sexta-feira, 29 de outubro de 2010

AUTONOMIA: ESTRATÉGIA PARA APRENDIZAGEM NO AMBIENTE ON-LINE

Há inúmeras discussões sobre as formas que as tecnologias de informação e comunicação têm possibilitado a aprendizagem de estudantes, bem como os desafios que o professor enfrenta ao atuar nesse contexto de ensino e aprendizagem. Isso acontece por que em cursos on-line os professores e estudantes precisam de forma individualizada, didatizar os processos, os mecanismos, as tecnologias e os conhecimentos de comunicação e, automaticamente, adequá-los aos seus objetivos curriculares, tirando o mais que podem do poder motivacional a elas (TIC) inerentes em tempo que tenta fazer a diminuição do potencial das ameaças do discurso face a face na interação mediada por computador que, até então era feita no curso presencial pelo professor.

No que diz respeito à autonomia de aprendizagem suscitada pelas tecnologias de informação e comunicação empregadas nos cursos em que a aprendizagem on-line é a prática interacional, de acordo com Brown (1994) citado por Parreiras (2010) os métodos usados pelo aprendiz no seu processo de aprendizagem on-line são tão ou mais importantes que os utilizados pelo professor para ensinar.

Para Brown (1994) esta ação é denominada de Principio do Investimento Estratégico no qual se registra o nível de dedicação individual que cada aprendiz faz em termos de tempo, esforço e atenção à sua aprendizagem. Isso é observado quando se analisam as maneiras como os estudantes empregam suas estratégias para a compreensão e produção de conhecimentos em rede, on-line.

Para Parreiras (2010) o que há nesse contexto é

A multiplicidade de estratégias a que o autor se refere denota as diferenças individuais dos aprendizes e representa o grande dilema pedagógico do professor em ambiente presencial. Ele precisa se preocupar em atender tais diferenças ao mesmo tempo em que se preocupa em garantir o sucesso do grupo como um todo. (PARREIRAS, 2010, p. 225).

Dessa maneira, o professor que atua no âmbito da educação e aprendizagem on-line, mesmo sem haver uma formação ou treinamento específico tenta amenizar o problema, dizendo sempre aos aprendizes que são capazes de enxergarem a si próprios e a tirarem o maior proveito das suas experiências e talentos. Assim, eles ganham independência, cuja autonomia para a aprendizagem é considerada uma estratégia fundamental para a aquisição e compartilhamento de saberes em rede.

Diante desse quadro vale dizer que a UNESCO em 1972 publicou um relatório no qual afirma que a autonomia do individuo é um dos principais objetivos da educação. O processo de autonomia tem sido a melhor estratégia para a educação em rede, até porque nesse contexto os aprendizes assumem uma série de procedimentos em que a autonomia

focalizada desse ângulo pressupõe a independência do aprendiz no que concerne a onde, quando, e o que estudar. Com as tecnologias da informação e da telecomunicação, a importância da autonomia individual é mais pragmática do que ideológica. (PARREIRAS, 2010, p. 225)

Essa questão traz possibilidades em que a autonomia torna-se uma realidade necessária para a aprendizagem on-line. Logo o processo de auto-aprimoramento, o que é essencial, junto à segurança e à auto-estima, para a sobrevivência de indivíduos, sistemas sociais, corporações, países até mesmo no planeta, ganha o suporte das tecnologias da informação e da comunicação, “a noção de autonomia ligada à auto-aprendizagem abre caminhos para que o indivíduo cumpra o seu direito e obrigação de se auto-aprimorar.” (PARREIRAS, 2010, p. 226).

Há autores que, dedicando-se a compreender como esta autonomia auxilia na construção de relações e interações em sala de aula virtual, afirmam que o aluno se assume como sujeito de sua aprendizagem e, portanto, autorrealiza-se como aprendente. Com isso o processo de aquisição de conhecimento em rede é superior a média, em que os estudantes são tutelados pelo ensino presencial no qual o professor é o centro do processo de ensino-aprendizagem.

Diante dessas afirmativas e considerando que a autonomia no processo de ensino-aprendizagem é uma estratégia fundamental desenvolvida por cada aprendiz, passa-se compreender que ser autônomo no ambiente virtual é produzir e socializar conhecimentos.

