quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

SEMIÓTICA DA CORRUPÇÃO POLÍTICA NO BRASIL XXI

A sociedade brasileira ao longo das últimas décadas do século passado viveu uma série de acontecimentos que a levou à condição de nação democrática. No entanto, isso não a fez menos problemática no plano político. Ao contrário, vieram à tona questões de ordem política, social e cultural, nas quais se centra a principal, a corrupção no meio público. A partir dessa ordem de coisas, este trabalho toma como objeto de estudo - pesquisa -, os textos verbais e não-verbais que formatam as capas das principais revistas de circulação nacional, nesses primeiros anos do século XXI. Ademais, tentar-se-á descrever e argumentar sobre os elementos; semióticos e discursivos dos referidos textos. Para tanto, toma-se como base teórica às contribuições da semiótica e das teorias da linguagem. Com efeito, delimita-se como corpus de pesquisa principal revista de circulação nacional, Veja que traz em suas capas, signos e textos que narram ou indicam a presença de discursos que se voltam para exposição de ocorrência de corrupção no meio público do país, nos últimos anos. No Brasil, o problema da corrupção não é somente uma questão de herança histórica que durante muito tempo ficou escondida nos redutos regionais, onde os coronéis se mantinham no poder, ditando aos veículos de comunicação as notícias que seria ou não veiculadas – se lembrem da ditadura! A política de arranjos e conchavos partidários é, na verdade, resultado da inépcia da sociedade e, principalmente, do Estado. Este que, por sua vez, esteve sempre sob o comando de elites que, sem nenhum pudor controlaram (e continua a fazê-lo) nos meios de comunicação. Por que será que em todo o país, os meios de comunicação estão nas mãos de algum grupo político local? Em verdade, na resposta para esta questão, há toda uma semântica política, econômica e cultural do poder. E é nisto que se argumentará aqui: o político é um estelionatário visto que o povo depositou nele suas esperanças, no entanto, não foram respeitados. Portanto, há veiculado na mídia impressa nacional, nos últimos anos, uma série de reportagens que chamou atenção para o submundo da política, a corrupção. Nesse sentido, podem-se fazer duas leituras. A primeira é a de caráter mercantil. Ou seja, a revista como qualquer objeto comercializável, precisa atrair consumidores, neste caso, leitores. Então, expõem em sua capa elementos simbólicos que agregam valores lingüísticos e semiológicos para o texto que seguirá no corpo da revista. Já na segunda leitura, estão impregnados elementos políticos ideológicos que fazem da reportagem um mosaico de idéias, no qual o leitor menos avisado – leitor primário -, decodificador de signos – não consegue refletir e posicionar-se diante da informação apresentada: Corrupção! No Brasil, atualmente, o crescimento da corrupção, ou melhor, a veiculação de notícias que o expõem nas formas; ativa e passiva no meio político, é também herdeira da violência desenvolvida a partir das ações realizadas pelos políticos aliados e/ou integrantes dos governos. Daí pode-se afirmar que, a corrupção e o crime se tornaram de vez, a pauta da mídia impressa e, conseqüentemente, televisiva. Nesse contexto, Sant’Anna Afirma: “A violência entrou de vez para o texto de nosso cotidiano. Na interessa tanto se ela penetrou pela porta da direita ou da esquerda ou pela estupidez de ambos. O fato é que o cidadão acostumo-se (perplexo) a que uma “autoridade” ou uma “ideologia” pode dispor de seu corpo, objetos, família e vida.” (SANT”ANNA, 1987, p. 28). Mediante a argumentação do cronista, a violência é algo que se incorporou à mídia brasileira nos últimos tempos, especialmente, da última década do século XX ao dias atuais. Assim, a mídia impressa – Veja–, objeto desse estudo; após eleição do governo do PT, teve suas tiragens, vendas aumentadas devido à publicação de reportagens que sugeriam atos de corrupção tanto no governo federal, quanto nos governos estaduais e municipais. Assim, ficou entendido que tal processo se deu com edições da revista que traziam na capa símbolos, gravuras e ícones que reforçavam o texto sobre o tema: corrupção! Diante desse quadro de leituras semiológicas, surgiram várias possibilidades de interpretações, contudo, há uma que chamou atenção. Já são quase 20 anos, que o país entrou no processo de democratização, no qual a impressa se “libertou” das amarras da censura e dos Atos Institucionais. Não obstante, foi mais de uma década de governos mistos, isto é, nos governos antecessores ao do PT não se tinha