perguntam: o que fazer? O que ensinar? (STAUB, 2001:18)


É preciso então acentuar a necessidade do ensino da norma culta, o que se precisa ter claro é como ensiná-la, sem causar violências ou agressões lingüísticas, sem exigir que se perca os referenciais da língua não culta, ou seja, o ensino só deixará de ser excludente e confuso quando o professor tiver uma formação lingüística adequada que não exclua a importância dos demais ramos das teorias da linguagem.
E, isso exige da instituição e dos professores um planejamento da ação pedagógica de forma a garantir situações de aprendizagem que envolva os vários aspectos da língua, sendo trabalhado não somente pelos professores de língua materna, mas todo o corpo docente, até mesmo porque as responsabilidades pelo sucesso ou fracasso do sistema de ensino não deve recair sobre os ombros do profissional da área da linguagem.

Referências

BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália: novela sociolingüística. 11ª ed. São Paulo: Contexto, 2001.
______________. Preconceito Lingüístico: como é, como se faz. 9ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
BARRETO,Robério Pereira. Desvelando o sentido de ser professor de Língua Portuguesa no cotidiano da escola pública. Sapezal: 2005 (prelo)
BEARZOTI, Paulo.Revista Discutindo Literatura. Ano I Nº 02, pg 12-15.
LOUZADA, Maria Silvia Olivi. O Ensino do Português na Escola. IN: MURRIE, Zuleika de Felice (Org.) O Ensino de Português. São Paulo: Contexto, 1998.
LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. 5ª ed. são Paulo: Ática, 1997.
PCNS, Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília, Secretaria de Educação Fundamental, 1997.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) Ensinar Gramática na Escola. 10ª Reimpressão, Mercado das Letras: Associação de Leitura no Brasil, Campinas: São Paulo, 2003.
SALOMON, Délcio Vieira. Como Fazer Uma Monografia. 10ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
SILVA, Rosa Mattos e. Tradição Gramatical e Gramática Tradicional. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 2002.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino da gramática. 9ª ed. rev. São Paulo: Cortez, 2003.

J Artigo a ser apresentado na Semana de Letras da Uneb – Campus XXIII – Seabra – BA.

O CIBERDISCURSO E O FENÔMENO DA DIVERSIDADE NA LÍNGUA EM GRUPO SOCIAL, INTERNAUTAS

Robério Pereira Barreto[1]

Sabemos que a partir de Saussure o caráter social das línguas tornou-se fartamente esclarecido. Até porque passamos a entendê-la como sistema de signos convencionais os quais auxiliam os membros de dada comunidade lingüística realizarem comunicação à sua maneira, cremos ainda que, a função dela seja cada vez mais fundamental para que as relações humanas se estabeleçam cada vez mais em tempo real. Por isso, a comunicação nas redes digitais tem sido cada vez mais acompanhada de procedimentos de pesquisa científica nos quais se ligam novas ciências e técnicas, especialmente a cibernética.
Com base nisso, Preti (2003) nos lembra que a sociedade e a língua mantêm relações amplas e, com isso, nos situa dizendo que:


Desde que nascemos um mundo de signos lingüísticos nos cerca, e suas inúmeras possibilidades comunicativas começam a tornar-se reais a partir do momento em que, pela imitação e associação, começamos a formular nossas mensagens. E toda nossa vida em sociedade supõe um problema de intercambio e comunicação que se realiza fundamentalmente pela língua, o meio mais comum de que dispomos para tal. (PRETI, 2003, p. 11)


Dessa maneira, situamos os ciberdiscursos[2] produzidos nas mídias digitais como elementos de justaposição dos signos, isto é, no meio digital, sobremodo na internete, os usuários da língua utilizam gestos, sons e imagens por meio dos quais são identificados e aceitos nas comunidades de fala. Neste sentido, entendemos a dinâmica social da língua na medida em que “é o suporte de uma dinâmica social que compreende não só as relações diárias entre os membros de comunidade como também uma atividade intelectual que vai desde o fluxo informativo dos meios de comunicação de massa até a vida cultural, científica ou literária.” (Preti, 2003, p.12).
Além disso, a língua é um fenômeno de interação por meio do qual os atores comunicativos atuam nos grupos sociais, elevando a realidade ao status de signos. Com isso a vida se manifesta em significantes verbais e não-verbais, sendo às vezes arbitrários com os quais se processam os fluxos da comunicação nas redes digitais, sobretudo, na internete.
Diante disso, inferimos que a produção de linguagem nos espaços virtuais onde a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) se tornou ferramenta essencial, a produção lingüística ganhou caráter interdisciplinar, isto é, o homem comum, bem como poetas, sentiu a necessidade de ampliar seus campos comunicativos; para isso produzem enunciações cujos sentidos são aportados pelo enunciatário conforme seu lugar de fala e escuta na rede digital.
Assim sendo, vimos ao longo das últimas décadas do século passado, o nascimento e a expansão dos meios de comunicação de massa e, por conseguinte, a divulgação de pesquisas sobre o aumento de necessidades individuais e coletivas de aproximação dos saberes entre ciência e técnicas de produção de discurso. Isto tem sido realizado de maneira nunca vista antes, pelos usuários das salas de bate-papo, grupos e comunidades cibernéticas.
Há quem afirme ainda que essa geração de usuário da língua venha, à sua maneira, usando um código lingüístico baseado no processo fonético da língua. Desse modo, vai aos poucos fixando na consciência coletiva dos internautas, comportamentos lingüísticos que garantem a unificação do código, revelando os ideais da comunicação entre os grupos cibernéticos.
Para Perini esta questão é fruto de uma legislação, isto é, uma norma lingüística por meio da qual os usuários desse código [sala de bate-papo] acabam por eleger a “melhor maneira de comunicar-se dentro de seu grupo geográfico e social”. (PERINI, 2003, p. 47). Ainda conforme o autor:


