segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

LEITURA: AQUISIÇÃO DE LEGISSIGNOS CULTURAIS

A civilização ocidental tem suas características asseguradas devido aos registros construídos; imagens e signos representacionais realizados pelos homens da caverna (Memórias discursiva, cultural e imagética). Tais procedimentos foram armazenados no inconsciente desses homens e transmitidos às novas gerações através de discursos - fala -, uma vez que, essa comunidade ainda não articulava significados para a formação da palavra escrita, texto. Embora já fizesse usos quando desenhava os animais abatidos durante a caça. Essa ação talvez fosse intencional, porque era uma forma de se colocar no papel de herói, dizendo aos demais que, se baseassem na informação ali contida e a guardasse em suas memórias individual e coletiva, pois, o futuro e a sobrevivência da comunidade dependiam de tal habilidade; reconhecer os animais a serem capturados através das imagens desenhadas nas cavernas.
A palavra escrita ganha status e é usada com propósitos unilaterais (lembremo-nos do manuscrito de Em nome da rosa, de Umberto Eco), no qual o conhecimento é mantido sob a proteção da Igreja com objetivo de barganhar, pois este privilégio (dominar a leitura e a escrita dos textos bíblicos, doutrinários e artísticos) era reservado a poucos privilegiados, os quais, na maioria das vezes, recebiam da corte uma indicação, mantendo-se assim, a dominação das informações estratégicas da corte.
Diante dessa perspectiva, certamente irá surge uma pergunta crucial, portanto, a antevejo para o leitor: Afinal, onde estará a questão da leitura nesse processo? Implícita! É a resposta. Explicamos então tal assertiva: Caro leitor! Se levarmos em consideração que o sujeito per si é um leitor desde o momento de sua concepção ( junção do óvulo com o espermatozóide) exigindo desses organismos uma leitura das melhores condições do setting de fecundação para encontrar o melhor espaço no útero para o início da vida. Então está ai o motivo pelo qual somos os agentes de nossa própria memória. Sendo esta formada e ligada diretamente com as nossas realidades sócio-histórica e cultural, fazendo nos usuários e produtores contínuos de memórias - textos.
Os historiadores e psicólogos sociais têm mostrado em suas teses a importância da memória para o entendimento da arte e da vida em sociedade por meio de resgate oral e escrito dos textos acumulados na sociedade empírica. De sorte que, na clássica obra Memória e sociedade: lembranças de velhos, de Ecléa Bosi, a autora ressalta a importância do conhecimento e da cultura armazenada pelos idosos ao longo de suas experiências. Tais informações se encontram na memória de cada um, sendo que esses sujeitos da/na linguagem têm suas memórias em estado de inércia, contudo, estão prontas para se movimentarem e, assim, contribuírem para a compreensão do homem contemporâneo.
Assim sendo, é intenção mostrar que ao produzir um texto o enunciador precisa saber quais serão os significados que podem extrair do saber acumulado tanto na comunidade, quanto no meio social em que circulará a informação por ele prestada. Ademais, o sentido de texto aqui ganha maior espaço e passa a ser entendido parte significativa da memória histórica e cultural, configurando assim numa reescritura paráfrase do saber socialmente acumulado pelos indivíduos em suas comunidades. Portanto, produzir texto é uma atividade diária a qual requer do produtor técnica e esforço contínuo no sentido de estabelecer associação entre o que pretende informar e formar com suas mensagens e, consequentemente, possibilitar ao leitor as inferências possíveis do assunto a partir do resgate da memória histórica e cultural nele existente e que pode ser trazida à tona por meu dos significados dos discursos, constituindo assim uma nova memória discursiva.
Para Barthes (1987) é nesse momento que o professor de linguagem deve atuar como mediador das memórias discursivas presentes no ambiente escolar. Assim:“O professor não tem aqui outra atividade senão a de pesquisar e da falar - eu diria prazerosamente de sonhar alto a sua pesquisa - não de julgar, de escolher, ...”os caminhos para os seus alunos produzirem textos, ao contrário; juntos com seus aprendizes busca-se no inconsciente coletivo informações que lhes sejam úteis como exemplos e associações de pensamentos. Por isso, a leitura diária faz questão fundamental no processo de formação da memória discursiva e cultural do cidadão. Parafraseando o famoso dito popular: você é o que come. Diria que sua memória discursiva e cultural é o que você ler. Isso porque à medida que se realiza a leitura a estrutura da língua (léxico, sintaxe, classe gramaticais, etc.) vai se fixando em sua mente, podendo ser solicitada mais tarde quando da escritura de uma mensagem. Logo, “os signos de que a língua é feita, os signos só existem na medida em que são reconhecidos, isto é, na medida em que se repetem; o signo é seguidor, gregário;” Barthes, 1978, p. 15), fazendo com que o leitor recorra às reminiscências sígnicas do texto para se situar no tempo e no espaço do enunciado proposto pelo enunciador do texto.
Robério Pereira Barreto

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