CIBERESPAÇO: LIBERALIDADE LINGUÍSTICO-COMUNICACIONAL
Robério Pereira BarretoL
Introdução
Ferreiro
Após as descobertas de Saussure, é normal ver-se em grandes compêndios a afirmação de que o papel fundamental da língua é a comunicação. Não havendo, portanto, muito que se obstar a isso, se aceita que a comunicação só se realiza com êxito quando os agentes do ato comunicativo compreendem bem o que ambos dizem. Por isso é necessário que os interlocutores estejam aptos a decodificarem as mensagens e códigos lingüísticos usados no sistema (fala e escrita) para, assim, interagirem de maneira significativa.
Nesse processo, os comunicadores, os quais, segundo a teoria da comunicação são as pessoas que participam do processo de interação comunicativa e, portanto, os responsáveis pela continuidade da língua como mecanismo de interação sócio-cultural. Com efeito, nesse arcabouço lingüístico comunicativo se estabelece de fato à comunicação, porque os sujeitos do enunciado e da enunciação fazem uso da linguagem comum, à qual se dá no processo de interação que, a partir da construção e negociação dos sentidos propostos se define como mensagem inteligível.
Portanto, a linguagem abre aos comunicadores várias possibilidades de interação quando apreendem os sentidos por ela veiculada, uma vez que é formada pelo verbal e não-verbal. Sendo que a verbal tem como sua unidade básica a "palavra". Já não-verbal tem como meio de transmissão de sentidos a imagem, o gesto, a música, etc. além dessas, há também as chamadas linguagens mistas que, segundo teóricos da comunicação, estas se dão por meio da junção de imagens e palavras. Por exemplo, nas histórias em quadrinhos, no cinema, na publicidade, etc.
No que se refere à capacidade comunicativa promovida pelas linguagens da web, afirma-se que, devido à unicidade da palavra, a linguagem verbal é mais eficaz, porque transmite a informação com mais objetividade, inclusive dá aos interlocutores, maior poder na atribuição de sentido à mensagem.
A linguagem visual, contudo, é a mais econômica, porque veicula a informação com maior rapidez. Assim, há quem considere este tipo de mensagem mais complexa, posto que exija dos agentes comunicativos um nível maior de conhecimento, por isso, às vezes, não atinge o objetivo desejado durante a comunicação.
Nessa perspectiva, é pertinente lembrar que além da palavra (oral e escrita) há também os códigos convencionalmente articulados, como por exemplo, os emoticons - :), ): - e as omonomatopeias – kkkkk, hehehe, rsrsrsr – da comunicação via chat e scraps.
Historicamente, a sociedades se compõem de sujeitos que através do assujeitamento lingüístico, ideológico e cultural vivem as contradições: liberdade e submissão. Isto, segundo Orlandi (2003:50) significa dizer que os naturais e os migrantes convivem num espaço no qual são livres e submissos uns aos outros ao mesmo tempo; submisso às suas tradições – colocando-as como superiores às locais - e livres quando às praticam como sendo uma inovação na cultura do local. "[...] o assujeitamento se faz de modo que o discurso apareça como instrumento (límpido) do pensamento e um reflexo (justo) da realidade."(Orlandi, 2003, p. 50).
Ainda segundo Orlandi é possível compreender que:
Ao dizer, o sujeito significa em condições determinadas, impelido, de um lado, pela língua e, de outro, pelo mundo pela sua experiência, por fatos que reclamam sentidos, também por sua memória discursiva, por um saber/poder/ deve dizer, em que os fatos fazem sentido por se inscreverem em formações discursivas que representam no discurso as injunções ideológicas. (Orlandi, 2003, p. 50).
Em verdade, o sujeito discursivo, ser da memória ideologicamente formada na enunciação, está de algum modo, submetido às regras da língua, à história em quando discurso realizado, fazendo, portanto, parte da materialidade da histórica. Em que a representação simbólica da realidade está no cotidiano da linguagem, levando estes falantes a mostrarem por meio dos sentidos, as evidências de sua ideologia. "A evidência, produzida pela ideologia, representa a saturação dos sentidos e dos sujeitos produzida pelo apagamento de sua materialidade, ou seja, pela sua des-historicização" (Orlandi, 2003, p. 55).
A interação verbal é a comunicação realizada a partir do pensamento saussureano de que a língua é um sistema ao qual estão ligadas a fala e língua, sendo que está última é colocada em movimento através da relação direta entre falante e destinatário.
Tais usuários desempenham papéis importantes no processo de comunicação pois, o falante tem em sua fala informação cujo paradigma é resultado de suas experiências sócio-culturais, bem como o destinatário, também os tem. Assim, o falante ao dirigir seus enunciados ao destinatário deseja realizar algum tipo de mudança no paradigma deste.
Através da intenção, tenta antecipar o grau de modificação promovido no ouvinte; perspectiva igual é esperada pelo ouvinte ao interpretar a mensagem a ele proposta, reconstruíndo-a por meio de seus paradigmas.
Dessa maneira, a competência que o ser humano tem em manter relações comunicativas com o outro, é devido à mediação proposta pela sociedade, de maneira que os símbolos, gestos, cores, figuras e palavras se organizam em sistemas cuja complexidade é singular. Isso se torna meios de interação verbal e é o único meio de expressão que traduz os sentimentos e desejos dos agentes envolvidos na comunicação: emissor e receptor em conversa por telefone na qual se empregam os mais variados recursos interação verbal.
A interação verbal – que é a interação social estabelecida por meio da linguagem – constitui uma forma de atividade cooperativa estruturada: "estruturada", porque é governada por regras e convenções, e "cooperativa", porque necessita de, pelo menos, dois participantes para atingir seus objetivos.
Para Bakhtin, na verdade, é na categoria de expressão que verifica a interação verbal. Através dela inferimos o seguinte esquema:
Ainda conforme discute Bakhtin, é possível ver no esquema acima que a categoria de expressão, mantém em si as características sociais e ideológicas para que haja comunicação entre os sujeitos da enunciação. Para autor russo, "tudo que é essencial é interior, o que é exterior só se torna essencial a título de receptáculo do conteúdo interior, de meio de expressão do espírito." (Bakhtin, 2000, p. 111). Com efeito, diz-se que a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados em um dado sistema lingüístico e, mesmo que não haja interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor. Em síntese, o pensamento bakhtineano pode assim entendido:
A interação verbal sob esse enfoque, leva-nos a crer que; o mundo interior e a reflexão de cada indivíduo tenham determinado espaço social, o qual deve ser bem apropriado. Por isso, não haverá interlocutor abstrato ou neutro. Porque a palavra é, segundo Bakhtin produto da interação do locutor e do ouvinte. Configurando assim numa espécie de ponte a qual que está ligado aos seres na/da comunicação. "Se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra se apóia sobre o meu interlocutor."
Dessa maneira, o contexto social imediato determina quais serão os ouvintes possíveis, amigos ou inimigos para os quais serão orientados a algum tipo de consciência individual ou coletiva, quando da interação de ambos. Cumpre-se, então, o círculo ideológico da interação verbal. O qual, segundo Bakhtin, ocorre por que "a enunciação enquanto tal é um puro produto da interação social, quer se trate de um ato de fala determinado pela situação imediata ou pelo contexto mais amplo que constitui o conjunto das condições de vida de uma determina comunidade lingüística." (Bakhtin, 2000, p. 121).