claro que tipo de governante estava na presidência - de Sarney a FHC -. Com os quais os escândalos não se sabem o porquê, eram abafados pela mídia. Ou será que não existiam?! Segundo Sant’Anna, é por tudo isso que a democracia é a mais difícil das formas de Governo. Ele discorre ainda sobre o processo democrático instalado no Brasil, argumentando que: “Democracia deveria ser o regime que desse mais oportunidade para todos desempenharem seus papéis de sedução e conquista. No regime democrático maduro, deveria estar no poder aquele partido que propõe e realiza o discurso mais sedutor esperado pela coletividade.” (SANT”ANNA, 1987, p. 28). Na atualidade, pode-se afirma que o pensamento de Sant’Anna está concretizado, pelo menos no sentido do desejo da coletividade. Eis que, Lula estar no poder. A publicidade da corrupção Nos últimos anos, a linguagem da propaganda tem empregado recursos que vão além do universo conceitual dos signos. Para Barthes (2003:86), “a linguagem é encarregada de dar crédito, com as suas figuras, com sua própria sintaxe, a essa moral da réplica.” Dessa forma, entender o grau de veracidade que a imprensa tem dedicado à narração da corrupção no país, é, pois significativo, dando a entender que na maioria das vezes, tais fatos ocorrem em virtude de processos ideologicamente levantados pelo sistema político que deixou o poder. O que talvez não deixa de ser uma verdade. Ainda Segundo Barthes (2003:127) “O jornalismo está, hoje em dia, totalmente voltado para a tecnocracia, e a nossa imprensa semanal transformou-se no centro de uma verdadeira magistratura da consciência e do conselho, como na época áurea dos jesuítas”. Embora o texto do semioticista francês tenha sido escrito na década de 70, é atual. Em outras palavras, ao ler qualquer notícia da imprensa escrita, o leitor percebe que, na verdade, há uma exposição direta de símbolos que atentam a respeito da corrupção que está diluída na sociedade contemporânea brasileira. Naturalmente, a publicidade no contemporâneo se tornou um mito pequeno burguês visto que muitos elementos ideológicos são colocados a seu dispor. Discordar disso seria, portanto, de forma ilusória, tentar discriminar de maneira significativa o que está no inconsciente coletivo. Assim, entendê-la é a melhor forma de visualizar como se fala a respeito da corrupção no meio político brasileiro. Na formação semiológica da corrupção expressa pela revista, Veja em suas respectivas capas, é visível um subtexto no qual a mensagem escrita tem um caráter de fala. Logo, o discurso é representacional, porque se apóia em mitos, que direto ou indiretamente justifica a endemia brasileira; a corrupção no meio público. Segundo afirma Barthes (2003:200), “Esta fala é uma mensagem. Pode, portanto, não ser oral; pode ser formada por escritas ou representações: o discurso escrito, assim como a fotografia, o cinema, a reportagem, o esporte, os espetáculos, a publicidade, tudo isso pode servir de apoio à fala mítica” a qual elevou a níveis muitos altos a corrupção no país. As formas e sentidos da corrupção, segundo a Veja A partir dos símbolos e signos que permeia a corrupção, a qual é oferecida ao leitor às vezes por metáforas que caracterizam a subjetividade do assunto. Lembra-se, portanto, que os sentidos atribuídos a tais signos são de ordem significativa, pois o significante que se aplica nesse processo, é para saber e, sobretudo, estabelecer associações com os sentidos já realizados nos signos lingüísticos e semiológicos da mensagem publicitária. Barthes ao tratar das formas e dos sentidos que são apresentados pelas mensagens, cujo significante ganha aspecto mitológico diz que: “Enquanto sentido, o significante já postula uma leitura, apreendo-o com os olhos, pois ele tem uma realidade sensorial (ao contrário do significante lingüístico que é de ordem puramente psíquica) e uma riqueza: [...] O sentido já está completo, postula um saber, um passado, uma memória, uma ordem comparativa de fatos, de idéias, de decisões.” (BARTHES, 2003, p. 208). No entendimento da questão sígnica que se instala nas reportagens da revista Veja, especificamente sobre a corrupção, alguns ícones são inseridos para que o leitor estabeleça associações e sentidos, os quais levarão à compreensão da mensagem jornalística. Nesse contexto, Barthes ao tratar dos elementos de semiológicos nos informa que tudo isso é resultado da representação psíquica, na qual se fixam os espectadores. No sistema de comunicação em que se constitui a imprensa escrita – Veja – a liberdade em que se apresentam os textos ao combinar de maneira livre, porém