...a partir do instante em que a comunidade aceita uma língua como seu meio primordial de comunicação, toda e qualquer variação lhe será prejudicial, motivo pelo qual a tendência é manter sua unidade, colaborando todos, consciente e inconscientemente, no sentido de sua nivelação, pois dessa maneira a compreensão será mais fácil, e a própria integração do indivíduo na cultura comum se dará com maior facilidade. (PERINI, 2003, p. 48)


Neste sentido, o caráter social da língua pretendido por Saussure se concretiza nos espaços digitais onde há uma constante manipulação da estrutura, sobremodo, no léxico e na fonologia em que são difundidas variações muito grandes. Estes aspectos serão mais detalhados quando forem analisados os excertos do corpus selecionado.
Em tese, a linguagem praticada pelos internautas no espaço cibernético é do ponto de vista social eminentemente urbana, portanto, supõe-se que seus usuários sejam de cultura média. De acordo com Perini isso contribui para a unificação dos falantes, bem como a divulgação de elementos da cultura e sociedades regionais, visto que tudo é posto num nível lingüístico em que todos se compreendem em todos os lugares do mundo.
[1] Professor de Linguagens e literaturas.
[2] Ver Barreto e Baldinotti Ciberdiscurso e interculturalidade na web. Tangará da Serra [MT], Editora Tangará, 2005.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

ALVOROÇO

Os brados de minha alma
Por seu amor
São como lágrimas descendo
Entre os montes da face
Em torrentes marciais
Ao encontro de ti;
Fazem barulho no peito
E sufocam o coração.

Passado a tempestade
E frieza da recepção;
A calmaria da saudade de ti
Fez-me refletir:
Sou feliz e...

Ó paixão, meu coração
Está em ebulição
A espera de nosso beijo
No qual estará o fim das mazelas
que separação e o tempo,
Por conta próprio nos impôs.

19 de junho de 2008, 17h08
Robério Pereira Barreto

domingo, 15 de junho de 2008

PEDIDO...

Um dia ao nascer entre
Dores e sofrimentos pedi:
Ó, céus fazei de mim um ser feliz!

Esse pedido foi congelado
Sinto que a fila não andou para meu lado
E o tal pedido arquivado.

Agora, o reintero, porém modificado
Ó, ceus fazei de mim uma pessoa
Com coração duro e espírito cruel.

Protege esse coração das armadilhas
E falsos amores que dele se aproxima
E preparar essa boca com o mais amargo do fel.

Tangará da Serra - MT, 15 de junho de 2008, 17h04.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

HOMIZIADO...

Em algum lugar
Esconde a felicidade
Onde estará o devir...

Porém, não sei ainda
Por onde seguir
Para encontrar
Um lugar feliz.

Certo estou de que
Homiziado no futuro
A cada dia sou.

Amanhã, depois de amanhã
E depois de depois de amanhã
Haverá algum lugar onde
Possa existir pessoa menos vã?


06 de junho de 2008, 21h58min
Robério Pereira Barreto

quarta-feira, 4 de junho de 2008

IDA...

Cá me vou às labutas
E às alegrias da liberdade
Em que de mal comigo fico
Porém não carrego maldade.

Cá me vou às brumas
E às gélidas noites do sertão,
Petrificando a alma para
Aquiescer com as dores da paixão.

Cá me vou aos saltos
E aos prantos inundando o planalto
Com as lágrimas das saudades.

Cá me vou e
Onde era campina de amor
A seiva da saudade pântano edificou.

Cá me vou às duras penas
Solitário sonhador.

