DA ABSTRAÇÃO AO ESPESSAMENTO DO SENTIDO
A linguagem e a comunicação precisam de agentes para sua efetivação. Portanto, tal processo se dá quando os interlocutores (pessoas que participam do processo de ação comunicativa) interagem usando como meio a linguagem, a qual, por seu turno se constitui a partir da construção dos sentidos atribuídos, tanto pelo emissor quanto pelo receptor. Esta negociação se realiza porque os agentes comunicativos seguem regras efetivadas social e culturalmente em suas comunidades lingüísticas, facilitando assim o uso das mensagens que têm como construto a língua que, no nosso caso, é a língua portuguesa. Então, o domínio da língua faz se necessário para que haja a interação comunicativa. Dizendo de outro modo, conhecer a língua em suas variações (fala e escrita) é ter condições de transitar entre o universo cultural proposto pela sociedade lingüística.
Assim sendo, definir-se-á a língua como um tipo de código formado por sentidos diversos tirados do conjunto se palavras veiculadas no espessamento dos sentidos sociais, políticos e ideológicos da comunidade. Nesse sentido, Bréal (1992) considera que a riqueza das línguas se dá devido à existência de uma gama de abstrações advindas do latim, pois “uma palavra abstrata, em lugar de guardar seu sentido abstrato, em vez de permanecer o expositor de uma ação, de uma qualidade, de um estado torna-se o nome de um objeto material.”
Dessa forma, há que se considerar a existência da Lei da repartição na qual se tem o sentimento de que a linguagem é feita para servir à troca de idéias, à expressão dos sentimentos, à discussão dos interesses, ele se recusa a crer em uma sinonímia que seria útil e perigosa. Ora, como o povo é, ao mesmo tempo, o depositário e o fabricante da linguagem, sua opinião de que não há sinônimos faz com que, em verdade, os sinônimos não existam por muito tempo: ou ele se diferenciam, ou um dos dois termos desaparece.
Para Bréal (1992) o objeto da semântica é o sentido e por isso ele a considera como um sinal de civilização porque uma nova acepção equivale a uma palavra nova. O interessante nesse processo é que, novos sentidos, quaisquer que sejam eles, não acabam com o antigo. Ao contrário, enriquece e embeleza a língua, dando-nos a oportunidade de vê-los justapostos. Assim, “o mesmo termo pode empregar-se alternativamente no sentido próprio ou no sentido metafórico, no sentido restrito ou sentido amplo, no sentido abstrato ou no sentido concreto.” (Bréal,1992 p. 103).
No campo da comunicação a polissemia[1] possibilita uma série de inovações, uma vez que à medida que uma significação nova é dada à palavra, parece multiplicar-se e produzir exemplares novos, semelhantes na forma, mas diferente no valor.
Dentro desse quadro de tradição conceitual poderíamos encaixar vários conceitos, os quais preencheriam nossas necessidades, por outro lado, ficaríamos carentes em definições mais práticas e, portanto, continuaríamos no vazio dos conceitos. Todavia, adotaremos mecanismos que nos conduzam à compreensão de que há uma semântica formal a qual se ocupa e tem como objeto de estudo o sentido.
[1] Segundo semanticistas, o fenômeno da multiplicação de palavras e sentidos denomina-se polissemia. Na realidade todas as nações civilizadas participam desse fenômeno; quanto mais um termo acumulou significações mais se deve supor que ele represente aspectos diversos da atividade intelectual e social. Ainda segundo esses estudiosos, Frederico II via na multiplicidade das acepções uma das superioridades da língua francesa. Com isso, pode-se dizer que, a língua portuguesa em sua heterogeneidade de palavras de sentidos múltiplos é a demonstração da mais elevada cultura lingüística, tendo inclusive incorporado ao seu léxico paráfrase de expressões do rei Frederico II.
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