harmoniosa, faz com que a informação contida na peça jornalística se transforme em paradigma, diluindo assim, as ideologias que permeiam a questão, neste caso, a corrupção. “... a criação das palavras, a liberdade de combinar “palavras” em frase é real, embora circunscrita pela sintaxe e, eventualmente, pela sujeição a esteriotipos; (...) as pressões de coerência mental do discurso que podem subsistir não são mais de ordem lingüística”, são, na realidade de ordem ideológica. (BARTHES, s.d. p, 74). A corrupção como sociedade anônima No material de pesquisa – revista Veja -, na qual foram estudados textos verbais e não verbais que narraram à corrupção nas instituições públicas do país nesses primeiros anos do século XXI, foi possível através da análise semiótica do significante e do significado entender como a corrupção foi transformada em uma sociedade anônima, cujas ações eram valorizadas de acordo com o humor dos negociadores – políticos e seus assessores -. A linguagem com a qual o narrador, jornalista se encarregou de apresentar e representar o real da informação – denúncia – foi preciso impor uma visão na qual a crítica dilui-se, deixando ao leitor a responsabilidade de julgar os envolvidos nos processos. Diante disso, podemos, pois, levantar que a historia política do país tem condicionado a corrupção e, conseqüentemente, a impunidade como práticas de uma elite política que oscila entre a burguesia e a oligarquia política. Isso leva ao entendimento da afirmação de Barthes, quando este criticou a burguesia francesa, chamando-a de sociedade anônima, disse: “quaisquer que sejam os acidentes, os compromissos, as concessões e as aventuras políticas e sejam quais forem as modificações técnicas, econômicas ou mesmo sociais que a história nos traga, a nossa sociedade ainda é uma sociedade burguesa.” (BARTHES, 2003, p, 229). A corrupção veiculada pela mídia impressa – Veja – determina uma ordem de coisas que se transformou em fenômeno social, isto é, ver a corrupção sob a ótica da noticia sem se deixar envolver pela ideologia que a burguesia utiliza como justificativa para tal atitude, sem dúvida, é fundamental um exame detalhado dos signos e, conseqüentemente, das significações que lhes impõem os textos verbais e não verbais. Hoje, a corrupção se dissolve na nação de tal forma que, simbolicamente, tem a representação de poder de mando, ou seja, àqueles que se integraram a algum esquema, estarão seguros em cargos eletivos. A partir disso, foi acrescido ao vocabulário político do país, expressões lingüísticas e códigos que representam a corrupção; a qual foi incorporado segundo textos de Veja, uma representação, cuja simbologia é um estrato do desejo que lava a ideologia de para chegar ao poder é preciso corromper, extorquir tanto proletários quanto burgueses.
Conforme apresenta o conjunto de signos expressos no texto na figura acima, tem-se como elemento representacional da avareza, segundo os textos de La Fontaine, a formiga.
Segundo o que relata dicionário de símbolos, várias sociedades usam a formiga como elementos simbólicos em seus rituais. Contundo, nenhuma a apresenta como distúrbios da sociedade, tal qual apresenta o conjunto textual acima mencionado.
Nessa ordem de discursos, toma-se a formiga como símbolo de uma organizada sociedade, na qual as atitudes são distribuídas de hierarquizada. Logo, se percebe no texto não verbal da reportagem – imagem da formiga cortando a cédula de cinqüenta reais-, que representa de maneira sígnica a corrupção do país.
Os discursos presentes na figura 1 evidenciam, de imediato, a grande complexidade que cerca a noção de corrupção na sociedade brasileira, especialmente, na atualidade. Dizendo de outra forma: há no universo discursivo apresentado pela capa da revista Veja, uma enorme gama de variações que leva à compreensão da corrupção como objeto de uma ação socialmente anônima, visto que aqueles ora representados pela formiga, estão, na verdade, escondidos na multidão de “formigas”.
Sem querer que estes argumentos andem pelo universo da contradição teórica. Então, assegura-se que é propositada a referência à semiótica americana, isto é, tomam-se nessa parte, as considerações de Lúcia Santaella, a qual é discípula do filosofo e lógico americano Charles Sanders Pierce.
Para Santaella há uma função para o signo, segundo a capacidade de comunicação que ele estabelece como o leitor. Assim, disse Pierce: “ O signo cria algo na mente do intérprete, algo esse que foi também, de maneira relativa e mediada, criada pelo Objeto do Signo, embora o Objeto seja algo essencialmente diverso do Signo. (2.231).