04 de junho de 2008, 21h31min
Robério Pereira Barreto

terça-feira, 3 de junho de 2008

MAR DE PAIXÃO

A vontade de você
Sem poder a ter
Maltrata a alma
Que nem o mar de ressaca
Fere a face da praia.

Resignada, a alma
Refugia-se na imensidão
Azul do mar de lágrimas que,
A falta que faz essa paixão.

Em desejo de ti, a alma
Entra em guerras
Caminha por vales
Sobe serras e
Refugia-se nas águas densas
Desse mar de paixão.


03 de junho 2008, 11h57min.
Robério Pereira Barreto

segunda-feira, 2 de junho de 2008

CHAMADO DA PAIXÃO

A vontade de ti amar
Sem ressalvas me dar medo.
O coração palpitando veloz
Vira a alma pelo avesso.

Nego essa condição
Mas, o peito em forte atração
Obscurece os sentidos...

Compelido pelo desejo de te...
Puno a carne em chamas,
Negando-te de maneira insana...

Aos poucos apago fogueira
Que nesse ser inflama;
Ai denega a paixão que é chama...

02 de junho de 2008, 23h23min
Robério Pereira Barreto

domingo, 1 de junho de 2008

ÚLTIMO BEIJO

Como queria poder abafar meu coração
que não pára de gritar em tom grave
que não posso sem ti viver!

Mas não consigo, pois sua presença é real
e imprescindível para mim como o oxigênio
que alimenta e faz crescer a flor de beleza natural.

Depois de você em meu existir
não mais consigo andar por ai
por que a cada rosto que abre um riso,
é como sentir sua boca dando-me o último beijo.

Como queria ser amnésico agora!
assim não lembraria de quando foi embora,
deixando para trás as lembranças e dor do amor
que por falta de oxigênio infartou!

Robério Pereira Barreto.
Domingo, dias dos pais, 13 de agosto de 2006, 18h9’

VESTÍGIOS

Nunca meu coração esteve tão célere como agora,
Porque aumenta a pulsação ao aproximar-me de ti,
O corpo esquenta igual a um vulcão prestes a explodir.

E nas entranhas d’minha alma
Nascem desejos tão ardentes que me dominam;
O sangue ao calor da paixão ferve,
Derretendo quaisquer que sejam os esforços racionais

Para manter-me equilibrado diante de sua beleza alva.
Digo a mim: Controle seu impulsos e decline por ela seu fervor,
Mas me falta energia para lhe declara meu amor,
Sua compleição me consome
Qual a luz da manhã afasta os vestígios da noite escura.

Robério Pereira Barreto, 11 de agosto de 2006.

DEVIR

Nasci na geração da rebeldia
por isso vivo em busca de um novo dia
no qual possa ser livre e amar sem garantia
e obrigação de ser o que desejam para mim.

Agora sei que em todo amanhecer
posso contar com você,
porque a vida real é horrenda
e se não tiver um pouco de seu ser em mim
posso não resistir, venho a morrer.

Vindo a morrer sem que você
tenha sido minha na intimidade d”alma,
irei padecer nos infortúnios da solidão
e o espírito eternamente vai sofrer na escuridão.

Negrume que antes de lhe encontrar
vivia pensando que estava no fim
e que a vida era para mim um deserto
no qual se anda e tem a morte por certo.

Robério Pereira Barreto,
02 de julho de 2006.

RESSURREIÇÃO

Ano de 20013 e lá estava o relógio na parede, cujo marasmo dos ponteiros denunciava como o tempo naquela casa acontecia. Sustentava-se por um fio que de tanto estar ali, naquela mesma posição mostra-se indiferente a tudo à sua volta. Em seu formato cilíndrico e cores medievais fazia o movimento contrário aos acontecimentos da casa. Ali, vidas, amores, desamores, alegrias e tristezas ocorriam à velocidade da luz, porém não eram suficientes para abalar a sua existência enquanto membro ausente da família. Entretanto, eis que alguém olha para a parede e percebe que os ponteiros do relógio tinham parado à zero (00h). Naquele instante foi uma surpresa, susto geral como se uma tragédia tivesse abatido sobre todos. Daí surgiu os maiores lamentos:
- Nossa! Que houve? Que horrível? Com parcimônia, a matriarca da família, sentada em sua cadeira de fios a laser; indagou.
- Certamente, acabou o fluído atômico. Vociferou uma
mocinha com roupas de néon e cabelos coloridos cheio de luzes.
- Imagina! Que houve com todos? Devem estar loucos. Faz anos que esse relógio encontra-se nessa posição. É como se pedisse para que alguém lhe desse um pouco de atenção – entretanto, passaram por esta sala gerações, e ali estava ele, imóvel, jogado ao limpo da indiferença. Certamente, cansou da inércia daqueles que deveriam ao menos considerá-lo com alguém da família e morreu. Agora é preciso acontecer o milagre da ressuscitação!