Ademais, questiona-se:

a) afinal, o ambiente virtual tem mesmo a capacidade de promover certa autonomia no aprendiz, ou se o aprendiz que o procura já é potencialmente mais autônomo. E, mais,

b) em que medida a autonomia de aprendizes no ambiente virtual pode ser atribuída a estratégias utilizadas por eles quando de suas interações de aprendizagem em rede.

Na conformação dessa ideal Blin (1999) citado por Parreiras (2010) afirma que

Aprendizes dão o primeiro passo em direção à autonomia quando eles aceitam conscientemente a responsabilidade por sua própria aprendizagem; e desenvolvem autonomia através de um esforço contínuo para entender o que, como, porque e com que grau de sucesso eles estão aprendendo. (PARREIRAS, 2010, p. 231).

É interessante pensar que, ao elaborar seus pensamentos de maneira individual para em seguida socializar na rede, o aprendiz vai ao encontro de sua autonomia. Portanto, a interação produzida a partir do encontro on-line no qual “autonomias” se encontram e certamente se promove a aprendizagem de caráter reflexivo e, com isso, a há diminuição de intervenções feitas pelo professor, aumentando assim, a autonomia do aprendiz o que automaticamente é transformado em motivação extrínseca, conforme Tsui.

No que diz respeito à aprendizagem on-line é preciso reconhecer que o ambiente virtual tem certa dominância sobre a autonomia do aprendiz em relação ao meio presencial.

O meio virtual ainda é um ambiente predominantemente textual no Brasil. Isso tem implicações no controle que o aprendiz tem sobre o seu processo de aprendizagem, e ocorre até mesmo para os aprendizes mais habilidosos nas estratégias de comunicação, oral, por exemplo, ao terem que encontrar soluções compensatórias para a ausência de interação face a face. (PARREIRAS, 2010, p. 228).

Por um lado, a aprendizagem no ambiente on-line ocorre através de textos que requerem leituras e, portanto, demanda tempo para a compreensão e maturação das ideias. Em face disto, os aprendizes reclamam não ter o tempo suficiente para a resolução dos problemas. Além desse empecilho há ainda a questão do suporte técnico, uma vez que há insuficiência de conexão em tempo para que as atividades sejam postadas e reconstruídas no coletivo da rede.

Não obstante à problemática da conexão, os aprendizes no ambiente on-line indicam que a falta de habilidade com as plataformas de comunicação impendem ações no sentido de administrar a combinação de conhecimento tecnológico e os recursos para encontrar formas de se chegar aos objetivos pretendidos na ação de aprender on-line, conforme Parreiras.

A despeito de quaisquer problemas, Blin (1999) pondera sobre essa questão ao reconhecer que “Aprendizes dão o primeiro passo em direção à autonomia quando eles aceitam conscientemente a responsabilidade por sua própria aprendizagem; [...]” (BLIN, 1999 citado por PARREIRAS, 2010, p. 231).

Esta autonomia normalmente é iniciada quando o aprendiz chega ao curso de pós-graduação seja ela on-line ou presencial, visto que motivações intrínseca e extrínseca orientam a aprendizagem desses sujeitos. Assim sendo, a autonomia se soma a mais uma das estratégias individuais que cada um já possui para realizar seus objetivos de formação intelectual.

Outro ponto que deve ser levando em consideração nessa modalidade de ensino e aprendizagem, é que os sujeitos que procuram a aprendizagem on-line não podem ser considerados mais ou menos autônomos do que aqueles que vivenciam a aprendizagem presencial.

Cada aprendiz ao procurar um meio de formação seja inicial ou continuada precisa trazer consigo estratégias que, somadas à questão da autonomia, potencializem suas aprendizagens independentemente de qual seja a modalidade.

Referencias

BLIN, Françoise. CALL and the development of learner autonomy: towards an activity-theorical perspective. In DEBSKI, Robert; LEVY, Mike (Ed.) world CALL: Global Perspective on computer-Assisted Language Learning. Lisse: Swets &Zeitlinger, 1999, p. 133-147.

BROWN, H. Douglas.teaching by principles: na intecative approch to language pedagogy. Englewood Cliffs: Prentice Hall Regents, 1994.

PARREIRAS, Vicente Aguimar. Estratégias de aprendizagem on-line e autonomia: uma relação biunívoca ou antagônica. In: MENEZES, Vera Lúcia. (Org.) Interação e aprendizagem em ambiente virtual. 2. Ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

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