sexta-feira, 12 de outubro de 2007

URUBU E O GAVIÃO


Na caatinga sombria e pálida num galho seco de angico, o urubu de bico baixo refletindo sobre sua condição de mensageiro dos moribundos diz:
- Nossa! Neste lugar nada acontece. E isso tem trazido pra mim prejuízos. Vejam como estou magrinho e sem ânimo para voar e procurar comida.
Condoído com a condição de seu parente pobre, o gavião aproxima-se faceiro e cordialmente fala:
- Bom dia, Urubu! Que passa com tão ilustre e temida figura da caatinga?
- Estou triste porque não tenho encontrado comida mesmo neste cenário de seca. Não se morre mais como antigamente. Na caatinga de hoje já não encontro mais esquifes!
- Amigo Urubu, veja que coisa! Eu não tenho passado fome. Sabe por quê? Gosto de comida quente, isto é, sou trabalhador vou atrás. Já você...!
- Pois é gavião, cada um faz o que pode e a vida segue né? De fato, realmente adoro comer um prato frio, ou seja, mortinho da silva!
- Veja aquela Juriti voando vou almoçar agora mesmo veja como se faz!
O gavião em debandada persegue de modo implacável a frágil ave. Aos gritos e velozes batidas de asas, a esperta Juriti voa entre galhos e espinhos pontudos, desvencilhando-se do insensível e faminto gavião. Eis que numa esquina da avenida caatinga, um espigão de mandacaru adianta-se à manobra do pássaro assassino, cravando-lhe o peito. Agonizante clama por socorro:
Juriti, por favor: Tire-me daqui...
A Juriti mesmo ofegante volta e ouve seu pedido e promete: agüente firme gavião, vou chamar seu amigão urubu!
- Nossa! Ele não, não, não...
A Juritir segue para comprir sua palavara. Afinal, palavra de Juriti não pode falhar.
- Urubu? Urubu? Urubu acorde seu depressivo de uma figa!
- Que houve, Juriti?
- Vai salvar seu amigo gavião.
- Por quê?
- Ele se acidentou na avenida mandacaru e está precisando de você.
- Ok. Vou lá.
Aproveitando a corrente de vento norte plaina no ar do sertão, chegando ao local, ver seu amigo gavião em má situação e se aproxima dizendo:
- O que posso fazer amigão.
- Tire-me daqui Urubu!
- Tiro não... ah... ah não tiro mesmo.
- Faça isso não. Preciso viver e pegar aquela Juriti e mostrar a você como é bom almoçar uma comida quentinha.
- Ai é que está o xis da questão, campeão. Se lhe tirar daí, perco a chance de fazer a única refeição que vejo neste cruel e triste sertão. Gavião, sem ressentimento. Mas sou paciente e sempre espero meu almoço esfria. E, tem mais; quanto mais gelado melhor. Então fique frio, por favor.

12 de outubro de 2007.

Robério Pereira Barreto










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