Concluindo temporariamente

A face oculta da corrupção é colocada ao público por um veículo de comunicação de massa, cuja ideologia é, sem dúvida, discutível. A despeito de quaisquer pensamentos apologéticos a partidos políticos, sabemos que isso é de caráter social significativo, até porque essa foi uma maneira de se ficar conhecendo os bastidores da política nacional, onde tudo é possível de acontecer, desde que se tenha algum acordo sendo feito em beneficio de pequenos grupos políticos.

Referências
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 10. ed. São Paulo: Hucitec, 2002.
BARTHES, Roland. Crítica e verdade. Lisboa, Edições 70, 1996.
_________, Elementos de semiologia. 14. ed. São Paulo: Cultrix. S.d.
_________, Mitologias. Rio de Janeiro: Difel, 2003.

Bibliografias
Veja, ano 33, nº 29, junho de 2000, pp. 41-7 (“Os rastros do ex-assessor”).
Veja, ano 33, nº 27, julho de 2000, pp. 40-4 (“O poderoso foi dormir na cadeia: principal peça do escândalo que desviou 169 milhões de reais, Luiz Estevão é cassado e preso”)
Veja, ano 33, nº 31, agosto de 2000, pp. 38-43. (“ A anatomia do crime:
Veja, ano 33, nº 35, agosto de 2000, pp. 38-40. (“A lei dos honestos: códigos de conduta não evita os crimes, mas dá aos bons funcionários limites ente o que pode e o que não pode”).
Veja, ano 34, nº 10, março de 2001. pp. 44-53 (“na alma e no bolso tucano; O custo econômico da corrupção: mais cruel que o imposto inflacionário, a roubalheira de dinheiro público atrasa e empobrece os países.”).
Veja, ano 35, nº 31, agosto de 2002. pp.40-51 (“As pedreiras de Ciro:O candidato perde seu coordenador, engolfado por suas traficâncias com PC Farias, e vive a ameaça de ter de trocar o vice”).
Veja, ano 37, nº 10, março de 2004, pp. 43-49 (“A crise rouba a cena).
* Professor da Uneb – Campus XVI Irecê - BA.

Nenhum comentário: