segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

FALA: ESPAÇO DE CONCRETUDE DA LINGUAGEM

Em A linguagem (1980), formada por onze capítulos, nos quais Edward Sapir discutiu os principais pontos que formam a linguagem no seu todo social, cultural e político a partir de uma visão interativa na qual a fala e a escrita se transformam em linguagem de dadas comunidades. O autor adverte no prefácio: “Destina-se este livrinho a dar uma visão de conjunto a respeito da linguagem e não propriamente a coligir fatos da linguagem. Pouco lhe cabe dizer sobre os fundamentos psicológicos últimos de fala, e, dos fatos tanto atuais descritivos como históricos, das várias línguas só ministra o que é suficiente para ilustrar certos princípios. [...] o problema do pensamento, a natureza do processo histórico, a raça, a cultura, a arte.” (SAPIR, 1980, p. 9).

Nesse sentido, a complexidade da linguagem se institui nos elementos linguísticos expressos por meio da oralidade, pois a “fala é uma atividade humana que varia, sem limites previstos, à medida que passamos de um grupo social a outro, porque é uma herança puramente histórica do grupo, produto de um uso social prolongado. [...] falar é uma função não instintiva, uma função adquirida, “cultural”. (idem. p. 12). Logo, o contato com grupos de falantes leva o usuário da linguagem à assimilação das estruturas semântica, gramatical e, sobremodo, fonética das palavras, dando-lhes pronúncias relativas às usadas pela comunidade da qual faz parte.

Para Guatarri e Deleuze (1995) essa questão tem como base o enunciado que, segundo a teoria por eles elaborada, a produção de fala é a base elementar da linguagem e, portanto, “A linguagem não é a vida, ela dá ordens à vida; vida não fala, ela escuta e aguarda.” Concordando com os autores acima mencionados, Sapir (1980, p. 15), considera a fala uma produção complexa a qual demanda de estruturas físicas e culturais uma vez que é necessária ao falante a articulação de idéias. Estas por seu turno devem estar armazenadas na consciência e na memória discursiva de cada ser. “A fala não é uma atividade simples executada por um ou mais órgãos biologicamente a ela destinados. É uma trama extremamente complexa e ondeante de ajustamentos no cérebro, no sistema nervoso, e nos órgãos de articula e audição em direção ao fim colimado, que é a comunicação das idéias.” (Idem). Ainda algumas palavras do lingüista sobre a linguagem: “a linguagem é uma herança imensamente antiga da raça humana, sejam ou não sejam todas as suas variantes desdobramentos históricos de uma única e prístina forma.” (ib.idem, p. 24). Em outras palavras; pode-se considerar que o homem se constitui como tal devido a produção e uso de enunciados lingüisticamente. Assim sendo o estudioso encerra o primeiro capítulo aceitando a linguagem como “instrumento da expressão significativa”. (op. cit.).

Em relação aos elementos constitutivos da fala palavras; Sapir aponta o som em si mesmo como algo subjacente à fala e, por isso, informa que é preciso haver uma seqüência de sons para que a fala ganha status de linguagem.

Os elementos verdadeiramente significativos da linguagem são em geral seqüências de sons, que tanto podem constituir palavras como partes significativas de palavras, ou, ainda, grupos de palavras. O que distingue cada um desses elementos é que ele representa o sinal externo de uma idéia específica, seja um conceito uno, uma imagem uma, ou certo número de conceitos ou imagens nitidamente ligadas num todo. (SAPIR, 1980, p. 27). Conforme perspectiva acima, a comunicação se estabelece quando o falante produz sons audíveis e o ouvinte os capta transformando-os em significados para si e sua comunidade. No Tratado de semiótico (1980), Umberto Eco diz que esse acontecimento pode ser entendido como ato de “significar e comunicar” e tem função social que, por sua vez, “determina a organização e a evolução cultural, “falar” dos “atos de palavras”, significar a significação ou comunicar a respeito da comunicação não podem deixar de influenciar o universo do falar, do significar, do comunicar.” (ECO, 1980, p. 22).
Robério Pereira Barreto

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostaria de saber de onde sai tanta inspiração...vc realmente sente esse amor??